Apocalipse
De Silvio Dutra
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Apocalipse - Silvio Dutra
Apocalipse 1
A Revelação do Tempo do Fim
Quando nos preparamos para ler um comentário sobre o livro de Apocalipse é bem provável que o pensamento dominante que povoe a nossa imaginação seja o relativo à expectativa de quando se dará o tempo do fim, e mais precisamente quando ocorrerá o arrebatamento da Igreja e o retorno de Jesus em sua segunda vinda.
Todavia, devemos refletir e considerar que tendo esta revelação sido dada há cerca de dois mil anos, seria de se supor que Jesus, em sua infinita sabedoria, jamais teria dado a mesma com o intuito de sabermos apenas quando Ele voltaria, senão e principalmente que soubéssemos que haverá um fim para a condição presente da criação de estar sujeita ao domínio do pecado e de Satanás, e que há um modo correto pelo qual importa vivermos para sermos dignos de participar do Seu reino futuro de justiça, verdade e glória.
Tanto é assim, que os primeiros discípulos foram por Ele repreendidos, quando da ocasião da Sua ascensão ao céu, porque lhe perguntaram acerca do tempo exato do cumprimento de todas as coisas que havia predito e disse-lhes que nem mesmo Ele sabia, senão somente o Pai.
Então, o Apocalipse não foi dado para levantar cogitações e alimentar a nossa imaginação quanto ao tempo de cumprimento de cada profecia ali contida, senão para vigiarmos e andarmos em santidade, de modo que ninguém venha a roubar a coroa que está prometida àquele que vencer o pecado, o diabo e o mundo, pela perseverança na fé e na piedade.
Em muitos sentidos se aplica e se cumpre a bênção prometida no terceiro versículo do primeiro capítulo do livro de Apocalipse, que estaremos comentando:
Bem-aventurado aquele que lê e bem-aventurados os que ouvem as palavras desta profecia e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está próximo.
Primeiro e antes de tudo, porque aponta para a vitória certa e segura do reino de Cristo sobre o império das trevas, que opera presentemente no mundo.
Segundo, porque é um alerta para as igrejas quanto às muitas tentações e apostasias a que estarão expostas, especialmente no tempo do fim.
Assim, isto serve para que os cristãos atendam à convocação ao arrependimento (mudança de vida e constância no testemunho fiel), e a se ouvir o que o Espírito está dizendo às igrejas, bem como a se disporem a serem diligentes e a perseverarem nas tribulações e provações que terão que enfrentar enquanto aguardam o triunfo final de Cristo.
Além destes, há inúmeros fatores que demonstram que, de fato, são bem-aventurados todos os que leem e ouvem a profecia desta Revelação (tradução da palavra grega Apocalipse, usada logo no início do primeiro versículo deste livro) e que guardam as coisas que estão nela escritas.
Se lermos, portanto, este livro profético, procurando conhecer em minúcias a quais épocas e personagens se aplicam cada uma das realidades nele apresentadas em linguagem simbólica, erraremos certamente o objetivo para o qual foi escrito, que foi o de fortalecer a nossa fé e confiança, especialmente nos dias difíceis do tempo do fim, e a firmamos um testemunho de vida cada vez maior na fé em Jesus.
A extensa saudação inicial dos versos 4 a 6 é na verdade, uma grande afirmação do sacerdócio, do reinado, da redenção, da fidelidade, da essência e do testemunho eterno de Jesus Cristo.
Aquele que é, que era e que há de vir
é um dos modos de se referir ao Salvador e Senhor eterno, do qual somente por meio dEle é possível ser redimido do pecado e ser adotado como filho de Deus.
Nunca é demais lembrar que isto foi revelado por Deus desde Adão, quando disse a Eva que seria dela que descenderia no futuro Aquele que esmagaria a cabeça da serpente e do qual foi prometido a Abraão que nEste seu descendente seriam benditas todas as nações da terra.
O próprio Abraão foi justificado pela fé nEle. O modo de Deus salvar sempre foi pela fé no Seu Filho Jesus Cristo e no Seu sacrifício por nós, prefigurado nos sacrifícios de animais oferecidos por Adão, Abel, Abraão, e pelo povo de Israel, que lhes foram exigidos por Deus na Antiga Dispensação, para servirem de figura dAquele único e Grande Sacrifício pelo qual somos redimidos, perdoados e reconciliados com Deus.
Então, é afirmado no verso 6 que é por Cristo, e pelo Seu sangue, que somos feitos reino e sacerdotes para Deus Pai, porque toda a nossa aceitação por Deus é decorrente de termos a Cristo por causa da fé nEle.
Tudo o que temos e somos procede dEle; e por meio dEle, de modo que se afirma no verso primeiro deste livro que a revelação que está sendo feita nele foi dada pelo Pai ao Filho, para ser mostrada aos seus servos, porque somente Jesus é o único Mediador e Fiduciário da aliança que foi feita entre Deus e o Seu povo.
Ele não é somente o autor da salvação e da fé, como também o Seu consumador. Isto implica que é Ele que começa a nossa salvação; e é Ele mesmo que a confirma, aperfeiçoa e completa.
Como veremos, especialmente nos capítulos segundo e terceiro deste livro de Apocalipse, esta fé deve ser expressada num viver condigno com a condição de filhos de Deus, que foi alcançada por meio da união com Cristo.
