Refletindo Sobre A Comunhão Dos Santos
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Refletindo Sobre A Comunhão Dos Santos - Saluar Antonio Magni
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SUMÁRIO PG
INTRODUÇÃO 5
CAPÍTULO 1 CREIO NA COMUNHÃO DOS SANTOS: DOGMA DE FÉ 16
CAPÍTULO 2 A MORTE, O PURGATÓRIO E A
COMUNHÃO DA SANTÍSSIMA TRINDADE 29
CAPÍTULO 3 EUCARISTIA BANQUETE DE
COMUNHÃO 56
CAPÍTULO 4 A NOSSA ORAÇÃO FORMA COMUNHÃO
COM A TRINDADE SANTA 95
CAPÍTULO 5 O PLANO DE DEUS PARA NOSSA
COMUNHÃO ENTRE TODOS E COM A TRINDADE
SANTA 118
CAPÍTULO 6 PARA ENTENDER A COMUNHÃO
ENTRE TODOS VAMOS DISCERNIR OS NOSSOS
SENTIMENTOS
NO
CAMINHO
PARA
A
ETERNIDADE? 126
CAPÍTULO 7 O PECADO NOS AFASTA DA
COMUNHÃO DOS SANTOS E COM A TRINDADE
SANTA 138
CAPÍTULO 8 CONTEMPLAR A VIDA DE JESUS É
ENTENDER A COMUNHÃO COM DEUS E OS
OUTROS 176
CAPÍTULO 9 CONFIRMAR MEU PROJETO DE VIDA EM COMUNHÃO COM A PAIXÃO E RESSURREIÇÃO
E CRISTO 245
EPÍLOGO 298
BIBLIOGRAFIA 299
LIVROS PUBLICADOS PELO AUTOR NO CLUBE DOS
AUTORES 293
2
AGRADECIMENTO
Agradeço de maneira toda especial à minha esposa Teka, pelo incentivo e toda retaguarda necessária para que eu pudesse ter tempo, paz e tranquilidade para contemplar e meditar os assuntos abordados neste livro. Agradeço de maneira toda especial à minha esposa Teka, pelo incentivo e toda retaguarda necessária para que eu pudesse ter tempo, paz e tranquilidade para contemplar e meditar os assuntos abordados neste livro. Ao padre Geraldo de almeida Sampaio, nosso professor no curso superior de religião e nas especializações em mariologia e Cristologia que fizemos aqui na arquidiocese de aparecida. E a todo o pessoal do CEI, Centro de Espiritualidade Inaciana de Itaici, que me proporcionaram todo conhecimento intelectual, e especialmente afetivo, da metodologia Inaciana. E onde tive a oportunidade de realizar uma especialização sobre orientação e acompanhamento espiritual, coordenado pela FAGE de Belo Horizonte.
Oh! Verdade! Oh! Beleza infinitamente amável de Deus! Quão tarde vos amei! Quão tarde vos conheci! e quão infeliz foi o tempo em que não vos amei nem vos conheci! Meus delitos me têm envilecido; minhas culpas me têm afetado; minhas iniquidades têm sobrepujado, como as ondas do mar, por cima de minha cabeça. Quem me dera Deus meu, um amor infinito para amar-vos, e uma dor infinita para arrepender-me do tempo em que não vos ame como devia! Mas, em fim, vos amo e vos conheço, Bem sumo e Verdade suma, e com a luz que Vós me dais me conheço e me aborreço, pois eu tenho sido o principio e a causa de todos os meus males. Que eu Vós conheça, Deus meu, de modo que vos ame e não vos perda! Conheças a mim, de sorte que consiga arrepender-me e não me busque em coisa alguma minha felicidade a não ser em Vós, Senhor meu! (Santo Agostinho)
―Se queres chegar ao conhecimento de Deus, trata de antes te conheceres a ti mesmo.‖ (Abade Evágrio Pôntico).
―Então, os seus olhos abriram-se e reconheceram-no‖ (Jo 24, 31).
