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Guia de Medicina do Exercício e do Esporte
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E-book444 páginas4 horas

Guia de Medicina do Exercício e do Esporte

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Sobre este e-book

A importância do assunto abordado pelo Guia de Medicina do Exercício e do Esporte se dá por diversas manifestações da área médica no contexto da sua atuação profissional, como, por exemplo, pelas evidências crescentes dos benefícios relacionados ao exercício físico na saúde dos indivíduos em geral. Além disso, o conhecimento expressivo sobre a Medicina do Exercício e do Esporte auxilia o (futuro) profissional de saúde no manejo do esportista/atleta, que constitui uma população especial no contexto médico e que apresenta diversas particularidades clínicas, as quais devem ser bem reconhecidas, buscando, principalmente, a prevenção de desfechos graves (como lesões esportivas, distúrbios alimentares e Morte Súbita) e de outras complicações, a exemplo das doenças crônicas. Dessa forma, o livro traz consigo temáticas relevantes, tais como Avaliação Pré-Participação Esportiva, relação entre a Síndrome Metabólica o exercício, Nutrição Esportiva, saúde da Mulher Atleta, exercícios físicos em Populações Especiais, doping no Esporte, dentre outras. Com isso, o Guia de Medicina do Exercício e do Esporte busca fornecer informações selecionadas e reunidas em uma só fonte literária acerca de seu título, com o fito de alcançar, sobretudo, estudantes de Medicina e médicos em geral.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento8 de mar. de 2024
ISBN9786527016328
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    Pré-visualização do livro

    Guia de Medicina do Exercício e do Esporte - Ícaro Cavalcante Dias Araújo

    FUNDAMENTOS DA MEDICINA ESPORTIVA

    Isac de Oliveira Ribeiro

    Gustavo Cavalcante de Oliveira

    Tamires Ribeiro da Silva Vieira

    1. INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA MEDICINA DO ESPORTE

    No ano de 1896, na cidade de Atenas, iniciava o que seria o primeiro passo para a prática esportiva como conhecemos hoje, a primeira edição dos Jogos Olímpicos modernos. Dessa forma, a partir do fim do século XIX, uma grande revolução ocorreria no esporte, como sua importância para a sociedade e quais seriam seus diversos malefícios e benefícios, tanto individuais como coletivos.

    Este capítulo introdutório tem por intenção apresentar conceitos iniciais para os leitores acerca das bases fundamentais da medicina esportiva, bem como diferenciar concepções que muitas vezes são utilizadas como sinônimos por leigos no assunto. Por se tratar de uma especialidade médica relativamente nova e pouco difundida pelas faculdades de medicina no Brasil, acreditamos que haja uma importância extrema em nivelar conhecimentos para os diferentes leitores desta obra.

    Nesse contexto, a influência da prática de atividades físicas, bem como suas implicações bioquímicas para os seres humanos, começaria a ser identificada desde o início da humanidade. Por exemplo, em 1800 a.C., na Índia, o médico Susrota já diagnosticava a Diabetes Mellitus ao notar que formigas rodeavam a urina dos pacientes. Susrota acreditava que a prática de atividades físicas seria um grande aliado para o tratamento dessa patologia. Dessa forma, nota-se que, a partir da hipótese de Susrota, iniciaria um conceito que percorreria todos os saberes médicos nas demais gerações até os dias atuais; trata-se da influência que as práticas físicas promoveriam para o sistema biológico humano e suas implicações na prevenção de doenças.¹

    Durante os Jogos Olímpicos de inverno de 1928, a prática médica chamou atenção, pois países como Alemanha, Bélgica e Tchecoslováquia, que contavam com equipe médica mais bem preparada, foram os países que se destacaram por grande quebra de recordes em diversas modalidades. Sob tal ótica, a sociedade médica mundial, percebendo a grande relevância que os médicos poderiam promover para a prática física, criou a Federação Internacional de Medicina do Esporte (FIMS) nesse mesmo ano dos Jogos Olímpicos de Inverno¹.

    Após 1928, a sociedade médica passou a ter novas expectativas com relação à atividade física e suas interferências nos seres humanos, porém essa especialidade parecia permanecer distante da população geral, sendo o médico do esporte um profissional restrito aos grandes atletas da época. Até que, na década de 1950, o professor e doutor Kenneth Cooper criou uma tabela que mostrava se a aptidão física de um indivíduo era boa, regular ou fraca segundo a distância percorrida em 12 minutos. Nessa época, muitas pessoas passaram a correr ou andar 12 minutos para avaliar sua capacidade física, promovendo o início da aproximação entre a medicina esportiva e a população comum¹.

