Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

Para salvar Grace
Para salvar Grace
Para salvar Grace
E-book236 páginas2 horas

Para salvar Grace

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

Quem teria envenenado Charles Petrie? O Dr. Collymore, médico e bom conhecedor de tóxicos, um homem com um segredo sombrio que, se descoberto, poderia arruinar sua carreira? Florrie, a criada que levava ao falecido sua bebida noturna? Bert Kemp, um cavalariço descontente que usava venenos para tratar dos cavalos e que, quatro meses antes, previra o dia da morte de Charles? A Sra. Jennet Quinn, dama de companhia, dona de um vasto conhecimento sobre venenos e de um grande medo de ser despedida? Ou Grace Petrie, esposa de Charles havia quatro meses, mulher rejeitada pela nobreza por seu passado escandaloso?

Com uma multidão presente ao julgamento e uma sombra de suspeita pairando sobre Grace como a corda de uma forca, o jovem e elegante advogado Daniel Morgan conseguirá salvá-la?

IdiomaPortuguês
Data de lançamento30 de dez. de 2018
ISBN9781547561742
Para salvar Grace
Autor

Hannah Howe

Hannah Howe is the bestselling author of the Sam Smith Mystery Series (Sam's Song, book one in the series, has reached number one on the amazon.com private detective chart on seven separate occasions and the number one position in Australia). Hannah lives in the picturesque county of Glamorgan with her partner and their two children. She has a university degree and a background in psychology, which she uses as a basis for her novels.Hannah began her writing career at school when her teacher asked her to write the school play. She has been writing ever since. When not writing or researching Hannah enjoys reading, genealogy, music, chess and classic black and white movies. She has a deep knowledge of nineteenth and twentieth century popular culture and is a keen student of the private detective novel and its history.Hannah's books are available in print, as audio books and eBooks from all major retailers: Amazon, Barnes and Noble, Google Play, Kobo, iBooks, etc. For more details please visit https://hannah-howe.comThe Sam Smith Mystery Series in book order:Sam's SongLove and BulletsThe Big ChillRipperThe Hermit of HisaryaSecrets and LiesFamily HonourSins of the FatherSmoke and MirrorsStardustMind GamesDigging in the DirtA Parcel of RoguesBostonThe Devil and Ms DevlinSnow in AugustLooking for Rosanna MeeStormy WeatherDamagedEve’s War: Heroines of SOEOperation ZigzagOperation LocksmithOperation BroadswordOperation TreasureOperation SherlockOperation CameoOperation RoseOperation WatchmakerOperation OverlordOperation Jedburgh (to follow)Operation Butterfly (to follow)Operation Liberty (to follow)The Golden Age of HollywoodTula: A 1920s Novel (to follow)The Olive Tree: A Spanish Civil War SagaRootsBranchesLeavesFruitFlowersThe Ann's War Mystery Series in book order:BetrayalInvasionBlackmailEscapeVictoryStandalone NovelsSaving Grace: A Victorian MysteryColette: A Schoolteacher’s War (to follow)What readers have been saying about the Sam Smith Mystery Series and Hannah Howe..."Hannah Howe is a very talented writer.""A gem of a read.""Sam Smith is the most interesting female sleuth in detective fiction. She leaves all the others standing.""Hannah Howe's writing style reminds you of the Grandmasters of private detective fiction - Dashiell Hammett, Raymond Chandler and Robert B. Parker.""Sam is an endearing character. Her assessments of some of the people she encounters will make you laugh at her wicked mind. At other times, you'll cry at the pain she's suffered.""Sam is the kind of non-assuming heroine that I couldn't help but love.""Sam's Song was a wonderful find and a thoroughly engaging read. The first book in the Sam Smith mystery series, this book starts off as a winner!""Sam is an interesting and very believable character.""Gripping and believable at the same time, very well written.""Sam is a great heroine who challenges stereotypes.""Hannah Howe is a fabulous writer.""I can't wait to read the next in the series!""The Big Chill is light reading, but packs powerful messages.""This series just gets better and better.""What makes this book stand well above the rest of detective thrillers is the attention to the little details that makes everything so real.""Sam is a rounded and very real character.""Howe is an author to watch, able to change the tone from light hearted to more thoughtful, making this an easy and yet very rewarding read. Cracking!""Fabulous book by a fabulous author-I highly recommended this series!""Howe writes her characters with depth and makes them very engaging.""I loved the easy conversational style the author used throughout. Some of the colourful ways that the main character expressed herself actually made me laugh!""I loved Hannah Howe's writing style -- poignant one moment, terrifying the next, funny the next moment. I would be on the edge of my seat praying Sam wouldn't get hurt, and then she'd say a one-liner or think something funny, and I'd chuckle and catch my breath. Love it!""Sam's Song is no lightweight suspense book. Howe deals with drugs, spousal abuse, child abuse, and more. While the topics she writes about are heavy, Howe does a fantastic job of giving the reader the brutal truth while showing us there is still good in life and hope for better days to come."