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INTRODUÇÃO
Quero iniciar este livro ―Refletindo sobre a comunhão dos santos‖, e como subtítulo ―fazer comunhão com Jesus e a Igreja através dos Exercícios Espirituais Inacianos.‖ Pela comunhão dos santos, estamos unidos de tal maneira que nossos atos e intenções podem influenciar na fidelidade ou na infidelidade de nossos irmãos na Fé no presente, no passado e no futuro. A comunhão dos santos é um dogma de Fé: ―Creio na comunhão dos santos‖ é o que rezamos todos os domingos na Missa ou ao começarmos a recitação do terço. A comunhão dos santos é um dogma de Fé explicitado desde o primeiro século do cristianismo. Permite, por exemplo, que ofereçamos auxílios espirituais aos cristãos que estão em outros países, a milhares de quilômetros de distância. A doutrina explica que os membros da Igreja, por toda a terra, embora pouco ou nada se conhecendo, sobretudo à distância, estão unidos por um vínculo espiritual que transpõem as distâncias e mesmo os tempos. Pela comunhão dos santos, estamos unidos de tal maneira que nossos atos e intenções podem influenciar na fidelidade ou na infidelidade de nossos irmãos na Fé no presente, no passado e no futuro.
Pela comunhão dos santos, um ato de virtude, de abnegação ou de generosidade, pode tornar-se auxílio para um jovem que se precipita nas trilhas do pecado, assim como um ato pecaminoso pode ter consequências nos membros e, de certa forma, no corpo místico. Todavia, a comunhão dos santos não se aplica somente aos cristãos desta terra, membros da Igreja Militante, pois também fazem parte da Igreja todos aqueles que já estão salvos no paraíso, aqueles que constituem a Igreja Triunfante. Pela comunhão dos santos, está explícito a ajuda que podemos receber daqueles que já morreram e foram salvos, e gozam da glória divina. Eles podem interceder por nós, pois da mesma forma que uma pessoa que ama a Jesus e Maria quer prestar os benefícios materiais e espirituais a seus irmãos na Fé, também aquelas almas que estão no Céu querem ajudar as pessoas na terra. Como que estão ávidas de que peçamos sua intercessão, para assim, continuar no Céu a ajudar aqueles que 4
peregrinam na terra. Por esta razão, a Igreja crê e confessa esta relação com os céus na devoção e intercessão dos santos. Assim, temos também nós a esperança de, quando salvos, podermos auxiliar nossos parentes e amigos nas sendas do bem e da verdade. A raiz da comunhão dos santos está em que a virtude da caridade ―é bondosa e não interesseira‖ (Cf. 1Cor 13, 4-5). Já os primeiros cristãos dispunham de todos os bens espirituais e materiais, de ―tudo em comum‖ (At 4,32). A comunhão dos santos também tem um aspecto material, por onde os cristãos devem estar dispostos a ajudar o próximo através dos próprios bens materiais colocando-os ao serviço dos mais necessitados.
Nestes dias que escrevo este livro, estamos passando por tragédias no meu Rio Grande do Sul, pois sou nascido lá! As ajudas que vão do Brasil inteiro e do exterior são um grande exemplo de comunhão dos santos! Além das orações e preces de todas as Igrejas.
