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Matinas e Laudes
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E-book194 páginas2 horas

Matinas e Laudes

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Sobre este e-book

Ela é pequena, ela gosta das pequenas coisas... ela fez grandes coisas. Ela é uma Grande Dama.... essa mulher é minha mãe.

Colette Perron Beaulieu nasceu dia 31 de dezembro de 1927, no vilarejo de Nédélec.

Vinte anos mais tarde, ela me dera a vida e através de seu exemplo, me ensinou essa vida, o querer viver e a energia de viver. Ela é daquelas que raramente se deixam intimidar pelos julgamentos e os mitos acerca do papel da mulher na sociedade de antigamente e de hoje em dia. Essa senhora foi professora, enfermeira, secretária de direção, ela é mãe, educadora, musicista...e eu me lembro que ela era competente.

Mulher e mãe por minha vez, posso entender melhor o quanto ela teve que trabalhar duro para que sua identidade pessoas fosse respeitada, apesar de suas numerosas responsabilidades como profissional, é claro, mas também como esposa de Lucien e mãe de seis filhos.

Há 60 anos, ela finalmente se permite deixar aflorar em si tudo o que há de artista, de criatividade. Ela se enche com sua música, deixa suas ideias fluírem, as quais ela transforma em palavras e compartilha conosco quando se sente inspirada e tudo está ao seu gosto.”

“Essa mensagem de amor à minha mãe, eu lhe dedico no contexto de um Coletivo Témiscanien intitulado Vida e história das mulheres em Témiscamingue. Foi nesse coletivo, em 1988, que ela nos entregou alguns textos que deveriam fazer parte de seu romance Martines e Laudes.

Esse romance, ela queria tanto escrevê-lo, compartilhá-lo conosco e publicá-lo, possivelmente para nos dizer- eu a cito- “um pouco de seus sentimentos até agora guardados um pouco em segredos”. Ela lhe consagrou muitas horas.

No fim de sua vida, ela tinha em mãos um manuscrito que ela nomeou “Cabelos ao vento na alvorada” e o qual ela sabia não mais poder terminar. Foi assim que ela nos pediu, à Yves-Patricke e a mim, seus filhos, de terminar sua obra quando ela não estivesse mais nesse mundo.

Colette nos deixou em 19 de março de 2014, com 87 anos.

Mamãe possui o dom das palavras muito mais que eu. Se eu herdei dela uma pequena fração da artista que ela era, foi Yves- Patrick, o segundo filho da casa, quem recebeu o dom da escrita como herança. Esse dom, ele compartilhou conosco em seus poemas, nos romances, nas novelas e nos ensaios que ele escreveu e publicou ao longo dos anos.

Foi a ele que coube a missão de reunir manuscritos, notas e cadernos de nossa mãe, e é graças ao seu talento e trabalho árduo que esta versão, na qual parte da vida de nossa mãe Colette Perron Beaulieu é descrita, lhes é apresentada.

Yves-Patrick estendeu sua pesquisa para nos tornar conhecido, no final deste romance, o local de nascimento e lugar onde nossa mãe viveu, essa terra témiscanienne da qual ela sempre nos falou com amor e paixão.

Ao ler os textos deste livro, com certeza você notará suas qualidades como contadora de histórias e escritora. Você compreenderá por que desejamos prestar essa homenagem a ela e compartilhar com você “um pouco de seus sentimentos até agora guardados um pouco em segredos.”

IdiomaPortuguês
EditoraBadPress
Data de lançamento1 de mar. de 2024
ISBN9781667470566
Matinas e Laudes

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    Matinas e Laudes - Yves Patrick Beaulieu

    Prefácio

    "Ela é pequena, ela gosta das pequenas coisas... ela fez grandes coisas. Ela é uma Grande Dama.... essa mulher é minha mãe.

    Colette Perron Beaulieu nasceu dia 31 de dezembro de 1927, no vilarejo de Nédélec.

    ––––––––

    Vinte anos mais tarde, ela me dera a vida e através de seu exemplo, me ensinou essa vida, o querer viver e a energia de viver. Ela é daquelas que raramente se deixam intimidar pelos julgamentos e os mitos acerca do papel da mulher na sociedade de antigamente e de hoje em dia. Essa senhora foi professora, enfermeira, secretária de direção, ela é mãe, educadora, musicista...e eu me lembro que ela era competente.

