Cultive Danças: Reflexões Sobre o Ensino-Aprendizagem em Dança Para o Cultivo de Metodologias Plurais
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Cultive Danças - Manuella Lavinas
Sumário
PRÓLOGO
De que solo você brota?
Arte das ruas, caminhos e pesquisas
A prática na dança-educação e as descobertas metodológicas
A liberdade impulsionando novos rumos de pesquisa
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO 1
ENSINAR-APRENDER DANÇA CULTIVANDO O ENCANTAMENTO E O ENTUSIASMO POR UMA ÉTICA AMOROSA
1.1 Encantamento e entusiasmo. Curadoria em movimento
1.2 O cultivo da liberdade e a colheita de serendipidades
1.3 Dança, educação e transformação
1.4 O amor em ação
CAPÍTULO 2
METODOLOGIAS, TEORIAS PRATICADAS E PRÁTICAS TEORIZADAS
2.1 Metodologia poética. Terrenos A/R/Tográficos
2.2 Corpos em experiência. Transdisciplinares e criação cênica nos processos de ensino-aprendizagem
2.3 Cultura de ciclo longo. Dança, imaginação e criação de memórias
CAPÍTULO 3
O ESPETÁCULO MEMÓRIAS ARTESANAIS: A PESQUISA EM CENA
3.1 A pesquisa experienciada no palco
3.2 A participação na Mostra Movimentos Em Curso e suas reverberações
3.3 O processo de criação do espetáculo Memórias Artesanais
3.4 A roteirização do processo cênico Memórias Artesanais
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Atravessamentos de uma pesquisadora errante
Ao mestre Marcelo Yuka
Esta pesquisa foi escrita
REFERÊNCIAS
ANEXOS
Pontos de referência
Cover
Sumário
Cultive danças
reflexões sobre o ensino-aprendizagem em dança para o cultivo de metodologias plurais
Editora Appris Ltda.
1.ª Edição - Copyright© 2024 dos autores
Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.
Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98. Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores. Foi realizado o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nos 10.994, de 14/12/2004, e 12.192, de 14/01/2010.Catalogação na Fonte
Elaborado por: Josefina A. S. Guedes
Bibliotecária CRB 9/870
Livro de acordo com a normalização técnica da ABNT
Editora e Livraria Appris Ltda.
Av. Manoel Ribas, 2265 – Mercês
Curitiba/PR – CEP: 80810-002
Tel. (41) 3156 - 4731
www.editoraappris.com.br
Printed in Brazil
Impresso no Brasil
Manuella Lavinas
Cultive danças
reflexões sobre o ensino-aprendizagem em dança para o cultivo de metodologias plurais
À minha filha, Stella,
por revolucionar o amor em mim.
À Cultive,
por acolher meus devaneios artísticos com liberdade e afeto.
AGRADECIMENTOS
A todas as mulheres que vieram antes de mim, abrindo caminhos e trilhas para que hoje eu possa dançar como quem escreve e escrever como quem dança. À Deusa, a cada vida deste planeta, ao universo que cria movimento e me coloca para criar também.
À Stella, por ter escolhido ser minha filha, à Flora, minha vira-lata com olhos de gente, à minha mãe, Leila, por ser a mulher da minha vida, ao meu pai por plantar em mim a religião do amor, do respeito e da igualdade, à minha irmã, Letícia por ser frescor de mudança para as minhas ideias enferrujadas, à minha irmã Gabi por ser minha alma gêmea e companheira de caminhada, à Vanessa Amorim, meu oráculo de sabedoria e bom humor, à minha Dindinha por desde sempre ser uma inspiração de liberdade, à Sandra Helena, boadrasta, avó da Stella e apoiadora amorosa em meu maternar, à Tia Dadá por tanto amor e bolo de chocolate, aos meus avós, tão vivos em meus sonhos, na minha memória e na minha intuição.
Aos meus mentores-escritores, poetas e versadores, aos meus ídolos que inspiram mudanças, às minhas referências de luta e fé. A cada mestre que contribuiu e contribui para minha formação, a cada estudante que me permitiu ensinar-aprender. À Mariana Trotta por sua escuta generosa e coração aberto. À Tayna Pataxó e ao Hugo Alexandre por terem concedido entrevistas emocionantes, à Renata Spinelli por construir essa pesquisa comigo através de seu olhar, sua fotografia, e à Gabriela Hadad por ser essa grande companheira de estudos, pesquisas e experiências. Aos amigos que são fundamentais na minha existência, que incentivam a minha arte, a minha loucura e seguem de mãos dadas nesta aventura que é viver.
A todo o corpo docente e discente do PPGDan da Universidade Federal do Rio de Janeiro, às instituições de ensino por onde eu passei, aos estudantes que me tornam a professora que sou a cada dia, à Cultive Dança e Teatro por ser um sonho vivo que motiva e realiza novos sonhos, às salas de aula, aos palcos e às ruas.
