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Jornalismo Periférico
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E-book576 páginas2 horas

Jornalismo Periférico

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Sobre este e-book

O presente trabalho é resultado de estudo acadêmico realizado em 1999 e visava apresentar para banca examinadora com intuito de obter título de mestre em comunicação social. Trata-se de inventário dos jornais que circulavam na região do ABC paulista (Santo André; São Bernardo do Campo; São Caetano do Sul; Diadema; Mauá; Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra) naquele ano, mas que não se enquadravam na categoria de jornalismo hegemônico, nem na categoria de imprensa alternativa. Com base em dados empíricos e quantitativos, restou demonstrado a importância dessa imprensa para a construção da informação local. A partir deste estudo, foi proposta uma nova classificação no campo da comunicação midiática impressa, ao incluir a categoria de jornalismo periférico, tendo como base a linguagem da informática para esta nova abordagem. O estudo foi muito bem recebido no meio acadêmico e contribuiu para o aparecimento de outros estudos, na forma de tese de doutorado, dissertação de mestrado e apresentações em congressos. O estudo confirmou que o jornal Diário do Grande ABC, classificado como categoria hegemônica, perdia, em relação a circulação junto ao público leitor, em mais de 214% para os jornais identificados como periféricos.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento4 de ago. de 2021
Jornalismo Periférico

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    Jornalismo Periférico - Glória W. De Oliveira Souza

    Glória W. de Oliveira Souza

    JORNALISMO PERIFÉRICO

    Inventário dos veículos periféricos na construção da informação local na

    Região do ABC paulista

    1ª edição

    São Paulo

    Edição do autor

    2021

    REFERÊNCIA:

    SOUZA, Glória W. de Oliveira. Informações periféricas: Inventário dos veículos periféricos na construção da informação local na região do ABC paulista. São Paulo, 2021. 181 p.

    Bibliotecário responsável: Maurício Amormino Júnior (CRB6-2422)

    Copyright © by Glória W. de Oliveira Souza, 2021

    Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998. Nenhuma parte desta publicação pode ser gravada, armazenada em sistemas eletrônicos, fotocopiada, reproduzida por meios mecânicos ou outros quaisquer sem autorização prévia da autora.

    gloria@canalw.com.br

    Primeira edição: julho de 2021

    Projeto gráfico da capa:

    Glória W. de Oliveira Souza

    Diagramação:

    Glória W. de Oliveira Souza

    Revisão:

    Mantida versão original. Atualizada, em parte, relativo a reforma gramatical de 2009.

    Chucamel,

    amor que se foi e

    deixou uma enorme saudade

    Sumário

    Prefácio

    H

    á certos acontecimentos em nossas vidas que não conseguimos compreender. Ou a compreensão só chega tempos depois. A presente publicação é uma prova disso. Demorou 22 anos para que se descobrisse a importância do conteúdo original. Não só para o seu público primário (acadêmico), mas sim – ao se transformar em livro – e ter seu público ampliado e, desta forma, chegar a outros tipos de leitores; diferentes do receptor original. O seu conteúdo tornou-se público, em forma de produção acadêmica, para uma banca examinadora como dissertação de mestrado, visando a obtenção do grau de mestre. Era 1999 e seu conteúdo encaixava na linha de pesquisa em estudo de mídia, com linha temática de história das indústrias midiáticas e o objeto de pesquisa foi veículo impressos. Ao ser aprovado, o estudo está depositado em uma biblioteca universitária. Para tanto, à época, foi utilizada a ortonímia como identificação¹.

