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Desagravo A Calvino
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E-book448 páginas5 horas

Desagravo A Calvino

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Sobre este e-book

As Escrituras nos ensinam que devemos dar honra a quem ela é devida, e que o nosso bem não deve ser vituperado. Foi com isto em vista que pus-me a trabalhar para deixar registrado um testemunho cujo principal objetivo é o de desagravar a pessoa e obra de João Calvino, o qual, a par de ser uma fonte de inspiração para inúmeras vidas através dos séculos, tem sido criticado dura e injustamente por conta de uma incompreensão e ignorância das coisas que escreveu. Antes de julgarmos a obra de qualquer pessoa, não devemos nos ater ao que dizem a seu respeito, senão ao que ela própria escreveu. Dessa forma, examinando e traduzindo do original em inglês, em domínio público, alguns textos escritos por Calvino, pudemos vislumbrar por detrás deles uma mente poderosa e culta, e mais do que isso, um verdadeiro servo piedoso de Deus, que dominava amplamente os textos originais da Bíblia, tanto no hebraico, quanto no grego. É parte deste material que desejamos compartilhar com os amados leitores neste livro.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento10 de dez. de 2015
Desagravo A Calvino

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    Desagravo A Calvino - Silvio Dutra

    Introdução

    O material contido neste livro é o fruto de traduções que fizemos de textos de autoria de João Calvino, do original inglês, em domínio público.

    Por uma leitura deste livro, ainda que breve, pode-se entender melhor por que Deus usou Calvino como um dos principais dos seus instrumentos para promover a Reforma no século XVI, pela qual o Protestantismo foi estabelecido em todo o mundo.

    Se Calvino foi achado digno de promover uma Reforma de tal envergadura em seus dias, porque ele não deveria ser também ouvido e acatado por nós em nossos presentes dias, especialmente quando a própria Igreja Protestante apresenta sinais de falta de vigor e de apostasia?

    Afinal, a Reforma nada mais é do que trazer a verdade de Deus novamente à tona, e moldar a Igreja segundo a mesma santidade que ela possuiu pela prática da Palavra nos dias apostólicos; e Calvino contribuiu para isto de forma extraordinária com a sua muita sabedoria e conhecimento de Deus e da Sua Palavra.

    Orações Por Toda a Humanidade - Comentário de 1 Timóteo 2.1

    Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todos os homens,

    Portanto, exorto, antes de tudo. Os exercícios religiosos que o apóstolo aqui ordena mantêm e fortalecem em nós o culto sincero e o temor de Deus, bem como nutrem a consciência íntegra de que falamos anteriormente. O termo, portanto, é então perfeitamente apropriado, visto que essas exortações se deduzem naturalmente do encargo que ele pusera sobre Timóteo.

    Primeiramente, ele trata da oração pública e de sua regulamentação, a saber: que ela deve ser feita não só em favor dos crentes, mas em favor de todo o gênero humano. É possível que alguém argumente: Por que devemos preocupar-nos com o bem-estar dos incrédulos, já que não mantêm nenhuma relação conosco? Não é suficiente que nós, que somos irmãos, oremos uns pelos outros e encomendemos a Deus toda a Igreja? Os estranhos não significam nada para nós. Paulo se põe contra essa perversa perspectiva, e diz aos efésios que incluíssem em suas orações todos os homens, e não as restringissem somente ao corpo da Igreja.