    No cenário nacional, o início da visibilidade da medicina esportiva ocorreu pela necessidade de profissionais capacitados que pudessem avaliar problemas de saúde em alunos do curso de educação física antes que estes fossem submetidos a diferentes exigências físicas. Então, o Governo Federal, em 1939, promulgou a Lei nº 1.212, instituindo o currículo para a formação de Médico Especializado em Educação Física.

    O grande boom da medicina esportiva no Brasil ocorreu na década de 1970, período em que que o Governo Federal difundiu bastante os ideais de esporte e saúde, aproveitando-se da vitória da seleção brasileira na copa de 1970. Assim, o curso de formação de medicina voltada à prática esportiva passou a ter cada vez mais adeptos.

    Dessa maneira, entende-se que, atualmente, a Medicina do Esporte é um programa de residência médica reconhecido pelo Conselho Federal de Medicina, de acordo com a Resolução nº 9, de 13 de julho de 2005, sendo considerada uma especialidade médica dotada dos direitos e deveres estabelecidos pelo Decreto nº 80.281, de 5 de setembro de 1977, e pela Lei nº 6.932, de 7 de julho de 1981⁴.

    2. ATIVIDADE FÍSICA X EXERCÍCIO FÍSICO X ESPORTE

    Quando tratamos de medicina esportiva, muitos conceitos podem parecer sinônimos perfeitos, um exemplo disso são as ideias de atividade física, exercício físico e esporte, que, embora similares, demonstram diferentes ordens de grandeza, como apresentado na Figura 1. Para simplificar a compreensão neste capítulo, buscaremos expor o que as entidades científicas consideram acerca desses diferentes conceitos.

    Figura 1 – Representação gráfica relativa aos conceitos de atividade física, exercício físico e esporte

    Atividade física

    Segundo o Ministério da Saúde, a atividade física consiste em um comportamento voluntário do corpo, com gasto de energia acima do nível de repouso, promovendo interações sociais e com o ambiente, podendo ocorrer no tempo livre, em deslocamentos, em atividades físicas relativas a trabalho ou a estudo e em tarefas domésticas⁵. Dessa forma, compreendemos a atividade física como práticas despretensiosas, porém com potencial benefício para a saúde por demandar uma necessidade metabólica que produz repercussões orgânicas favoráveis, adaptações essas que veremos nos capítulos posteriores deste livro.

    Alguns exemplos de potenciais práticas físicas em seus diferentes contextos podem ser visualizados na Tabela 1.

    Tabela 1 – Exemplos de atividades físicas baseados no Guia de Atividade Física para a População Brasileira (Ministério da Saúde, 2021)

    Ademais, as atividades físicas são ações que variam em suas possíveis necessidades metabólicas, podendo haver diferentes graus de intensidade nas atividades realizadas. Geralmente, essas alterações são percebidas pelo aumento da frequência cardíaca, da frequência respiratória, do gasto energético e do esforço realizado, aspectos que são denominados alterações orgânicas agudas. Classificamos a intensidade física da seguinte forma:

    • Leve: exigência de esforço mínimo, havendo poucas repercussões sistêmicas. Nessa intensidade, é possível permanecer numa conversa tranquilamente ou até mesmo cantar uma música.

    • Moderada: a exigência de esforço físico aumenta, sendo perceptíveis alterações breves do organismo. Nessa intensidade, a dificuldade de manter diálogos e cantar músicas aumenta.

    • Vigorosa: exigência considerável do esforço físico, sendo perceptível o aumento dos batimentos cardíacos e da frequência respiratória. Nessa intensidade, torna-se inviável manter uma conversa ou cantar.

    Figura 2 – Representação gráfica dos diferentes níveis de esforço físico

    Exercício físico

    O exercício físico configura-se como uma atividade física planejada, estruturada e repetitiva que promove melhora das condições físicas individuais, benefícios metabólicos e perda de peso⁵.

    Portanto, todo exercício físico é uma atividade física, mas nem toda atividade física é um exercício físico (corroborando o que foi demonstrado na Figura 1).

    Por se tratar de uma prática sistemática e repetitiva, os exercícios físicos têm a capacidade de promover alterações notáveis para o organismo baseando-se em melhorias cardiorrespiratórias e osteomusculares, as quais estão exemplificadas na Tabela 2.

