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Educação Física em Gerontologia
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E-book693 páginas8 horas

Educação Física em Gerontologia

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Sobre este e-book

A Gerontologia é a ciência que estuda fenômenos psicológicos, fisiológicos e sociais relacionados ao envelhecimento do ser humano. Esse processo tem despertado um grande interesse de várias áreas do conhecimento, como a Educação Física, e paralelamente, o mundo vê a perspectiva de vida da população mundial exponencialmente crescer nas últimas décadas, com aumento do número de idosos na sociedade. Portanto, eu, como profissional de Educação Física e doutor em Gerontologia, apaixonado pela área do envelhecimento e do trabalho com idosos, quero com esta obra auxiliar na disseminação do conhecimento da área para os demais colegas de profissão e futuros profissionais da Educação Física. Além disso, trago, junto aos coautores, anos de experiência no trabalho ao público idoso e a gerontologia. A originalidade, aplicabilidade e a minha vivência, e dos coautores, no trabalho com idosos são evidentes nesta obra. Cada capítulo permitirá a você, leitor, o conhecimento teórico e prático da Educação Física em Gerontologia. Espero, com esta obra, aguçar em você o desejo pela busca contínua da Educação Física em Gerontologia. Tenha uma boa experiência!
IdiomaPortuguês
Data de lançamento29 de abr. de 2021
ISBN9786525004822
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    Pré-visualização do livro

    Educação Física em Gerontologia - Daniel Vicentini de Oliveira

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    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO MULTIDISCIPLINARIDADES EM SAÚDE E HUMANIDADES

    Às minhas avós (in memoriam), por todo amor.

    Agradecimentos

    Agradeço aos meus pais pelo eterno incentivo. Vocês impulsionam meu crescimento.

    Aos meus sobrinhos e sobrinhas pelo amor, carinho e pureza. Vocês são minha alegria.

    Aos pesquisadores, alunos e professores que participaram desta obra e pelas importantes contribuições na área da Gerontologia.

    Ninguém envelhece apenas por viver vários anos. Nós envelhecemos abandonando nossos ideais. Os anos podem enrugar a pele, mas desistir do entusiasmo enruga a alma.

    (Samuel Ullman)

    Apresentação

    Conforme a resolução 046 de 2002 do Conselho Federal de Educação Física (Confef), o profissional de Educação Física é especialista em atividades físicas, nas suas diversas manifestações, na reabilitação e nos serviços que favoreçam o desenvolvimento da educação e da saúde, em todas as fases da vida, inclusive no envelhecimento. Diante disso, este livro surgiu da constatação da necessidade de uma obra inédita na área, principalmente utilizando o termo gerontologia como foco e base de todos os capítulos nele presentes. Esta obra discute o processo de envelhecimento humano e suas alterações físicas, fisiológicas, funcionais, psicológicas e nutricionais relacionadas à prática de exercício físico, com uma diretriz de reflexão sobre a atualidade e atualização de uma variedade de informações, pesquisas e trabalhos sobre a educação física em gerontologia, desenvolvidos por diversas instituições e pesquisadores do Brasil e de outros países do mundo. Inicialmente, discorre-se sobre a epidemiologia do envelhecimento, o processo de envelhecimento humano e suas alterações, que impactam na saúde e na prática de exercício físico. Em seguida, foca-se na avaliação física e funcional do idoso, na psicogerontologia, na nutrição, educação e participação social de idosos, e nos parâmetros históricos e conceituais da educação física com o idoso no Brasil. Esta obra contempla também o treinamento de força muscular, aeróbio, equilíbrio e prevenção de quedas, treinamento aquático e funcional para a população mais velha. Na questão reabilitativa, traz capítulos muito interessantes sobre prescrição de exercício físico para idosos em diferentes contextos, como nas doenças reumáticas, neurológicas e demenciais, cardiovasculares e respiratórias. E ainda, temos outras temáticas muito importantes para o profissional de educação física em gerontologia, e eu convido você a mergulhar nesse universo tão apaixonante, gratificante e promissor.

    Prefácio

    Mais velhos, Mais Sedentários? Ou, Mais Ativos, Mais felizes?

    A atividade física e o exercício regular não são a panaceia, nem remédios anti-aging ou vacinas para evitar o inevitável que é o envelhecimento humano. Só não envelhece quem morre jovem, portanto, a recomendação de atividade física para promoção da saúde e a prescrição de exercício físico são parte fundamental da abordagem de um envelhecimento saudável e bem-sucedido.

    Um dos principais efeitos prejudiciais do aumento da idade cronológica, pouco citado e enfatizado na população e entre os profissionais de saúde, é a diminuição do nível de atividade física que está diretamente associado aos principais efeitos negativos do envelhecimento, como alteração da mobilidade, perda da função física, diminuição da tolerância ao exercício, risco de doenças cardiovasculares e metabólicas e de quedas e fraturas. As consequências clínicas do aumento do tempo em comportamentos sedentários e de inatividade física levam a um declínio acelerado da potência aeróbica que por sua vez está relacionado com aumento do risco de doenças crônicas e da mortalidade, início precoce da fragilidade, menor tolerância a internações e cirurgias e diminuição dos anos de boa qualidade de vida.