Além disso, a comunhão dos santos se aplica àqueles que sofrem os calores das benditas chamas do purgatório, pois estas almas esperam ser purificadas de suas faltas e entrar no convívio eterno com Deus e Maria Santíssima. Pela comunhão dos santos podemos ajudá-las a se purificar com mais presteza, e assim unirem-se aos santos do Céu. Qual o melhor meio de beneficiar as almas pela Comunhão dos Santos? E veremos com detalhes que a comunhão dos santos se aplica à Igreja Militante, à Igreja Triunfante e à Igreja Padecente. A Comunhão dos Santos é o meio mais poderoso de apostolado. Por mais que às vezes sintamos não ter dons para fazer bem às almas de nosso próximo, se vivermos uma vida santa e de amor fervoroso a Deus, podemos prestar um valioso auxílio aos cristãos do mundo inteiro, pois pela prática da virtude conserva-se o estado de graça e o cumprimento dos mandamentos divinos. A prática da virtude nos afasta do pecado fazendo com que não sejamos motivo de retração da graça divina para a Igreja Universal, ou para determinado conjunto de fiéis, um país, uma cidade, um bairro, uma comunidade, etc. Ao contrário, a prática da virtude faz com que sejamos verdadeiros ―para-raios‖ da graça de Deus, 5
beneficiando assim toda a Igreja Universal. Entretanto, existe também um modo ativo de auxiliar nossos irmãos na Fé: a recepção dos sacramentos, especialmente da Eucaristia. De fato, a comunhão dos santos não é somente a união entre os santos, mas também, a comunhão das coisas santas. Em latim, communio sanctorum tem esse duplo sentido, ―comunhão dos santos‖ ou
―das coisas santas‖. Por isso, a Liturgia, usando deste jogo de palavras latinas, ensina: Sancta Sanctis, ou seja, ―as coisas santas aos santos‖.
É também comunhão dos santos o oferecimento de oração e sacrifício a Deus, pois podemos oferecer uma oração a Deus, pelas almas mais tentadas no mundo, pelos cristãos que são perseguidos por causa de sua Fé, para que sejam mais santos e fiéis à vocação que Deus lhes chamou, oferecendo assim nossas súplicas pelo Clero e pelo Papa. Agrada também a Deus oferecer um sacrifício, um sofrimento corporal ou moral que estejamos na contingência de suportar, ou ainda uma privação voluntária de algum prazer legítimo, como comer algo delicioso ou descansar por um tempo maior. Todavia, ainda existe um ato mais agradável, e mais sublime: receber a sagrada Eucaristia. Oferecer explícita e fervorosamente as intenções da comunhão eucarística pelos cristãos no mundo, e pelas almas do purgatório, faz com que usemos ativamente deste meio de caridade fraterna. A oração e os méritos adquiridos por nós na Eucaristia podem beneficiar o mundo inteiro, por causa, do ―fundo comum‖, de todos os méritos dos santos, da Santíssima Virgem e da Paixão de Cristo na Cruz. Este fundo comum que atrai as graças de Deus, beneficia todas as almas da terra e do purgatório.
Veremos o que é o Purgatório? Afinal, ele existe? E como é? Será que todos nós, quando morremos, já estamos plenamente convertidos a Deus? O que acontece com as almas que precisam se purificar? Muitos se perguntam se o Purgatório realmente existe. Mas, pensemos sinceramente: será que todas as coisas sujas que acumulamos em nossas vidas se tornarão, de repente, irrelevantes? Bem caro/a leitor, refletiremos neste livro que para a Igreja Católica, o purgatório é um estado no qual as almas dos 6
defuntos passam por um processo de purificação a fim de obter a santidade necessária para entrar na alegria do Céu. É a ocasião final que Deus dá às pessoas de se habilitarem para a comunhão plena com Ele. Assim, o purgatório é a última conversão, na morte. O modo de viver de cada pessoa não é irrelevante. A morte não é uma esponja que simplesmente apaga todo o mal feito e o pecado cometido. Raros são os que, na morte, estão de tal forma purificada, que podem mergulhar direto na santidade de Deus. A graça de Deus que salva não prescinde da justiça.
Quando uma pessoa morre, sua opção de vida torna-se definitiva.
Podem existir pessoas que levaram uma vida puríssima, tendo morrido na graça e na amizade de Deus, estando totalmente purificadas. A Igreja ensina que tais pessoas seguem imediatamente para o Céu. No outro extremo desse caso, podem existir aqueles que morreram tendo cometido faltas muito graves, sem terem se arrependido e acolhido o amor misericordioso de Deus. Estes passariam ao estado de auto exclusão definitiva da comunhão com Deus, chamado de Inferno. Observando as duas situações acima, não é difícil perceber que nenhuma delas é a mais comum. O coração do homem vive constantemente em luta perante suas limitações e negações em acolher o amor de Deus de forma plena.
