Toy Djack e o Paraiso Escondido: Memórias de um Cabo-Verdiano pelo Mundo Fora
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Sobre este e-book
O livro é assim, um resumo da história de vida de Toy Djack, uma amostra dos seus feitos como indivíduo, ribeirapratense, sãonicolauense, cabo-verdiano, cidadão do mundo, marido, pai, amigo e exímio educador. O livro é também uma amostra da liderança e carisma, da sua gratidão pela vida, família e seu povo.
Toy Djack nos mostra como viajou pelo mundo durante 30 anos, conheceu vários países, cidades e povos. Com esse conhecimento, experiência e inteligência, sabe reconhecer o potencial de um país, cidade e povo. Sabe valorizar o que ainda é subvalorizado. Toy Djack está convencido que Ribeira Prata e São Nicolau têm potenciais que ainda não foram devidamente reconhecidos. No livro há um capítulo sobre Ribeira Prata e vários capítulos específicos sobre aspetos de São Nicolau: o tratamento nas termas do Tarrafal, a vereda chamada Pau, o ortopedista do povo, António Julinho, para além da sua própria narrativa de vida em Ribeira Prata, São Nicolau, São Vicente, São Tomé, Holanda, e uma estadia nos EUA com a Manduca, sua eterna esposa. No primeiro álbum de músicas do Toy Djack há várias músicas dedicadas a Ribeira Prata e a São Nicolau. Estas músicas foram inseridas no miolo do livro, em secções compatíveis com o seu conteúdo.
O livro do Toy Djack é objetivamente multicamadas. Foi concebido como tal, no sentido de realçar a beleza e a força da história de vida do autor, para se tornar numa história infindável. No entanto, como tudo na vida, há aspetos que se destacam numa determinada camada, mesmo não tendo sido concebidos inicialmente para esse fim. Às vezes esses aspetos ou contributos são simbólicos, outras vezes são concretos. Ora, o papel do livro e da história de vida de Toy Djack para o desenvolvimento de Ribeira Prata, Tarrafal, São Nicolau… é simbólico mas ousa-se dizer que poderá ser muito concreto. A obra literária e musical de Toy Djack contém o carisma e própria força propulsora que se propaga como uma onda para a sua família, terra natal, país e até pelo mundo.
Bem-Vindo a Bordo, e faça você também parte da "Aventura ToyDjackiana"!
António Joaquim Dos Santos
António Joaquim dos Santos, Toy Djack, nasceu na pacata aldeia de Ribeira Prata, ilha de São Nicolau (Cabo Verde) em 1932. A sua infância foi dividida entre a casa da mãe e a do pai, na ilha que o viu nascer, e em São Vicente, em casa de um tio materno, que gentilmente o acolheu em 1940. Em São Vicente, surgiu-lhe a oportunidade de frequentar a Oficina do Mestre Cunke (Pontinha) na área de serralharia, onde desenvolveu alguma habilidade para moldar, cortar e soldar. Em 1950 regressou a São Nicolau; não incluiu muita coisa na bagagem, mas levou a vivência de "mucim d'Sãocent", o aprendizado dos anos da oficina, a determinação, muita vontade de crescer como HOMEM e vários sonhos, de entre eles o desejo de se tornar um BOM PAI de família, (os seus filhos havia de educar). Engana-se quem pensa que voltava analfabeto, pois aprendeu a ler e, com uma caligrafia firme e delineada, as cartinhas de amor escrevia. Sim, fora autodidata, embora tivesse deixado para trás o sonho de ser médico-cirurgião. Porque a sina do cabo-verdiano é a emigração, como bom crioulo, em 1954 aventurou-se a embarcar rumo a São Tomé; a situação da ilha de São Nicolau impelia as pessoas a procurarem uma vida melhor na terra longe. Foram dois contratos, seis duros e pesados anos nas roças. Em 1962 escolheu um novo destino; - Europa. Holanda tinha aberto as portas à emigração, e, à semelhança de muitos compatriotas, foi procurar a sua sorte, tendo tido a oportunidade de embarcar e trabalhar durante 30 (trinta) anos em diferentes companhias, na sua maioria holandesas. Em 1964 o destino o uniu à sua amada (Manduca), a esposa e companheira durante 38 anos, que na intermitência da emigração, lhe fez pai de sete filhos biológicos (quatro rapazes e três meninas) e o ajudou a criar mais dois. Porque nem todos os sonhos se perderam pelo caminho, em 1983, alimentando o desejo de educar e formar os filhos, mudou-se com a família para São Vicente. As longas, frias e solitárias noites de