    A importância da atividade física e do exercício na saúde e no envelhecimento secundário não é uma novidade na medicina. As evidências epidemiológicas das últimas décadas confirmam claramente o papel que a atividade física tem na prevenção primária, secundária e terciaria das principias doenças crônicas não transmissíveis como:

    Acidente vascular encefálico

    Osteoartrite

    Câncer

    Doença Pulmonar Obstrutiva

    Insuficiência Renal Crônica

    Alterações Cognitivas

    Insuficiência Cardíaca Crônica

    Doença Coronariana

    Hipertensão Arterial

    Osteoporose

    Obesidade

    Diabetes tipo 2

    Depressão

    Doença Vascular Periférica

    Além disso, a atividade e o exercício físico estão associados com melhor mobilidade, capacidade funcional, saúde mental, cognitiva e psicossocial que contribuem para melhorar a qualidade de vida e o bem-estar durante o processo de envelhecimento.

    De acordo com a literatura existente e a experiência de vários anos, sabemos que os exercícios físicos recomendados e prescritos nesta fase da vida devem atender os seguintes critérios:

    exercícios com evidências científicas disponíveis;

    ser seguros;

    fácil compreensão e realização;

    material acessível;

    atendam necessidades físicas e funcionais;

    adaptados às limitações físicas ou funcionais;

    permitam progressão;

    realizados com ou sem supervisão.

    Aspectos fundamentais que também devem ser levados em conta em todo o processo de recomendação da atividade e de prescrição e orientação do exercício físico durante o processo de envelhecimento incluem que em adultos com pouco condicionamento físico, muito inativos, com fragilidade, limitações funcionais ou condições crônicas que afetem habilidades para realizar tarefas a duração e intensidade devem ser adaptadas de acordo com estas, a progressão deve ser prescrita de acordo com a tolerância e a preferência e que os exercícios de força muscular ou equilíbrio podem preceder as atividades aeróbicas.

    A recomendação de atividade física para a saúde durante o processo de envelhecimento ou para o adulto maior de 60 anos, que mora na comunidade o institucionalizado, segue as mesmas linhas de recomendação para a população geral de adultos menores de 60 anos descritas pela primeira vez há três décadas e atualizadas em 2018 pelo Centers for Disease Control (CDC), o American College of Sports Medicine (ACSM) e a American Heart Association (AHA):

    movimentar-se mais e sentar-se menos durante o dia;

    acumular pelo menos: – 300 minutos/semana de atividade física moderada, ou seja, 30 a 60 minutos ao menos cinco dias na semana, de preferência todos os dias;

    ou 75 – 150 minutos/semana atividade física vigorosa;

    realizar exercícios de fortalecimento muscular de grandes grupos musculares de intensidade moderada a vigorosa pelo menos dois dias na semana.

    Os exercícios de fortalecimento muscular passam a ser parte importante de um programa de prescrição nesta etapa da vida, como em qualquer outra, por todas as evidências científicas existentes do papel da força muscular na diminuição da mortalidade, inclusive após os 80 e 90 anos de idade, e o efeito benéfico em doenças cardiovasculares, metabólicas, osteomusculares, assim como no sono, na saúde mental e cognitiva em indivíduos independentes e institucionalizados.

    Idosos que desejem melhorar o condicionamento físico devem exceder o mínimo de atividade física e aqueles com condições crônicas que impossibilitem a atividade física recomendada devem realizar atividades o quanto tolerar, de acordo com as suas habilidades e capacidade funcional, o mais importante é evitar a todo custo o sedentarismo, a inatividade física. Adultos com condições crónicas não controladas ou sintomas devem ser referidos a profissional de saúde o especialista em exercício para determinar a atividade física apropriada, sempre lembrando que o risco do sedentarismo e a inatividade é muito mais prejudicial para a saúde que os improváveis riscos da atividade física de intensidade leve a moderada. Não há dúvida alguma que os benefícios da atividade física superam e em muito os riscos.

    A atividade física é um direito do ser humano, é a intervenção mais democrática porque tem efeitos independentemente da raça, sexo, idade, nível socioeconômico e educacional e por essa razão também deve fazer parte de todas as instituições que atendem e recebem de forma ocasional ou permanente adultos funcionalmente independentes ou dependentes.

    Nestes mais de 20 anos de trabalho e estudo na área o que mais tenho aprendido e que levo como dois lemas básicos é que "em termos de atividade física e envelhecimento, nunca é tarde para começar e alguma coisa é melhor que nada. Não temos o direito de condenar ninguém ao sedentarismo e à inatividade, não devemos confundir o respeito e atenção que merecem os adultos, independentemente de sua idade cronológica, com o negar a eles o direto ao movimento. O movimento é vida, o movimento é saúde, o movimento faz parte natural da essência de todo ser humano em qualquer etapa do curso da nossa vida, portanto, se quiser promover um bom envelhecer, vamos contagiar" o mundo com esta mensagem: sente-se menos, mexa-se mais, e faça exercício para viver mais, melhor e mais feliz!.