    Tabela 2 – Melhorias cardiorrespiratórias e osteomusculares induzidas pelo exercício físico baseadas no Guia de Atividade Física para a População Brasileira (Ministério da Saúde, 2021)⁵

    Esporte

    O conceito de esporte, embora aparentemente simplório, é de múltipla interpretação na literatura acadêmica. Por exemplo, a Organização das Nações Unidas, em seu memorando acerca do desenvolvimento e paz pelo esporte, afirma que o termo esporte abrange qualquer forma de atividade física que promova boa forma física, interação social e bem-estar mental, incluindo jogos, entretenimento, eventos esportivos, recreativos ou competitivos¹⁵. Já a Carta Europeia de Esportes, adotada em 1992 na Conferência Ministerial sobre Esporte dos Estados da Europa, afirma que esporte significa todas as formas de atividade física que, através da participação aleatória ou organizada, são direcionadas para a expressão ou melhoria do bem-estar físico e mental, formação de relações sociais ou obtenção de resultados em competições de todos os níveis¹⁵.

    Dessa forma, pela ausência de um conceito unificado e universalmente adotado, descreveremos o esporte como um fenômeno sociocultural especial que abrange a prática de uma atividade historicamente determinada por pessoas ligadas ao uso de exercícios físicos, tendo como objetivo preparar e participar de um evento especialmente organizado em sistemas de competições com resultados individuais e sociais significativos¹⁵. De modo geral, um esporte tem regras, delimitações de seu espaço físico, funções estabelecidas para cada participante envolvido, entre outros requerimentos. Didaticamente, podemos citar como exemplo o futebol, que tem regras delimitadas por instituições como a FIFA; espaço físico padronizado; elementos com funções estabelecidas (jogadores, treinadores, árbitros); entre outras características.

    3. O QUE FAZ O MÉDICO DO ESPORTE

    Se você se machucou praticando um esporte, se exercitando, tropeçando nos brinquedos de seus filhos ou praticando atividade física de qualquer tipo, você pode se beneficiar de consultar um médico especializado em medicina esportiva. Embora o nome possa ser enganoso, os médicos esportivos não são apenas para atletas.

    Os médicos do esporte são profissionais formados e habilitados a reconhecer, prevenir, diagnosticar e tratar afecções clínicas e musculoesqueléticas relacionadas ao exercício, ao treinamento e à prática esportiva em pessoas sadias ou doentes. Eles avaliam as capacidades físicas e habilidades motoras, desde iniciantes aos atletas de alto rendimento, orientando a prescrição de treinos para diferentes objetivos. Tanto para atletas como para a população inativa fisicamente, os médicos do esporte podem orientar e prescrever exercício para promover estilo de vida ativo e evitar hipocinesia e sedentarismo, visando prevenir, tratar e reabilitar diversas doenças associadas e prevalentes na população¹¹.

    Ademais, podemos enxergar o médico do esporte como o coordenador de uma equipe multidisciplinar, sendo ele o responsável por reunir diferentes profissionais que serão necessários na condução de seus pacientes, sejam estes atletas profissionais ou não. Assim, o médico do esporte é o responsável pelo planejamento individual da terapêutica de seus pacientes, os quais são, geralmente, submetidos a equipes multidisciplinares de acompanhamento.

    Portanto, notavelmente, compreende-se a Medicina Esportiva como uma especialidade médica pautada principalmente na área preventiva quando tratamos da população geral que busca apenas melhorias e manutenções de saúde e bem-estar. Quando a prática médica se centra em atletas de alto rendimento, espera-se uma melhoria performática do paciente, porém buscando preservar a saúde e manter a longevidade do atleta praticante.

    3.1. A Unidade na Medicina do Esporte

    A clara multidisciplinaridade da Medicina Esportiva (ME) torna obrigatória uma visão abrangente dessa área e é natural que cada uma das áreas com interface na especialidade desenvolva atividades em pontos específicos, como na Ortopedia e Traumatologia. Por outro lado, é necessário que fique claro o entendimento da ME como uma especialidade médica independente e com seu corpo de conhecimento próprio e definido¹.

    Para fins de organização de uma Unidade de ME, consideramos que sejam cinco os setores que devem ser estruturados: o de Clínica do Exercício e do Esporte, o de Ortopedia e Traumatologia do Exercício e do Esporte, o de Avaliação Funcional do Exercício e do Esporte, o de Reabilitação no Exercício e no Esporte e o das Áreas de Suporte ao Exercício e ao Esporte.