    Admito que não entendo plenamente a diferença entre os três ou quatro tipos de oração de que Paulo faz menção. É pueril a opinião expressa por Agostinho, a qual torce as palavras de Paulo para adequarem-se ao uso cerimonial de sua própria época. O ponto de vista mais simples é preferível, a saber: que súplicas são solicitações para sermos libertados do mal; orações são solicitações por algo que nos seja proveitoso; e intercessões são nossos lamentos postos diante de Deus em razão das injúrias que temos suportado. Eu mesmo, contudo, não entro em distinções sutis desse gênero; ao contrário, deduzo um tipo diferente de distinção. Proseucai [Proseuche] é o termo grego geral para todo e qualquer tipo de oração; e deh>seiv [deeseis] denota essas formas de oração nas quais se faz alguma solicitação específica. Portanto, essas duas palavras se relacionam como o gênero e a espécie. v´Enteu>xeiv [Enteuxeois] é o termo usual de Paulo para as orações que oferecemos em favor uns dos outros, e o termo usado em latim é intercessiones, intercessões. Platão, contudo, em seu segundo diálogo intitulado, Albibíades, usa a palavra de forma diferenciada para denotar uma petição definida, expressa por uma pessoa em seu próprio favor. Em cada inscrição do livro, bem como em muitas passagens, ele mostra claramente que proseuch [proseuche] é, como eu já disse, um termo geral.

    Todavia, para não nos determos desproporcionalmente por mais tempo numa questão que não é de grande relevância, Paulo, em minha opinião, está simplesmente dizendo que sempre que as orações públicas foram oferecidas, as petições e súplicas devem ser formuladas em favor de todos os homens, mesmo daqueles que presentemente não mantêm nenhum relacionamento conosco. O amontoado de termos não é supérfluo; pois ao meu ver Paulo, intencionalmente, junta esses três termos com o mesmo propósito, ou seja, com o fim de recomendar, com o maior empenho possível, e pedir com a máxima veemência, que se façam orações intensas e constantes.

    Sobre o significado de ações de graças não há nada de obscuro, pois ele não só nos incita a orar a Deus pela salvação dos incrédulos, mas também a render graças por sua prosperidade e bem-estar. A portentosa benevolência que Deus nos demonstra dia a dia, ao fazer seu sol nascer sobre bons e maus, é digna de todo o nosso louvor; e o amor devido ao nosso próximo deve estender-se aos que dele são indignos.

    O Louvor Devido à Fé e ao Amor - Comentário de Colossenses 1.1-3

    "1 Paulo, apóstolo de Cristo Jesus, por vontade de Deus, e o irmão Timóteo,

    2 aos santos e fiéis irmãos em Cristo que se encontram em Colossos, graça e paz a vós outros, da parte de Deus, nosso Pai.

    3  Damos sempre graças a Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, quando oramos por vós,"

    Paulo, apóstolo. Já expliquei, em repetidas ocasiões, o propósito de tais dedicatórias. Como, contudo, os colossenses nunca tinham lhe visto, e por essa causa sua autoridade não estava ainda tão firmemente estabelecida entre eles a ponto de fazer seu nome por si mesmo suficiente, ele afirma que é um apóstolo de Cristo separado pela vontade de Deus. Disso seguia-se que ele não agia imprudentemente ao escrever a pessoas que não o conheciam, considerando que estava desempenhando a função de embaixador que Deus tinha lhe confiado. Pois ele não estava ligado a uma Igreja meramente, mas seu apostolado se estendia a todas. O termo santos que aplica a eles é muito honroso, mas ao chamá-los de irmãos fiéis, ele os encoraja ainda mais a ouvi-lo desejosamente. Quanto às outras coisas, explicações podem ser encontradas nas Epístolas precedentes.

    3. Damos graças a Deus. Ele louva a fé e o amor dos colossenses, para que isso possa encorajá-los à maior diligência e constância da perseverança. E mais, ao demonstrar que tem uma persuasão desse tipo com respeito a eles, ele procura a consideração amigável deles, para que possam ser mais favoravelmente inclinados e ensináveis para receber a sua doutrina. Devemos sempre observar que ele faz uso de ação de graças no lugar de congratulação, pelo que nos ensina, que em todas as nossas alegrias devemos prontamente chamar à lembrança a bondade de Deus, visto que tudo o que é agradável e prazeroso para nós, é uma benignidade conferida por ele. Além disso, ele nos admoesta, por seu exemplo, a reconhecer com gratidão não meramente aquelas coisas que o Senhor nos confere, mas também as que ele confere aos outros.