    Sandra Mahecha Matsudo

    Médica especialista em Medicina do Esporte

    Doutorado e post doutorado Escola Paulista de Medicina – Unifesp

    Idealizadora do Programa Senior Fit®

    Diretora Regional para América Latina de Exercise is Medicine do American College of Sports Medicine

    Diretora acadêmica da pós-graduação Faculdade de Ciências – Universidad Mayor – Chile

    Chefe da Unidade Académica Clínica MEDS – Chile

    Lista de Abreviaturas e Siglas

    Sumário

    CAPÍTULO 1

    EPIDEMIOLOGIA DO ENVELHECIMENTO 23

    CAPÍTULO 2

    O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO HUMANO 31

    CAPÍTULO 3

    ALTERAÇÕES FÍSICAS, FISIOLÓGICAS E FUNCIONAIS DO ENVELHECIMENTO

    HUMANO 41

    CAPÍTULO 4

    A EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL E O IDOSO 57

    CAPÍTULO 5

    TREINAMENTO FÍSICO E SAÚDE MENTAL EM IDOSOS 69

    CAPÍTULO 6

    AVALIAÇÃO FÍSICA E FUNCIONAL DO IDOSO 81

    CAPÍTULO 7

    NUTRIÇÃO DO IDOSO E A PRÁTICA DE EXERCÍCIO FÍSICO 105

    CAPÍTULO 8

    FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO E ENVELHECIMENTO 123

    CAPÍTULO 9

    PROGRAMA DE EXERCÍCIOS RESISTIDOS PARA IDOSOS 135

    CAPÍTULO 10

    TREINAMENTO AQUÁTICO PARA IDOSOS – NATAÇÃO E FITNESS AQUÁTICO 143

    CAPÍTULO 11

    PRESCRIÇÃO DO TREINAMENTO AERÓBIO PARA IDOSOS 165

    CAPÍTULO 12

    PRESCRIÇÃO DO EXERCÍCIO FÍSICO PARA IDOSOS COM DOENÇAS REUMÁTICAS 189

    CAPÍTULO 13

    PRESCRIÇÃO DO EXERCÍCIO EM IDOSOS COM DOENÇAS CARDIOVASCULARES E RESPIRATÓRIAS 203

    CAPÍTULO 14

    PRESCRIÇÃO DE EXERCÍCIO FÍSICO PARA O IDOSO COM DOENÇAS RENAIS

    CRÔNICAS 225

    CAPÍTULO 15

    PRESCRIÇÃO DE EXERCÍCIOS FÍSICOS PARA IDOSOS COM CÂNCER 237

    CAPÍTULO 16

    TREINAMENTO FUNCIONAL PARA IDOSOS 249

    CAPÍTULO 17

    DANÇA EM FOCO: ESTRATÉGIAS PARA A SAÚDE INTEGRAL DA PESSOA IDOSA  257

    CAPÍTULO 18

    A RECREAÇÃO E O LAZER PARA IDOSOS EM HOTÉIS E RESORTS 263

    CAPÍTULO 19

    EXERCÍCIO FÍSICO NO EQUILÍBRIO E PREVENÇÃO DE QUEDAS EM IDOSOS 271

    CAPÍTULO 20

    EXERCÍCIOS FÍSICOS NA SÍNDROME DA FRAGILIDADE 283

    CAPÍTULO 21

    EXERCÍCIOS EM GRUPO E A SOCIALIZAÇÃO DE IDOSOS 295

    CAPÍTULO 22

    EDUCAÇÃO EM SAÚDE NO ENVELHECIMENTO 309

    CAPÍTULO 23

    IMUNOSSENESCÊNCIA E O PAPEL DO EXERCÍCIO FÍSICO 319

    CAPÍTULO 24

    SARCOPENIA, DINAPENIA E OSTEOSARCOPENIA EM IDOSOS 335

    SOBRE OS AUTORES 355

    CAPÍTULO 1

    EPIDEMIOLOGIA DO ENVELHECIMENTO

    Daniel Vicentini de Oliveira

    Mateus Dias Antunes

    Maura Fernandes Franco

    Envelhecimento Demográfico Mundial e Expectativas Futuras

    O envelhecimento populacional pode ser considerado um dos maiores triunfos da humanidade moderna e reflete, acima de tudo, o desenvolvimento socioeconômico e o sucesso histórico das políticas públicas de saúde (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2002).

    Após sucessivos anos de crescimento populacional têm sido registradas quedas acentuadas da natalidade, que associadas à queda da mortalidade, intensificam o processo de envelhecimento populacional (OLIVEIRA, 2019). Porém, ao contrário do que comumente se imagina, o processo de envelhecimento populacional resulta mais do declínio da fecundidade, do que do declínio da mortalidade (NASRI, 2008).

    Segundo Oliveira (2015), a mudança do comportamento demográfico observado ao longo do tempo gerou essa redução dos níveis de fecundidade, provocando uma redistribuição dos grupos etários.

    A transição demográfica originou-se na Europa e seu primeiro fenômeno foi a diminuição da fecundidade, observada na Revolução Industrial, fato este anterior ao aparecimento dos medicamentos anticoncepcionais. O aumento na expectativa de vida ocorreu de modo insidioso e lento e foi possível graças às melhores condições sociais e de saneamento, uso de antibióticos e de vacinas, desenvolvimento tecnológico na medicina e demais áreas da saúde (NASRI, 2008).

    Com a estabilização do crescimento populacional, há um aumento relativo e sustentado da participação dos idosos na população total. Assim, o grupo etário jovem perde importância relativa, ao mesmo tempo em que o grupo dos mais velhos ganha peso no total da população.