    Hoje, com pouquíssimas adaptações, é ofertada ao público em geral, permitindo, dessa forma, alcançar um público leitor maior, que também possa aprofundar no conteúdo, já que ele abrange várias áreas de estudo. Ao mesmo tempo, também serve para aproximar os dois universos literários: acadêmico e popular. Vale destacar que o trabalho original teve boa repercussão no campo acadêmico, tanto no momento da avaliação – há quem mencionou que o resultado caberia em um projeto de doutorado – porque o estudo era um inventário dos jornais do ABC Paulista que não se enquadram no jornalismo hegemônico nem na categoria alternativa. Com base em dados quantitativos, procurou-se demonstrar a importância dessa imprensa para a construção da informação local. A proposta que se fez, nesse estudo, foi no sentido de uma nova classificação do jornalismo, ao incluir a categoria de jornalismo periférico, tomando como referência a linguagem da informática para a nova abordagem². Identificava como palavras-chaves: imprensa periférica; jornalismo local; ABC Paulista; inventário; nova categoria de jornalismo. O trabalho, contribuiu, ainda, como suporte para outros estudos acadêmicos.  Uma tese de doutorado, em 2005, na área de saúde³; dissertação de mestrado sobre rádios comunitárias⁴, em 2012, bem como foi referência nas apresentações em congressos, como de comunicação em 2003⁵ e, no formato original, em encontro em Portugal⁶, em sessão temática sobre ‘comunicação e desenvolvimento’. 

    O estudo – feito com base em dados empíricos – identificou que a classificação então existente nos meios midiáticos não se aplicava aos veículos pesquisados. Esses não se enquadravam na categoria de imprensa hegemônica e nem tampouco na classificação de imprensa alternativa. Portanto, havia uma novidade. Para identificar o fenômeno, primeiro foi identificado o jornalismo como fonte de estudo para entender que essa mídia sempre esteve presente no dia-a-dia das pessoas, já que o jornal é um ingrediente importante para a formação da cidadania. Em seguida foi observada a imprensa como instância de poder e, também, tratou-se a hegemonia como forma de controlar a sociedade, ocasião em que se confirmou que o jornal Diário do Grande ABC, atuava de forma hegemônica na região, pois era considerado o maior jornal regional do país. E, na região, ninguém superava o seu poderio econômico. Possuía, à época, aproximadamente 600 funcionários, sendo que, destes, 160 atuavam na redação. Nenhum outro veículo do ABC tinha cacife, em todos os sentidos, para competir com DGABC. Alguns desses jornais eram produzidos integralmente somente com o trabalho de uma pessoa: o proprietário.

    A relação midiática, hoje, passa pelas novas tecnologias, o estudo abordou, também, a relação da globalização e sua interação com o poder. Mesmo atuando localmente, a imprensa, assim como o consumidor, se sente atingidos com o que ocorre no resto do mundo. Inevitável. Para contrapor a esse processo da globalização, também acontece ações localizadas com a participação da comunidade, momento em que também os meios hegemônicos de poder tentam usurpar do caráter democrático da participação popular. Isto está identificado na presente publicação, expondo os mecanismos de controle.

    A região do ABC, conhecida mundialmente pelo seu perfil econômico, social e político, se desenvolveu a partir do incentivo e investimento do presidente da República, nos anos 50, Juscelino Kubitschek, Ele, ao implantar a indústria automobilística, escolheu a região por se situar entre a cidade de São Paulo – já se tornando uma metrópole – e o porto de Santos, ponto de escoamento da economia brasileira. Mas, apesar desse investimento, o ABC, foi engolido pela dinâmica política, econômica e importância da Capital, a cidade de São Paulo, que deixou de ser apenas uma mera cidade e se transformou na oitava maior cidade do mundo, com aproximadamente 13 milhões de habitantes⁷.

    A cidade de Santo André, integrante da Região do Grande ABC – e sede (própria) do jornal Diário do Grande ABC – é nona cidade mais antiga do Brasil. Foi fundada em 1553, um ano antes que a cidade de São Paulo, surgida em 1554. A primeira cidade do país foi Cananéia, em 1531, também no Estado de São Paulo⁸. Santo André faz parte da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), também conhecida como Grande São Paulo, como a maior região metropolitana do Brasil, com cerca de 21,5 milhões de habitantes, e uma das dez regiões metropolitanas mais populosas do mundo. Reúne 39 municípios intenso processo de conurbação⁹. Já a Região do Grande ABC, também chamada de ABC Paulista, ABC ou ainda ABCD, é uma região desenvolvida pela industrialização e parte da Região Metropolitana de São Paulo, porém com identidade própria. Os sete municípios somados perfazem uma área de 825 km². A história da região do ABC Paulista começa com sua ocupação pelos indígenas e por portugueses liderados por Martim Afonso de Sousa e João Ramalho¹⁰.

