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Deus Em Nós É Antecipação E Penhor Do Eterno No Tempo
Deus Em Nós É Antecipação E Penhor Do Eterno No Tempo
Deus Em Nós É Antecipação E Penhor Do Eterno No Tempo
E-book523 páginas5 horas

Deus Em Nós É Antecipação E Penhor Do Eterno No Tempo

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Sobre este e-book

Neste livro “Deus em nós é antecipação e penhor do eterno no tempo”, e como subtítulo “Buscar viver com Deus e em Deus através dos Exercícios Espirituais Inacianos”. Vivemos em um mundo físico com suas quatro conhecidas dimensões do espaço-tempo: comprimento, largura, altura (ou profundidade) e tempo. No entanto, Deus mora em um reino diferente — o reino espiritual — além da percepção de nossos sentidos físicos. Não é que Deus não seja real; é uma questão de não estar limitado pelas leis e dimensões físicas que governam o nosso mundo (Isaías 57:15). Sabendo que Deus é espírito (João 4:24), qual é a relação dEle com o tempo? No Salmo 90, 4, Moisés usou uma analogia simples, mas profunda, para descrever a atemporalidade de Deus: Pois mil anos, aos teus olhos, são como o dia de ontem que se foi e como a vigília da noite. A eternidade de Deus é contrastada com a temporalidade do homem. As nossas vidas são curtas e frágeis, mas Deus não Se enfraquece ou falha com o passar do tempo. Em certo sentido, a marcação do tempo é irrelevante para Deus porque Ele a transcende. Pedro, em 2Pedro 3, 8, advertiu seus leitores a não deixar que esse fato crítico escapasse à atenção deles, que a perspectiva de Deus sobre o tempo é muito diferente da humanidade (ver também Salmos 102:12, 24-27). O Senhor não é limitado pelo tempo como nós. Ele está acima e fora da esfera do tempo. Deus vê todo o passado e o futuro da eternidade. O tempo que passa na Terra é um piscar de olhos na perspectiva atemporal de Deus. Um segundo não é diferente de uma eternidade; um bilhão de anos passam como segundos para o Deus eterno. Embora não possamos compreender essa ideia da eternidade ou da atemporalidade de Deus, em nossas mentes finitas tentamos limitar um Deus infinito ao nosso cronograma. Aqueles que tolamente exigem que Deus opere de acordo com o seu período de tempo ignoram o fato de que Ele é o Alto e Sublime... que habita a eternidade (Isaías 57:15). Esta descrição de Deus está muito distante da condição do homem: Os dias da nossa vida sobem a setenta anos ou, em havendo vigor, a oitenta; neste caso, o melhor deles é canseira e enfado, porque tudo passa rapidamente, e nós voamos (Salmo 90:10). Novamente, por causa de nossas mentes finitas, podemos apenas compreender o conceito da existência atemporal de Deus em parte. E, ao fazê-lo, nós O descrevemos como um Deus sem princípio nem fim, eterno, infinito, perpétuo, etc. O Salmo 90:2 declara: …de eternidade a eternidade, tu és Deus (ver também o Salmo 93:2). Ele sempre foi e sempre será. Procuramos utilizar como metodologia a espiritualidade Inaciana, contemplativa na ação, segundo o livro dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola PARA REALIZAR A EXPERIÊNCIA DE ENCONTRO PESSOAL COM JESUS, NO EXERCÍCIO ESPIRITUAL DO DIA-A-DIA O autor saluar antonio magni é leigo da Igreja Católica, formado em administração, economia e possui curso superior de religião pela Arquidiocese de Aparecida. Atualmente é oficial reformado da Aeronáutica. Além do ministério da Palavra é do grupo da Liturgia da Paróquia de São Pedro. orientador e acompanhante dos exercícios espirituais de santo Inácio de Loyola.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento13 de jun. de 2024
Deus Em Nós É Antecipação E Penhor Do Eterno No Tempo

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    Deus Em Nós É Antecipação E Penhor Do Eterno No Tempo - Saluar Antonio Magni