emigrante foram aquecidas pelo seu violão, que encostado ao peito, inspirado na saudade e embalado pelas turbulentas ondas brancas dos oceanos azuis "chorava" tímidas notas. Foi assim que nasceram muitas das suas mornas e o sonho da sua compilação e divulgação. Durante décadas acalentou a vontade de gravar um disco, desejo que foi deixando na gaveta porque as prioridades familiares falavam mais alto. Este seria um projeto pós-reforma. Em 1988, uma hérnia discal viria a interromper a vida de cozinheiro, mas nem isso o trouxe de volta para junto da família. Embora estivesse impossibilitado de exercer no mar, não foi considerado totalmente incapaz. Atingida a idade de pré-reforma, em 1992, regressou definitivamente a Cabo Verde. Tinha chegado o momento de se unir à família, desfrutar do prazer da sua convivência, assistir ao crescimento do primeiro neto e ver nascer a primeira neta. Contudo, um sofrimento raro fê-lo enterrar a esposa em 2002. Em 2012, conseguiu concretizar mais um dos seus Grandes Sonhos, a gravação do CD "Paraíso Escondido". Foi um projeto desafiante, que só foi possível graças ao apoio que recebeu dos amigos, dos familiares, em especial dos seus próprios filhos, que se dedicaram de corpo, alma e coração ao projeto. Porque a determinação foi sempre uma das suas principais virtudes, em 2018, e já com 87 anos, lançou o seu segundo CD "Tributo Universal". Sempre acompanhado das netas Hédine e Mara, e continuando a contar com o total apoio da família, Toy Djack abraçou mais este ambicioso projeto de fronte erguida. Tributo Universal é composto por doze faixas musicais, todas da sua autoria, à semelhança do que aconteceu com o primeiro trabalho. A aventura ToyDjackiana, outrora cantada, é agora materializada e enriquecida em livro. Sim, este Rapazinho de S. Nicolau (também Mucim d'Soncente) teve o privilégio de, aos 90 Anos, lançar o seu primeiro livro a que deu o título de Toy Djack e o Paraíso Escondido – Memórias de um Cabo-Verdiano pelo Mundo Fora.
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Toy Djack e o Paraiso Escondido - António Joaquim Dos Santos
Título: Toy Djack e o Paraíso Escondido: memórias de um cabo-verdiano pelo mundo fora
Texto: António Joaquim dos Santos
Coordenação: Amílcar Silva dos Santos
Revisão: Diana Venda, Amílcar Silva dos Santos e Custódia Pereira
Paginação: Paula Pinheiro
1.a edição: Fevereiro de 2022
Depósito legal: 495209/22
ISBN: 979-8-35095-261-2
Reservados todos os direitos
Índice
Dedicatória
Agradecimentos
Prefácio
Prólogo
LIVRO 1: Infância e adolescência
Capítulo 1 | A minha infância em casa de Cacai Filipa
Capítulo 2 | Um método para parar de fazer chichi na cama
Capítulo 3 | A minha infância no Figueiral com Marco Chomeia
Capítulo 4 | A história de uma arma
Capítulo 5 | Os 10 anos em São Vicente
Capítulo 6 | Regresso a São Nicolau depois de 10 anos
Capítulo 7 | A minha vida em São Nicolau durante 4 anos
Capítulo 8 | Como surgiu a ideia de emigrar para São Tomé
LIVRO 2: A vida em São Tomé
Capítulo 9 | Partida de São Nicolau para São Tomé
Capítulo 10 | A nossa distribuição pelas roças
Capítulo 11 | Castigado injustamente
Capítulo 12 | A vida na roça durante 36 meses
Capítulo 13 | A nossa partida de Porto Alegre para Cabo Verde
Capítulo 14 | Como foi a origem do meu amor pela Manduca
Capítulo 15 | A minha segunda estadia em São Tomé
LIVRO 3: A vida como emigrante na Holanda
Capítulo 16 | Partida de Ribeira Prata para a Holanda
Capítulo 17 | Chegada à Holanda, pela primeira vez
Capítulo 18 | A história dos menine de Soncente
Capítulo 19 | A história de um fulano muito insolente
Capítulo 20 | Uma lição errada sobre como se come
Capítulo 21 | Abandonado na fábrica
Capítulo 22 | O meu primeiro navio
Capítulo 23 | Toscana, navio de sorte
Capítulo 24 | A primeira vez no Golfo da Pérsia
Capítulo 25 | A falácia das duas japonesas
Capítulo 26 | Risco de naufrágio a bordo do Toscana
Capítulo 27 | Um maquinista supersticioso
Capítulo 28 | Querida Holanda, o nosso segundo Cabo Verde
Capítulo 29 | Desembarque em férias
Capítulo 30 | O meu casamento com Manduca
Capítulo 31 | Chegada à Holanda pela segunda vez
Capítulo 32 | Malaquias perdido
Capítulo 33 | Rumo à Noruega
Capítulo 34 | Do jackpot sai comereta(g) de galinhas