    Figura 3 – Unidade da Medicina Esportiva⁹

    3.1.1. Setor de Clínica Médica do Exercício e do Esporte

    Além do primeiro contato na Atenção Primária, cabe ao médico a vivência do dia a dia do esporte junto às equipes e aos atletas, supervisionando seu treinamento, realizando prevenção de problemas clínicos e ortopédicos, oferecendo suporte nutricional e psicológico em situações de atendimento inicial, em conjunto com as áreas afins, e atendendo intercorrências médicas, como o caso extremo de morte súbita e sua prevenção durante eventos esportivos e viagens de delegações. Nessas atividades, o especialista também participa do apoio ao treinamento físico e técnico das diferentes modalidades esportivas⁹.

    A partir de 2007, no Brasil, uma nova proposta acadêmica começou a ser desenvolvida para a Medicina do Esporte, com um programa de residência médica de três anos direcionado a um ano na área de clínica médica (como cardiologia, pneumologia, endocrinologia); um ano de traumatologia do esporte (ortopedia ambulatorial e emergência, reumatologia, fisiatria e reabilitação); e um ano voltado para a performance (cardiologia do esporte, centros esportivos, intercâmbio de residências, ambulatórios de medicina esportiva e optativo, que inclui nutrição, fisiologia esportiva e treinamento físico).

    Esse novo especialista é treinado tanto no ambiente hospitalar como no extra-hospitalar (clubes, quadras esportivas, entre outros), com o intuito de formar um profissional que seja capaz de assistir o atleta em todos os seus aspectos, em sinergia com treinadores, educadores físicos, fisioterapeutas, nutricionistas e psicólogos do esporte. Seu treinamento também é voltado para o aprendizado da prescrição de atividade física como arma terapêutica em doenças diversas e principalmente na prevenção das doenças cardiovasculares, que apresentam alta prevalência mundialmente e, no Brasil, já se tornaram a primeira causa de óbito.

    3.1.2. Setor de Ortopedia e Traumatologia do Exercício e do Esporte

    As lesões esportivas do aparelho locomotor, típicas ou eventuais, acontecem com grande frequência tanto na prática da atividade física geral quanto no esporte de alto rendimento. Esse setor é responsável pela atenção clínica e cirúrgica, nessa especialidade, dos pacientes em tais condições. Esse atendimento deve, preferencialmente, ser realizado por médicos com a dupla formação – em medicina do esporte e em ortopedia e traumatologia. Isso permite a assistência global ao cliente e a compreensão de suas necessidades como praticante da atividade física. Ainda, no caso do alto desempenho e durante o tratamento da lesão esportiva, a reorientação da atividade física, como o repouso ativo e a manutenção do condicionamento físico, exige um atendimento integrado com as diferentes áreas afins. Os programas de prevenção de lesões são fundamentais nessa área.

    3.1.3. Setor de Avaliação Funcional do Exercício e do Esporte

    As atividades desse setor abrangem a avaliação e o acompanhamento de indivíduos envolvidos com a atividade física, em seus diferentes níveis, por meio de testes de função das variáveis e características fisiológicas durante o esforço físico, tais como: testes ergoespirométricos, curvas de lactato, testes neurofuncionais e flexibilidade, entre outros. Outras formas de avaliação de parâmetros relevantes para a prescrição e o acompanhamento de atividade física e treinamento, como a avaliação da composição corporal, a avaliação da força muscular, a avaliação da postura, a biomecânica dos gestos esportivos e a toxicologia, também são de sua responsabilidade⁹.

    3.1.4. Setor de Reabilitação no Exercício e no Esporte

    A reabilitação é uma das grandes áreas da ME. Tanto as afecções clínicas como as cirúrgicas dependem diretamente dessa área para o sucesso da recuperação funcional dos pacientes. A manutenção do condicionamento físico é fundamental no período de reabilitação e permite que seja realizada a ponte entre a terapêutica implementada e o retorno mais seguro à atividade física. Na reabilitação, os programas de reabilitação cardíaca e pulmonar são essenciais para as ações de prevenção secundária. Outra área relacionada à reabilitação é a da atividade física adaptada, que permite a portadores de deficiência física se beneficiarem com a atividade física, além de dar apoio ao esporte competitivo para deficientes, o esporte paraolímpico⁹.

