Quilombo do Vale do Ribeira: Uma Contribuição para a Formação de Professores
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Quilombo do Vale do Ribeira - Janine Alessandra Perini
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E TRANSDISCIPLINARIDADE
Aos meus pais, Esther Rieper Perini e Luiz Sílvio Perini, que sempre me ensinaram a ir atrás dos meus sonhos; ao meu companheiro, Edvaldo de Souza Santos, que sempre me apoiou em meus estudos, e às minhas duas grandes paixões, que alegram meu viver: Luca e Mariah.
AGRADECIMENTOS
Agradeço à Prof.a Dr.a Maria Cristina da Rosa Fonseca da Silva, que me orientou na escrita deste livro, contribuindo e enriquecendo-o com seus ensinamentos. Sua luta pela educação me inspira a continuar a querer crescer como professora e pesquisadora.
A todas as comunidades quilombolas e aos entrevistados que participaram desta pesquisa, principalmente à Erica Helena da Silva Pedroso, que abriu sua casa para me receber e me apresentar à comunidade Ivaporunduva.
À capoeira e aos mestres de capoeira, que me aproximaram da cultura afro-brasileira, fazendo com que eu me apaixonasse pelo maculelê, puxada de rede, samba de roda, samba de umbigada, coco, entre outras manifestações artísticas e culturais, mostrando-me a alegria e o companheirismo dentro das relações sociais, mesmo em uma sociedade com tantas desigualdades, diferenças e sofrimentos.
Ao meu companheiro, Edvaldo de Souza Santos, que está sempre ao meu lado, ajudou-me nas filmagens, nas edições, participando e me apoiando em todo o processo.
À minha mãe, Esther Rieper Perini, que sempre foi meu porto seguro, ajudou-me na correção ortográfica e, muito mais do que isso, sempre esteve ao meu lado, incentivando-me e me mostrando o caminho para eu me tornar um ser humano melhor.
Ao meu pai, Luiz Sílvio Perini, que amo tanto e que nunca deixou de me cobrar a publicação desta pesquisa. Dessa forma, é por causa dele que vocês estão com este livro em mãos.
Navio Negreiro – IV
Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!
E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...
Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!
No entanto o capitão manda a manobra,
E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."
E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Qual um sonho dantesco as sombras voam!...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!...
(Castro Alves)
APRESENTAÇÃO
Muitos questionamentos levaram-me a escrever este livro, como: por que precisou ser criada uma lei para que a cultura afro-brasileira fosse trabalhada dentro das escolas? Por que as comunidades quilombolas precisam lutar tanto para conquistarem seus direitos garantidos por lei? Por que há ainda hoje tanto preconceito contra os negros? Por que esse preconceito é velado? Com esses questionamentos, levanto algumas hipóteses: será que as novas tecnologias ajudam na inserção da cultura afro-brasileira dentro das escolas, das universidades e na formação inicial e continuada de professores? Será que a formação docente vai dar conta de tantos conteúdos afro-brasileiros necessários para a educação de nosso país? Será que a Lei n.º 11.645/2008 e as outras ações afirmativas ajudam a diminuir a discriminação e o preconceito em nossa sociedade? Para refletir sobre essas questões, abordei a formação de professores; a Lei n.º 11.645/2008; a utilização da internet dentro das escolas como veículo de aprendizagem e como facilitadora na formação inicial e/ou continuada de professores; apresentei as contribuições dos africanos e da cultura afro-brasileira para a construção de nosso país, mostrando a origem do quilombo, sua significação, sua história e suas características; apresentei a comunidade quilombola Ivaporunduva, mostrando sua arte e sua cultura; conceituei algumas palavras-chaves como cultura, inclusão, currículo, arte-educação, raça, preconceito, racismo, quilombo e remanescentes de quilombos. Dessa forma, tento neste livro contribuir para um diálogo reflexivo sobre a cultura afro-brasileira na formação docente.
PREFÁCIO
Conheci Janine Alessandra Perini nos idos de 2011, quando ela optou por participar do processo seletivo para realizar o mestrado no Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais, PPGAV, da Udesc e, na oportunidade, escolheu-me como sua orientadora. Trazia como tônica a temática da Lei 10.639/2003, que, mais tarde, foi reformulada para atender, além das comunidades negras, também as comunidades indígenas (Lei 11.645/2008), ampliando a política de inclusão do governo federal com a participação de movimentos populares.
É relevante destacar que a escolha do tema não se traduziu unicamente em um estudo acadêmico, mas também em um elo entre vida, arte e educação, em que o binômio inclusão/exclusão se materializa no cotidiano familiar. Suas opções de vida confrontaram-se com as problemáticas sociais, com o preconceito existente na sociedade. Essa reflexão e o desejo de mudança estimularam-na a percorrer os caminhos acadêmicos debruçada sobre o problema do combate ao racismo nos âmbitos da educação e da arte.
Janine traz ao público Quilombo do Vale do Ribeira: uma contribuição para a formação de professores, que se constitui em uma proposição para todas as crianças e todos os jovens na idade escolar, uma vez que pretende interagir diretamente com professoras e professores de artes. Trata-se, então, de criar possibilidades de ampliar e desenvolver discussões sobre a formação inicial e continuada acerca das relações étnico-raciais.
Para conquistar esse intento, a autora valoriza em sua escrita a cultura afro-brasileira, dando visibilidade à produção dos quilombos brasileiros, destacando especialmente elementos culturais e seus objetos produzidos no Vale do Ribeira e na sua comunidade mais antiga, Ivaporunduva, como conteúdos que subsidiam a formação de professores e professoras para a implementação da Lei 11.645/2008. Um estudo que valoriza principalmente a produção disponibilizada no ambiente virtual, mas que também é enriquecido por encontros presenciais ocorridos nas comunidades entre a autora e membros da comunidade.
Certamente, as aprendizagens conquistadas no contato direto com a comunidade ultrapassaram os materiais produzidos no site. Faço essa reflexão principalmente por conta da experiência desses anos pandêmicos de 2020/2021 que impuseram o desenvolvimento de aulas virtuais. Por mais necessário que esse processo tenha sido, nesse momento em que estamos isolados nos protegendo, jamais conseguiremos alcançar os feitos vindos do contato presencial, do olho no olho, conquistados no dia a dia, na troca direta com estudantes. Por isso, ressalto que a coleta de dados, construída junto à comunidade, foi fundamental para dar sentido ao material sistematizado no site para a aprendizagem estética do processo criador dos quilombolas.
Nesse ponto, nós nos deparamos com uma contradição: de um lado, a necessidade de acesso impedido por distâncias e, no caso atual, por uma pandemia; ao mesmo tempo, por outro lado, a impossibilidade de reprodução da interação do processo criador via redes tecnológicas. Superando esses desafios, o livro aborda um conjunto de problemáticas contemporâneas, como a educação interétnica, o uso das tecnologias na escola e na sociedade, e a arte produzida fora do eixo branco, dominante e institucional. Na interface desses conhecimentos, a autora dá visibilidade a materiais e conteúdos desenvolvidos, capazes de ampliar a formação continuada de professores e professoras de arte muito além da formação tradicional.
Pesquisas do projeto em rede Observatório da Formação de Professores no âmbito do Ensino de Arte: estudos comparados entre Brasil e Argentina
apontam que as licenciaturas em Artes Visuais desenvolvem, de modo geral, disciplinas cujos conhecimentos, em sua maioria, voltam-se à arte branca, eurocêntrica e dominante de forma prioritária. Na maioria das vezes, essa regra eurocêntrica