Capítulo 35 | Uma técnica para vender roupa usada
Capítulo 36 | A carteirinha
Capítulo 37 | Silja, o meu segundo navio
Capítulo 38 | Salvo por uma promessa
Capítulo 39 | Mais uma lição errada
Capítulo 40 | Uma brincadeira que me custou muito caro
Capítulo 41 | À luta com um tubarão
Capítulo 42 | Um desaparecimento a bordo
Capítulo 43 | O meu desembarque daquele lindo navio
Capítulo 44 | A minha admiração nos canais do Canadá
Capítulo 45 | Comia-se mal a bordo
Capítulo 46 | Um grande susto para um covarde
Capítulo 47 | Racismo e discriminação
Capítulo 48 | À procura de um barco liberiano
Capítulo 49 | A compra da minha primeira casa
Capítulo 50 | Os dois traidores
Capítulo 51 | O homem com a cana de pesca
Capítulo 52 | Três meses no Rio de Janeiro
Capítulo 53 | Fora da cama
Capítulo 54 | A horrível dor de barriga
Capítulo 55 | Partida de Moçambique para Holanda
Capítulo 56 | Mi quinze dias não passa água
Capítulo 57 | Milho para fazer cachupa
Capítulo 58 | Peixe envenenado
Capítulo 59 | Duas carecas, dois bataréus e dois marítimos
Capítulo 60 | Mal acompanhado
Capítulo 61 | O poder da amizade
Capítulo 62 | Novamente na companhia VCK
Capítulo 63 | Unden
Capítulo 64 | Sobre as garrafinhas
Capítulo 65 | Outras anedotas
Capítulo 66 | A intuição que me indicou o rumo certo
Capítulo 67 | Às senhoras cabo-verdianas
Capítulo 68 | Intervenção cirúrgica
Capítulo 69 | Mercearia
Capítulo 70 | Árvore Frondosa
Capítulo 71 | A doença da Manduca
Capítulo 72 | Saída com a Manduca para Portugal
Capítulo 73 | Saída com a Manduca para a América
Capítulo 74 | Da América para Cabo Verde
Capítulo 75 | 19 de junho de 2002
LIVRO 4: Paraíso Escondido
Capítulo 76 | A lenda da descoberta de Pau
Capítulo 77 | A nossa anciã tia Cacai
Capítulo 78 | Uma homenagem a António Julinho
Capítulo 79 | O tratamento de areia em São Nicolau
Capítulo 80 | Calu, o incompreendido
Capítulo 81 | As peripécias de Ti Clau e Ti Zé
Capítulo 82 | O Paraíso Escondido
LIVRO 5: Armanda
Epílogo
O Tau (a Filosofia) de Toy Djack
Descodificação de algumas músicas A
Toydjackismo | Teste final
Teste final | Soluções
Glossário
Localidades
Formulário de heteroapreciação
Bibliografia
Dedicatória
À Manduca
Aos meus filhos
(os biológicos e os de criação)
À minha família
A Ribeira Prata
A São Nicolau
A São Vicente
A Cabo Verde
À Holanda
Ao Astral Superior
Agradecimentos
Agradeço, em primeiro lugar, às Forças Astrais que me ajudaram a chegar até aqui, sem me deixarem desistir da caminhada e iluminando- -me sempre na travessia dos caminhos mais difíceis.
Uma profunda e enorme gratidão à Manduca, a minha estrela-guia e fiel companheira ao longo de grande parte desta jornada.
Um especial obrigado:
Aos meus dez filhos (sete de sangue e três de criação e coração), noras e genros, que me completam, e que de uma forma ou de outra, de acordo com as suas possibilidades, me auxiliaram e colaboraram na realização de mais este sonho;
Aos meus netos e bisnetos, que me inspiraram a libertar as minhas memórias, não obstante as muitas limitações inerentes ao meu grau de escolaridade, idade e domínio das novas tecnologias. Mas prometi a mim mesmo não os privar de conhecer a minha história de vida;
A colaboração da família foi importante, mas abro um parêntesis para endereçar um particular agradecimento: à Iria, que compilou as primeiras versões do manuscrito; à Eva, pelos seus contributos na revisão deste manuscrito, nomeadamente pelos detalhes com que avivou os capítulos dedicados à Armanda; ao Laurindo, pelos seus contributos sobre a definição de alguns termos, pela colaboração estreita comigo e pela leitura do manuscrito final; e ao Amílcar, que não só colaborou na revisão do manuscrito desde a primeira versão, como também expandiu o projeto inicialmente delineado e responsabilizou- -se por coordenar todas as etapas inerentes à publicação do manuscrito na sua edição final; e à Diana. Sim, sem esse envolvimento não seria possível concluir este projeto na forma como agora se apresenta ao leitor. Dedico ainda uma menção especial aos leitores que aceitaram ler e comentar este livro quando ainda se encontrava numa versão prototípica, em particular à Landinha, à Montinha, à Letícia, à Amara, à Judite, à Leonor Filomena e à Susana.