    Mas por quais coisas ele dá graças ao Senhor? Pela fé e amor dos colossenses. Ele reconhece, portanto, que ambas são conferidas por Deus: de outra forma a gratidão seria fingida. E o que temos que não seja por meio de sua liberalidade? Se, contudo, mesmo os menores favores chegam até nós dessa fonte, quanto mais esse mesmo reconhecimento deve ser feito com referência a esses dois dons, nos quais consiste a soma inteira da nossa excelência?

    Ao Deus e Pai. Entenda a expressão assim – A Deus, que é o Pai de Cristo. Pois não é lícito para nós reconhecer qualquer outro Deus, que não aquele que se manifestou a nós em seu Filho. E essa é a única chave para abrir a porta para nós, se estivermos desejosos de ter acesso ao Deus verdadeiro. Por esse motivo, também, ele é um Pai para nós, pois nos aceitou em seu Filho unigênito, e nele também apresenta seu favor paternal para a nossa contemplação.

    Sempre por vós. Alguns explicam isso assim – Nós damos graças a Deus sempre por vós, isto é, continuamente. Outros explicam que significa – Orando sempre por vós. A frase pode ser interpretada dessa forma também: Sempre que oramos por vós, ao mesmo tempo damos graças a Deus; e esse é o significado simples: Damos graças a Deus, e ao mesmo tempo oramos. Com isso ele indica que a condição dos crentes nunca é perfeita neste mundo, de forma a não ter, invariavelmente, algo em falta. Pois mesmo o homem que começou admiravelmente bem, pode ficar aquém em centenas de ocasiões todo o dia; e devemos estar sempre fazendo progresso, enquanto ainda estamos no caminho. Tenhamos, portanto, em mente que devemos nos regozijar nos favores que já recebemos, e dar graças a Deus por eles de tal maneira, que ao mesmo tempo buscamos dele perseverança e progresso.

    Distinguidos pela Fé e pelo Amor - Comentário de Colossenses 1.4

    desde que ouvimos da vossa fé em Cristo Jesus e do amor que tendes para com todos os santos; (Colossenses 1.4)

    Tendo ouvido da vossa fé. Esse era um meio de provocar seu amor para com eles, e sua preocupação pelo bem-estar deles, quando ouviu que eram distintos pela fé e amor. E, inquestionavelmente, os dons de Deus que são tão excelentes deveriam ter tal efeito sobre nós, a ponto de instigar-nos a amá-los onde quer que apareçam. Ele usa a expressão fé em Cristo, para que possamos sempre ter em mente que Cristo é o objeto apropriado da fé. Ele emprega a expressão amor para com os santos, não com a visão de excluir os outros, mas porque, na proporção em que alguém está unido conosco em Deus, devemos aceitá-lo ainda mais proximamente com especial afeição. O amor verdadeiro, portanto, se estenderá à humanidade universalmente, porque todos eles são nossa carne, e criados à imagem de Deus (Gênesis 4.6); mas com respeito a graus, começará com aqueles que são da família da fé (Gálatas 6.10).

    A Esperança Reservada nos Céus - Comentário de Colossenses 1.5

    por causa da esperança que vos está reservada nos céus, da qual antes ouvistes pela palavra da verdade do evangelho, (Colossenses 1.5)

    Por causa da esperança que vós está reservada nos céus. Porque a esperança da vida eterna nunca será inativa em nós, não deixando assim de produzir amor em nós. O motivo é que, necessariamente, aquele que está plenamente persuadido que um tesouro da vida está reservado para ele nos céus aspirará àquele lugar, desdenhando deste mundo. A meditação, contudo, sobre a vida celestial provoca nossas afeições tanto ao louvor a Deus, como aos exercícios de amor. Os sofistas pervertem essa passagem com o propósito de enaltecer os méritos das obras, como se a esperança da salvação dependesse das obras. O raciocínio, contudo, é fútil. Pois não se segue que, porque a esperança nos estimula a aspirar viver retamente, ela esteja portanto fundamentada sobre as obras, visto que nada é mais eficaz para esse propósito do que a bondade imerecida de Deus, que elimina absolutamente toda confiança nas obras.