Leia mais títulos de Hannah Howe

Autores relacionados

Relacionado a Para salvar Grace

Ebooks relacionados

Artigos relacionados

Categorias relacionadas

Avaliações de Para salvar Grace

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    Para salvar Grace - Hannah Howe

    PARA SALVAR GRACE

    PARA SALVAR GRACE

    Hannah Howe

    Goylake Publishing

    Copyright © 2018 Hannah Howe

    All rights reserved.

    The moral right of the author has been asserted.

    No part of this publication may be reproduced, transmitted, downloaded, or stored in a retrieval system, in any form or by any means, without the prior written permission of the publisher.

    Goylake Publishing, Iscoed, 16A Meadow Street, North Cornelly, Bridgend, Glamorgan. CF33 4LL

    Print ISBN: 978-0-9933827-9-6

    EBook ISBN: 978-1-9996017-2-0

    Printed and bound in Britain by Imprint Digital, Exeter, EX5 5HY

    Da mesma autora

    Série de Mistério Sam Smith

    Disponível em versão impressa, e-book e audiobook

    Sam’s Song

    Love and Bullets

    The Big Chill

    Ripper

    The Hermit of Hisarya

    Secrets and Lies

    Family Honour

    Sins of the Father

    Smoke and Mirrors

    Stardust

    Mind Games

    Digging in the Dirt

    A Parcel of Rogues

    Boston

    Série de Mistério Ann's War

    Disponível em versão impressa, e-book e audiobook

    Betrayal

    Invasion

    Blackmail

    Escape

    Victory

    Um agradecimento especial a Rebecca Carter, Cusper Lynn e Denise McCabe pela amizade, incentivo e apoio. E aos meus leitores, sem os quais...

    Este livro é dedicado aos meus ancestrais vitorianos e, como sempre, à minha família, com amor.

    The Western Mail

    2 de agosto de 1876

    Comoção no caso Charles Petrie!

    Os leitores devem se lembrar de um jovem banqueiro de nome Charles Petrie, dono de todas as oportunidades de sucesso profissional e nada parcos proventos, que, após um passeio a cavalo, retornara a casa para cear em companhia de sua esposa, Grace, e da acompanhante, a Sra. Quinn. Durante e após o jantar nada o perturbara exceto a chegada de uma carta deveras incômoda e a profusa ingestão de vinho por parte da esposa, que ele considerava imprópria à sua saúde. Tão logo se retirara aos seus aposentos, o referido passara a apresentar sintomas de envenenamento e, não obstante os esforços despendidos em seu auxílio, sucumbira aos efeitos do mal. Seguiu-se um inquérito cuja complexidade desafiou o magistrado e seu júri a um nível sem precedentes na jurisprudência da perícia oficial, e chegou-se a um veredito. Todavia, o caso não se dá por encerrado, pois, após questionamentos por parte do Parlamento, a investigação foi reaberta diante da suspeita de que o Sr. Charles Petrie tenha sido assassinado.

    De aura romântica e melancólica como Byron, mas boêmio no modo de se vestir, Daniel Morgan era a antítese do advogado vitoriano de sucesso, embora advogado de sucesso fosse e no apogeu das suas habilidades. A modéstia, no entanto, lhe censurava qualquer alarde ou ostentação.

    Daniel tinha um um escritório alugado na área de Tiger Bay, com vista para a região portuária de Cardiff Docks. O edifício quadrangular de três andares reinava imponente: um belo exemplo de arquitetura vitoriana.

    Levantando-se de sua poltrona, Daniel postou-se à janela da sala alugada no segundo andar do edifício e estendeu o olhar sobre o pátio até as docas. Sob o vapor tremeluzente, divisou os altos mastros dos carvoeiros e desmontadores, navios que transportavam carvão pelos quatro cantos do mundo. Graças aos vales riscados por veios de carvão, Cardiff era o principal porto carbonífero do mundo.