    1

    SUMÁRIO PG

    INTRODUÇÃO 4

    CAPÍTULO 1 DEUS É CONOSCO E NOS DÁ A

    ESPERANÇA 18

    CAPÍTULO 2 A CRISE DO MUNDO EM QUE

    VIVEMOS GERA DESESPERANÇA 37

    CAPÍTULO 3 A CRIAÇÃO DE DEUS GERA A

    ESPERANÇA DO ETERNO TEMPO 58

    CAPÍTULO 4 JESUS CRISTO, O REINO DE DEUS E A

    IGREJA A ESPERANÇA NO DEUS CRIADOR 82

    CAPÍTULO 5 VIVER A ESPERANÇA DO ETERNO

    TEMPO NOS EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS DE SANTO

    INÁCIO DE LOYOLA 103

    CAPÍTULO 6 DISCERNIR OS NOSSOS SENTIMENTOS

    NO CAMINHO DO ETERNO TEMPO 131

    CAPÍTULO 7 CONTEMPLAR A VIDA DE JESUS

    ANTECIPANDO O PENHOR DO ETERNO NO

    TEMPO 180

    CAPÍTULO 8 O DIÁLOGO COM DEUS NOS LEVA A ELEGERMOS NOSSA VOCAÇÃO 222

    CAPÍTULO 9 CONFIRMAÇÃO DA ELEIÇÃO OU

    PROJETO

    DE

    VIDA

    NA

    PAIXÃO

    E

    NA

    RESSURREIÇÃO 255

    EPÍLOGO 306

    BIBLIOGRAFIA 311

    2

    AGRADECIMENTO

    Agradeço de maneira toda especial à minha esposa Teka, pelo incentivo e toda retaguarda necessária para que eu pudesse ter tempo, paz e tranquilidade para contemplar e meditar os assuntos abordados neste livro. Ao padre Geraldo de Almeida Sampaio,

    nosso

    professor

    na

    especialização

    em

    Cristologia/Mariologia e no curso superior de religião que fizemos aqui na arquidiocese de aparecida. E a todo o pessoal do CEI, Centro de Espiritualidade Inaciana de Itaici, que me proporcionaram todo conhecimento intelectual, e especialmente afetivo, da metodologia Inaciana. E onde tive a oportunidade de realizar uma especialização sobre orientação e acompanhamento espiritual, coordenado pela FAGE de Belo Horizonte.

    Oh! Verdade! Oh! Beleza infinitamente amável de Deus! Quão tarde vos amei! Quão tarde vos conheci! e quão infeliz foi o tempo em que não vos amei nem vos conheci! Meus delitos me têm envilecido; minhas culpas me têm afetado; minhas iniquidades têm sobrepujado, como as ondas do mar, por cima de minha cabeça. Quem me dera Deus meu, um amor infinito para amar-vos, e uma dor infinita para arrepender-me do tempo em que não vos ame como devia! Mas, enfim vos amo e vos conheço, Bem sumo e Verdade suma, e com a luz que Vós me dais me conheço e me aborreço, pois eu tenho sido o princípio e a causa de todos os meus males. Que eu Vós conheça, Deus meu, de modo que vos ame e não vos perda! Conheças a mim, de sorte que consiga arrepender-me e não me busque em coisa alguma minha felicidade a não ser em Vós, Senhor meu! (Santo Agostinho)

    Se queres chegar ao conhecimento de Deus, trata de antes te conheceres a ti mesmo. (Abade Evágrio Pôntico).

    Então, os seus olhos abriram-se e reconheceram-no (Jo 24, 31).

    3

    INTRODUÇÃO

    Quero iniciar este livro ―Deus em nós é antecipação e penhor do eterno no tempo‖, e como subtítulo ―Buscar viver com Deus e em Deus através dos Exercícios Espirituais Inacianos‖. Vivemos em um mundo físico com suas quatro conhecidas dimensões do espaço-tempo: comprimento, largura, altura (ou profundidade) e tempo. No entanto, Deus mora em um reino diferente — o reino espiritual — além da percepção de nossos sentidos físicos. Não é que Deus não seja real; é uma questão de não estar limitado pelas leis e dimensões físicas que governam o nosso mundo (Isaías 57:15). Sabendo que Deus é espírito (João 4:24), qual é a relação dEle com o tempo? No Salmo 90, 4, Moisés usou uma analogia simples, mas profunda, para descrever a atemporalidade de Deus: Pois mil anos, aos teus olhos, são como o dia de ontem que se foi e como a vigília da noite. A eternidade de Deus é contrastada com a temporalidade do homem. As nossas vidas são curtas e frágeis, mas Deus não Se enfraquece ou falha com o passar do tempo.