    3.1.5. Áreas de Suporte ao Exercício e ao Esporte

    No contexto multidisciplinar, a nutrição voltada à saúde ou à melhora do desempenho faz parte da atenção global da população em geral e dos atletas. Está claro que a orientação nutricional é inerente a qualquer atenção clínica, mas, quando vinculada à promoção da atividade física, é mais eficiente e promove maior adesão ao controle nutricional. No esporte de alto desempenho, a suplementação nutricional é desejável, e a utilização de recursos ergogênicos lícitos e seguros, uma necessidade. Da mesma forma, os efeitos psicológicos da prática da atividade física na infância, na vida adulta e na terceira idade, e a sua atenção, não são desprezíveis antes, durante e depois do período competitivo. Outro exemplo de área afim é a assistência social, que cumpre papel relevante particularmente nas classes sociais menos favorecidas, em que a atividade física e o esporte podem ser a diferença entre a criminalidade e a inclusão social.

    4. COMO POSSO CLASSIFICAR UM INDIVÍDUO SEGUNDO SUA PRÁTICA DE ATIVIDADES FÍSICAS?

    Já compreendida a diferença entre os conceitos de atividade física, exercício físico e esporte, neste tópico, exemplificaremos os diferentes níveis de atividade física em que um indivíduo pode se enquadrar, classificando e diferenciando sedentarismo, comportamento sedentário, atividade física e atletas.

    Primeiramente, deve-se compreender o que é o Método de Equivalente Metabólico (MET) e qual a sua relação com nível de atividade física de um indivíduo – uma medida de MET corresponde ao nível de gasto de energia durante um repouso tranquilo. Dessa forma, pode-se classificar o nível de atividade física de um indivíduo em intensidade leve (< 3 METs), intensidade moderada (3 a 6 METs) e intensidade vigorosa (> 6 METs)⁷, ¹⁴.

    4.1. O que é o Comportamento Sedentário

    O comportamento sedentário consiste naquelas atividades que não aumentam consideravelmente o gasto energético em relação ao repouso, tais como dormir, sentar, assistir à televisão. Matematicamente, compreendemos como comportamento sedentário atividades que demandem um gasto energético de 1x a 1,5x METs¹⁴.

    Segundo a OMS, em suas diretrizes para atividade física e comportamento sedentário, para um indivíduo adulto (18 a 64 anos) ser considerado ativo fisicamente, são necessários, pelo menos, 150 a 300 minutos por semana de atividade aeróbica de moderada intensidade, ou pelo menos 75 a 150 minutos por semana de atividade aeróbica de vigorosa intensidade⁶.

    Dessa maneira, podemos visualizar três tipos distintos de indivíduos conforme seu nível de atividade física: os que permanecem em comportamento sedentário a maior parte do tempo e não realizam o tempo de atividade física demandado pela OMS; os que permanecem a maior parte do dia em atividades com gastos superiores a 1,5x METs e não realizam as atividades físicas preconizadas pela OMS; e os que permanecem em comportamento sedentário a maior parte do tempo e realizam o tempo de atividade física demandado pela OMS.

    Notavelmente, entre os três indivíduos comparados, o que tem os piores índices de gasto energético é aquele que não pratica atividade física e permanece a maior parte do dia em comportamento sedentário. No entanto, quando comparamos os dois outros indivíduos hipotéticos, qual deles apresenta o índice de gasto energético mais satisfatório?

    Para responder a essa pergunta, Pate et al.¹⁴ compararam dois indivíduos com diferentes padrões de vida, o Indivíduo 1 não atingia os níveis de atividade física moderada a intensa, porém, durante cerca de 75% do tempo, manteve-se em atividades que demandavam > 1,5x METs e em 25% do tempo manteve comportamento sedentário. Enquanto isso, o Indivíduo 2 engajou-se por 1 hora em atividades físicas vigorosas, porém, durante o restante do tempo, permanecia em comportamento sedentário (70%) ou atividades físicas leves (23%). Ao fim do estudo, foi comprovado que o Indivíduo 1 teve um gasto de 26,5x METs durante o período avaliado, enquanto o Indivíduo 2 teve um gasto de 23,5x METs durante o período avaliado¹⁴.

    Portanto, nota-se que existe uma grande necessidade de identificarmos a diferença entre sedentarismo e comportamento sedentário, pois mesmo indivíduos que permanecem fora dos padrões de atividade física orientados por diferentes guidelines podem apresentar níveis de gasto energético tão adequados quanto os padrões seguidos pelo guidelines.