Agradecimentos
À Holanda, país que me acolheu e que me proporcionou oportunidades de crescimento, como homem e como pai de família, e me possibilitou realizar um dos meus grandes sonhos de infância/juventude: a educação dos meus filhos. O pouco que tenho devo-o à Holanda e aos demais países europeus, em especial à companhia norueguesa que me deu a primeira oportunidade de trabalhar pelo mundo fora, a bordo do navio Toscana, apesar da minha total inexperiência como marítimo;
À ilha de São Tomé, que me abriu a porta da emigração e me preparou para enfrentar e vencer os 30 anos de trabalho duro pelo mundo fora;
Aos médicos, profissionais de saúde, vizinhos, amigos e familiares, no país e na diáspora, que nos ajudaram na luta contra a terrível doença da Manduca;
A Ribeira Prata, onde se encontram as minhas raízes, e à sua gente, que, de forma sólida, sustentam estes 90 anos de muita vivência;
Aos que me ampararam na minha infância e juventude (muitos já não se encontram entre nós) e também aos meus amigos e familiares de Ribeira Prata que me vêm acarinhando, aquando das minhas idas àquele vale, nesta terceira idade, ajudando-me a fintar a solidão entre as paredes da casa que viu nascer os meus meninos;
Às famílias que se uniram a mim e à Manduca na educação dos nossos filhos, projeto que na altura seria impossível de desenvolver a partir de Ribeira Prata;
Por último e não menos importante, aos que não facilitaram a minha infância e juventude, porque me moldaram para toda a vida;
Reconhecidamente grato a todos.
Prefácio
Caros leitores:
Não quero levar para a sepultura toda a história da minha vida. Quero deixá-la para todos os meus filhos, os meus familiares, os meus amigos, para a nossa cultura e para o povo do mundo inteiro. Por isso mesmo, vou contá-la com todos os seus detalhes.
Chamo-me António Joaquim dos Santos. Nasci no dia 17 de fevereiro de 1932 em Ribeira Prata, na ilha de São Nicolau. Sou filho de Joaquim António dos Santos e de Júlia Matilde Silva, ambos naturais da ilha de São Nicolau.
Sinto-me feliz e realizado por ter nascido numa zona tão pacata, tão linda e acolhedora como Ribeira Prata, apesar de, materialmente falando, ser tão pobrezinha. O seu povo é humilde, trabalhador, sofredor. Mas o sofrimento também faz parte da vida na Terra.
Este livro é uma forma de eu não levar a história da minha vida para o fundo da terra, quando chegar o dia da minha partida deste mundo. Estou a fazer todos os possíveis para a deixar no papel. Se não conseguir publicá-la, os meus filhos fá-lo-ão por mim, embora eu gostasse de poder testemunhá-lo. Espero que Deus me ajude.
Toy Djack, São Vicente, 2018
Nota prévia
Plano de viagem
Bagagem
•Letras das músicas de Toy Djack, embebidas no texto
Fazem uma ligação entre a história de vida de Toy Djack e as suas músicas.
•A filosofia ( o tau ) de Toy Djack
Coleção de ideias e pensamentos de Toy Djack, que destilam a sua ética e raciocínio.
•Descodificação de algumas letras das músicas de Toy Djack
Uma visão das músicas de Toy Djack, segundo um dos seus filhos.
•Banco com mais de uma centena de perguntas sobre o toydjackismo
Desafios para procurar as respostas no texto ou se deliciar com situações insólitas. Poderá lê-las no início ou no final da leitura do livro, ou antes de cada capítulo correspondente.
•Glossário alfabético
Sempre que o leitor tiver dúvidas sobre expressões, locais, objetos ou conceitos especificamente pertencentes ao toydjackismo poderá recorrer ao glossário. Por exemplo, sabe o que significa guritipau, tchintchon, vara de bernadeira, cochir, bulk carrier ou baile de toque e bico? Não sabe? Recorra ao glossário: todas as entradas estão devidamente sinalizadas (exemplo: guritipau(g)).
Nota prévia
Como ler o livro: dicas para se deslumbrar
Toydjackismo: a forma como Toy Djack vive e vê o mundo. A história de vida de Toy Djack contada pelo próprio e pelos filhos. A família e a educação em primeiro lugar.
A história de Toy Djack fala por si. No entanto, a combinação do seu conteúdo com as ferramentas acima listadas poderá levá-lo a navegar por uma obra multicamadas. Poderá ler o livro várias vezes e/ou segundo diversas perspetivas ou múltiplas combinações:
•Poderá ler apenas a história principal, do princípio ao fim;
•Poderá ler o livro enquanto escuta as músicas de Toy Djack;
•Poderá intercalar a leitura com a escuta das músicas e/ou a reflexão que as acompanha (consultando a secção sobre a sua descodificação);
•Poderá ler primeiro as perguntas e ir à procura das respostas e saber que nota terá no teste do toydjackismo , ou poderá fazer as perguntas depois de ler o livro;
•Poderá ir consultando o glossário à medida que lê os capítulos ou lê-lo no final, pois é um retrato abrangente do contexto familiar, histórico e social em que cresceu e viveu Toy Djack.