    Diante desse novo cenário, as principais causas de mortalidade se modificam e as doenças infecciosas e parasitárias que atingiam em sua maioria os mais jovens, dão lugar para as doenças crônicas e degenerativas (OLIVEIRA, 2019). E, devido ao fato de as doenças crônicas e degenerativas exigirem uma alteração completa da rede de assistência à saúde, o envelhecimento populacional também passa a ser encarado como um dos grandes desafios mundiais da atualidade (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2002).

    Com essa revolução demográfica, a proporção de pessoas com 60 anos ou mais está crescendo mais rapidamente que a de qualquer outra faixa etária no mundo todo (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2002). Em 2012, a população global atingiu sete bilhões, sendo 562 milhões (ou 8,0%) de pessoas com 65 anos ou mais. Em 2015, a população idosa aumentou 55 milhões e a proporção deste segmento atingiu 8,5% da população total. A população mundial chegou a 7,75 bilhões no ano de 2017. É importante destacar que o número de habitantes do planeta aumentou em 83 milhões em relação ao ano de 2016. Maior crescimento foi registrado na África (ONU, 2017). Em relação aos idosos, a expectativa de vida atingiu 72 anos em 2017 (BBC, 2019).

    Para o período entre 2025 a 2050, projeta-se que a população idosa irá para quase o dobro, 1,6 bilhão em todo o mundo, representando 16,7% da população total mundial. Isto é, uma média de aumento anual de 27,1 milhões de pessoas idosas de 2015 a 2050 (HE; GOODKIND; KOWAL, 2016). Em 2050, 33 países são projetados para ter uma população mais velha compreendendo menos de 7% de sua população total, uma grande redução comparada aos 115 países em 2015. Ao mesmo tempo, a porcentagem da população idosa deverá exceder 21% em 94 países, incluindo 39 países com 28% ou mais da população total sendo mais velhos (Quadro 1) (HE; GOODKIND; KOWAL, 2016).

    Quadro 1 – População mundial total e população com 65 anos ou mais ordenados por sexo: 2015, 2030 e 2050 (Números em milhões)

    Fonte: adaptado de He, Goodkind e Kowal (2016)

    Em contraste com os 150% de expansão da população com 65 anos ou mais a população jovem (menor de 20 anos de idade) deve permanecer quase plana, com 2,5 bilhões em 2015 e 2,6 bilhões em 2050. Enquanto a população em idade ativa (de 20 a 64 anos) deve aumentar moderadamente, em torno de 25,6%. A parcela da população deste último grupo deverá encolher ligeiramente nas próximas décadas, devido ao impacto de baixa fertilidade e aumento da vida expectativa (HE; GOODKIND; KOWAL, 2016). Ou seja, haverá uma nítida diferença de trajetórias de crescimento dos idosos e populações mais jovens, convergindo, cruzando e depois divergindo das percentagens de idosos e crianças menores de cinco anos de 1950 a 2050.

    No entanto, esse ritmo não tem sido uniforme. As regiões do mundo variam em sua fase específica da transição demográfica e diferem em sua velocidade de envelhecimento (HE; GOODKIND; KOWAL, 2016). Há uma desigualdade no envelhecimento da população em todas as regiões do mundo relacionada também com seus níveis de desenvolvimento socioeconômico.

    A Europa tem sido historicamente a região mais velha. No entanto, a Ásia e a América Latina estão avançando rapidamente, e as velocidades de envelhecimento para ambas são semelhantes (Quadro 2).

    Quadro 2 – População com 65 anos ou mais por região: 2015, 2030, e 2050

    Fonte: adaptado de Ortman, Velkoff e Hogan (2014)

    Na contramão, o continente africano ainda está nos estágios iniciais da transição demográfica com altas taxas de fertilidade e uma estrutura de idade jovem, especialmente nas regiões ocidental, média e alguns países da África Oriental. Atualmente, a maioria dos países africanos possui menos de 5% da população total com 65 anos ou mais e em 21 países a participação é de 3% ou menos (por exemplo, Etiópia, 2,9% e Uganda, 2,0 %) (HE; GOODKIND; KOWAL, 2016).

    Até 2030, a proporção de pessoas com 65 anos ou mais deverá aumentar em todos os países desenvolvidos. Prevê-se que o Japão continue sendo o país mais antigo, com quase um terço (32,2%) da sua população com 65 anos ou mais (ORTMAN; VELKOFF; HOGAN, 2014). Já na Europa, acredita-se que a Itália e a Alemanha tenham as populações mais antigas, e a segunda e a terceira mais antigas do mundo, com cerca de 19% cada uma (FERRUCCI; GIALLAURIA; GURALNIK, 2008).

    Para 2050, o aumento no Japão é o mais acentuado, onde a proporção de 65 anos ou mais aumentará para mais de 40% da população. Alemanha, Itália, Polônia e Espanha deverão apresentar mais de 30% da população composta por idosos (ORTMAN; VELKOFF; HOGAN, 2014).