    Há, contudo, um exemplo de metonímia no uso do termo esperança, visto que é usado pela coisa que se espera. Porque a esperança que está em nosso coração é a glória pela qual esperamos no céu. Ao mesmo tempo, quando ele diz, que existe uma esperança que para nós está reservada nos céus, ele quer dizer que os crentes deveriam sentir-se seguros quanto à promessa de felicidade eterna, igualmente como se já tivessem um tesouro reservado num lugar particular. Da qual já antes ouvistes. Como a salvação eterna é uma coisa que ultrapassa a compreensão do nosso entendimento, ele adiciona que a segurança dela foi trazida aos colossenses por meio do evangelho; e ao mesmo tempo diz no princípio que ele não irá apresentar algo novo, mas tem meramente em vista confirmá-los na doutrina que tinham recebido anteriormente. Erasmo traduziu assim – a palavra verdadeira do evangelho. Também estou bem ciente que, de acordo com o idioma hebraico, o genitivo é frequentemente usado por Paulo no lugar de um epíteto; mas as palavras de Paulo aqui são mais enfáticas. Pois ele chama o evangelho, kay ejxoch>n, (com o objetivo de eminência), de palavra da verdade, com a visão de colocar honra sobre ele, para que eles possam aderir mais leal e firmemente à revelação que tinham derivado dessa fonte. Assim, o termo evangelho é introduzido por aposição.

    O Fruto do Evangelho - Comentário de Colossenses 1.6-8

    "6 que chegou até vós; como também, em todo o mundo, está produzindo fruto e crescendo, tal acontece entre vós, desde o dia em que ouvistes e entendestes a graça de Deus na verdade;

    7 segundo fostes instruídos por Epafras, nosso amado conservo e, quanto a vós outros, fiel ministro de Cristo,

    8 o qual também nos relatou do vosso amor no Espírito."

    6. Como também em todo o mundo produz fruto. Isso tem uma tendência tanto de confirmar como confortar os piedosos – ver o efeito do evangelho em todo o lugar, reunindo muitos para Cristo. É verdade que a fé dele não depende do seu sucesso, como se nós devêssemos crer no evangelho com base no fato de muitos crerem. Mesmo que o mundo inteiro desabasse, o próprio céu caísse, a consciência de um homem piedoso não deve hesitar, pois Deus, em quem ela está fundamentada, permanece verdadeiro. Isso, contudo, não impede nossa fé de ser confirmada sempre que percebe a excelência de Deus, que indubitavelmente se mostra com maior poder na proporção do número de pessoas que são ganhas para Cristo. Em adição a isso, na multidão dos crentes naquele tempo havia uma contemplação do cumprimento das muitas predições que estendiam o reino de Cristo do oriente ao ocidente. É um auxílio trivial ou comum à fé, ver realizado diante dos nossos olhos o que os profetas há tempos tinham predito quanto à extensão do reino de Cristo por todas as nações do mundo? Não existe nenhum crente que não experimente do que estou falando. Paulo, dessa forma, tinha como objetivo encorajar ainda mais os colossenses com essa declaração, pois, vendo em vários lugares o fruto e progresso do evangelho, eles poderiam abraçá-lo com maior zelo. Aujxano>menon, que traduzi como propagatur, (é propagada) não aparece em algumas cópias; mas, por sua adaptação ao contexto, escolhi não omiti-la. Parece também a partir dos comentários dos antigos que essa leitura foi sempre a mais geralmente recebida.