    Em certo sentido, a marcação do tempo é irrelevante para Deus porque Ele a transcende. Pedro, em 2Pedro 3, 8, advertiu seus leitores a não deixar que esse fato crítico escapasse à atenção deles, que a perspectiva de Deus sobre o tempo é muito diferente da humanidade (ver também Salmos 102:12, 24-27). O Senhor não é limitado pelo tempo como nós. Ele está acima e fora da esfera do tempo. Deus vê todo o passado e o futuro da eternidade. O tempo que passa na Terra é um piscar de olhos na perspectiva atemporal de Deus. Um segundo não é diferente de uma eternidade; um bilhão de anos passam como segundos para o Deus eterno. Embora não possamos compreender essa ideia da eternidade ou da atemporalidade de Deus, em nossas mentes finitas tentamos limitar um Deus infinito ao nosso cronograma.

    Aqueles que tolamente exigem que Deus opere de acordo com o seu período de tempo ignoram o fato de que Ele é o Alto e Sublime... que habita a eternidade (Isaías 57:15). Esta descrição de Deus está muito distante da condição do homem: "Os dias da 4

    nossa vida sobem a setenta anos ou, em havendo vigor, a oitenta; neste caso, o melhor deles é canseira e enfado, porque tudo passa rapidamente, e nós voamos (Salmo 90:10). Novamente, por causa de nossas mentes finitas, podemos apenas compreender o conceito da existência atemporal de Deus em parte. E, ao fazê-lo, nós O descrevemos como um Deus sem princípio nem fim, eterno, infinito, perpétuo, etc. O Salmo 90:2 declara: …de eternidade a eternidade, tu és Deus" (ver também o Salmo 93:2).

    Ele sempre foi e sempre será.

    Então, o que é o tempo? Simplificando, o tempo é duração. Nossos relógios marcam mudança ou, mais precisamente, nossos relógios são referências de mudança que indicam a passagem do tempo. Poderíamos dizer, então, que o tempo é uma pré-condição necessária para a mudança e que a mudança é uma condição suficiente para estabelecer a passagem do tempo. Em outras palavras, sempre que houver qualquer tipo de mudança, sabemos que o tempo passou. Vemos isso ao passarmos pela vida, à medida que envelhecemos. E não podemos recuperar os minutos que se passaram. Além disso, a ciência da física nos diz que o tempo é uma propriedade resultante da existência da matéria. Como tal, o tempo existe quando a matéria existe. Mas Deus não é matéria; Deus, de fato, criou a matéria. O ponto principal é o seguinte: o tempo começou quando Deus criou o universo. Antes disso, Deus estava simplesmente existindo. Como não havia matéria, e porque Deus não muda o tempo não tinha existência e, portanto, não tinha significado, não tinha qualquer relação a Ele. E isso nos leva ao significado da palavra eternidade. Eternidade é um termo usado para expressar o conceito de algo que não tem fim e/ou começo. Deus não tem começo nem fim. Ele está fora do reino do tempo. A eternidade não é algo que possa estar absolutamente relacionada a Deus. Deus vai até além da eternidade. As escrituras revelam que Deus vive fora dos limites do tempo como o conhecemos. O nosso destino foi planejado antes dos tempos eternos (2 Timóteo 1, 9; Tito 1, 2) e "antes da fundação do 5

    mundo (Efésios 1, 4; 1 Pedro 1:20). Pela fé, entendemos que o universo foi formado pela palavra de Deus, de maneira que o visível veio a existir das coisas que não são visíveis" (Hebreus 11:3). Em outras palavras, o universo físico que vemos, ouvimos, sentimos e experimentamos foi criado não a partir da matéria existente, mas a partir de uma fonte independente das dimensões físicas que podemos perceber.

    Deus é espírito (João 4:24) e, correspondentemente, Deus é atemporal, em vez de estar eternamente no tempo ou além do tempo. O tempo foi simplesmente criado por Deus como uma parte limitada da Sua criação para acomodar as obras do Seu propósito em Seu universo descartável (ver 2

    Pedro 3:10-12).