    No pátio, entre cavalos e charretes, árvores e cachorros curiosos, cavalheiros e finas damas, Daniel avistou uma jovem. Aos vinte e poucos anos, a bela possuía longos e ondulados cabelos castanho-avermelhados, olhos escuros e sérios, traços formosos e constituição mignonne. Vestia uma saia vermelha de linhas finas, complementada por um estiloso corpete que se estendia até os quadris e uma elegante cauda em camadas. As vestimentas contornavam sua silhueta revelando-a tal qual era, o que indicava que ela não era adepta da moda das anáguas volumosas. Para se proteger da leve brisa, cobria-se com dólmã — espécie de capa curta com mangas largas, bordados em seda e uma barra em renda Chantilly. Para finalizar, um pequeno chapéu de chiffon branco decorado com grandes rosas vermelhas repousava sobre a cabeça, recuado para trás. A jovem perscrutava o entorno com olhar incerto, até que, como se uma bruma em sua mente subitamente se dissipasse, adentrou o edifício.

    Com um suspiro, Daniel retornou à escrivaninha. Passeou os olhos pela sala e repousou-os em seu assistente, o Sr. Robeson. Aos trinta e três anos de idade, dois a mais do que Daniel, o Sr. Robeson possuía olhos escuros e vivos, rosto régio e atraente, pele macia de ébano e um requintado cavanhaque. Por outro lado, a cabeça calva e a estrutura imponente e forte lhe conferiam um aspecto bastante singular.

    O Sr. Robeson examinava, no jornal local, uma matéria sobre um caso recente protagonizado por um notório criminoso. Na ocasião, Daniel persuadira o júri a ser leniente. Ainda assim, o Sr. Robeson temia que as atividades nefastas do criminoso o levassem à forca.

    Antes que Daniel ou o Sr. Robeson pudessem comentar a reportagem, uma leve batida à porta chamou sua atenção.

    Daniel ergueu os olhos dos seus papéis sobre a escrivaninha. Ajeitou uma pilha de documentos e disse:

    —Entre.

    — Sr. Daniel Morgan? — Envolta pelo delicado perfume de rosa branca da Piésse et Lubin, a jovem que vira no pátio adentrou o escritório e dirigiu-se à sua mesa.

    Daniel se pôs imediatamente de pé e acenou com a cabeça.

    — Ao seu dispor, madame.

    — Sou Carys Beaumond, da propriedade Beaumond Hall.

    — Muito prazer — disse Daniel. Com Cum gesto, indicou a poltrona de veludo reservada para os clientes; deixá-los à vontade fazia com se delongassem, terminando por apresentar novas propostas de negócios. — Sente-se, por favor. — Acenou na direção do colega. — Este é o Sr. Robeson, meu assistente.

    — Prazer em conhecê-lo, senhor — disse Carys, virando-se para cumprimentar o Sr. Robeson.

    Em resposta, o robusto homem inclinou de leve a cabeça e abriu um sorriso vivaz.

    — O prazer é meu, certamente.

    Daniel esperou até que Carys se acomodasse na poltrona designada e retornou à sua. Observou que ela não dera atenção à pele escura do Sr. Robeson; alguns clientes se ressentiam, outros o fitavam abismados. A aceitação da moça, além de sua fisionomia simpática e aparência charmosa o fizeram sorrir.

    — Em que podemos ajudá-la? — perguntou Daniel.

    — Li a respeito dos senhores — explicou Carys — no jornal The Western Mail. Foram capazes de impedir a condenação de uma mãe acusada de assassinar o próprio filho recém-nascido. Mesmo sem provas concretas a seu favor, convenceram o júri de que o bebê havia nascido já sem vida.

    — Foi isso mesmo — comentou Daniel. — Essa mãe estava devastada, não tinha culpa pela morte da criança. Ela o enterrou de medo, de puro pavor de que ninguém acreditasse no que dizia.

    — E mesmo assim — acrescentou Carys —, os senhores confiaram nela. É por isso estou aqui, porque gostaria de contratá-los para convencerem o júri de que minha amiga Grace Petrie é inocente de um homicídio.