    Em 1900, apenas 4,1% dos 76 milhões de norte-americanos tinham 65 anos ou mais, e dentro desta faixa etária apenas 3,2% tinham 85 anos ou mais (FERRUCCI; GIALLAURIA; GURALNIK, 2008). De 1950, mais de 8% da população total tinha 65 anos ou mais e, em 2000, esse percentual havia aumentado para 12,6% e, até 2030, mais de 20% dos residentes nos EUA são projetados para ter 65 anos ou mais. Já o número de pessoas com idade igual ou superior a 85 anos, deverá crescer de 5,9 milhões em 2012 para 8,9 milhões em 2030 e 18 milhões em 2050, representando 4,5% da população total do país (ORTMAN; VELKOFF; HOGAN, 2014).

    Ainda na categoria velhice mais velha o Japão deverá ter menos de 13 milhões de pessoas com idade 85 anos ou mais em 2050. Assim, estima-se que os demais países desenvolvidos terão menos de seis milhões de idosos mais velhos em 2050 (FERRUCCI; GIALLAURIA; GURALNIK, 2008; ORTMAN; VELKOFF; HOGAN, 2014).

    A Ásia se destaca como a população gigante, dado o tamanho de sua população mais idosa (617,1 milhões em 2015) e sua participação atual na porcentagem de idosos no mundo (mais de metade). Em 2050, quase dois terços das pessoas mais velhas do mundo viverão nesse continente (HE; GOODKIND; KOWAL, 2016).

    E, mesmo nos países onde o processo de envelhecimento populacional é mais lento, haverá um grande aumento em suas populações mais velhas. Na África, por exemplo, projeta-se ainda ter uma população jovem em 2050 (com idosos representando menos que 7% da população regional total) (HE; GOODKIND; KOWAL, 2016).

    Embora a China e a Índia tenham populações mais velhas muito grandes, os percentuais de pessoas com 65 anos ou mais são baixos: 9,1% e 5,6% respectivamente em 2012. A previsão é que a China envelheça mais rapidamente do que a Índia, chegando a 17,2% até 2030 e 26,8% em 2050. Já para a Índia, estima-se que para 2030, a proporção aumente para apenas 8,8% em 2030 e 14,7% em 2050.

    Em outras palavras, até 2030, o percentual da população com 65 anos de idade e mais velhos aumentará de 12,4% para 19,6% nos Estados Unidos, de 12,6 a 20,3% na Europa, de 6% a 12% em Ásia, de 5,5% para 11,6% na América Latina e no Caribe e de 2,9% a 3,7% na África (KANASI; AYILAVARAPU; JONES, 2016).

    Envelhecimento Demográfico Brasileiro e Estimativas Futuras

    No Brasil, os processos de transição demográfica e epidemiológica são totalmente heterogêneos e estão associados, na maioria das vezes, às desiguais condições sociais existentes no país. A população idosa representa um grupo muito diferenciado entre si e em relação aos demais grupos etários existentes, tanto em relação aos seus aspectos demográficos e epidemiológicos, quanto do ponto de vista das condições sociais (MELO et al., 2017).

    Porém, assim como nos países mais desenvolvidos, o aumento da expectativa de vida e, consequente aumento do número de idosos no Brasil, também ocorreu pela melhora das condições sociais e de saneamento, uso de antibióticos e de vacinas, desenvolvimento tecnológico na medicina e demais áreas da saúde (NASRI, 2008).

    O ritmo de envelhecimento vivenciado no Brasil é três vezes mais rápido que o observado em países como Suécia, França e Reino Unido, cuja transição demográfica iniciou-se muitas décadas antes da brasileira (TURRA, 2018).

    No Brasil, o número de idosos passou de três milhões em 1960, para sete milhões em 1975. No ano 2000 a porcentagem de idosos no Brasil era de 8,6% e em 2020, irá para 14 milhões de idosos (VERAS; OLIVEIRA, 2018).

    Os dados demográficos têm destacado que o Brasil não é considerado mais um jovem país. A população brasileira possui cerca de 190 milhões de indivíduos, destas, 20 milhões representam 10,80% da população, são idosos, de acordo com o censo do IBGE de 2010.

    A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) de 2018 mostrou uma tendência de queda da proporção de pessoas abaixo de 30 anos de idade e registrou um crescimento para idoso. Idosos representavam 12,8% da população residente total em 2012, passou para 15,4% em 2018 (FONSECA, 2020). Veja o exemplo do envelhecimento populacional no Brasil na Figura 1.

    Figura 1 – Comparação da pirâmide etária de 2010, 2030, 2040 e 2060.

    Fonte: https://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/. Acesso em: 6 jun. 2020

    As expectativas apontam que no ano de 2030, por causa da continuidade do decrescimento do número médio de filhos, a absoluta quantidade de crianças com 0 a 4 anos deve reduzir para 13,3 milhões, caracterizando 6% da população total, sendo 6,5 milhões do sexo feminino e 6,8 milhões do sexo masculino. Vale a pena, destacar que o grupo de idosos deve chegar a 18,7% da população brasileira, representando 41,6 milhões de pessoas (ALVES, 2014).

    Em 2050, a expectativa de vida no Brasil será 81,3 anos. Estima-se que a população de idosos passará de 21 milhões, em 2010, para aproximadamente 65 milhões (FONSECA, 2020).