    O ABC é marcado historicamente por ser o primeiro centro da indústria automobilística brasileira, sede de diversas montadoras, como Mercedes-Benz, Ford, Volkswagen e General Motors, entre outras. No entanto, o setor de serviços também cresceu significativamente. A presença de indústrias de grande porte fez com que a região fosse o berço do movimento sindical contemporâneo no Brasil. As greves dos operários foram muito fortes e impactantes no final da década de 1970, o que resultou na fundação do Partido dos Trabalhadores (PT) e na Central Única dos Trabalhadores (CUT), no início da década seguinte¹¹. Assim como as montadoras, o movimento sindical também  se aproveitaram da estratégica localização do ABC, situado entre o porto de Santos e os principais mercados consumidores do País, assim como sua moderna infraestrutura e, seguindo o modelo das matrizes, que ergueram enormes unidades de produção voltadas para a produção em massa, acabaram concentrando dentro de seus muros um imenso contingente de operários¹². Foi nessa região que surgiu a figura de Luís Inácio Lula da Silva, oriundo do sindicalismo e presidente do Brasil por dois mandatos.

    Para demonstrar que a imprensa que atuava nas cidades do ABC possuía um caminho próprio, foi analisado a imprensa alternativa, onde buscou-se os conceitos e definições próprias para esse tipo de jornalismo. Não era o caso. O resultado encontrado foi que a imprensa estudada, no trabalho, não se configurava como alternativa, visto que também não fazia parte da imprensa hegemônica. Para dar suporte e embasar a nova proposta foi preciso buscar uma nova classificação por suas peculiaridades. Portanto, buscou-se conceituar o novo objeto como jornalismo periférico, dentro da filosofia de que essa imprensa não atuava como alternativa e nem tampouco hegemônica, mas sim como interface entre essas duas classificações. Foi identificado que esse jornalismo periférico utiliza diversos aspectos das duas categorias na sua produção. Esses aspectos, entretanto, não foram objeto do presente estudo, pois trata-se de um inventário, cujo fito inicial foi permitir continuidade para outros estudos.

    Portanto, os jornais que circulavam no ABC – à época do estudo – com exceção do Diário do Grande ABC e dos jornais sindicais, se encaixavam em qual das categorias existentes? Não eram hegemônicos por não ter estrutura e nem fazer parte do status quo político e econômico. Também não eram alternativos porque não se enquadram na descrição dessa categoria. Então, o que eram? Não haviam descritivos que os abarcasse. Para abrigar esse novo achado, foi conceituado como de imprensa periférica, por conter ingredientes próprios, que os diferenciava das outras categorias existentes: hegemônica, sindical ou alternativa. Buscou-se, então, amparo no campo da informática, que possuía elementos análogos a situação encontrada no estudo, ou seja, a interface com a mesma função.

    Na informática um periférico não significa à margem, mas integração, sem a qual não há desenvolvimento do equipamento principal. O termo periférico é geralmente usado no sentido de "situado na periferia¹³", já que este termo, que vem do grego periphéreia (significando circunferência) e do latim peripheria, é designação para uma superfície ou linha que delimita externamente um corpo; contorno, âmbito¹⁴.