Para os filhos de Toy Djack esta narrativa é uma never-ending story. Uma história inesquecível. Que assim seja para o leitor…
Comecemos a viagem!
Amílcar Silva dos Santos, Lisboa, 2022
Prólogo
Sobre as memórias de Toy Djack, indique as opções verdadeiras:
a) Simbolizam a história de uma pessoa que, face aos obstáculos provenientes das carências da sua terra natal, parte numa aventura pelo mundo – com o sonho de melhorar as suas condições de vida, aprender, amar e deixar um legado –, vai superando as adversidades e consegue realizar quase todos os seus sonhos, exceto aqueles que não dependem exclusivamente de si;
b) Dizem respeito às pessoas de Cabo Verde e não tanto à população do resto do mundo;
c) Simbolizam a história de uma pessoa que parte numa aventura pelo mundo – com o sonho de melhorar as suas condições de vida, aprender, amar e deixar um legado –, vai superando as adversidades e consegue realizar todos os seus sonhos;
d) A educação é a maior riqueza que Toy Djack poderia deixar aos seus filhos;
e) O único vício de Toy Djack é trabalhar.
Seja bem-vindo(a) a bordo deste livro, veículo através do qual irá navegar pela história de 90 anos de vida de Toy Djack, natural de Ribeira Prata, São Nicolau, Cabo Verde. Esta viagem tem a duração de algumas centenas de páginas de conteúdo puro, destilado pelo Toy Djack e seus filhos biológicos e adotivos. Ao mesmo tempo, essa viagem é acompanhada por várias ferramentas que ajudarão o leitor a compreender, saborear e desfrutar melhor esta aventura toydjackiana que cativa, encanta e enfeitiça. Ou não fosse Toy Djack de Ribeira Prata. Se o leitor não conhece as respostas ao primeiro desafio deste livro, não se preocupe, em breve descobri-las-á…
Prólogo
Se o leitor pertence ao grupo de pessoas de Cabo Verde que privou com, conhece ou já ouviu falar do cozinheiro e ex-emigrante na Holanda, Toy Djack, garanto-lhe que mesmo assim se surpreenderá com os segredos que ele nos revelará nestas páginas, à medida que nos conduz pela sua volta ao mundo durante 30 anos e à superação das adversidades que lhe foram surgindo. Por exemplo, sabia que Toy Djack esteve emigrado em São Tomé e que correu perigo de vida nas roças? Porque é que ele emigrou para São Tomé, não uma, mas duas vezes? Da segunda vez poderia não ter emigrado, mas fê-lo mesmo depois de se ter comprometido com a Manduca. Porquê? Garanto-lhe que se surpreenderá…
Toy Djack tinha um sonho familiar importante para a sua reforma. Conseguiu concretizá-lo? Se o leitor não sabe a resposta, não se preocupe. Saboreie o texto porque muito em breve conhecerá o seu desenlace.
Se já ouviu falar de Toy Djack, seja nos meios de comunicação social de Cabo Verde ou na internet, como o senhor que aos 80 anos de idade lançou o seu primeiro CD de música, e aos 87 anos o segundo, garanto-lhe que se surpreenderá com os arranjos não musicais da vida de Toy Djack. Esta história irá fazê-lo vibrar e de certeza que ressoará no seu âmago e o inspirará. Sabia que ele esteve emigrado na Holanda durante 30 anos? Sabia que mesmo assim ele criou uma árvore frondosa? Não sabe o que é? Continue a ler… surpreender-se-á. Como é que ele criou tal árvore frondosa? Teve o auxílio de um solo fértil… não sabe ao que me refiro? Não tenha pressa, irá descobri-lo em breve.
Para as mentes mais curiosas e vocacionadas à intelectualidade, garanto-lhes que se sentirão inspiradas pela inteligência e capacidade de resolução de problemas que Toy Djack apresenta. Já ouviu falar da solução engenhosa que ele criou para resolver o seu problema de fazer chichi na cama (enurese noturna) durante a sua infância? Nunca ouviu falar? Aguarde um pouco e descobrirá.
Prólogo
Este livro tem potencial para o fazer sentir e vivenciar uma vasta gama de sentimentos e emoções: irá sentir as sensações do enamoramento, paixão, amor… e irá chorar (sim, terá uma elevada probabilidade de chorar algures ao longo desta viagem, mesmo que o seu coração esteja empedernido). Sentirá deslumbramento, curiosidade, alegria e divertimento (sim, irá dar várias gargalhadas… há 100% de probabilidade de isso acontecer).