    Mulher e mãe por minha vez, posso entender melhor o quanto ela teve que trabalhar duro para que sua identidade pessoas fosse respeitada, apesar de suas numerosas responsabilidades como profissional, é claro, mas também como esposa de Lucien e mãe de seis filhos.

    Há 60 anos, ela finalmente se permite deixar aflorar em si tudo o que há de artista, de criatividade. Ela se enche com sua música, deixa suas ideias fluírem, as quais ela transforma em palavras e compartilha conosco quando se sente inspirada e tudo está ao seu gosto."

    "Essa mensagem de amor à minha mãe, eu lhe dedico no contexto de um Coletivo Témiscanien intitulado Vida e história das mulheres em Témiscamingue. Foi nesse coletivo, em 1988, que ela nos entregou alguns textos que deveriam fazer parte de seu romance Martines e Laudes.

    Esse romance, ela queria tanto escrevê-lo, compartilhá-lo conosco e publicá-lo, possivelmente para nos dizer- eu a cito- um pouco de seus sentimentos até agora guardados um pouco em segredos. Ela lhe consagrou muitas horas.

    No fim de sua vida, ela tinha em mãos um manuscrito que ela nomeou Cabelos ao vento na alvorada e o qual ela sabia não mais poder terminar. Foi assim que ela nos pediu, à Yves-Patricke e a mim, seus filhos, de terminar sua obra quando ela não estivesse mais nesse mundo.

    Colette nos deixou em 19 de março de 2014, com 87 anos.

    Mamãe possui o dom das palavras muito mais que eu. Se eu herdei dela uma pequena fração da artista que ela era, foi Yves- Patrick, o segundo filho da casa, quem recebeu o dom da escrita como herança. Esse dom, ele compartilhou conosco em seus poemas, nos romances, nas novelas e nos ensaios que ele escreveu e publicou ao longo dos anos.

    Foi a ele que coube a missão de reunir manuscritos, notas e cadernos de nossa mãe, e é graças ao seu talento e trabalho árduo que esta versão, na qual parte da vida de nossa mãe Colette Perron Beaulieu é descrita, lhes é apresentada.

    Yves-Patrick estendeu sua pesquisa para nos tornar conhecido, no final deste romance, o local de nascimento e lugar onde nossa mãe viveu, essa terra témiscanienne da qual ela sempre nos falou com amor e paixão.

    Ao ler os textos deste livro, com certeza você notará suas qualidades como contadora de histórias e escritora. Você compreenderá por que desejamos prestar essa homenagem a ela e compartilhar com você um pouco de seus sentimentos até agora guardados um pouco em segredos.

    Christine Beaulieu Germain,

    Ville-Marie, Témiscamingue. Québec.

    PRIMEIRA PARTE

    A MANHÃ CLARA

    Não vou detalhar tudo o que foi dito e escrito em alguns documentos oficiais, como excertos de atas das assembleias realizadas no Conselho da fábrica no início deste século, os documentos contidos nos arquivos do condado de Saint-Louis-Nédélec. No entanto, permitam-me, através destas linhas percorridas por um humor saudável, compartilhar as horas radiantes de uma infância e adolescência felizes provenientes de certos eventos e influências que contribuíram amplamente para me tornar o que eu sou e para muitos outros da minha idade que as viveram ao mesmo tempo que eu. 

    A época de meus avós é uma era passada que deu lugar a outros estilos de vida que, certamente, podem gerar pessoas igualmente notáveis, mas o molde e o produto são diferentes, como pude observar na minha geração e na seguinte.

    O senhor padre e as Irmãs da Assunção da Santa Virgem eram, juntamente com alguns paroquianos que eram um tanto cultos, nossos pilares, conselheiros e líderes notáveis que despertavam em nós os melhores sentimentos de admiração, respeito e até mesmo veneração. A educação geral que recebemos dessas eminentes figuras poderia certamente competir com a de qualquer cidadão das pequenas cidades vizinhas. O que se segue será apenas um pálido reflexo de todos os elementos de cultura que nos foram transmitidos por esses educadores de múltiplos talentos que se entregaram de corpo e alma para nos inculcar, com habilidade e graça incomparáveis, todos os rudimentos básicos necessários para uma grande disciplina do corpo e da mente, com um domínio consumado em todas as suas formas. Era algo contagioso em nossa comunidade; e quando vários de nós tinham que deixar a escola primária para prosseguir os estudos em internatos, seja uma escola normal, uma instituição familiar ou uma academia, estávamos prontos para enfrentar qualquer um que ousasse nos olhar com superioridade por virmos de uma vilarejo supostamente isolada.