    Desde o dia em que ouvistes e conhecestes a graça. Aqui ele os louva por causa de sua docilidade, visto que imediatamente aceitaram a sã doutrina; e louva-os por causa de sua constância, por perseverarem nela. É também com propriedade que a fé do evangelho é chamada o conhecimento da graça de Deus; pois ninguém jamais provou do evangelho, senão o homem que sabe estar reconciliado com Deus, e se apegou à salvação que está em Cristo. Em verdade significa verdadeiramente e sem fingimento; pois como tinha anteriormente declarado que o evangelho é verdade indubitável, assim declara agora que ele tinha sido puramente administrado sobre eles, e isso por Epafras.

    Associações Não Aprovadas por Deus - Comentário de 1 Coríntios 5.9,10

    "9 Já em carta vos escrevi que não vos associásseis com os impuros;

    10 refiro-me, com isto, não propriamente aos impuros deste mundo, ou aos avarentos, ou roubadores, ou idólatras; pois, neste caso, teríeis de sair do mundo."

    9. Já escrevi para vocês em uma epístola. A epístola de que Paulo fala não é existente em nossos dias. Nem há qualquer dúvida de que muitas outros estão perdidas. É o bastante, no entanto, que foram preservadas para nós aquelas que o Senhor previu seriam suficientes. Mas esta passagem, em consequência de sua obscuridade, tem sido foi torcida por uma variedade de interpretações, mas eu não acho que seja necessário ocupar o tempo para refutá-las, senão simplesmente apresentar o que parece-me ser o seu verdadeiro significado. Ele lembra aos coríntios que já lhes tinha ordenado que deveriam se abster de relações sexuais com os ímpios. Porque a palavra traduzida para associáveis, significa estar em familiaridade com qualquer um, e ter hábitos de intimidade com ele. Agora, ele recorda que apesar de terem sido admoestados, ainda  permaneciam inativos.

    Ele acrescenta uma exceção, para que possam entender melhor o que isso se refere especialmente aos que pertencem à Igreja, uma vez que não necessitavam ser admoestados para evitar a sociedade do mundo. Em suma, então, ele proíbe os Coríntios de terem intercâmbio com aqueles que, embora professando ser crentes, no entanto, vivem impiamente e para a desonra de Deus. Essa exceção, no entanto, aumenta a criminalidade dos remissos, na medida em que eles admitiam no seio da Igreja uma pessoa abertamente ímpia; pois é mais vergonhoso negligenciar os de sua própria casa do que negligenciar estranhos.

    10. Quando eu te ordeno a evitar os fornicadores, eu não quero me referir a todos eles; caso contrário seria necessário ir em busca de um outro mundo; porque temos de viver entre os espinhos, enquanto permanecemos na terra. É somente isto o que eu exijo, que você não mantenha companhia com os fornicadores, que desejam ser considerados como irmãos em Cristo, para que não pareça pela sua tolerância que aprova a sua iniquidade. Assim, o termo mundo aqui, deve ser entendido como a presente vida, como em João 17.15: Não peço, Pai, que os tires do mundo, mas que os livre do mal.

    Contra esta exposição uma pergunta pode ser proposta por meio de objeção: Como Paulo disse isso em uma época em que os cristãos estavam ainda misturados com pagãos, e dispersados entre eles, o que deveria ser feito agora, quando todos confessavam o nome de Cristo? Pois, mesmo nos dias de hoje é preciso sair do mundo, se quisermos evitar a sociedade dos ímpios; e não há ninguém que seja estranho, quando todos tomam sobre si o nome de Cristo, e são consagrados a ele pelo batismo. Se alguém se sentir inclinado a seguir Crisóstomo, não encontrará qualquer dificuldade em responder, ao que Paulo tem aqui por certo e que era verdade - que, quando há o poder de excomunhão, há um remédio fácil para efetuar a separação entre o bem e o mal, se as igrejas fazem o seu dever. Quanto a estranhos, os cristãos de Corinto não tinham jurisdição, e eles não poderiam restringir o seu modo de vida dissoluta. Portanto, eles teriam necessariamente que deixar o mundo, se quisessem evitar a sociedade dos ímpios, cujos vícios não puderam curar.