    Após a conclusão da atividade de criação, inclusive da criação do tempo, o que Deus concluiu? Deus viu tudo o que havia feito, e eis que era muito bom (Gênesis 1:31). De fato, Deus é espírito no reino da atemporalidade. Como cristãos, temos um profundo senso de conforto sabendo que Deus, embora atemporal e eterno, habita o tempo conosco agora. Ele não é inacessivelmente transcendente, mas está aqui neste momento conosco. E porque Ele está neste momento, pode então responder às nossas necessidades e orações. Agradar-me-ia que, ao considerar tudo isto, tomássemos consciência da nossa missão de cristãos, voltássemos os olhos para a Sagrada Eucaristia, para Jesus que, presente entre nós, nos constituiu seus membros: vos estis corpus Christi et membra de membro, vós sois o corpo de Cristo e membros unidos a outros membros. O

    nosso Deus decidiu ficar no Sacrário para nos alimentar, para nos fortalecer, para nos divinizar, para dar eficácia ao nosso trabalho e ao nosso esforço. Jesus é simultaneamente o semeador, a semente e o fruto da sementeira: o Pão da vida eterna.

    Este milagre, continuamente renovado, da Sagrada Eucaristia, encerra todas as características do modo de agir de Jesus. Perfeito Deus e perfeito homem, Senhor dos Céus e da Terra, oferecesse-nos como sustento, da maneira mais natural e corrente. Assim espera o nosso amor, desde há quase dois mil 6

    anos. É muito tempo e não é muito tempo; porque, quando há amor, os dias voam. Vem-me à memória uma encantadora poesia galega, uma das cantigas de Afonso X, o Sábio. É a lenda de um monge que, na sua simplicidade, suplicou a Santa Maria que o deixasse contemplar o céu, ainda que fosse só por um instante. A Virgem acolheu o seu desejo, e o bom monge foi levado ao Paraíso. Quando regressou, não reconhecia nenhum dos moradores do mosteiro: a sua oração, que lhe tinha parecido brevíssima, tinha durado três séculos. Três séculos não são nada, para um coração que ama. Assim compreendo eu esses dois mil anos de espera do Senhor na Eucaristia. É a espera de Deus, que ama os homens, que nos procura, que nos quer tal como somos -

    limitados, egoístas, inconstantes - mas com capacidade para descobrirmos o seu carinho infinito e para nos entregarmos inteiramente a Ele.

    Por amor e para nos ensinar a amar, veio Jesus à Terra e ficou entre nós na Eucaristia. Como tivesse amado os seus que viviam no mundo, amou-os até ao fim; com estas palavras começa S. João a narração do que sucedeu naquela véspera da Páscoa, em que Jesus - refere-nos S. Paulo - tomou o pão, e dando graças, o partiu, e disse: Tomai e comei; isto é o meu corpo que será entregue por vós; fazei isto em memória de mim.

    Igualmente também, depois da ceia, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o novo testamento do meu sangue; fazei isto em memória de mim todas as vezes que o beberdes. A missão da Igreja consiste em colaborar com o crescimento do reino de Deus no mundo, sob a ação do Espírito Santo, para que os homens participem da redenção de Jesus Cristo. Da palavra e da graça da salvação, decorrem luz e forças para a promoção da dignidade da pessoa humana, a transformação da sociedade e a ordenação da criação a Deus (cf. Ef 1,10; GS 40).

    O tema laicato permanece relevante nos dias de hoje. O

    Papa Francisco, dirigindo-se ao cardeal Marc Ouellet, presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina, critica o clericalismo e afirma o princípio da dignidade de todos os 7

    batizados. Destaca a importância da piedade popular e a necessidade de refletir sobre a atividade pública dos cristãos leigos no contexto latino-americano. Os fiéis cristãos leigos não são membros de segunda categoria do povo de Deus, mas discípulos de Jesus Cristo, vocacionados a animar todos os ambientes, atividades e relações sociais, segundo o espírito evangélico, em virtude de seu batismo e da índole secular de sua vocação (cf. LG 31). A quinta Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe retoma o que foi afirmado pela Conferência de Puebla: os fiéis cristãos leigos são homens da Igreja no coração do mundo e homens do mundo no coração da Igreja. Por isso, devem participar do discernimento, das tomadas de decisões, do planejamento e da execução dos projetos diocesanos de ação evangelizadora. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em seu documento 105, retoma e aprofunda o tema do laicato, a fim de promover ―a participação e o protagonismo dos fiéis cristãos leigos na corresponsabilidade e na comunhão de todo o povo de Deus‖.

