A Ponte de Rubinéia
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A Ponte de Rubinéia - Aparecido Klai
Um bom caldeireiro
Renê deixou sua cidade natal em busca de emprego na região do ABC paulista. Logo que chegou conheceu um metalúrgico que recomendou que estudasse caldeiraria para ter um bom salário. Aceitou o conselho e concluiu seu curso de caldeireiro e soldador em 1988. Com o diploma na mão, saiu à caça de seu primeiro emprego.
Jovem, cheio de sonhos, desejava a estabilidade de um bom emprego, uma boa casa para morar e um carro para os passeios de finais de semana ou para visitar os parentes em Rubinéia, uma cidade no noroeste do estado de São Paulo, nas margens do rio Paraná.
Trabalhou em muitas terceirizadas, que prestavam serviços para empresas do Polo Petroquímico e para a Petrobrás, até se estabilizar em uma delas. Mesmo assim, embora contratado por uma empreiteira, os trabalhos eram executados em diferentes canteiros de obras. Principalmente na refinaria de Mauá.
Considerava tudo muito bem, enquanto não lhe faltasse serviços. Pouco ou muito.
─ Melhor pingar do que faltar. ─ Era o que pensava e sempre dizia.
Gilvan, aquele metalúrgico que lhe aconselhou a estudar caldeiraria, era natural da cidade de Luanda, no Paraná. Depois de adulto foi para Aparecida do Taboado, no Mato Grosso do Sul, para trabalhar no Porto Presidente Vargas. Depois, a construtora que o contratou assumiu uma obra em Santo André e ele, desde então, permaneceu na região.
─ Renê, eu quero voltar para o meu canto, mas essa empresa não é contratada para tocar nenhuma obra por lá.
─ Você quer voltar para Luanda, sua cidade no Paraná?
─ Não. Para lá não. Tenho parentes naquela cidade e vou visitá-los sempre que posso. Quero retornar para Aparecida do Taboado, no Mato Grosso do Sul. Me adaptei melhor ali, trabalhei um bom tempo por lá e fiz muitas amizades. Sinto mais falta desses amigos do que dos meus parentes.
─ É perto de onde nasci, mas fica do outro lado do rio e da divisa do estado. Além das amizades, o que mais te faz querer voltar para lá?
─ Eu não sei, talvez apenas as amizades. Talvez Hilda. O fato é que gosto mais daquela região. Sinto falta das pescarias. Aqui é só concreto, poluição e correria. Isso não é bom para gente e nem para bichos.
─ Sinto falta dos meus familiares que ficaram em Rubinéia.
─ Então, também estou assim. Sinto falta dos amigos que fiz.
─ Hilda era sua parente ou namorada em Aparecida do Taboado?
─ Meus parentes estão todos em Luanda. Exceto um irmão que veio comigo do Paraná. Trabalha em uma montadora. Casou, mora em Santo André e tem filhos.
─ Eu não tenho ninguém por esses lados. Os poucos amigos que fiz foi durante o curso e no trabalho.
─ Como eu em todos os lugares por onde passei.
─ Não fosse você me adotar como amigo, me aconselhar e me orientar, não sei que rumo eu teria tomado.
─ Você é um bom profissional. Faria dar certo de um modo ou de outro.
─ Talvez. Não tenho tanta certeza. Sei que bem orientado foi mais fácil. Saiba que sou grato por isso.
Gilvan e Renê moravam em Mauá, perto da divisa com Santo André. Escolheram viver próximos do trabalho, poupar tempo e dinheiro com condução. E também pelo aluguel ser menos caro.
O passatempo de ambos era o futebol com os amigos nos finais de semana. Principalmente aos domingos. Aos sábados, alguns cumpriam horário extraordinário e o time nunca estava completo.
Renê, em campo, conseguia se movimentar pelas pontas e no ataque. Gilvan, com menos destreza, reforçava a defesa.
Na segunda-feira retornavam aos trabalhos de medição, corte, desbaste, solda de chapas, tubulações e equipamentos.
Foi durante uma semana agitada no trabalho que Renê escolheu um dia e, depois do expediente, foi até a casa de Gilvan para lhe mostrar uma surpresa.
─ Veja só, Gilvan!
─ Estou vendo. É seu? Onde você conseguiu esse carro?
─ Comprei numa loja aqui de perto. Na Avenida Oratório. Havia marcado para retirar hoje e estava o dia todo ansioso. Todas as horas pareceram ter mais de sessenta minutos.
─ Por isso deixou o trabalho uma hora mais cedo?
─ Sim. Vou compensar essa hora amanhã. Mesmo saindo mais cedo, quase não deu tempo. Já estavam desistindo de me aguardar. O coletivo que tomei seguiu muito lento.
─ Duvido que estivesse lento como você disse. Acredito mais que era você que estava com muita pressa.
─ Isso também. Entre, dê uma olhada e me diga o que achou dessa compra.
─ Gostei. Parece bem conservado.
─ Rodou cinquenta mil quilômetros. Um pouco mais. É o que consta no velocímetro. Acha muito para um carro de cinco anos?
─ Não é muito, acho até que é pouco. Só não sei te dizer se você pode confiar na indicação desse odômetro.
─ Tem disso? Acontece desse medidor ser mentiroso?
─ Alguns espertalhões adulteram esse marcador. Nunca tive um carro, mas sei que acontece muito. O pessoal lá do canteiro de obras faz isso com uma furadeira.
─ Não sabia