    De minha parte, eu tomo a palavra traduzida por sair no sentido de ser separados , e o termo mundo no sentido das corrupções do mundo. Que necessidade há de uma união com os filhos deste mundo (Lucas 16. 8), por ter uma vez por todas renunciado ao mundo,  você fica por conseguinte distante de sua sociedade; porque o mundo inteiro jaz no maligno (1 João 5.19). Se alguém não está satisfeito com essa interpretação, aqui está uma outra que ainda é provável: Eu não escrevo para você, em termos gerais, que você deve evitar uma associação com os devassos deste mundo, todavia você deve fazê-lo, sem qualquer admoestação minha. Prefiro, no entanto, a interpretação anterior.

    Associações Não Aprovadas por Deus 2 - Comentário de 1 Coríntios 5.11

    Mas, agora, vos escrevo que não vos associeis com alguém que, dizendo-se irmão, for impuro, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com esse tal, nem ainda comais. (1 Coríntios 5.11)

    Alguém que dizendo-se irmão. No grego há um particípio sem um verbo.  Aqueles que veem isso como se referindo ao que se segue, dão-lhe um sentido forçado, e em desacordo com a intenção de Paulo. Confesso, de fato, que esse é apenas um sentimento,  e digno de ser particularmente notado - que ninguém pode ser punido pela decisão da Igreja, senão alguém cujo pecado tornou-se público e notório; mas estas palavras de Paulo não podem ser obrigadas a suportar esse significado. O que ele quer dizer, então, é o seguinte: Se alguém é contado como um irmão no meio de vós, e ao mesmo tempo leva uma vida ímpia, e como isto é impróprio para um cristão, mantenham-se afastados de sua companhia. Em suma, ser chamado irmão, significa aqui uma falsa profissão de fé, que não tem nenhuma realidade correspondente. Mais adiante, ele não faz uma enumeração completa de pecados, mas apenas menciona cinco ou seis à guisa de  exemplo, e então, depois, sob a expressão tal pessoa, ele resume o todo; e ele não menciona ninguém, senão o que caiu sob o conhecimento dos homens. Porque impiedade interior, e tudo o que é secreto, não se enquadra no julgamento da Igreja.

    É incerto, porém, o que ele quer dizer com idólatra, porque como pode ser dedicado à idolatria quem tenha feito uma profissão de Cristo? Alguns são de opinião que havia entre os coríntios naquela época alguns que receberam a Cristo, mas ao mesmo tempo estava envolvidos, no entanto, envolvidos com idolatria, como os israelitas do passado. De minha parte, prefiro entendê-la se referindo àqueles que, enquanto tinham abandonado o culto aos ídolos, no entanto, davam uma homenagem fingida aos ídolos, com a intenção de agradar aos ímpios. Paulo declara que essas pessoas não devem ser toleradas na sociedade dos cristãos; e não sem uma boa razão, na medida em que fizeram tão pouca conta em pisar a glória de Deus debaixo dos pés. Devemos, no entanto, observar as circunstâncias do caso - que, enquanto eles tinham uma igreja, em que podiam adorar a Deus em pureza, e fazer o uso legítimo dos sacramentos, ingressaram na Igreja, de tal forma, que não renunciaram à comunhão profana dos ímpios. Faço esta observação, a fim de que não se possa pensar que devemos empregar medidas igualmente severas contra aqueles que, embora no dia de hoje dispersos sob a tirania de líderes religiosos hereges, poluem-se com muitos ritos corruptos. Estes, na verdade, eu mantenho, que pecam, no geral, a este respeito, e devem ser fortemente tratados com diligência urgente, para que aprendam a consagrar-se totalmente a Cristo; mas não me atrevo a ir tão longe a ponto de contar-lhes dignos de exclusão da comunhão dos santos, pois o seu caso é diferente.