    A missão da Igreja consiste em colaborar com o crescimento do reino de Deus no mundo, sob a ação do Espírito Santo, para que os homens se tornem participantes da redenção de Jesus Cristo e, por meio deles, a criação seja efetivamente ordenada para Deus em Jesus Cristo. Os fiéis cristãos leigos participam do tríplice múnus de Jesus Cristo e da missão do povo de Deus, de acordo com sua própria vocação. Podem exercer o seu apostolado de forma individual ou associada. De modo especial, o apostolado organizado apresenta-se como sinal da comunhão eclesial. A comunicação da graça da salvação em todas as dimensões da criação e da história não se realiza sem a presença e a ação dos fiéis cristãos leigos. Onde ela faltar, o povo de Deus não pode cumprir sua missão em toda a sua plenitude. O

    fiel cristão leigo é o sujeito eclesial que se santifica e evangeliza o mundo mediante o exercício das suas atividades seculares, em comunhão com Jesus Cristo, a partir de dentro das realidades temporais, nas quais está inserido e pelas quais tece a sua 8

    existência (cf. LG 31). Exercendo atividades seculares à luz do Evangelho, os fiéis cristãos leigos participam da missão da Igreja no mundo. O estudo aprofundado da questão da identidade da vocação laical ajuda a compreender melhor a missão da Igreja no mundo de hoje e, consequentemente, contribui para realizá-la de modo mais conforme com o plano de Deus para a salvação do mundo.

    A fé opera por meio da caridade (cf. Gl 5,6). A caridade é o coração do Evangelho de Jesus Cristo (cf. Mt 22,34-40): consiste no amor a Deus e ao próximo. A esperança faz o discípulo de Jesus Cristo estar no mundo a partir da perspectiva de um futuro escatológico, só possível no Reino de Deus, que já começa aqui, mas se plenificará apenas na escatologia (cf. LG 5).

    Vivendo a caridade, à luz da fé, na esperança da plena realização do reino de Deus, o fiel cristão leigo conseguirá articular de forma sincrônica a sua vida de fé com o empenho de transformação das realidades temporais, segundo o plano de Deus de recapitular todas as coisas em Jesus Cristo (cf. Ef 1,10).

    É o momento simples e solene da instituição do Novo Testamento. Jesus derroga a antiga economia da Lei e revela-nos que Ele próprio será o conteúdo da nossa oração e da nossa vida.

    Vede a alegria que inunda a liturgia de hoje: seja o louvor pleno, sonoro, alegre. É o júbilo cristão que canta a chegada de outro tempo: terminou a antiga Páscoa, inicia-se a nova. O velho é substituído pelo novo, a verdade e faz com que a sombra desapareça, a noite é iluminada pela luz. Milagre de amor. Este é verdadeiramente o pão dos filhos; o Primogénito do Pai Eterno oferecesse-nos como alimento. E o mesmo Jesus Cristo, que aqui nos robustece, espera-nos no Céu como comensais, coerdeiros e sócios, porque os que se alimentam de Cristo morrerão com a morte terrena e temporal, mas viverão eternamente, porque Cristo é a vida que não termina. A felicidade eterna, para o cristão que se conforta com o maná definitivo da Eucaristia, começa já agora. Passou o que era velho: deixemos de lado tudo o que é caduco, seja tudo novo para nós - os corações, as palavras e as 9

    obras. Esta é a Boa Nova. É novidade, notícia, porque nos fala de uma profundidade de Amor, de que antes não suspeitávamos. É

    boa, porque nada é melhor do que unir-nos intimamente a Deus, Bem de todos os bens. É a Boa Nova, porque, de alguma maneira e de um modo indescritível, nos antecipa a eternidade. Jesus esconde-se no Santíssimo Sacramento do altar, para que nos atrevamos a tratar com ele, para ser o nosso sustento, com o fim de que nos façamos uma só coisa com Ele. Ao dizer sem mim nada podeis, não condenou o cristão à ineficácia, nem o obrigou a uma busca árdua e difícil da sua Pessoa; ficou entre nós com uma disponibilidade total.

    Quando nos reunimos junto do altar enquanto se celebra o Santo Sacrifício da Missa, quando contemplamos a Hóstia Sagrada exposta na custódia ou a adoramos escondida no Sacrário, devemos reavivar a nossa fé, pensando nessa existência nova, que vem a nós, e comover-nos com o carinho e a ternura de Deus. E perseveravam todos na doutrina dos Apóstolos, e na comum fracção do pão, e nas orações. É assim que a Escritura nos descreve a conduta dos primeiros cristãos: congregados pela fé dos Apóstolos em perfeita unidade, a participarem da Eucaristia, unânimes na oração. Fé, Pão, Palavra. Jesus, na Eucaristia, é penhor seguro da sua presença nas nossas almas; do seu poder, que sustenta o mundo; das suas promessas de salvação, que ajudarão a que a família humana, quando chegar o fim dos tempos, habite perpetuamente na casa do Céu, em torno de Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo: Santíssima Trindade, Deus único. É toda a nossa fé que se põe em ação quando cremos em Jesus, na sua presença real sob os acidentes do pão e do vinho. Quando o Senhor na última Ceia instituiu a Sagrada Eucaristia, era de noite, o que - comenta S. João Crisóstomo - manifestava que os tempos tinham sido cumpridos.

