O pio da coruja

De Aparecido Klai

Floriano é uma homem muito supersticioso. Depois de abandonado pela esposa, vai a uma cartomante para descobrir o dia de sua morte. E se arrepende.

• Idioma: Português
• Editora: Bibliomundi
• Data de lançamento: 11 de abr. de 2023
• ISBN: 9786500461411

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Floriano

Floriano nasceu e passou quase toda a sua vida no sítio. Desde muito pequeno trabalhava na propriedade do pai e sempre foi muito dedicado.

Ainda vivos, seus pais resolveram fazer a partilha do patrimônio e poupar os descendentes da demorada e custosa partilha de bens.

Ao jovem dedicado coube alguns alqueires de terra boa e produtiva que, desde logo, cultivou café e criou gado.

Abandonou os estudos muito cedo. O trabalho garantia retorno financeiro, os estudos roubavam seu precioso tempo de trabalho. Ficou só nas primeiras letras.

Mudou de opinião quando perdeu muitos animais por causa de botulismo e precisou da assistência de um veterinário.

No momento de pagar pelas despesas do profissional, foi quando concluiu que os estudos eram um investimento para o futuro. Mas para o futuro dele, já era muito tarde.

─ Esse menino é muito trabalhador.

Essa era a afirmativa que seu pai mais ouviu dos parentes e conhecidos. Sempre se sentiu muito orgulhoso.

─ Esse é um moço muito trabalhador.

Essa foi frase que Floriano mais gostou de ouvir. Outra, que lhe deu igual satisfação, foi seu sogro quem disse:

─ Pode se casar com ele, minha filha. Esse é um homem muito trabalhador.

E tinha de ser assim. Gostava que fosse assim. Nunca se imaginou formado.

Sem uma ciência para acreditar, passou a acreditar no destino, no azar e na sorte. Se tornou um homem muito supersticioso.

Acreditava em cartomantes, em ciganas que liam a mão e em astrologia. As páginas de horóscopo dos almanaques eram sempre a sua primeira leitura.

Os almanaques eram distribuídos todo final e início de ano nas farmácias e casas agropecuárias e, além da previsão astrológica para todo o ano, continham também informações úteis para a agricultura.

Os circos que visitavam a cidade traziam sempre as suas cartomantes. Todas envolvidas em uma áurea de mistério. Nessas ele não confiava. Nunca acertaram.

─ Não sabem nada. Só querem tomar o dinheiro dos trouxas. ─ Dizia ele para quem quisesse ouvir.

Havia na cidade a Eulália, uma cartomante