    Com esse tal nem ainda comais. Em primeiro lugar, temos que verificar se ele se refere aqui a toda a Igreja, ou apenas a indivíduos. Eu respondo que isso é dito, de fato, a  indivíduos, mas, ao mesmo tempo, está conectado com a sua disciplina em comum; porque o poder de exclusão não é concedido a qualquer membro individual, mas a todo o corpo. Quando, portanto, a Igreja exclui alguém, nenhum crente deve recebê-lo em termos de intimidade para com ele; caso contrário, a autoridade da Igreja seria levada ao desprezo, se cada indivíduo tivesse a liberdade de admitir à sua mesa aqueles que foram excluídos da mesa do Senhor. Por partilhar o alimento aqui, se entende viver junto, ou ter associação familiar nas refeições. Mas se, por entrar em uma pousada, eu vejo aquele que foi excluído sentado à mesa, não há nada que me impeça de jantar com ele; pois eu não tenho autoridade para excluí-lo. O que Paulo quer dizer é que, na medida em que está em nosso poder, devemos evitar a companhia daqueles a quem a Igreja cortou de sua comunhão.

    O excluído não deve ser considerado como um inimigo, mas como um irmão (2 Tessalonicenses 3.15) porque ao se colocar essa marca pública de desgraça sobre ele, a intenção é que ele possa se envergonhar e ser conduzido ao arrependimento.

    Purificação da Carne e do Espírito - Comentário de 2 Coríntios 7.1

    Tendo, pois, estas promessas, amados, purifiquemo-nos de toda a imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus. (2 Coríntios 7.1)

    Estas promessas, portanto. Deus, é verdade, nos contempla em suas promessas por seu puro favor; mas quando ele tem, por sua própria vontade,  conferido a nós seu favor, ele logo em seguida exige de nós a gratidão em troca. Assim, o que ele disse a Abraão, Eu sou teu Deus (Gênesis 17. 7), foi uma oferta da sua bondade imerecida, mas ele, ao mesmo tempo acrescentou o que ele exigia dele – Anda na minha presença e sê perfeito. Como, no entanto, esta segunda frase nem sempre é expressada, Paulo nos ensina que em todas as promessas, esta condição está implícita, as quais devem ser incitações a nós para promover a glória de Deus. Para que propósito ele apresenta um argumento para nos estimular? É a partir disto, que Deus nos confere uma honra tão ilustre. Essa, então, é a natureza das promessas, para que elas nos chamem para a santificação, como se Deus as tivesse interposto por um acordo implícito. Sabemos, também, que a Escritura ensina isto em várias passagens, em referência ao projeto da redenção, e a mesma coisa deve ser vista como a aplicação de cada prova do seu favor.

    De toda a imundícia da carne e do espírito. Tendo já mostrado, que somos chamados à pureza, agora ele acrescenta, que esta deveria ser vista no corpo, bem como na alma; porque o termo carne significa aqui corpo, e o termo espírito significa alma, é manifesto disto, que se o termo espírito significa a graça da regeneração, a declaração de Paulo, em referência à poluição do espírito seria absurda. Ele nos queria então, puros de contaminações, não só interiormente,  tendo apenas a Deus como  testemunha; mas também no exterior, como estando sob a observação dos homens. Não devemos ser somente de consciência casta aos olhos de Deus. Também devemos consagrar a ele todo o nosso corpo e todos os nossos  membros, para que nenhuma impureza possa ser vista em qualquer parte em nós.

    Agora, se considerarmos qual é o ponto que ele tem em vista, facilmente iremos perceber, que são aqueles que agem com imprudência excessiva, que desculpam a sua idolatria, eu não sei sob que pretextos. Porque, assim como a impiedade interior, e superstição, de qualquer tipo, é a contaminação do espírito, o que eles entendem por contaminação da carne, senão uma profissão externa de impiedade, seja isto fingido, ou expressado do coração? Eles se vangloriam de uma consciência pura; que, de fato, está baseada em motivos falsos, mas concedendo-lhes aquilo do que se gabam, eles têm apenas a metade do que Paulo requer dos crentes. Portanto, eles não têm base para pensar, que têm dado satisfação a Deus por aquela metade; porque, deixe uma pessoa mostrar qualquer aparência de uma total idolatria, ou qualquer indicação da mesma, ou tomar parte em rituais maus ou supersticiosos, embora ela fosse - o que ela não pode ser - perfeitamente reta em sua própria mente, ela seria, no entanto, não isenta da culpa de poluir seu corpo.