    Caía a noite sobre o mundo, porque os velhos ritos, os antigos sinais da misericórdia infinita de Deus para com a humanidade iam realizar-se plenamente, abrindo caminho a um verdadeiro amanhecer: a nova Páscoa. A Eucaristia foi instituída durante a 10

    noite, preparando de antemão a manhã da Ressurreição. Também nas nossas vidas temos de preparar essa alvorada. Tudo o, que é caduco, o que é prejudicial, o que não serve - o desânimo, a desconfiança, a tristeza, a cobardia - tudo isso tem de ser colocado fora. A Sagrada Eucaristia introduz a novidade Divina nos filhos de Deus e devemos corresponder in novitate sensus, com uma renovação de todo o nosso sentir e de todo o nosso agir. Foi-nos dado um novo princípio de energia, uma raiz poderosa, enxertada no Senhor. Não podemos voltar à antiga levedura, nós que temos o Pão de agora e de sempre. Pois como nosso tema neste livro: ―Deus em nós é antecipação e penhor do eterno no tempo.‖

    De acordo com a Bíblia, a esperança é uma das três virtudes teologais, conforme é possível comprovar em 1

    Coríntios 13,13 Assim, permanecem agora estes três: a fé, a esperança e o amor. O maior deles, porém, é o amor. Também é possível verificar que a esperança está relacionada com a fé, de acordo com Hebreus 11,1: Ora, a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos. Em Jeremias 29,11, podemos ver que Deus quer que o Seu povo tenha esperança: "Porque sou eu que conheço os planos que tenho para vocês', diz o Senhor,

    ―planos de fazê-los prosperar e não de causar dano, planos de dar a vocês esperança e um futuro." Para um cristão, ter esperança é saber que apesar das dificuldades que o cristão enfrenta nesta vida, que o melhor ainda está por vir. Entretanto, a esperança é a segunda virtude teologal. Isso quer dizer que, como virtude, trata-se de um hábito que deve ser alimentado e fortalecido em nossa vida. Diferentemente de outros hábitos, este não pode ser criado pelo ser humano, pois compete a Deus dá-lo por meio da infusão da graça santificante. É teologal também não só porque é infundido por Deus, mas por se tratar de uma virtude que tem como fim último o próprio Deus. Esses hábitos predispõem o homem a agir segundo o desígnio do Criador, conseguindo concretizar suas inspirações.

    11

    Isso quer dizer que, quando se espera coisas humanas ou materiais, não se trata da virtude da esperança. Pode-se, realmente, esperar conseguir um emprego, esperar ir bem numa prova ou concurso, bem como, esperar ser bem recebido por certa pessoa num determinado lugar. Mas, que fique claro, nada disso trata da verdadeira esperança, a virtude teologal. A esperança é aquela virtude que nos faz esperar Deus e Suas promessas. A partir daí, fica claro que a primeira virtude teologal a ser cultivada precisa ser a fé, pois dela provém a esperança. De fato, é necessário conhecer Deus, suas características, seu imenso amor pelo ser humano, a maneira como, através da história, preparou a salvação da humanidade para poder esperá-lo. Uma fé que se desenvolve que provoca o aperfeiçoamento da virtude da esperança. A esperança, por sua vez, faz com que todas as coisas da vida e o mundo sejam colocados nos seus devidos lugares. Ela fornece a meta que explicita para onde todo homem e mulher devem direcionar a própria vida. Esperar em Deus é, assim, não só uma atitude passiva de quem vai receber algo, mas uma certeza de onde olhar, para onde colocar o foco de nossa atenção e atividade. O Salmo que diz ―olho para os montes, de onde virá o meu socorro?‖ (Sl 121), responde apropriadamente: não é do mundo, não é dos homens, ―o meu socorro virá do nome do Senhor, que fez o céu e a terra‖.