    Daniel franziu o cenho e estendeu o braço sobre a escrivaninha para pegar uma pena.

    — Sua amiga Grace Petrie é ré em um processo de homicídio?

    — Não exatamente — respondeu Carys. —Mas tenho receio de que a investigação leve a isso.

    — Como assim?

    Da manga do seu dólmã Carys retirou um leque e, com um movimento elegante, feminino, agitou-o em frente ao rosto. Devidamente refrescada, continuou:

    — O esposo de Grace, Charles Petrie, com quem ela estava casada há quatro meses, foi recentemente envenenado. Ingeriu o veneno no dia 18 de abril, terça-feira de Páscoa, e agonizou por três dias. Então, infelizmente, faleceu. No início, Grace suspeitou de suicídio. Porém o primeiro inquérito registrou um veredito em aberto. A pedido da mãe de Charles, Mary, um novo inquérito foi aberto. Mary tem horror a Grace: opôs-se ao casamento e vivia interferindo na relação. Por causa desse ódio, está determinada a presentear Grace com uma acusação de homicídio.

    Daniel rabiscou algo em sua caderneta, em uma caligrafia que tinha estilo e demonstrava autoconfiança. Erguendo os olhos, perguntou:    

    — Existe algum motivo concreto para a suspeita sobre Grace?

    — Sim — respondeu Carys. — Veja bem, Grace havia sido casada anteriormente com o capitão Gustav Trelawney. Gustav abusava do álcool e, quando embriagado, agredia Grace. Ela o deixou e pediu o divórcio, foi um escândalo. A família dela insistia em que ela voltasse para Gustav. Por conta de sua recusa, passaram a ignorá-la.

    — E quanto à posição de Grace na sociedade? — indagou Daniel.

    — Grace foi considerada persona non grata. Quatro anos atrás, para amenizar a solidão, ela contratou uma dama de companhia, a Sra. Jennet Quinn. E então, antes que os papéis do divórcio fossem entregues, Gustav morreu. Ele havia se mudado para Londres e lá vivia com uma amante. Morreu de intoxicação alcóolica, o que não foi nenhuma surpresa. Inclusive, o médico-legista de Londres confirmou o fato. Ocorre que Gustav não chegou a alterar seu testamento; é provável que, àquela altura, já estivesse com a mente fraca, incapaz de lidar com esses assuntos. E foi assim que Grace, uma mulher já abastada, herdou um generoso montante.

    Daniel fez mais uma anotação na caderneta. Parou para refletir e, em seguida, perguntou:

    — Eu poderia saber o valor?

    — Quarenta mil libras — informou Carys.

    Daniel olhou de relance o Sr. Robeson e os dois arregalaram os olhos.

    — É uma bela soma — opinou Daniel.

    — De fato, uma bela soma— concordou Carys. — Os fuxiqueiros logo começaram a inventar histórias. Alguns tiveram a audácia de sugerir que Grace envenenara Gustav; o que não entendo em absoluto, já que os dois moravam a duzentos e cinquenta milhas de distância um do outro.

    Daniel se afundou no encosto da cadeira e apoiou a caneta no tinteiro. Pequenas garrafas de tinta indiana se enfileiravam sobre a mesa, em cores vivas que reluziam sob a luz solar. Ele fitou as tintas, depois a possível cliente, Carys Beaumond. Perguntou-lhe diretamente:

    — Acredita na inocência de Grace?

    — Sim — afirmou Carys.

    — Não crê que ela tenha tido qualquer papel na morte de Gustav?

    — Eu não conhecia Grace à época — ressalvou Carys. — Mas o médico-legista confirmou que Gustav bebeu até a morte.

    Daniel inclinou a cabeça, examinou suas anotações e perguntou:

    — Crê então que ela não teve qualquer participação no falecimento de Charles?

    — Grace era uma esposa amorosa. Isso, testemunhei com meus próprios olhos.

    — Há quanto tempo conhece Grace? — indagou Daniel.

    — Dois anos.

    — Não é muito tempo.

    Carys enrubesceu. Torceu um ombro e pôs o leque em ação. Com a cabeça erguida, declarou:

    — Creio que sei julgar o caráter de uma pessoa.

    — Tenho certeza que sim — sorriu Daniel. — Mas há de convir que, no que concerne ao que se passou antes desses dois anos, conta apenas com a versão dos eventos que lhe é dada por Grace.

