Imensurável
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Imensurável - Aparecido Klai
Apaixonado
Era sábado e Pedro Henrique, como sempre fazia em seus finais de semana sem compromisso com o trabalho, desceu para a avenida Princesa Isabel e caminhou até a praia do Leme. Aproveitou a temperatura agradável da manhã e andou pela areia até alcançar o Forte de Copacabana. Tomou uma água de coco na barraca de um conhecido e retornou pelo calçadão da avenida Atlântica, onde muitos praticavam corrida e caminhada.
Durante esses deslocamentos era comum encontrar o pai, Haskel, um polonês radicado no Brasil desde quando chegou, contratado por um consórcio de empresas para trabalhar na ferrovia Rio/São Paulo. O projeto demorou até que fosse concluído e, durante esse tempo conheceu Eloá, médica do trabalho que atuava no canteiro de obras. Conheceram-se, namoraram, casaram-se, ficaram morando em um apartamento da família da noiva na avenida Nossa Senhora de Copacabana e, um ano depois, nasceu Pedro Henrique, alegria dos pais e dos avós.
Haskel aprendeu o português básico antes de chegar ao Brasil e nunca teve dificuldade em se comunicar com os colegas de trabalho. Tinha essa disposição de conhecer e de aprender que facilitou o convívio, ampliou seu círculo de amigos e fez dele uma presença obrigatória em festas e comemorações dos contratados daquele projeto. Também das comemorações de passagem de ano e queima de fogos que assistiam reunidos na praia. Além da personalidade festiva tinha uma admiração declarada pela cor da pele bronzeada dos brasileiros e, principalmente, das brasileiras. Eloá era morena clara de pele bronzeada. Não tinha a pele transparente, como ele mesmo se referia à cor da própria pele e se permitia pouca exposição ao sol das praias do Rio de Janeiro.
Pedro Henrique aprendeu a falar polonês com o pai ainda muito jovem. Ouvia palavras diferentes ditas por Haskel e repetia. Com o tempo aprendeu o significado e cresceu ampliando o vocabulário nos dois idiomas. Tudo aconteceu naturalmente e ele já era bilíngue no momento da alfabetização. Além da curiosidade e admiração que provocava nos colegas e professores quando falava o polonês, a outra serventia desse aprendizado foi a facilidade em se comunicar com os avós paternos.
A herança genética do pai foi responsável pelo apelido errôneo que recebeu dos colegas da escolinha de futebol, principalmente quando faziam a divisão dos times para as pequenas disputas. Pedro nunca foi um excelente atleta, era apenas mediano e compensava com muito esforço, bastava isso para fazer a balança oscilar a seu favor.
─ O alemão joga no nosso time.
─ Ele não é alemão, seu ignorante. Pedro Henrique é polaco.
─ Nie, sou brasileiro. Nasci aqui mesmo, em Copacabana.
Ele não era tão branco como o pai. Apenas o suficiente para distinguir-se dos demais alunos. Depois de adulto, quando contrariado, fazia como Haskel e empregava uma frase no idioma que ele dizia ser rico em consoantes e pobre em vogais. Os ouvintes, sem nada entender, olhavam admirados e permaneciam calados por alguns instantes.
Eloá, quando em conversas com as amigas, sempre dizia que nos momentos conflituosos com Haskel ou Kel, como preferia chamá-lo, a atitude do marido de trocar o português pelo polonês durante as discussões foi o que manteve o casal unido.
─ Como ele falava sem alterar o tom da voz e sem demonstrar emoções, eu não sabia se era um elogio, um resmungo ou uma ofensa. Depois ficava tudo bem e eu preferia nem saber o que ele disse ou resmungou.
─ Estão juntos há mais de trinta anos e você nada aprendeu do idioma polonês? Nunca teve essa vontade?
─ Kel, quando nos conhecemos, já falava bem o idioma português e não foi necessário eu aprender o dele. Se fosse, não sei se conseguiria. Não é como o espanhol ou o italiano, é muito diferente. E se você quer saber, aprender inglês foi uma obrigação menos complicada.
─ É frequente eu ver Pedro Henrique conversando com Haskel em polonês. Como foi que ele aprendeu?
─ Acho que nasceu sabendo. Eu só falava com ele em português, o pai às vezes falava uma frase em polonês e o menino foi assimilando desde muito cedo até que passou a conversar comigo em português e com o pai em polonês. É tão próximo do pai que optou pela mesma carreira. Agora domina muito bem os dois idiomas e também o inglês.
─ Você não aprendeu nada de nada em polonês nem mesmo quando viajou para a Europa, Eloá? Apenas gastou o seu inglês? Quanto tempo passou na terra natal de Haskel?
─ Ficamos pouco e aprendi poucas palavras em polonês. Acho a pronúncia complicada.
─ Por exemplo? Diga-nos algo em polonês. Algo que você conheça a tradução.