    Independentemente do que se pensa agora, a educação religiosa ou secular que recebemos lá pode ter sido um tanto exagerada aos olhos de algumas pessoas, mas as bases estavam suficientemente sólidas para nos permitir encarar a vida sem fraquejar, tanto como adolescentes quanto como adultos. Vários de nossos pais teriam pagado caro para se sentar nos bancos da escola. Por isso, eles fizeram enormes sacrifícios, a fim de nos permitir receber tal herança. Trata-se de uma época em preto e branco: a única rua do vilarejo, a escola, a loja geral, o correio, presbitério, o traje das irmãs e das estudantes...meu avental branco cobrindo meu vestido preto e branco do convento, nossas roupas de domingo, os rostos das pessoas, tudo isso compunha meu universo. Estávamos bem longe das piscinas em formato de coração. Mas como éramos felizes!

    **

    Tenho diante de mim uma página branca e a fotografia de casamento de meus queridos pais. Eles estão ali, atrás de um de um vidro curvo em uma moldura oval trabalhada à mão. Sim, um casal charmoso que, infelizmente aprendi a apreciar e adorar tarde demais como não é possível! Meu pai quase destruiu tudo se casando com uma mulher de Ontário que todos chamavam de a inglesa porque ela misturava algumas palavras em inglês nas suas conversas.

    Papai a tinha conhecido em um belo dia de verão enquanto ela ficava na casa de sua tia Caroline, a vizinha. Foi um recíproco amor à primeira vista. Eu fiquei sabendo que papai foi fisgado por sua voz de rouxinol, seu aspecto físico pouco banal, e seu rosto iluminado de bondade, portanto, de beleza.

    O casamento deles aconteceu em um belo dia de junho em 1923.

    Eu imagino uma manhã radiosa onde eles se encontraram diante do altar na igreja de Earltin onde descansavam meus avós maternos. Ela Fleur-ange (que lindo nome!), com um vestido de crepe Georgete cinza-pérola o qual ela frequentemente me descrevia, com esse penteado à la Marcelle preso por uma delicada rede, segurando em seu braço esquerdo um buquê de rosas e de Lírios-do-vale, seu olhar profundo fixo no futuro, por assim dizer. 

    Ele, Alphonse, em seu terno sóbrio de um cinza aço. Era um belo rapaz com olhar azul acinzentado, exibindo um sorriso no canto dos lábios. A fotografia deles é de perfil.

    Eu realmente percebo, como sempre me fazem notar, dizendo: 'A mãe em pintura!', que eu me pareço fisicamente com a mamãe, com alguns traços de sua personalidade, e isso me lisonjeia.

    Os recém-casados continuaram por alguns meses morando na casa de meus avós. Mais tarde, quando meu avô terminou de construir sua nova casa bem no centro do vilarejo, a encantadora casa quadrada com telhado inclinado de zinco tornou-se a casa dos meus pais. Foi lá que nasci, na cama dos meus pais.

    Sempre me contaram esse evento único para mim e minha querida mamãe. Era uma fria e clara noite de dezembro, na véspera do ano novo de 1928. O céu estava repleto de estrelas. Foi para celebrar a chegada do quarto bebê, que de certa forma perturbou o espírito das Festas que geralmente eram bem-organizadas, planejadas e funcionavam como um relógio, com o avô sempre presente. De qualquer forma, isso exigiu coragem, tanto para a mãe quanto para o Dr. Beauséjour, esse personagem lendário que chegou a tempo em uma carroça, bem agasalhado com um casaco de castor, usando botas indígenas e até mesmo um cinto de lã torcida, como nas ilustrações de Edmond Massicotte. O fogão da cozinha ronronava. A chaleira assobiava, cercada de todos os recipientes de água quente que minha tia, uma das parteiras do lugar, tinha preparado como era o hábito. Tudo estava pronto.