    Logo em seguida, o mesmo autor supracitado, mostra que progredindo os anos, a população do Brasil já deverá estar reduzindo de volume e a pirâmide vai encolher mais ainda no ano de 2060. A quantidade de crianças de 0 a 4 anos, vai reduzir e serão 4,7% da população total, representando 10,7 milhões, sendo 5,3% milhões do sexo feminino e 5,5 milhões do sexo masculino. Quando compramos os idosos nesse mesmo período (2060), eles podem chegar a 32,9% da população no Brasil, representando 75,1 milhões de pessoas, ou seja, um em cada três brasileiros terá 60 anos ou mais (ALVES, 2014).

    Agora, as projeções para o ano de 2100 no Brasil são expressivas conforme relatada por Alves (2014). A quantidade de crianças de 0 a 4 anos deverá ser de 4,6 da população total. Serão 8,9 milhões, sendo 4,3 milhões do sexo feminino e 4,5 milhões do sexo masculino. Esses números serão menores em números absolutos que o número de crianças de 1950.

    Os idosos em 2100 serão de 38,5% da população total do Brasil, representando 74,7 milhões de indivíduos e deve reduzir um pouco em relação à quantidade de idosos de 2060, conforme o autor supracitado, no entanto, haverá um relativo crescimento. Em uma rápida análise, em cada 10 brasileiros, quase quatro vão ter 60 anos ou mais, no final do século XXI.

    Analisando estas progressões futuras, nota-se que a base da pirâmide de 2010 será menor do que a mesma base que era composta em 1950, mas o pico da pirâmide será vária vez maior, inferindo o tamanho do processo de envelhecimento da estrutura etária do Brasil.

    Envelhecimento Demográfico nas Regiões Brasileiras

    O envelhecimento da população do Brasil se liga às desigualdades regionais e, especialmente, às sociais, em incumbência dos níveis distintos de educação e renda da população.

    O entendimento do envelhecimento populacional deve vir junto às políticas públicas também a estratégias que seguem as reconfigurações do mercado de trabalho, especialmente para que esses idosos se sintam e tenham seus conhecimentos valorizados, além de serem incorporados a esta realidade nova de trabalho (MELO et al., 2017).

    Tem acontecido esse fenômeno em todas as regiões do Brasil. Apesar disso, em determinadas regiões, o envelhecimento populacional tem se estabelecido de maneira abrupta e em outras tem acontecido de forma mais lenta.

    Nessa perspectiva, enfatiza o fato que o Brasil é formado por cinco regiões geográficas que diversificam significativamente em sias dimensões geográficas, culturais, econômicas e sociais. Dessa maneira, também se manifesta o envelhecimento de acordo com as diversidades e desequilíbrios regionais, principalmente econômicos e sociais.

    O índice de idosos é distribuído de maneira desigual no Brasil, por causa das próprias características de cada estado ou região. Grandes partes dos idosos estão concentradas nas Regiões Sudeste e Nordeste. Em 2012, o grupo das pessoas de 60 anos ou mais de idade representava 12,8% da população residente total, passando para 15,4% em 2018.

    A explicação da concentração de idoso na Região Sudeste, de acordo com Mafra et al. (2013), deve-se a atratividades de suas regiões metropolitanas, que nas últimas décadas corresponderam a um crescimento importante da economia, especialmente, em detrimento do desenvolvimento de atividades industriais. Ainda, esses autores supracitados elencam que, na Região Nordeste do Brasil, o fator está relacionado à imigração da população jovem para regiões consideradas mais desenvolvidas nas décadas de 70 e 80, em busca de emprego, fenômeno este que promoveu um aparente envelhecimento da população.

    Nesse sentido, notamos que os idosos estão distribuídos no Brasil de maneira desigual, isso chama atenção para importância da diferenciação de políticas públicas e ações e estratégias direcionadas a esse grupo etário implantando-as conforme a realidade de cada região, estado ou até mesmo cidades.

    Por fim, essas alterações têm ocorrido rapidamente no mundo todo, principalmente no Brasil, o que exige uma resposta rápida e adequada do Estado, mas também de diversas áreas do conhecimento, como a da educação física, implantando, implementando e orientando o exercício físico de qualidade para a população idosa.

    Referências

    ALVES, J.E.D. Transição demográfica, transição da estrutura etária e envelhecimento. Rev Longeviver, v. 40, n. 4, p. 8-15, 2014.

    BBC – BBC News. Pela 1ª vez, mundo tem ‘mais avós do que netos’, 2019. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-47799778. Acesso em: 17 set. 2020

    FERRUCCI, L.; GIALLAURIA, F.; GURALNIK, J.M. Epidemiology of aging. Radiologic Clinics of North America, v. 46, n. 4, p. 643-652, 2008.

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    MAFRA, S.C.T. et al. O envelhecimento nas diferentes regiões do Brasil: uma discussão a partir do censo demográfico 2010. CiEh, p. 1-5, 2013.

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    ONU – Organização das Nações Unidas News. População mundial atingiu 7,6 bilhões de habitantes, 2017. Disponível em: https://news.un.org/pt/story/2017/06/1589091-populacao-mundial-atingiu-76-bilhoes-de-habitantes. Acesso em: 17 set. 2020.

    ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Envelhecimento ativo: uma política de saúde/World Health Organization, 2002.