─ Nasza miłość.
─ E significa?
─ Nosso amor.
─ Aprendeu com Haskel? Então ele é um homem romântico. Ou apaixonado. Como se diz apaixonado em polonês?
─ Zakochani.
─ Zakochani? É assim? Foi assim que ele falou quando se declarou? Você entendeu? Sabia que o que ele dizia?
─ Não foi assim. Ele, antes de mais nada, se apaixonou pelo Brasil. Foi depois que nos conhecemos no trabalho.
─ É duplamente zacocaniado.
─ Isso não existe. Eu acho. E você tem mais facilidade do que eu para aprender um idioma diferente e repetir a pronúncia.
─ Diga o que mais você aprendeu?
─ Coś miłego. Se eu não estiver engada, significa algo agradável.
─ Deixe de modéstia, você sabe bem mais do que demonstra. Falta praticar. Deveria fazê-lo com o marido, com o filho ou com os sogros. Assim, na próxima viagem, não teria o idioma como obstáculo.
─ Não faço questão e não é necessário. Nem quando era mais jovem tive esse interesse.
Eloá de fato não se dedicara ao idioma do marido. Quando conversava com os sogros, Kel sempre estava ao lado cuidando das traduções, depois Pedro Henrique também assumiu a tarefa. Poucas vezes viajou para o país de seu companheiro e, quando fez, nunca teve uma estadia demorada, os compromissos da carreira não permitiram. Haskel e o filho fizeram viagens mais frequentes e mais demoradas. Em uma dessas viagens para a Polônia modificaram o itinerário da volta e seguiram para Alemanha, Suíça, França, Espanha e Portugal antes de retornarem para o Brasil. Quando chegaram, Pedro Henrique articulava frases nos idiomas francês e alemão.
Depois de formado e empregado, Pedro Henrique optou por morar sozinho e alugou um pequeno apartamento na avenida Princesa Isabel. A janela do quarto abria para a avenida, mas o mar estava tão perto que era possível ouvir o barulho das ondas quando a noite ficava menos barulhenta. Além da proximidade com o mar, estava tão perto do apartamento dos pais que não dependia de condução para as visitas e dividiam a mesma arrumadeira. Aos finais de semana almoçava sempre com os pais e durante a semana, nos dias de trabalho remoto, passava com eles as primeiras horas do anoitecer.
A localização foi o que determinou a escolha por aquele imóvel. Mercados, bancos, restaurantes, bares, hotéis, tudo a poucos passos de distância. Além da praia, a Estação Cardeal Arcoverde do metrô estava a poucas quadras de distância, praticamente em frente ao apartamento de seus pais. Era de metrô que fazia o deslocamento diário até a estação de trem, aquele mesmo trem que seu pai ajudou a construir. Pedro Henrique se utilizava dele para atravessar a fronteira do estado e viajar até São José dos Campos, onde prestava serviços para uma renomada empresa de engenharia.
Ouviu do pai, da mãe e de muitos que a linha de trem existira ligando Rio de Janeiro a São Paulo durante quase meio século. A rodovia e as empresas aéreas tomaram boa parte dos passageiros que preferiam uma viajem menos demorada e os trens foram desativados. A evolução tecnológica permitiu trens mais rápidos e mais seguros. Se por um lado o tempo de deslocamento era ainda superior ao da ponte aérea, por outro lado era muito inferior e mais confortável que uma viagem rodoviária.
Novas tecnologias e grandes obras foi o que fez Pedro Henrique optar pela carreira do pai. Desde muito pequeno encantava-se com Haskel estudando e detalhando projetos no computador ou no papel, acompanhava e aprendia com ele. Quando foi aprovado no vestibular, a mãe lhe disse que não enfrentaria dificuldades. Engenheiro já era, faltava apenas o diploma. Não aconteceu exatamente assim, mas o aprendizado anterior facilitou o estudo. Depois de formado, as amizades e indicações do pai ajudaram-no quando decidiu se empregar.
Foi na empresa que conheceu Mirella, também engenheira iniciando carreira. Conheceram-se durante uma reunião de atribuição de tarefas quando Pedro Henrique, contrariado, disse algo em polonês. Ela não compreendeu e, durante um intervalo para o café, procurou-o para saber do que se tratava.
─ Você fala russo?
─ Nunca falei russo. Por que pergunta?
─ Aquilo que disse durante a reunião pareceu russo. Não é russo? Que idioma é?
─ Você fala russo, Mirella?
─ Não. Falo apenas português e inglês. O que foi que disse?
─ Ziemia co chwilę zmienia twarze.
─ Sim, se parece com o que ouvi durante a reunião. O que significa?
─ No contexto daquela conversa, eu me referia a mudanças. A terra muda a cada momento. Nós somos os responsáveis por essas mudanças. Pelas grandes obras que modificam os