Ele é quem faz Sua obra avançar e que triunfa sobre os poderes das trevas, mas é exigido dos seus servos que se consagrem a Ele, para que possam ser os canais por meio dos quais fará a Sua obra avançar no mundo.
Esta consagração inclui arrependimento, amor, oração, serviço, fidelidade, santidade e tudo o mais que nos é ordenado por Deus em Sua Palavra; especialmente obediência à Palavra e vida de oração, porque é por meio de ambas que se pode ter comunhão com Deus, conhecimento da Sua vontade e poder para poder realizá-la.
De modo que nenhuma obra de Deus prevalecerá onde não houver cobertura de oração para a pregação da Palavra no poder do Espírito.
Esta é a fé que vence o mundo. Uma fé que se manifesta vencedora sobre as tentações, o diabo, a carne e o mundo, e que se aplica às obras de justiça segundo o evangelho.
Então, o livro de Apocalipse vai revelar em quão grande batalha espiritual estão envolvidos os servos de Cristo, especialmente os que estiverem presentes no mundo no tempo do fim, para que possam vigiar e se empenharem em viver em santificação diante de Deus, para que todos os inimigos que se levantam contra Cristo, contra a Sua obra e os cristãos possam ser vencidos, porque somente aos vencedores são feitas promessas de reinarem juntamente com Cristo.
É importante frisar que a revelação dada a João neste livro é destinada às sete igrejas que estão na Ásia, conforme referido no verso 4, as quais são especificadas no verso 11, e detalhadas nos capítulos segundo e terceiro.
Todavia, é óbvio que ao ter falado àquelas sete igrejas que existiam na Ásia Menor nos dias de João, o Senhor não estava limitando a mensagem do livro às mesmas, porque as coisas que nele são referidas, especialmente a partir do quarto capítulo dizem respeito ao período da Grande Tribulação, sob o Anticristo, que antecederá a Segunda Vinda de Jesus.
Assim, aquelas sete igrejas são representativas de todas as igrejas da história cristã, mais particularmente, das igrejas do tempo do fim.
Nós veremos que há uma constante chamada ao arrependimento às igrejas que estão mortas, mornas, afastadas, que abandonaram seu primeiro amor, que estão tolerando mundanismo e heresias.
Disto, concluímos que o livro tem o propósito de mostrar às igrejas de todas as épocas, especialmente às do tempo do fim, a necessidade de vigilância e de um constante arrependimento.
Das coisas que são reveladas no livro, se diz que são as coisas que em breve devem acontecer (v. 1), e que o tempo deste acontecimento está próximo (v. 3).
A Dispensação do Evangelho é a última dispensação até a consumação de todas as coisas.
É a dispensação dos dias difíceis nos quais opera o mistério da iniquidade (II Tes 2.7).
A perseguição à Igreja e a multiplicação da iniquidade se intensificarão, quanto mais se aproximar o tempo do fim.
Então, do ponto de vista de Deus tudo está praticamente consumado desde que Jesus morreu, ressuscitou e subiu ao céu, inaugurando uma Nova Aliança e dispensação, com o derramar do Espírito; porque desde então, foi precipitada a contagem regressiva para a manifestação do Seu reino e de todas as coisas que são relativas a Ele, o qual está sendo implantado nesta presente dispensação, e que será consumada com a Sua segunda vinda.
Todavia, esta glória será seguida por sofrimentos da Igreja, assim como Cristo padeceu antes de entrar na Sua glória.
Por isso, João destaca seu próprio exemplo de companheirismo com os demais cristãos na aflição que sofriam neste mundo, mas também no reino de Deus, e na perseverança, pois se encontrava deportado e preso na Ilha de Patmos, por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus (v. 4).
No entanto, a glória vindoura da Igreja é certa, porque João viu Jesus vindo com as nuvens em grande glória, e todo olho O verá, quer de justos, quer de ímpios (v. 7).
Por isso o próprio Senhor se proclama no verso 8, o Alfa e o Ômega (primeira e última letras do alfabeto grego), ou seja, o princípio e o fim de todas as coisas, porque é nEle que tudo subsiste, e mais uma vez é afirmado por Ele ser o Deus Todo-Poderoso que é, que era e que há de vir.
Jesus afirma claramente ser o Deus Todo-Poderoso neste versículo, e há ainda muitos debatendo acerca da divindade de Jesus.
Deixem que debatam, enquanto simplesmente creiamos nisto como um fato consumado, porque somente quem fosse divino poderia realizar tão grande obra de salvação, conforme a que Jesus realizou em nosso favor, e reinando e transformando os corações de milhões, ao longo da história do mundo.
Afinal, de qual outro ser, senão de quem é divino se poderia afirmar as coisas que são referidas nos versos 10 a 20?
Porque João ouviu a Sua voz como de trombeta (v. 10), e de muitas águas (v. 15).
Os olhos como chamas de fogo (v. 14).
O rosto como o sol em toda a sua força (v. 16).
Tendo em sua mão direita sete estrelas e uma espada afiada de dois gumes saindo de sua boca (v. 16), além de outras características maravilhosas, que são destacadas nos versos 10 a 20.
Quem, senão somente o próprio Deus pode receber tais descrições?
E, de quem se dizem tais coisas é afirmado ser aquele que vive e que foi morto, mas que está vivo para todo o sempre, e que tem as chaves da morte e do inferno.
Quem, senão somente Jesus Cristo pode ser Aquele que falou com João tais palavras?
Não restou a João, como não resta a nenhum de nós, senão cairmos prostrados aos Seus pés.
Mas