    4.2. Quais as diferentes classificações de um esportista

    Inicialmente, deve-se compreender a diferença entre um atleta e um desportista. O termo atleta vem do grego, athletes, e representava os gladiadores que participavam em eventos esportivos oficiais, ou seja, competições. Assim, podemos tratar como atletas os indivíduos que apresentam uma conceituação mais profissional do esporte, ao passo que desportistas são indivíduos que praticam exercícios físicos com o fito de lazer e melhora da qualidade de vida.

    Por exemplo, indivíduos que participam de competições de triatlo, mas não recebem nenhum valor por isso, ou até mesmo necessitam arcar com custos de inscrição, transporte ou acomodação, são considerados apenas desportistas, mesmo se tiverem desempenho físico similar ao de atletas. Esses conceitos podem ser esclarecidos juridicamente pelo artigo 3ª da Lei 9.615/98³, que diferencia desporto educacional e participativo, realizado primariamente por desportistas, de desporto de rendimento praticado por atletas.

    4.2.1. Atleta amador x Atleta profissional

    Assim como foi tratado do mecanismo legal do artigo 3ª da Lei 9.615/98³ na diferenciação entre desportistas e atletas, o artigo divide a prática de desporto de rendimento, podendo ser de modo profissional (remuneração e contrato formal de trabalho entre atletas e entidades esportivas) e modo não profissional (liberdade de prática, sem contrato formal de trabalho, porém com o recebimento de incentivos materiais e patrocínios)¹².

    Portanto, atualmente, entende-se que qualquer modalidade esportiva pode ser considerada profissional ou não, havendo apenas a necessidade de um vínculo empregatício entre o atleta praticante e a entidade responsável pela programação. Dessa forma, a legislação brasileira é a responsável por reger o atleta profissional e sua relação trabalhista, sendo esta submetida às normas nacionais.

    Vale ressaltar que existe legalmente o conceito de atleta autônomo, cuja relação trabalhista se baseia unicamente na inscrição em competições. Naturalmente, os atletas de esportes individuais são aqueles enquadrados nesse conceito de autônomos, ao passo que os atletas de esportes coletivos são submetidos a uma rotina de treino similar à subordinação jurídica exigida aos empregados, entrando no conceito de atletas profissionais¹².

    5. OS BENEFÍCIOS DA ATIVIDADE FÍSICA

    Para se obter uma melhor qualidade de vida, é importante conhecer os benefícios da atividade física tanto na prevenção quanto no retardo das doenças crônicas, que são cada vez mais frequentes na sociedade moderna. No entanto, os níveis de atividade física no trabalho vêm caindo nas últimas décadas devido às inúmeras inovações tecnológicas e sua praticidade. Dessa forma, é fundamental o conhecimento da população sobre os benefícios da atividade física na prevenção de doenças mórbidas. Isso, que poderia ser priorizado em diversos setores da sociedade moderna, ainda é muito pouco explanado¹¹.

    A prática de atividade física regular na adolescência promove diversos benefícios para a saúde tanto em curto quanto em longo prazo. Além dos efeitos benéficos para a saúde, sabemos que hábitos saudáveis adquiridos ainda na infância/adolescência têm maior probabilidade de permanecer na vida adulta, podendo atuar diretamente no campo da saúde física e ter como consequências: redução de peso e porcentagem de gordura; diminuição da pressão arterial em repouso; prevenção do diabetes; redução do colesterol total; melhora da capacidade aeróbia e anaeróbia. Portanto, pode-se também ter benefícios cardiorrespiratórios, melhora da força, tônus muscular, flexibilidade, fortalecimento de ossos e articulações e queima de calorias, além de auxiliar no desenvolvimento psicomotor no caso específico de crianças.

    Apesar do acúmulo de conhecimento sobre o tema, diversos estudos apontam para baixos níveis de jovens considerados ativos. Isso se torna mais preocupante quando estudos evidenciam, embora especialmente em países desenvolvidos, que a prática de atividade física regular na adolescência vem diminuindo nas últimas décadas. Isso se tornou um dos principais fatores contribuintes para o aumento do sedentarismo e, consequentemente, de sobrepeso/obesidade, com diminuição da atividade física até mesmo nas aulas de educação física escolar⁸.

    Nesse sentido, o processo de envelhecimento, já desgastado pelo sedentarismo, vem acompanhado por diversas modificações, tanto morfológicas quanto funcionais, resultantes da diminuição de reserva funcional dos

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