    ORTMAN, J.M.; VELKOFF, V.A.; HOGAN, H. An aging nation: the older population in the United States Suitland. USA: United States Census Bureau, Economics and Statistics Administration, US Department of Commerce, 2014, p. 25-1140.

    TURRA, C.M. Os ajustes inevitáveis da transição demográfica no Brasil. Alternativas para uma crise de múltiplas dimensões. Belo Horizonte: Cedeplar/UFMG, 2018, p. 284.

    VERAS, R.P.; OLIVEIRA, M. Envelhecer no Brasil: a construção de um modelo de cuidado. Ciência Saúde Coletiva, v. 23, n. 6, p. 1929-1936, 2018.

    CAPÍTULO 2

    O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO HUMANO

    Daniel Vicentini de Oliveira

    Karla Helena Coelho Vilaça

    Mateus Dias Antunes

    Maura Fernandes Franco

    O envelhecimento é um evento natural para todo ser humano. Tem como característica ser dinâmico, progressivo e universal e é caracterizado por alterações fisiológicas, morfológicas, psicológicas, bioquímicas e físicas. Essas alterações podem, de modo geral, refletir nas condições de vida e na vulnerabilidade do idoso. O envelhecimento pode ocorrer de forma mais saudável e bem-sucedida, quando há baixa suscetibilidade a doenças e adequada capacidade funcional; ou de forma menos saudável (mas não necessariamente malsucedida), quando há maior vulnerabilidade às doenças.

    O desenvolvimento de uma pessoa é considerado dinâmico, transacional e contextualizado, nesse sentido, o envelhecimento sofre influências biológicas, ontogenéticas e psicossociais (TOMÉ; FORMIGA, 2020). O envelhecimento infere o acontecimento de alterações em diversos níveis, que ocorrem para todas as pessoas. No entanto, essas alterações se dão de diferentes maneiras, em intensidades e momentos variados, a depender de características genéticas, sociais e ambientais (TEIXEIRA, 2020).

    Nessa circunstância, evidencia que o envelhecimento é um assunto difícil de ser debatido e problematizado, porque muitas vezes traz um estigma de invalidez, doença e morte. Com esse pensamento, envelhecer não representa necessariamente adoecer, a menos que haja alguma doença associada, mas é importante ficar claro que o envelhecimento está mais do que nunca associado a um bom nível de saúde do indivíduo (NASCIMENTO et al., 2020).

    Outro termo importante de conhecer é a velhice. O processo de organização da sociedade iniciou durante a época moderna teve uma importante relação com o surgimento da categoria etária. Até o início do século XIX fatores demográficos, culturais e sociais combinavam-se de maneira que nas sociedades pré-industriais não havia separações conforme a idade. Apenas após este século que aparecera as diferenciações entre as faixas etárias, funções, hábitos e espaços relacionados a cada grupo (DARDENGO; MAFRA, 2018).

    A partir da segunda metade do século XIX, de acordo com os autores supracitados, que a velhice foi caracterizada como uma etapa da vida assinalada pela decadência e pela ausência de papéis sociais. O envelhecimento foi inicialmente notado por meio de estudos fisiológicos e biológicos e fisiológicos, sendo associado à deterioração do corpo.

    Somente na contemporaneidade esse ponto de vista em relação à velhice como um fato biológico fica mais fraco e a velhice e o envelhecimento começaram a formar objetos de estudo. É importante enfatizar que alguns autores destacam que a velhice não é uma categoria natural, porque a fragmentação da vida em etapas antigamente não era favorecida por alguns motivos, como a falta de uma idade específica para iniciar a trabalhar ou distintas idades entre crianças da mesma família. A fragmentação do curso da vida começa a existir a partir das dessemelhanças entre as idades e com a atribuição hábitos e funções específicas para cada grupo (DEBERT, 1998).

    Nesse sentido, a velhice é caracterizada como uma etapa isolada das outras, como resultado do processo de novas fases da vida e também da separação das idades nos espaços públicos e privados. De acordo com Herdy (2020), a palavra velhice é conduzida de significados como angústia, fragilidade, inquietude, ou seja, é envolvida de falsas concepções, mitos, crenças e temores. Conforme Dardengo e Mafra (2018) a imagem que as pessoas tem sobre a velhice, por meio de fontes históricas, varia de cultura em cultura, lugar em lugar e de tempo em tempo. Essa imagem assegura que não existe uma concepção definitiva ou única da velhice, mas sim concepções incertas, variadas e opostas por meio da história.

    O envelhecimento ativo foi um termo criado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para destacar o processo de conquista de oportunidades contínuas em seus três pilares: saúde, segurança e participação, com o intuito de potencializar a qualidade de vida na medida em que os indivíduos ficam mais velhos (SCIAMA; GOULART; VILLELA, 2020).

    Tipos de Envelhecimento

    Conforme Spirduso (2005), podemos subdividir o envelhecimento em: envelhecimento primário; envelhecimento secundário e envelhecimento terciário, como apresentado a seguir:

    Envelhecimento Primário: é conhecido, também, como senescência. É o envelhecimento natural, pois ocorre em todos os humanos, sendo uma característica genética da nossa espécie. Esse tipo de envelhecimento atinge progressiva e gradualmente o organismo humano, tendo efeito cumulativo. Nesta fase, o indivíduo está sujeito à influência de diversos fatores que determinarão o envelhecimento, como, por exemplo, a prática de atividades e exercícios físicos, a nutrição diária adotada, o estilo de vida adotado, a exposição a eventos estressores, o ambiente (qualidade do ar, clima, barulhos etc.), a educação e a posição na sociedade. Esse tipo de envelhecimento é determinado geneticamente (pré-programado), sendo presente em todas as pessoas, ou seja, ocorrem mudanças universais independentemente de influências ambientais e doença.