Se nunca ouviu falar de Toy Djack, garanto-lhe que a probabilidade de se surpreender é grande. Irá acompanhar a viagem de um rapazinho que ousou sonhar alto e desafiar as probabilidades… um rapazinho nascido numa família pobre, cujos pais se separaram muito cedo. É oriundo de Ribeira Prata, uma localidade recôndita da pouco conhecida ilha de São Nicolau, pertencente ao arquipélago de Cabo Verde, país pequeno com poucos recursos, ex-colónia portuguesa, e que, nas décadas de 1950/60, tinha na emigração uma das poucas soluções para o progresso laboral. Sabe quais eram os dois principais sonhos de Toy Djack? Não sabe? Irá testemunhá-los em breve, se continuar a ler.
Amílcar Silva dos Santos, Lisboa, 2022
Comentário breve de uma leitora enfeitiçada
Estimado Leitor:
Acredito que está perante um livro que serenamente se sustém sob a firmeza da sua própria lombada. Um «Tributo Universal», como António Joaquim dos Santos escolheu nomear o seu segundo disco, lançado aos 87 anos de idade. O testemunho de uma vida vivida, um legado para as vidas em curso e para aquelas por viver.
A edição que aqui se apresenta foi elaborada a fogo lento, no decurso de várias iterações, e convocou a colaboração de uma multiplicidade de intervenientes: falarei em primeiro lugar dos familiares do autor, em especial dos seus filhos, que alavancaram a materialização deste projeto por ele concebido; mas também de amigos e pessoas queridas da família que com generosidade se prontificaram a ler e a comentar as sucessivas versões por que passou esta obra, sujeita ainda ao crivo de profissionais de revisão e de paginação. Independentemente do papel desempenhado por cada qual, os esforços de todos convergiram para que estas páginas fossem trabalhadas com muito zelo, muito carinho e com o genuíno interesse de fazer jus à história aqui narrada.
Tal como Cabo Verde emerge da interseção de três continentes, também este livro nasce de um inusitado cruzamento de géneros e identidades: é, a seu tempo, livro memorialista e livro visionário; livro de prosa curta e livro de epopeia; livro de ensaio e saga familiar; livro de aventuras e livro de amor.
É um livro de viagens, sim, e de mistérios. A bordo das suas páginas o leitor navegará por diversos locais do mundo, desde a desmedida pobreza de São Nicolau dos anos 40 até ao esclavagismo das roças de São Tomé e à Holanda da segunda metade do século XX. Encontrará pelo caminho epidemias de fome, ciclones, marinheiros abandonados, sereias de cabelos longos, correntes fluídicas, conflitos astrais. E as coordenadas de um «Paraíso Escondido», onde foram plantadas as sementes de uma «Árvore Frondosa» que continua a crescer, em todas as direções.
De entre todos os géneros que se interpenetram neste livro, escolho pensar nele, sobretudo, como uma história de amor. A história de um amor que atuará como força propulsiva inesgotável, capaz de insuflar por toda uma vida: o amor a uma mulher. Mas também a história fecunda de amor a um povo, a um desígnio, a uma família. Uma história de amor à vida.
E como está cheio de vida, este livro. À semelhança do que encontramos em obras como Moby Dick
(1841), A ilha do tesouro
(1883) ou A pérola
(1947), esta é uma narrativa que se devota à busca de algo maior. Mas o destino daquele que protagoniza estas páginas está longe de ser trágico, como é o do capitão Ahab a que Melville deu vida. Não se encontrará aqui a mítica baleia branca; nem o tesouro escondido do capitão Flint ou a pérola do mundo. Pois esta é a história de um sonho, um sonho que eclodiu num grunzinho di terra e se forjou em expansão pelo mundo inteiro. Esta é a história de um sonho maior do que a terra que o viu nascer. A história do sonho de um homem que redefiniu o seu próprio destino.
Creio que a última vez que chorei ao ler um livro terá acontecido quando frequentava o 7.º ano do ensino básico. Chorei desconsoladamente pela pobreza de Zezé, o protagonista de O meu pé de laranja lima. E eis então que, muitos anos volvidos, já no começo da idade adulta, dei por mim a chorar de novo com o livro que agora o leitor tem em mãos. Mas, desta vez, não era desconsolo o que eu sentia.
Arrisco-me a dizer que este é um livro onde pulsa aquilo que, em essência, todos buscamos: esperança – esperança de que o bem, insuflado pela resiliência e pela capacidade de abnegação, triunfará; e amor – amor genuíno, sólido, expansivo, que impregne de sentido as nossas vidas e mantenha o mundo a girar direito na sua órbita. Ter a oportunidade de ler e reler este livro encorajou a minha crença de que o amor – o amor como um exercício de liberdade, de abnegação, uma forma de estarmos ao serviço dos outros – é a verdadeira proteção interior contra o sofrimento. E só por isso, como leitora, me considero já infinitamente grata.
