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Para Além-Mar
Para Além-Mar
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E-book121 páginas37 minutos

Para Além-Mar

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Sobre este e-book

Para Além-Mar reúne palavra, sentimento, entrega e amadurecimento. Construído durante os últimos anos da adolescência e primeiros anos da vida adulta da autora, o conjunto de poemas reúne os questionamentos, ansiedades, dúvidas, descobertas — desse período singular da vida de uma mulher em constante aprendizagem — e revelações sobre si e sobre aquilo que a envolve.
A coletânea oscila entre os vários momentos que atingem o interior do ser humano, da mulher construída e formatada pelo século XXI: a descoberta do próprio corpo, a sensação de amar, as dores e pressões sobre a estética e o lugar ocupado na sociedade. Todas essas tensões levam a questionamentos que a poesia não visa responder, mas, sim, dissecar e adentrar para revelar todas suas fragilidades e falhas.
Para Além-Mar é, antes de mais nada, um livro sobre identificação, produzido da confissão de um sujeito, mas que se faz reverberar sobre outros muitos.
IdiomaPortuguês
EditoraViseu
Data de lançamento24 de abr. de 2023
ISBN9786525450070
Para Além-Mar

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    Pré-visualização do livro

    Para Além-Mar - Melina Coelho Garcia

    Para Além-Mar

    Quando escrevo para o além-mar

    É porque me surge a necessidade

    De resgatar águas já navegadas

    Em que persiste a dor do esquecimento

    E o peso da memória

    Mas quando me dirijo, hoje,

    Ao além-mar

    É para fruir do gozo

    (Uma última vez,

    e deus há de permitir)

    da inconstante certeza

    de para cá poder retornar

    Se me jogo no além-mar

    É para me despir

    Sem o medo dos olhos que devoram

    A carne humana mais inocente

    que é a da mulher que não sangra

    E se sangra

    Me chama o além-mar

    Para me mandar para o próximo passo,

    o próximo altar

    Desse corte profundo que é a onda

    Que quebra a vida em duas

    Se me permites

    não te darei sussurros amargurados

    ou beijos já mortos em sua criação

    dar-te-ei os privilégios

    escondidos em uma mesóclise rara

    e desconhecida aos cientistas,

    linguistas e cartomantes:

    dar-me-ei

    pois é o que tenho por hoje

    e desfruto sob o temor

    de madrugadas vazias

    e galos esfomeados pelo amanhecer.

    A luz matutina

    incinera meu astigmatismo

    e me transforma

    no tédio de quem acorda para já ser.

    Por isso: poupa-me das apresentações

    dos galanteios e sutilezas

    a peste corre voraz

    e meu corpo implora

    antes que a madrugada esvazie

    receba-me.

    Há dias

    em que me explodo em hipérboles

    dias curtos e estonteantes

    que se arremessam, feito arcos olímpicos

    rasgando o vento

    da minha respiração

    mas há dias

    em que me resto em um eufemismo

    opaca e desgraçada

    nesses dias

    as horas pesam

    e o arrastar dos segundos

    é uma pegada de deus

    que me comprime e espanta

    para perto dos animais

    Hoje, não chove

    e o vento é pouco

    – um dia de eufemismos

    em que minha presença

    já me basta

    Fugaz:

    o momento em que o calor emana

    e o beijo se constrói

    em uma viagem cronometrada

    até o macio da pele

    onde perdura

    nesse alento

    do qual não sou mais capaz

    de renunciar

    Mãe

    Na calmaria com que sustenta

    o peso do mundo no ventre

    (ou o peso de possuir

    um ventre no mundo):

    é a vida que sacode

    em incontáveis des-anseios

    clamando por independência.

    E, ainda, persiste em saber mais

    do que em mil anos eu poderia descobrir

    em tua bruta e natural

    onisciência

    em tudo conter, em tudo prever

    ainda que não seja

    mais que humana

    mais que a carne poderia conter

    sem idealizações

    e místicas mercadológicas

    sem floreios

    ou excessos de leite

    em teus seios

    sem lavandas importadas

    e os cabelos sempre

    à química incorporados.

    Sem mentiras

    e filtros passageiros.

    Ainda assim:

    completa

    no calor que viaja

    até meu peito

    e me encobre

    em pureza

    e proteção.

    Ante a face bela

    os novos ratos resumem

    o medo do mundo

    ou do profano

    que os desconstrói

    em tela cubista

    uma mãe

    ou um fim?

    que se assemelham pelas curvas

    pelo correr eterno

    de dor concentrada

    e um pesar infinito

    imortal se faz a guerra

    não mais de deuses

    ou cavalos

    não mais um colo materno

    este já escorrido

    corre:

    da luz ou dos insetos

    que gritam pelo temor

    os sismos invisíveis

    da boca úmida e vibrante

    na tela gigante

    paralisam-se

    e ainda persistem

    O beijo no

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