Agradeço aos amigos, alunos e parceiros culturais que acreditaram na importância da publicação deste livro e tornaram possível esta realização. Meu muito obrigada a: Adriana Maria Rodrigues Moreira, Adriana Vargas, Ana Luiza Renner Lage Ferreira da Gama Filho, Ana Quadros, Andrea Dias, Antonio Luis Miseli de Moraes, Beatriz Oliveira Peixoto, Bianca Ramos, Caroline Liberatori, Cecília Ribeiro Dâmaso, Clarissa Itajahy, Daniel Kreuger de Aguiar, Evelyne Figueiredo, Fabiana Martins, Fernanda de Moraes Moura, Flávia Casales, Gabriela Bruno, Gabriela de Lemos Veras, Gabriela Haddad, Gabriella Jorge Lavinas, Helena Paim Bevilaqua Cavalcante, Jane de Oliveira Peixoto, Julia Manes, Juliana Spinetti, Laura Prado, Luciane Neno, Marcos Junior, Maria Eduarda Radusewski, Maria Eduarda Rodrigues Neves, Mariana do Nascimento Gouvea, Mariana Pizarro, Mariana Seabra, Michelle Machado Rego, Miriam Dutra Rodrigues Manes, Natalia Manes, Nathalia De Macedo Moreira, Nathalia Freitas de Oliveira, Patrícia Lavinas Santos, Priscilla R. Guilherme, Rafael Maia Silva, Rafaela Matos de Almeida, Rafaela Neno, Renata Spinelli Serra, Roberta Dalloz, Sergio Ricardo Savi Ferreira, Sonia Maria Brites Uliana, Teresa Cristina Ricco Hoelzle, Thalles Vicente Freitas Lemos dos Santos, Vanessa Amorim, Vanessa Britto Ribeiro, Vanessa Ferreira Sarmento Bezerra e Vitor Falcone.
Recordar é preciso
O mar vagueia onduloso sob os meus pensamentos
A memória bravia lança o leme:
Recordar é preciso.
O movimento vaivém nas águas-lembranças
dos meus marejados olhos transborda-me a vida,
salgando-me o rosto e o gosto.
Sou eternamente náufraga,
mas os fundos oceanos não me amedrontam
e nem me imobilizam.
Uma paixão profunda é a bóia que me emerge.
Sei que o mistério subsiste além das águas.
(Conceição Evaristo)
PRÓLOGO
A pesquisa é incessante, a ciência, a vida
Verso,teoria, o pensamento, uma filosofia,
Ai quem me dera um dia criar um invento
Mudar o mundo sem ter que parar no tempo.
(Zé Bolinho, Andrei AKA,Em memória do amigo)
De que solo você brota?
Tenho passado os últimos dias cantarolando esse começo pela casa. Em quarentena, após um Natal e um adeus a 2020 em isolamento e tratamento para me livrar da Covid-19, encerro os meus 15 dias de recuperação. Abro caminho para 2021 com uma cerveja gelada e o livro O Corpo Encantado das Ruas, de Luiz Antonio Simas, finalizado à base de lágrimas, arrepios e aplausos solitários. Um momento de grande inspiração precisa ser imediatamente compartilhado, primeiro com o caderno e, em seguida, em uma longa chamada de vídeo (um clássico em tempos pandêmicos) com aquela pessoa que te escuta de coração aberto, minha irmã.
Reverencio a sincronicidade do universo e percebo naturalmente o quanto o meu TCC da graduação dialoga com os rumos que me trouxeram ao mestrado e a esta pesquisa, tendo como elo a rua. Como não havia considerado até agora a ligação entre esses dois momentos? Há dez anos, apresentava o trabalho intitulado Arte das Ruas, sob orientação de Kátya Gualter. Para a Manuella de hoje, a pesquisa da Manuella dos vinte e poucos anos permanecia guardada em uma lembrança boa. Mas ela estava aqui, nos emaranhados dos meus estudos, viva durante uma década de afastamento acadêmico e mergulho na sala de aula, no palco, nas ruas, no ofício de ensinar-aprender, pesquisar e cultivar dança.
Para começar a apresentar a pesquisa, que considera a memória dos corpos, a história das pessoas, os lugares por onde passam, sua matéria-prima, preciso falar da minha história e do solo onde minha dança foi semeada. Mas como iniciar a apresentação para uma pesquisa de mestrado acadêmico descrevendo a própria infância? Sem respostas ou certezas, minha intuição me diz que esse é inevitavelmente o meu caminho.
Somos corpos em movimento tecendo relações com o espaço e com os outros, na espiral do tempo. Então, começo por minhas primeiras memórias dançantes. Em Madureira, na sala de casa, ao som de samba e toda a música popular brasileira, tendo minha mãe, Leila, como primeira grande mestra e minha irmã Gabriella como grande parceira. O vizinho, o Seu Jorge, um dia cumprimentou minha mãe pelas belas tardes dançantes que ele observava de seu apartamento e como era contagiante o nosso dançar. Minha mãe, roxa de vergonha, agradeceu e providenciou uma cortina feita por ela mesma.
O movimento da casa dançante, o meu lar, se estendia à rua. Na liberdade das brincadeiras coletivas, muitas delas organizadas por meu pai, um adulto com alma de criança. Pular carniça, corda e elástico, pique-bandeira, barrêle (nome dado a