    Na informática, periférico é um dispositivo conectado a um sistema de computadores que não é pertencente à unidade de processamento central, conhecida como CPU. Os periféricos mais comuns incluem dispositivos de saída, tais como impressoras, drives de disco e dispositivos de entrada, como teclados e modems. Os periféricos – há vários tipos (Tabela 15) – usualmente, exigem interfaces de hardware e software para operar sob o controle do sistema operacional do computador. Os circuitos da interface asseguram que a informação seja transferida da unidade central de processamento de maneira correta e que os dados de entrada sejam corretamente recebidos.

    Como se pode notar, a informática tem várias descrições que são análogas ao sistema de comunicação de massa. Dessa forma, julgou-se oportuno utilizar a mesma nomenclatura (periférica) para designar essa nova categoria, pois a área de informática é referencial, principalmente num contexto tecnológico e serve como suporte para a indústria da mídia mundial. Com isso é inimaginável pensar hoje qualquer sistema de comunicação sem o componente tecnológico, sendo que certos termos advindos da informática já fazem parte do vocabulário corrente. Evidenciou-se, dessa forma, necessidade de revisão da classificação existente.

    Assim, o estudo dessa imprensa resultou numa nova forma de ver e analisar os sistemas de comunicação de massa, rompendo, desta forma, com a dualidade maniqueísta entre hegemoniedade e alternatividade, visto que, a vida social, e suas correlações, não se dão de forma simplista. Goldenberg aponta que "toda construção teórica é um sistema cujos eixos são os conceitos, unidades de significação que definem a forma e o conteúdo de uma teoria¹⁵. Para a autora, categorias são os conceitos mais importantes dentro de uma teoria. Ela lembra que ciência é um conjunto organizado de conhecimentos relativos a um determinado objeto obtidos através da observação e da experiência, adicionando que a ciência está muito mais próxima de nossa ignorância do que de nossas certezas".

    Portanto, se tomarmos por base a definição de que "método científico é a observação sistemática dos fenômenos da realidade através de uma sucessão de passos, orientados por conhecimentos teóricos, buscando explicar a causa desses fenômenos, suas correlações e aspectos não-revelados¹⁶, cremos que o presente trabalho, ao iniciar a busca do entendimento do fenômeno comunicacional no ABC por intermedio de um inventário, é uma contribuição aos estudos midiáticos, abrindo caminho para posterior aprofundamento, tanto do objeto estudado como de outros aspectos não abordados no presente estudo. Para isso serão necessários aprimorar a metodologia utilizada, lembrando que método significa organização e logia quer dizer estudo sistemático, pesquisa, investigação, sendo que pesquisa é um trabalho de produção de conhecimento sistemático, não meramente repetitivo mas produtivo, que faz avançar a área de conhecimento a qual se dedica¹⁷. Só assim é possível pensar numa conceituação, já que teoria é um conjunto de princípios e definições que servem para dar organização lógica e aspectos selecionados da realidade empírica", conforme ensina Goldenberg¹⁸.

    O presente estudo relata a história de alguns jornais periféricos, que configuram a luta em busca de mercado, do leitor e da sobrevivência. Há um potencial enorme para essa imprensa, ainda invisível para o mercado publicitário, que desconhece a sua existência. Para finalizar, tendo em vista que foi ampliado o universo de leitores existem, no material original, referências – principalmente como notas de rodapé – termos mais usados no meio acadêmico, como Op. Cit¹⁹; Idem²⁰ e Ibidem²¹.

    Boa leitura,

    A autora

    Introdução

    U

    ma inquietação pessoal, ao questionar-me como a população da região do ABC se informava sobre os acontecimentos locais, levou-me à realização deste trabalho, cujo objetivo é refletir sobre a imprensa local e sua importância na construção da informação. Com base em dados empíricos percebemos que a classificação hoje existente não se aplica a esses veículos pesquisados. Eles não se enquadram na categoria de imprensa hegemônica e nem tampouco a classificação de imprensa alternativa satisfaz, pois, a forma de produção e distribuição dessas publicações se diferencia, e muito, da imprensa combativa.

    O que me levou a estudar essa imprensa foi o fato de que a tiragem conhecida do jornal

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