Em sua carta Spe Salvi, a segunda Encíclica de Bento XVI, que está dedicada à esperança cristã, o Papa Bento XVI reconheceu que na maioria dos homens ―perdura no mais profundo da sua essência uma derradeira abertura interior para a verdade, para o amor, para Deus‖. Porém, nas opções concretas da vida, essa abertura para Deus ―é sepultada sob repetidos compromissos com o mal: muita sujeira cobre a pureza, da qual, contudo, permanece a sede‖. Mesmo aqueles que buscam viver a sua vida em amizade com Deus não estão totalmente isentos de apresentar inclinações desregradas, falhas em sua constituição humana, ou seja, características incompatíveis com a santidade de Deus. Quantas vezes aquilo que chamamos de virtude não é, na verdade, um culto ao próprio ―eu‖; quantas vezes a prudência não se revela uma forma de covardia; a virilidade, arrogância; a 7
parcimônia, avareza; e a caridade, uma forma de esbanjamento.
Quantas vezes em nossos corações não se instalam egoísmo, orgulho, vaidade, negligência, infidelidade… Então pergunta o Papa Emérito Bento: ―o que acontece a tais indivíduos quando comparecem diante do Juiz? Será que todas as coisas imundas que acumularam na sua vida se tornarão, de repente, irrelevantes?‖ (n.
44). O Papa Bento tem aqui em mente a questão da justiça. A graça de Deus – seu socorro gratuito –, que salva o homem, não exclui a justiça. A graça não é uma esponja que apaga tudo que foi feito de mal no mundo, de modo que, ao final, tudo tenha o mesmo valor (n. 44). A compenetração da graça e da justiça ensina que ―o nosso modo de viver não é irrelevante‖, ou seja, que o mal que cometemos e o pecado dos homens não é simplesmente esquecido.
Veremos que o ensinamento católico considera que o ser humano, na morte, ainda tem uma ocasião para se purificar e atingir o grau de santidade necessário para entrar no Céu. O
purgatório é exatamente este estado em que as almas dos defuntos se purificam. Não é uma câmara de tortura e não deve causar medo. O purgatório é uma derradeira oportunidade para a pessoa tornar-se plena e evoluir até as últimas possibilidades do seu ser. Podemos dizer que o purgatório só tem uma porta: a de saída para viver a felicidade plena com Deus na eternidade purificados por Sua Graça no Purgatório, pois todos que estão no purgatório irão para Glória do Pai purificados!
Todo ser humano é dotado de liberdade, o mal do mundo e de nossos corações não fica simplesmente esquecido com a morte. Deus não é apenas graça, mas é também justiça. E toda pessoa, sendo dotada de liberdade, é ao final responsável por suas escolhas e atitudes. Sendo assim, aqueles que morrem na graça e na amizade com Deus, mas não estão completamente purificados, têm a oportunidade de passar por essa purificação após a morte.
Portanto, o ensinamento católico considera que o destino do ser humano na morte não alcança um ponto final estático da evolução. Ou seja, é possível realizar um caminho de aperfeiçoamento – de conversão e purificação – depois da morte.
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Vamos refletir que o Purgatório existe e é oportunidade de última conversão, trata-se da última conversão da pessoa. Diante de Deus, na morte, cada um deve abrir mão, de forma radical, de todo orgulho e egoísmo, entregando-se incondicionalmente ao Senhor, depositando nele toda a esperança. Deve abandonar tudo que impossibilita amar a Deus com todo coração. É a este último ato da evolução humana, esta conversão derradeira e purificação para mergulhar na comunhão com Deus que a Igreja chama de purgatório.
―É exatamente na morte e por ocasião do encontro com Deus que cada pessoa experimentará, com intensidade nunca antes conhecida, o significado de sua vida vivida‖.
E dependendo do que ela tiver feito de si durante esta vida, dependendo também do que ela tiver feito a outras pessoas e com as situações históricas e estruturais naquela vida, sua união com Deus também será ligada a uma purificação experimentada de maneira mais ou menos dolorosa‖, afirma o teólogo Renold Blank no livro ―Escatologia da Pessoa‖. Todos teremos oportunidade de purificação, esta purificação é uma última oportunidade dada ao homem de cumprimento do plano de Deus, em que sejamos ―conformes à imagem do seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos‖ (Rm 8, 29).