    Caro leitor/a ao olhar para as relações que ocorrem dentro de uma determinada sociedade é possível perceber quais são os sistemas de valores, a moral e a ética pela prática social de seus integrantes. Em uma sociedade que se auto define global, não só as relações econômicas estão atreladas, como a própria cultura sofre uma espécie de homogeneização e, desta forma, também o conjunto de princípios norteadores de uma sociedade sofre alterações. Adapta-se, transfigura-se e lentamente passa-se a um processo de padronização do pensamento, dos valores e da moral. Notadamente, a nossa sociedade atual vive uma crise de sentidos, o ser humano coloca-se como centro dos desejos e necessidades, e assim constrói-se uma ideia perversa de 12

    autorrealização que em nada se aproxima da perspectiva Cristã.

    Vivemos Atordoados pelo caos do barulho e da superficialidade, numa sociedade que prioriza o periférico e o superficial, o pouco profundo, vive-se um permanente vazio nas relações sociais. O

    grande dinamismo dos meios de comunicação e de informação (mídias e fake news) afligem as pessoas com uma infinidade de sistemas de valores, nem sempre cristãos, onde o que predomina é o desejo, a aspiração, a simples vontade e não a verdadeira necessidade. As exigências da correria do dia-a-dia impõem uma rotina onde raramente reserva-se momentos de reflexão, de aprofundamento e de cuidado espiritual. Uma espécie de liberdade individual desconectada das relações sociais passou a ser a grande propulsora de um individualismo que norteia a conduta social. A busca de autossatisfação é a tônica de uma sociedade de consumo e influencia sobremaneira o ser humano que, na procura de sua autonomia, coloca a si próprio como sendo a razão e o propósito da sua existência. O indivíduo é o centro da sua vida e essa condição determina suas relações sociais, que passam a se pautar em uma forma egocêntrica e individualista de ser. Essa inversão de valores define uma nova maneira de ser, que exprime exatamente a condição de contradição de nossa atual sociedade. Busca-se fora de si aquilo que só é encontrado no seu próprio ser, ao mesmo tempo em que busca em si aquilo que só se encontra na relação com o mundo exterior, na relação com o outro.

    Iremos refletir que na contramão de uma sociedade em crise de valores, a fé Cristã aponta para uma ética diferente, que busca no seguimento da cruz de cristo e na ressurreição, o motivo de sua plena autonomia e liberdade, que ressignifica o presente e caminha confiante para um novo futuro na esperança da vida eterna. Assim, o motivo de toda esperança Cristã não pode ser outro senão o próprio Cristo. Caso contrário, falar em futuro seria apenas uma especulação vazia, uma racionalização inútil ou um profetismo insidioso. Por meio do Cristo ressuscitado encontra-se um futuro: o do próprio Cristo e, consequentemente, 13

    o da criação. O futuro de Cristo é a promessa e motivo de esperança. Assim, vê-se o presente tendo o futuro como ponto de partida, porque todos são colaboradores desse futuro esperado.

    Cristo, o Deus da promessa, se manifesta na história e através dela constrói o caminho para a salvação, sem que exclua disso a necessidade da participação da humanidade nessa construção. A promessa revelada por Deus não suscita uma realização no presente, mas orienta o nosso presente com vistas ao futuro na eternidade.

    O ser humano também se torna responsável pelo futuro da criação, e é convidado a imitar, seguir, viver como o Cristo nessa caminhada. Assim há uma ética Cristã, uma conduta que oferece sentidos, propõe um ajuste de foco, reconduz a humanidade a pensar e agir coletivamente, a se redescobrir como sendo parte de um grande mistério que vai além da razão ou compreensão humana.

    Para este estudo vamos utilizar a espiritualidade Inaciana, Jesuíta, que no final iremos realizar um verdadeiro exercício espiritual, para que a esperança cristã seja a nossa própria vida vivida aqui e agora, de mãos dadas com Cristo ressuscitado presente na Igreja, na Eucaristia, na Palavra e especialmente em cada um de nós que busca viver a Verdade do Evangelho que Ele nos ensinou com Sua vida aqui na terra e hoje no céu a nos esperar para uma vida eterna na presença de Deus Trindade Santa! Assim, para os estudos e reflexões iniciais serão consideradas basicamente as reflexões sobre a sociedade moderna, a partir das dificuldades principiadas pelo advento, na civilização ocidental, de uma cultura técnico-científica. Essa cultura molda as relações humanas a partir de valores que contradizem, sobremaneira, os valores cristãos, expondo a humanidade moderna a uma crise de valores e sentidos. Inicia-se olhando para as crises que afetam toda a criação, em especial o ser humano que inserido na cultura moderna transforma-se a si mesmo em uma ameaça para a sobrevivência. Em seguida são analisadas as reações humanas perante as dificuldades impostas 14

    pelas crises apresentadas e, os papéis ditados pela sociedade e assumidos pela religião como práticas impeditivas para o adequado seguimento de Cristo.