Faço votos para que um dia, caso as condições se alinhem, este livro possa chegar a outras línguas e a uma comunidade ainda maior de leitores. E como A Pérola, de Steinbeck, poderá quem sabe vir a ser recordado por gerações e gerações, como acontece com todas as histórias repetidas que ficam no coração dos homens.
Há livros assim, inteiros, que podem mudar a nossa vida. Os leitores destas Memórias perceberão porquê.
Diana Venda, Lisboa, 2022
Capítulo 1 | A minha infância em casa de Cacai Filipa
Em cima de que compartimento da casa de Cacai Filipa se encontrava Toy Djack quando o respetivo teto ruiu?
a) Despensa;
b) Casa de banho;
c) Quarto de dormir;
d) Fugon ;
e) Sala de jantar.
Passei muitos anos sem conhecer a minha própria mãe. Não me lembro da idade que tinha quando a conheci. Recordo apenas que, um dia, estando eu sentado junto do meu tio, ele disse-me:
«Olha, lá vem a sua mãe.»
Com curiosidade perguntei-lhe:
«Onde está ela?»
Ele indicou-me, apontando na sua direção.
Não me lembro de quantos anos tinha quando entendi que o meu nome é António, mas sei que me encontrava na casa de Cacai Filipa.
Esta pessoa tem para mim um grande significado, e o leitor poderá ver mais adiante a que razões isso se deve.
Segundo me explicaram, o meu pai e a minha mãe não se entenderam bem, mas o motivo disso eu desconheço. Só sei que o meu pai rompeu relações com ela e passou a namorar uma das filhas de Cacai Filipa, de seu nome Tanha Cacai.
Quando o meu pai aparecia em casa de Cacai, era sempre comigo ao colo. E toda a gente naquela casa foi ganhando muito amor por mim, até que passei a ser considerado como um filho, por um lado, e como um neto querido, por outro.
A Cacai Filipa tinha uma outra filha por nome de Filipa Cacai, a quem eu chamava Pipa Cacai. Ela era para mim uma mãe muito amiga: dava-me todo o carinho que um filho poderia receber da sua própria mãe. Cacai dava-me todos os mimos que uma avó poderia dar ao seu neto. O marido dela era um senhor de nome Manuel, carinhosamente chamado Nenhe, que era para mim um vovô muito querido. De maneira que fui crescendo naquela casa como um ente querido.
Pela casa de Cacai Filipa passava toda a gente da zona. Todas as tardes se juntavam os homens que iam jogar guritipau(g), um jogo tradicional de São Nicolau. Os homens começavam a partida. Quando algum jogador fazia uma boa jogada, rejubilava-se de alegria. Da mesma forma, quando alguém fazia má jogada, os seus parceiros caíam-lhe em cima e os espectadores gritavam fazendo chacota, dando maior realce ao divertimento.
Além de Filipa Cacai, da sua mãe e do seu marido, muitos outros amigos me acarinhavam. Era o caso do irmão do meu pai, Manuel, mais conhecido por Manê Cacai (origem do nome da sua mãe, que se chamava Clara). Para mim, o tio Cacai era um tio de ouro, porque ele gostava muito de mim e fazia tudo por mim.
O tio Cacai tinha propriedades de mandioca e fazia farinha de mandioca todos os anos. De cada vez que eu ia à casa dele, dava-me farinha com açúcar e eu ficava muito contente. Era ele quem cortava os meus cabelos, quem me dava banana madura, quem me carregava ao colo… fez-me muitos carinhos e todos estão gravados na minha memória, porque quando se dá carinho às crianças, está-se semeando num terreno com retorno.
A Pipa Cacai teve um filho a quem deu o nome de Fortunato, mas toda a gente o chamava Funa. Viria a falecer ainda garotinho. Teve ainda mais duas filhas: Ilda, a mais velha, e Fátima, a mais nova. Devo dizer que elas são, para mim, duas queridas irmãs com quem mantenho uma estreita relação. São duas pessoas especiais em Ribeira Prata. As suas casas são casas do povo. Abrem os seus corações para receber toda a gente, fazendo o bem sem ver a quem. E devo dizer também que a maioria dos visitantes que chega a Ribeira Prata gosta de as visitar. Não estou aqui elogiando, mas falando uma pura verdade. Por tudo isto, aquelas casas têm para mim um valor especial. Amo muito estas duas irmãs, do fundo do meu coração, e espero que só a morte nos separe.
Ainda me lembro da primeira vez que vi gente a matar um boi. Era ainda criança e tive curiosidade de ver aquela tragédia. Mataram-no só para fazer uma festa. A mim e aos meus colegas deram-nos a bexiga, para onde soprámos até ficar cheia de ar e se transformar numa bola para jogar futebol. O que me deixou bastante confuso foi ver um senhor encher uma caneca do sangue daquele boi e beber tudo. Fiquei sem entender, muito impressionado.