Assim refletiremos que o purgatório não deve ser visto como uma câmara de tortura cósmica e nem deve causar medo. O
purgatório é no fundo de ―um novo e reiterado ato de salvação de Deus, a fim de que o homem possa ser salvo‖. A oferta de Deus com o purgatório configura-se então como a etapa para a pessoa tornar-se plena, evoluir até as últimas possibilidades do seu ser, alcançar a plena realização de todas as suas capacidades, estando apta assim para entrar no Céu e na santidade de Deus. A imagem do fogo, associada ao purgatório, pode ser interpretada como o próprio Cristo, que vem para nos salvar. No encontro com Ele, toda falsidade vem abaixo e o seu olhar nos cura como que pelo fogo. O fogo transformador que existe no Purgatório, isto é a imagem do purgatório ser associada ao fogo, Bento XVI assinala que ―alguns teólogos recentes são do parecer de que o 9
fogo que simultaneamente queima e salva é o próprio Cristo, o Juiz e Salvador‖ (Spe Salvi, n. 47). Diante do olhar de Cristo, toda falsidade vem abaixo. ―É o encontro com ele que, queimando-nos, nos transforma e liberta para nos tornar verdadeiramente nós mesmos‖. Nesse momento, as coisas edificadas durante a vida podem se revelar palha seca e desmoronar. Porém, ―na dor deste encontro em que o impuro e o nocivo do nosso ser se tornam evidentes, está a salvação‖. O olhar de Cristo, o toque do seu coração ―cura-nos através de uma transformação certamente dolorosa ‗como pelo fogo‘. Contudo, é uma dor feliz, em que o poder santo de seu amor nos penetra como chama‖. Bento XVI explica ainda que o pecado do homem já foi queimado na Paixão de Cristo. E no momento do Juízo, ―experimentamos e acolhemos este prevalecer do seu amor sobre todo o mal no mundo e em nós‖. Veremos que a doutrina do purgatório é uma consequência lógica da ideia bíblica de que Deus exige a expiação dos pecados. Ela traz referências a certos trechos da Escritura, à tradição da Igreja e à prática da oração pelos defuntos. Essa ideia foi sistematizada a partir do II Concílio de Lião, em 1274. O Papa Bento XVI a retomou em sua encíclica sobre a esperança cristã, Spe Salvi (2007).
Na primeira Carta aos Coríntios, São Paulo trata sobre as obras que fez e as obras de Apolo, ensina-nos que o alicerce fundamental de nossas obras é Jesus Cristo. De tal forma, que cabe a cada um construir sobre esse alicerce, para que a sua obra seja mostrada no dia do julgamento e provada pelo fogo. Com efeito: ―Se a obra construída sobre o alicerce resistir, o operário receberá uma recompensa. Aquele, porém, que tiver sua obra queimada, perderá a recompensa. Entretanto, o operário se salvará, mas como alguém que escapa de incêndio‖ (1 Cor 3,14-15).
Vejamos que todos os construtores que tem por fundamento o Cristo serão salvos, ainda que alguns precisem ser provados no fogo. Esse é o purgatório, a prova de fogo de nossas obras no dia do julgamento final. Também São Pedro nos ensina que ―Desse modo, a fé que vocês têm será aprovada como ouro 10
que passa pelo fogo. O ouro vai desaparecer, mas a fé que vocês têm, e que vale muito mais, não se perderá, até o dia da revelação de Jesus Cristo. Então, por essa fé, vocês receberão louvor, glória e honra‖ (1Pe 1,7).