    Depois abordaremos temas como a salvação, vida e natureza que buscam um melhor entendimento do sentido da criação, de como a vida humana se relaciona com a natureza da qual ela faz parte e, consequentemente, com a salvação de todas as coisas. Inicia-se o estudo expondo uma hermenêutica teológica da vida, com o princípio de que a vida é um direito humano e que não pode ser violado. A vida, porém, para ser humana, deve ser afirmada e aceita, amada e participada, ter em si a aspiração para a vida eterna. Assim passa-se para uma hermenêutica teológica da natureza, onde se enfoca a criação como projeto de Deus, tendo início, evoluindo e, encontrando seu propósito maior, tornando-se a habitação do próprio Deus. Por fim, conclui-se a reflexão discorrendo sobre a hermenêutica da salvação, onde ela adquire uma dimensão universal, acontece a partir da vida e do amor de Cristo e está em relação direta com o Reino de Deus e com a justiça Divina.

    Refletiremos então, sobre a Esperança cristã como horizonte e fonte da ética da vida, trata da práxis cristã diante da sociedade. A esperança, buscada na espiritualidade Inaciana, impele o ser humano a agir no momento presente tendo em vista o futuro que espera. A relação feita entre a esperança Cristã e a sociedade contemporânea deve resultar numa ética que atribua sentido à vida humana, como uma proposta de ação transformadora da realidade apontando para a sua plena dignificação. Portanto, uma ética Cristã implica numa forma de ser e agir no mundo e se oferece como resposta para a busca da humanidade. Ressaltaremos a esperança Cristã como vitalidade, como força propulsora que conduz o ser humano a despertar para a realidade vivida de modo a percebê-la e compreendê-la e, assim, poder mudá-la. Pois, a ética Cristã é indissociável da fé em Cristo, devendo ser a vida do Cristão, o pleno testemunho do amor de Deus. Fazendo uso também do magistério da Igreja 15

    Católica, serão tratados os argumentos teológicos que reposicionam o tema da vida no sentido e orientado para Deus.

    Aponta-se para a necessidade de uma proposta, a partir do evangelho de Jesus, de uma cultura que valorize e promova a vida humana e que oriente a uma vida feliz. Levando em conta a contradição entre a atual cultura de morte e a proposta do Reino de Deus, evidencia-se a sacralidade e a dignidade da vida humana a partir da própria missão de Cristo.

    Neste livro sobre Deus em nós, que antecipa e é penhor do eterno no tempo, pretendemos fornecer subsídios para uma reflexão madura, apontando para uma ética que possibilite uma atitude melhor perante a vida. A esperança Cristã deve ser antes de tudo, uma busca pela verdade, um descontentamento com a realidade presente e um posicionamento de estranhamento perante um mundo que já não pode mais ser aceito passivamente.

    Implica, dessa forma, em uma busca de melhores condições para a realização da vida humana. Uma luta diária por justiça, solidariedade e dignidade. Esperança Cristã é uma transformação do presente com vistas ao futuro esperado em Cristo. A espera não é uma ilusão de que a felicidade é reservada somente para um futuro distante e, assim, inatingível, pois nós somos presentes no hoje, ou seja, é a partir do aqui e agora que existimos. Os sofrimentos da vida, a dor do presente e as cruzes diárias não podem ser vistas e aceitas apenas como uma possibilidade futura de recompensa. Pensar assim limita a uma passividade e uma indiferença diante das injustiças sociais. Mas a esperança é capaz de nos colocar no caminho do amor, e compreender a vida além dos sofrimentos, ou melhor, é capaz de significar as dores e mostrar que a felicidade está no reto cumprimento da mensagem de Cristo. Assim, carregar a cruz com Cristo tem sentido, não é espera passiva, mas se torna um caminhar confiante e transformador mediante a esperança.

    No próximo capítulo iremos refletir sobre a presença de Deus em nós, mas vivemos tempos difíceis, momentos 16

    tenebrosos,

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