Aconteceu comigo uma tragédia que ficou na lembrança da família inteira, por toda a vida.
As casas tradicionais(g) eram construídas em pedra e barro. Cada casa tinha uma cozinhola(g) que ficava separada da casa grande, a que se chamava fugon¹.
Num belo dia, a bondosa Cacai Filipa ia fazer ralada para o almoço (mandioca ralada numa rala feita de chapa furada com pregos, com o auxílio de um martelo). Mas a mandioca ralada fica muito molhada e para fazer a papa é necessário que esteja mais ou menos seca, apenas levemente húmida. Como havia muitas galinhas à solta, não se podia secar a ralada em qualquer sítio (as galinhas comê-la-iam), de maneira que ela resolveu ir secar a ralada em cima do fugon. A cobertura do fogãozinho já era bastante velha e estava apodrecida, mais do que parecia. Mas lá foi a Cacai secar a ralada em cima do fugon e chamou-me a mim, para ficar sentado com ela a guardar as galinhas. Momentos depois estava eu com a ralada dentro do fugon, porque a ripa de madeira que segurava a cobertura partiu-se e tanto eu como a ralada caímos. Felizmente não me machuquei.
Pipa Cacai gostava tanto de mim que não queria que eu me magoasse. Assim, lembro-me do pânico dela e do de toda a gente lá em casa quando me encontraram caído dentro do fugon. Elas queriam que eu guardasse as galinhas, mas por pouco não morri junto com a ralada, por causa das galinhas. Este episódio ficou gravado na história da família.
Capítulo 2 | Um método para parar de fazer chichi na cama
Durante a infância, Toy Djack fazia chichi na cama (enurese noturna). Como é que resolveu esse problema?
a) Fez um remédio caseiro;
b) Deixou de beber água à noite;
c) Tomou um remédio chamado desmopressina;
d) Com a ajuda de um familiar ;
e) Nenhuma das anteriores.
Eu fazia chichi na cama e notava que aquilo era preocupante, porque dormia junto de Cacai Filipa e do seu marido numa mesma cama. Eles não diziam nada, mas, apesar de ainda ser pequenino, sentia-me envergonhado.
Certa noite, antes de ir dormir, resolvi ficar escondido. Apanhei um pedaço de linha de coser e amarrei o meu pirilau para não fazer chichi na cama. Às tantas da noite sonhei que estava sentado numa bacia a fazer chichi… e foi nessa altura que acordei chorando desesperadamente, despertando assim toda a gente lá em casa. Estava desesperado de tanta dor. A linha introduzira-se na pele e o meu pirilau ficou muito inflamado.
Estava cheio de urina. Todos ficaram assustados, ninguém conseguia tirar a linha. Mas depois lá se conseguiu removê-la, já não me lembro como. A verdade é que, a partir daquela noite, nunca mais voltei a fazer chichi na cama.
Capítulo 3 | A minha infância no Figueiral com Marco Chomeia
O cão de Nhô Marco comeu dois ovos cozidos que faziam parte do pequeno- -almoço do seu dono. O que é que Nhô Marco fez ao cão?
a) Festinhas;
b) Fechou-o num quarto, de castigo;
c) Não lhe deu de comer durante dois dias;
d) Meteu-lhe um ovo quente na boca;
e) Simulou ladrar para assustar o cão.
Em 1938, quando eu tinha seis anos de idade, a minha mãe foi buscar-me à casa de Cacai Filipa e levou-me para a zona do Figueiral, onde morava com um senhor de nome Marco Chomeia, a quem eu chamava de Nhô(g) Marco.
Caros leitores, o que eu passei nas mãos daquele homem! Foi muito triste para uma criança como eu sofrer sem piedade nas mãos de um homem que também era pai. Mas, antes de contar as suas maldades, vou prosseguir contando as peripécias que eu e os meus amigos fazíamos lá no Figueiral.
Havia um outro casal que também morava na mesma zona, Nha(g) Joana e Nhô José. Com eles morava um rapaz, José, que tinha alcunha de Tchinhe, e que era sobrinho de Nhô José. Havia ainda um outro rapaz, José Carlos, e todas as noites nós os três juntávamo-nos para vigiar as hortas de mandioca. Nhô Marco e Nhô José ficavam deitados nas suas camas, e nós que éramos garotos tínhamos de fazer de guardas durante noites seguidas.
Éramos muito amigos e fazíamos muitas peripécias juntos. Nas noites frias cada um de nós metia-se dentro de um saco para se agasalhar do frio, que não era de todo brincadeira. Os sacos eram os nossos melhores cobertores dentro daquela barraca de palha.
Só nós os três sabíamos os tantos males por que passávamos nas mãos daquelas duas criaturas, que nem pareciam ser pais neste mundo por tantas maldades praticadas (sobretudo contra as crianças, que algum dia viriam a ser adultos também).
Acontece que Nhô José era