No maravilhoso universo da Comunhão dos Santos, o mais insignificante de nossos atos, realizado na caridade, reverte em proveito de todos os fiéis; e todo pecado pesa negativamente nessa comunhão. Desafiando o progresso científico moderno, o corpo humano continua sendo ainda um mistério, sob muitos aspectos. À medida que conhecemos melhor suas leis e operações, surgem novas incógnitas e também novas maravilhas se desvendam, despertando admiração. Com efeito, quem não fica hoje assombrado diante da espetacular eficácia do sistema imunológico de nosso organismo? Que cientista poderá explicar com exatidão a extraordinária agilidade, capacidade e precisão de nosso sistema nervoso? Ou como não ficar deslumbrado com o incansável trabalho do coração, o qual, com suas batidas ritmadas, bombeiam sem cessar o sangue para os outros órgãos?
Ora, o corpo humano é a melhor imagem ao nosso alcance de uma rica e profunda verdade de nossa Fé: a Comunhão dos Santos. Reafirmada por nós cada vez que recitamos o Credo, ela é, entretanto, raras vezes objeto de nossas cogitações, talvez por transcender a esfera temporal e terrena e nos conduzir a realidades alheias às preocupações cotidianas. Cristo, cabeça do Corpo Místico da Igreja, conforme ensina o Apóstolo são Paulo, há na Santa Igreja uma íntima relação entre os seus membros:
―Embora sejamos muitos, formamos um só corpo em Cristo‖
(Rm 12, 4-5), o Corpo Místico de Cristo. E, como todo corpo bem constituído, ele tem uma Cabeça ―da qual todo o corpo, pela união das junturas e articulações, se alimenta e cresce conforme um crescimento disposto por Deus‖ (Col 2, 19). De Cristo,
―cabeça do Corpo, da Igreja‖ (Rm 12, 4-5), dimana a vida, a força e a vitalidade para o resto do organismo. O próprio Redentor nos explica esta realidade na parábola da videira e dos sarmentos: ―Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor‖. Todo ramo que não der fruto em Mim, Ele o cortará […]. O ramo não pode 11
dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira. Assim também vós: ―não podeis tampouco dar fruto, se não permanecerdes em Mim‖ (Jo 15, 1.4). ―Todos vós vos revestistes de Cristo‖
Todos os batizados, por mais diversos que sejam pela raça, nação ou classe social, fazem parte deste Corpo. Ensina-nos o Apóstolo: ―Todos vós que fostes batizados em Cristo, vos revestistes de Cristo. Já não há judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem homem nem mulher, pois todos vós sois um em Cristo Jesus‖ (Gal 3, 27-28). Na epístola aos Efésios, ele insiste na necessidade desta união: ―Sede solícitos em conservar a unidade do Espírito no vínculo da paz.
Sede um só corpo e um só espírito, assim como fostes chamados pela vossa vocação a uma só esperança‖ (Ef 4, 3-4). Esse importante ensinamento materializava-se nos costumes vigentes nos primórdios da Igreja, como narra o livro dos Atos dos Apóstolos: ―A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém dizia que eram suas as coisas que possuía, mas tudo entre eles era comum‖ (At 4, 32).
O relacionamento entre os membros do Corpo Místico, muito diferentes entre si, regia-se pela caridade e pelo espírito de comunhão. Todos eles, desde os sucessores dos Apóstolos até a mais humilde viúva, articulavam-se numa harmônica convivência que não visava de nenhum modo destruir os carismas ou superioridades dos mais dotados, nem permitia o menosprezo dos inferiores, pois, como diz o Apóstolo das Gentes: ―Em um só Espírito fomos batizados todos nós, para formar um só corpo, judeus ou gregos, escravos ou livres; e todos fomos impregnados do mesmo Espírito. Assim o corpo não consiste em um só membro, mas em muitos. […] Deus dispôs no corpo cada um dos membros como Lhe aprouve. Se todos fossem um só membro, onde estaria o corpo? Há, pois, muitos membros, mas um só corpo‖ (I Cor 12, 13-14.18-20).
Esse é o grande motivo pelo qual escrevo este livro: que minha experiência e a experiência de minha esposa, nossos erros e acertos, ajudem a cada um de vocês leitores amigos, a buscarem uma vida feliz e cheia de sentido e que a cura interior seja 12
alcançada através do conhecimento de como se encontrar com Deus através da oração e do discernimento diário. Para que isto aconteça teremos estudos, exercícios, testes, oração, meditações e contemplações, na busca de nos conformarmos à pessoa de Jesus Cristo, nosso Mestre e Senhor. E assim sermos bons cristãos e discípulos missionários de Jesus Cristo!