    Aperfeiçoando a santidade. Apesar de que o verbo ἐðéôåëåῖí em grego signifique às vezes, aperfeiçoar, e às vezes realizar ritos sagrados, isto é elegantemente usado aqui por Paulo na antiga significação, que é a mais frequente - de tal forma, porém, como para aludir à santificação, da qual ele está agora  tratando. Por enquanto isto denota perfeição, parece ter sido intencionalmente transferido para ofícios sagrados, porque não deve haver nada defeituoso no serviço de Deus, senão que tudo deve ser completo. Assim, a fim de que você possa se santificar a Deus corretamente, você deve se dedicar de corpo e alma inteiramente a ele.

    No temor de Deus. Porque, se o temor de Deus nos influencia, não estaremos tão dispostos a sermos indulgentes conosco, e nem haverá uma erupção dessa audácia de luxúria que se mostrou entre os Coríntios. Porque como acontece que muitos se deliciam tanto em idolatria exterior, e altivamente defendem tão grosseiro vício, a não ser por eles pensarem que zombam de Deus impunemente? Se o temor de Deus tivesse domínio sobre eles, eles iriam imediatamente, no primeiro momento, deixar todos os sofismas, sem a necessidade de serem constrangidos a isso por qualquer contestação.

    (Nota do Pr Silvio Dutra: Calvino apresenta uma excelente interpretação desta passagem, ao associar o assunto da santificação à vida devotada a Deus, em separação sobretudo de práticas idolátricas, e não meramente em seu sentido moral, o qual é importante, mas que é apenas a consequência de um caminhar na presença de Deus e em comunhão com Ele. Apoia a sua interpretação o fato de Paulo ter tratado no contexto imediato anterior, nos últimos versículos do 6º capítulo, à não conveniência da associação dos crentes com as práticas idolátricas daqueles que não conhecem a Deus, seja a qual pretexto for.)   

    Tristeza que é para Arrependimento e Vida - Comentário de 2 Coríntios 7.8-10

    "8 Porquanto, ainda que vos tenha contristado com a carta, não me arrependo; embora já me tenha arrependido vejo que aquela carta vos contristou por breve tempo,

    9 agora, me alegro não porque fostes contristados, mas porque fostes contristados para arrependimento; pois fostes contristados segundo Deus, para que, de nossa parte, nenhum dano sofrêsseis.

    10 Porque a tristeza segundo Deus produz arrependimento para a salvação, que a ninguém traz pesar; mas a tristeza do mundo produz morte."

    8. Porque ainda que eu vos tenha entristecido. Paulo agora começa a pedir desculpas ao Coríntios por lhes ter tratado um pouco asperamente numa antiga epístola. Agora, temos de observar, no que uma variedade de modos ele lida com eles, de forma que ele pudesse parecer como se tivesse suportado diferentes caracteres. A razão é que o seu discurso foi dirigido a toda a Igreja. Havia alguns lá, que entretinham uma visão desfavorável dele - havia outros que o tinham, como merecia, na mais alta estima - alguns tinham dúvidas; os outros estavam confiantes - alguns eram dóceis: outros eram obstinados. Em consequência desta diversidade, ele foi obrigado a dirigir seu discurso agora em um lado, depois de outro, a fim de adequar-se a todos. Agora, ele diminui, ou melhor, ele tira completamente qualquer ocasião de escândalo, por conta da severidade que ele havia usado, em razão de esta ter em vista a promoção do bem-estar deles. O seu bem-estar, diz ele, é tanto um objeto de desejo para mim, que tenho o prazer de ver que eu lhes tenho feito o bem. Este abrandamento só é admissível quando o professor fez o bem

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