    Envelhecimento Secundário: também chamado de envelhecimento patológico ou de senilidade, refere-se a um conjunto de doenças que não estão relacionadas com o processo natural de envelhecimento. Tais doenças e disfunções incluem lesões cardiovasculares e cerebrais, câncer, doenças neurológicas, demências, dentre outras. Esse tipo de envelhecimento compreende sintomas e sinais clínicos, incluídos os efeitos das doenças e do ambiente.

    Envelhecimento Terciário: o envelhecimento terciário ou terminal é representado pelo período com profundas perdas físicas e cognitivas, acarretados pelo acumulo dos efeitos do envelhecimento, como também por patologias dependentes da idade (SANTOS; LIMA JÚNIOR, 2014).

    Envelhecimento Biológico e Psicossocial

    Isso expresso, temos diferentes formas de definir a idade. A idade cronológica ou do tempo de vida é a que ordena as pessoas de acordo com sua data de nascimento. O envelhecimento cronológico é iniciado na infância e é facilmente mensurável, enquanto as mudanças biológicas associadas à idade são de difícil aferição. A idade biológica ou individual é demonstrada pelo organismo, baseando-se nas suas condições teciduais, orgânicas, quando comparadas a valores de normalidade. A idade psicológica é evidenciada por aspectos como maturação mental, desempenho e soma de experiências durante a vida. Já a idade social, ou sociológica, é indicada por estruturas organizadas de cada sociedade.

    Cada pessoa pode variar de jovem a velho em diferentes sociedades. Resumindo, o envelhecimento pode ser biológico, no qual há alterações biológicas, assim como o envelhecimento psicossocial, o qual apresenta alterações sociais e psicológicas. Essas alterações (veja no Capítulo 3 sobre alterações físicas, fisiológicas e funcionais do envelhecimento) são defendidas por diferentes teorias que você entenderá logo.

    Desse ponto de vista, o envelhecimento biológico é um processo que começa no nascimento e perdura até a morte de um ser humano (CHMIELEWSKI, 2020). Vale a pena destacar que o envelhecimento biológico é o processo que estabelece o potencial de cada pessoa para permanecer vivo, e que reduz com o passar dos anos.

    Há também, na literatura, outras abordagens nas quais se sugere que o processo de envelhecimento biológico é ininterrupto e se estabelece no decorrer da vida e que apresentam diferenciações de um indivíduo para outro, passando, inclusive, diferenciações na mesma pessoa, haja vista que alguns órgãos do nosso corpo envelhecem mais rápido que outros (FRIES; PEREIRA, 2011; FECHINE; TROMPIERI, 2012).

    Teorias Biológicas

    Várias teorias estão descritas na literatura e buscam explicar o processo de envelhecimento biológico. Entretanto, em virtude da complexidade desse processo, inúmeros conflitos existem entre as teorias propostas pelos pesquisadores (SANTOS et al., 2019). Nessa caminhada em busca do estudo do processo de envelhecimento biológico, alguns autores já propuseram teorias de grande abrangência que vão desde a base celular até sistemas; outros estudos se fundamentaram em órgãos de base genômica e fisiológica; já, outros, buscam explicar o envelhecimento por meio de teorias evolutivas e não evolutivas (FRIES; PEREIRA, 2011).

    Sabendo que o número de atendimentos ao público idoso pelos profissionais de educação física está aumentando, conhecer algumas teorias biológicas do envelhecimento humano servirá de subsídio para planejar e prescrever treinamentos de exercícios físicos para esse público.

    A primeira teoria é a Teoria de Uso e Desgaste. Seus defensores destacam que a carga de agressões ambientais, que acontecem diariamente, tem a capacidade de provocar um paulatino decréscimo da eficiência do organismo que se encerra com a morte (TEIXEIRA; GUARIENTO, 2020).

    Determinar que as alterações que ocorrem nas moléculas proteicas, logo em seguida da fase de tradução, no momento da síntese das proteínas, culminando em mudanças enzimáticas que provocariam a diminuição da eficiência das células é a afirmativa da Teoria das Proteínas Alteradas, segundo a qual essas modificações descritas estariam relacionadas com o decréscimo da funcionalidade dos idosos (TEIXEIRA; GUARIENTO, 2020).

    A próxima teoria é a Teoria da Desdiferenciação. Os pesquisadores que defendem essa teoria destacam que as células do organismo se distanciam do seu estado apropriado de diferenciação, ocasionando, assim, erros de mecanismos que fariam as células sintetizarem as proteínas desnecessárias, e reduzindo a eficiência celular, do que decorre a morte da célula (YU; MCCAULEY; DANG, 2020).

    A Teoria das Mutações Somáticas é classificada no âmbito das teorias biológicas, pois aponta que, ao longo da vida do

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