Nestes estudos sobre comunhão dos santos, purgatório, morte, luto, o amor, e o pecado, claro que teremos oração, contemplação e meditação, e especialmente de cura interior.
Veremos que cada espiritualidade, ou carisma tem a sua maneira de rezar, uns contemplativamente, outros na leitura orante, mas todos na busca de se encontrar com Deus Criador, Seu filho Salvador e do Espírito Santo orientador e que nos dá ardor para sempre e cada vez mais buscar fazer a vontade de Deus!
No próximo capítulo veremos A comunhão dos santos é um dogma de Fé: ―Creio na comunhão dos santos‖ é o que rezamos todos os domingos na Missa ou ao começarmos a recitação do terço. A comunhão dos santos é um dogma de Fé explicitado desde o primeiro século do cristianismo. Permite, por exemplo, que ofereçamos auxílios espirituais aos cristãos que estão em outros países, a milhares de quilômetros de distância. A doutrina explica que os membros da Igreja, por toda a terra, embora pouco ou nada se conhecendo, sobretudo à distância, estão unidos por um vínculo espiritual que transpõem as distâncias e mesmo os tempos. Pela comunhão dos santos, estamos unidos de tal maneira que nossos atos e intenções podem influenciar na fidelidade ou na infidelidade de nossos irmãos na Fé no presente, no passado e no futuro.
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CAPÍTULO 1 CREIO NA COMUNHÃO DOS
SANTOS: DOGMA DE FÉ
Pela comunhão dos santos, estamos unidos de tal maneira que nossos atos e intenções podem influenciar na fidelidade ou na infidelidade de nossos irmãos na Fé no presente, no passado e no futuro. Santa Teresinha do Menino Jesus foi honrada pelos Papas como padroeira das Missões, entretanto, nunca saíra Carmelo, o que parece uma contradição… Porém, se conhecermos o que é a comunhão dos santos, veremos que este título foi, na verdade, um autêntico ato de justiça. Dizia esta santa em sua autobiografia que desejava ser ao mesmo tempo apóstolo, mártir, cruzado, sacerdote, catequista, religiosa de clausura, ajudar os doentes… queria ser tudo pelo benefício das almas. Esta vontade de fazer bem a todos, não poderia ser aplicada de forma natural, mas realizada pelos meios sobrenaturais. Em determinado momento de sua vida, instruída acerca da doutrina da comunhão dos santos, compreendeu que seu papel na Igreja seria como que o ―coração‖, que influencia todos os membros pelo influxo sanguíneo do amor a Deus.
A comunhão dos santos é um dogma de Fé: ―Creio na comunhão dos santos‖ é o que rezamos todos os domingos na Missa ou ao começarmos a recitação do terço. A comunhão dos santos é um dogma de Fé explicitado desde o primeiro século do cristianismo. Permite, por exemplo, que ofereçamos auxílios espirituais aos cristãos que estão em outros países, a milhares de quilômetros de distância. A doutrina explica que os membros da Igreja, por toda a terra, embora pouco ou nada se conhecendo, sobretudo à distância, estão unidos por um vínculo espiritual que transpõem as distâncias e mesmo os tempos. Pela comunhão dos santos, estamos unidos de tal maneira que nossos atos e intenções podem influenciar na fidelidade ou na infidelidade de nossos irmãos na Fé no presente, no passado e no futuro. Pela comunhão dos santos, um ato de virtude, de abnegação ou de generosidade, pode tornar-se auxílio para um jovem que se precipita nas trilhas do pecado, assim como um ato pecaminoso pode ter consequências nos membros e, de certa forma, no corpo 14
místico. A comunhão dos santos se aplica à Igreja Militante, à Igreja Triunfante e à Igreja Padecente. A Igreja Católica é a verdadeira e a única fundada por Jesus Cristo. É o corpo místico de Jesus Cristo, no qual nós somos os seus membros e Jesus Cristo a sua cabeça. É uma comunidade misteriosamente viva, do ponto vista espiritual, da qual fazem parte Jesus e os homens, que foram tornados Filhos de Deus pelo Batismo e a ela querem pertencer. A Igreja subdivide-se em três grandes grupos: Militante, Triunfante e Padecente.