    Primeiro, um pouquinho de gim quente para o doutor que lavou as mãos cuidadosamente, as mangas da camisa enroladas até os ombros ou quase. Esse afável médico do campo então realizou o parto com uma rara atitude de humanidade. Após o primeiro choro do bebê, os parabéns habituais foram dirigidos aos pais. Em seguida, veio um período de descanso para a mãe, que mais uma vez conseguiu sufocar suas queixas durante o doloroso trabalho. Ela deslizou para um sono reparador com um sorriso de felicidade nos lábios, que durou até o amanhecer, quando o médico, depois de se alimentar, partiu de volta para Notre-Dame-du-Nord, a quatorze quilômetros de Nédélec.

    Na manhã seguinte, vários outros rostos de debruçavam sobre a recém-nascida. Meu irmão Marcel, o mais velho, meu irmão Clovis, o segundo, e minha irmã Laurette, a mais velha, estavam maravilhados com sua nova irmãzinha, que foi chamada de Colette. Naquele dia, tive o meu momento de rainha. Não vou contar todas as outras chegadas em nossa casa. Depois de mim, houve mais oito... e que família!

    **

    Meus pais comemoraram suas bodas de ouro em junho de 1973. Eles partiram para o outro lado do céu, um em dezembro de 1975 e o outro nesse mesmo mês, em 1977. Eu os vi nos deixar, cada um em seu momento, pois eu trabalhava no hospital onde eles faleceram. Papai querido que, até o último momento, fixava/encarava o telefone para chamar mamãe para que ela viesse vesti-lo e buscá-lo. Depois mamãe, deitada em posição fetal, apertando seu terço de grãos de girassol e me dizendo de um sopro essa única fala que se alongava: Feliz... Ela aquiescia com um sorriso quando eu lhe perguntava Por que você vai encontrar o papai? As mais belas fotos que eu conservo deles se encontram em uma gaveta especial da minha memória e no envelope indelével do meu coração. Eles estão ali, os dois, tão grandes, tão dignos, tão cheios de ternura. A imagem deles está plantada em mim como uma cruz iluminada desde sua partida definitiva. A última vez que vi mamãe em casa.... ainda independente, foi em novembro antes de sua morte.  Meu esposo e eu a trouxemos para nossa casa depois de sua estadia no hospital, onde ficou por algumas semanas. Ao se despedir de nós, ela deu uma volta trêmula em nossa propriedade de Beauchastel, enrolada em seu casaco bege e marrom que lhe caía tão bem. Ela contemplou o lago por um longo momento, os arredores da casa, e finalmente, com um passo decidido, sussurrou ao entrar no carro de meu irmão: Eu acho que não poderei mais voltar aqui. Ela tinha dito a verdade. Como amei esses dois rostos! Esses corações tão corajosos, essas mãos enrugadas que tinham trabalhado tanto e prestado inúmeros serviços. Eles, que, no final de suas vidas, ainda clamavam por sua necessidade de serem úteis, mas já não tinham força para isso.  Quanto à minha mãe, que normalmente cantava sempre, acredito que no fim ela ainda ouvia música. Quando falo dela, é como se eu tocasse um sacramento...

    *

    Papai teve que deixar a escola muito jovem. Com treze anos, ele já estava ganhando seu sustento. Ele tinha uma educação limitada, mas ao longo dos anos, com a ajuda da experiência, ele dominou bastante seu vocabulário e os números para, mais tarde, conseguir ser um bom comerciante. Ele passou sus anos de adolescente, até seu casamento, ajudando o avô na fazenda, pois seus dois irmãos mais novos já estavam indo para a escola, o que exigia – como hoje em dia– recursos financeiros suficientes para atender às suas necessidades. No entanto, muitas vezes eu vi papai manusear nossos livros escolares como um monge manuseia os evangelhos. Ele com frequência nos dava, palavra por palavra, as perguntas e as respostas do pequeno catecismo. Um homem assim só poderia desejar uma boa educação para seus filhos.

    Mamãe também não era muito instruída, mas ela sabia bem manter sua casa apesar de sua numerosa prole. Mais tarde, quando eu comecei meus estudos acadêmicos, ela me escrevia cartas cheias de senso prático, pontuadas aqui e ali com palavras carinhosas e alegres. Com frequência, ela incluía uma nota de dinheiro (um dólar) nelas, ou então, entre as roupas que ela lavava e passava com esmero, ela adicionava guloseimas, como fudge, que eu de maneira egoísta, evitava compartilhar com meus colegas de internato. Durante a instalação do avô no vilarejo, papai

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