    — Grace é uma pessoa honesta — afirmou Carys com seriedade e expressão firme. — Ela não mentiria.

    — Fale-me mais sobre Grace — pediu Daniel.

    Carys fez uma pausa e dobrou o leque. Esse homem estaria de pilhéria? Não, queria apenas saber a verdade. Enquanto ela estivesse no escritório do advogado, reprimiria sua natureza sensível e lhe daria confiança.

    Virando-se para Daniel, Carys iniciou:

    — Após a morte de Gustav, Grace passou a ter tudo o que poderia desejar, exceto o amor da família, um marido e uma posição na sociedade. Foi então que conheceu Charles Petrie durante uma caminhada. Cedeu aos seus encantos e casou-se com ele após uma breve corte.

    — Quanto tempo levou esse namoro?

    — Dois meses — respondeu Carys.

    — E o casamento, quanto durou?

    — Quatro meses — devolveu Carys — mais duas semanas.

    — Qual foi o veneno que tirou a vida de Charles?

    — Antimônio — informou Carys.

    Daniel voltou-se para o Sr. Robeson, que permanecia sentado com a expressão impassível e o corpo imóvel. O Sr. Robeson tinha a capacidade de absorver os mínimos detalhes e gravá-los na memória. Embora não tivesse cursado uma universidade, era um homem de grande intelecto, um intelecto nascido da experiência e de uma vida sofrida.

    — O antimônio é bastante raro — disse Daniel.

    — Creio que sim. — Carys projetou o tronco para frente e inclinou a cabeça. — O senhor aceitaria, então, ler o dossiê e se encarregar da defesa de Grace?

    — Há a questão dos honorários — Daniel fez a ressalva.

    — Sou uma mulher de recursos — sorriu Carys. — Proverei seus honorários.

    Daniel contraiu o sobrolho. Carys Beaumond o agradava. Por certo, admirava sua lealdade à amiga e estava certo de que ela lhe dizia a verdade. Mesmo assim, as lacunas no histórico de Grace o perturbavam. Daniel passara uma década dialogando com defraudadores, traidores e mentirosos; a mulher sentada à sua frente era demasiado inocente, demasiado séria para figurar entre esses tipos.

    Fitando-a, perguntou:

    — O dinheiro virá dos seus recursos, e não do bolso de Grace?

    Carys o fitou em diagonal e disse:

    — Grace acredita não precisar de um advogado; está redondamente enganada.

    — Grace deve ser uma boa amiga.

    — Sim, é uma boa amiga — confirmou Carys.

    — Mesmo não sendo bem-vinda entre a nobreza?

    — Grace não fez nada de errado — insistiu Carys. — Apenas abandonou um homem que a maltratava. É tão terrível assim? A sociedade tem o direito de repeli-la apenas porque o capitão Gustav Trelawney não era capaz de se conter na bebida, e permaneceu assim até o fim?

    Daniel se solidarizava com o argumento de Carys. Mas decidiu fazer o papel de advogado do diabo e, com um sorriso, comentou:

    — Alguns diriam que a mulher deve obediência primeiro ao pai e, em segundo lugar, ao marido.

    — A mulher deve obediência ao homem — opinou Carys — enquanto esse homem a tratar com o devido respeito.

    Daniel assentiu. Sim, Carys Beaumond era uma mulher de sutil sensibilidade. Por outro lado, tinha caráter; seria uma boa aliada.

    Examinando sua caderneta, afirmou:

    — Este dossiê é um desafio.

    — Tem medo de desafios? — Carys franziu o cenho.

    — Não — respondeu Daniel.

    — Então que tal pôr fim a essa tergiversação e me responder sim ou não?

    Daniel se pôs de pé. Viu, pela janela, os grandes navios flutuando no porto, gaivotas traçando giros no ar e pessoas transitando pelo local. O sol ia alto no céu, pois era quase meio-dia. Contemplou os trilhos de trem cintilando sob a luz. E então perguntou a Carys:

    — Veio de trem?

    — Sim — respondeu ela. — Da estação de Pyle. Daqui, encontrarei minha criada, Christiana, na estação de Cardiff e lá tomaremos o trem. Christiana está no centro seguindo minhas ordens de adquirir rendas e partituras.

    — É uma apaixonada por música? — perguntou Daniel.

    — Toco piano — respondeu Carys.

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1