A Igreja militante, somos nós, a Igreja padecente são todos os que morreram e aguardam a graça da santificação. Já a Igreja Triunfante são todos os que se encontram em estado de graça, possuem o Céu. A Igreja Militante é a constituída por todos aqueles que ainda estão vivos na terra e ‗caminham‘,
‗combatem‘ e ‗defendem uma causa‘ infatigavelmente contra os poderes diabólicos do mundo e da carne. Disse São Paulo na carta aos romanos: ―Rogo-vos, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo e em nome da caridade que é dada pelo Espírito, combatei comigo, dirigindo vossas orações a Deus por mim.‖(Rm 15,30) A Igreja Triunfante é a constituída por todos aqueles que já morreram, se salvaram para a vida eterna e se encontram no Céu. São os santos, aos quais se somam os anjos (At 27, 23-24).
Na glória do Céu, os bem-aventurados continuam a cumprir com alegria a vontade de Deus, em relação aos outros homens e a toda a criação. Eles já reinam com Cristo. Com Ele ―reinarão pelos séculos dos séculos‖ (Ap 22, 5).(CIC 1029). A Igreja Padecente é a constituída por todos aqueles que ainda se purificam no purgatório, antes de entrarem no Céu. Os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não estão de todo purificados, embora seguros da sua salvação eterna, sofrem, depois da morte, uma purificação, a fim de obterem a santidade necessária para entrar na alegria do céu. (CIC 1030). A Igreja chama Purgatório a esta purificação final dos eleitos, que é absolutamente distinta do castigo dos condenados. A Igreja formulou a doutrina da fé relativamente ao Purgatório, sobretudo nos concílios de Florença e de Trento. A Tradição da Igreja, referindo-se a certos textos da 15
Escritura fala dum fogo purificador. (CIC 1031). A fundamentação bíblica desta doutrina da Igreja é a passagem do livro dos Macabeus: ―Em seguida, fez uma coleta, enviando a Jerusalém cerca de dez mil dracmas, para que se oferecesse um sacrifício pelos pecados: belo e santo modo de agir, decorrente de sua crença na ressurreição, porque, se ele não julgasse que os mortos ressuscitariam, teria sido vão e supérfluo rezar por eles. Mas, se ele acreditava que uma bela recompensa aguarda os que morrem piedosamente, era esse um bom e religioso pensamento; eis por que ele pediu um sacrifício expiatório para que os mortos fossem livres de suas faltas.‖ (2 Mac 12,43-46). A Igreja é constituída por Jesus, que é Santo, e pelos homens que são pecadores. Apesar da Igreja ser constituída por homens pecadores, participa da comunhão dos santos, que é o fruto da caridade que se difunde entre todos os membros das três Igrejas, da qual participam, e onde todos caridosamente intercedem uns pelos outros nas orações que são oferecidas a Deus Pai e nas boas obras que são feitas por amor ao Seu nome, revertendo os seus benefícios em seu próprio favor.
A oração é como o sangue que circula neste corpo místico, que é a Igreja, e leva o alimento a todos que dele fazem parte. Sem oração não há vida espiritual que se mantenha, pois a oração é o alimento da alma. A Igreja afirma-se peregrina, porque a sua verdadeira pátria é o céu, e só se encontra passageiramente aqui na terra, tal como o afirmou santo Agostinho:
―A Igreja se diz peregrina porque só se consumará na glória celeste, quando do retorno glorioso de Cristo. Até lá, a Igreja avança em sua peregrinação por meio das perseguições do mundo e das consolações de Deus.‖
Enquanto peregrina nesta vida terrena, o povo de Deus necessita de locais físicos de encontro, de culto e