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Por Nada Deste Mundo
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E-book514 páginas7 horas

Por Nada Deste Mundo

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Sobre este e-book

Há já mais de uma década, sem tanto WhatsApp, GPS ou dispositivos localizadores, uma época em que os telemóveis serviam pouco mais do que para fazer chamadas ou enviar mensagens curtas, arranjávamos sempre uma forma de poder falar ou comunicar com um amigo, um familiar ou com a pessoa que amávamos. E quando o amor é verdadeiro, não existem barreiras, nem físicas nem digitais.

Os caminhos de Alan, um jovem de trinta e três anos, dono de um famoso restaurante de Madrid, e Ruth, uma jovem estudante de vinte e um anos, cruzam-se numa manhã fria e chuvosa da cidade. O amor entre eles surge entre as quatro paredes desse restaurante, mas Alan parece mais preocupado com o seu próprio negócio do que com ela e, devido a isso, submergindo-os a ambos na solidão. Poderá o amor que Alan sente por Ruth fazer com que ele deixe tudo? Ou será que os seus caminhos se separam para sempre? Se queres saber o final desta bonita estória, com traços de humor, romantismo e erotismo, não podes deixar de ler Por nada deste mundo.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento6 de abr. de 2019
ISBN9781547580897
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    Pré-visualização do livro

    Por Nada Deste Mundo - Luz Divina Malro

    POR NADA DESTE MUNDO

    AGRADECIMENTOS

    ––––––––

    Quero agradecer à minha família, pelo seu amor e apoio incondicional. Obrigada a ti, fantástico escritor, por me ajudares na publicação deste romance. E sobretudo, obrigada a ti, minha vida, meu companheiro, meu guia, por me apoiares, por me compreenderes, por me consolares e por me amares. Amo-te para sempre.

    Dedicado a todos vocês, por ocuparem o vosso tempo a ler este romance e dedicado a eles, onde quer que estejam, estou certa de que observam orgulhosos.

    SINOPSE

    ––––––––

    Há já mais de uma década, sem tanto WhatsApp, GPS ou dispositivos localizadores, uma época em que os telemóveis serviam pouco mais do que para fazer chamadas ou enviar mensagens curtas, arranjávamos sempre uma forma de poder falar ou comunicar com um amigo, um familiar ou com a pessoa que amávamos. E quando o amor é verdadeiro, não existem barreiras, nem físicas nem digitais.

    Os caminhos de Alan, um jovem de trinta e três anos, dono de um famoso restaurante de Madrid, e Ruth, uma jovem estudante de vinte e um anos, cruzam-se numa manhã fria e chuvosa da cidade. O amor entre eles surge entre as quatro paredes desse restaurante, mas Alan parece mais preocupado com o seu próprio negócio do que com ela e, devido a isso, submergindo-os a ambos na solidão. Poderá o amor que Alan sente por Ruth fazer com que ele deixe tudo? Ou será que os seus caminhos se separam para sempre? Se queres saber o final desta bonita estória, com traços de humor, romantismo e erotismo, não podes deixar de ler Por nada deste mundo.

    E agora, voltemos mais atrás...

    1

    Madrid. Dezembro. Ano 2001

    Meu Deus, que frio que está!

    Vou a caminhar pelas ruas de Madrid, a ouvir no meu mp3 o novo disco de Fito & Fitipaldis, Os sonhos loucos, e estou com uma ressaca horrível.

    Demasiados White Label com sumo de laranja, herança do meu último e ressonante fracasso amoroso, Gillermo. Olhos verdes, loiro, um metro e oitenta e sete, lindo, demasiado para mim suponho...

    Tenho cabelo castanho, olhos castanhos, não sou alta nem baixa, tenho uma estatura média, resumidamente... muito banal.

    Estou gelada, vivo há quase quatro anos nesta cidade e não me habituo ao clima; tenho saudades da minha cidade, Almería, com muito vento o ano todo, mas não faz este frio gélido que até os dentes faz bater.

    A noite foi longa, fui sair à noite com a minha amiga Almudena que vive bastante longe do apartamento em que estou a viver aqui em Madrid, partilhado com a minha irmã Noemí e o namorado Leonardo. Ainda me falta um longo caminho até chegar a casa, pufff! E ainda por cima começou a chover, que azar! Vou ficar toda ensopada e, para o cúmulo dos cúmulos como diz a minha mãe, não trago guarda-chuva!

    Preciso de encontrar algum sítio aberto para poder parar e tomar algo quente ou vou chegar a casa encharcada; já para não falar da gripe que posso apanhar!

    No meio da rua vejo um restaurante, parece estar aberto e decido entrar à espera que o tempo melhore. Ao entrar, quase que caio. O chão está molhado e escorregadio. Por sorte, duas senhoras que me parecem ser as cozinheiras pelo seu vestuário, apesar de estarem com casacos postos, agarram-me antes que bata com o rabo no chão.

    O restaurante está decorado em madeira, as paredes, as mesas, as cadeiras, os bancos, o balcão, o chão, combinado com espelhos por toda a parte. Vejo ao fundo um jovem baixo e gordinho a varrer o restaurante, suponho que tenha terminado a hora das refeições. Numa mesa há outro rapaz a almoçar o que parece ser um prato de costeletas de porco com batatas e ovo. Fico a observá-lo até que ele levanta o olhar. Tem uns olhos verdes grandes, claros, fazem-me lembrar o mar de Almería, e o seu cabelo é encaracolado com um caracol a cair-lhe pela frente, as suas feições são perfeitas, o seu nariz... Observa-me durante uns segundos, que me parecem eternos.

    Tiro os auriculares dos ouvidos e pergunto numa voz fininha:

    —Está aberto?

    —Sim —responde-me brutamente —Mas a cozinha está fechada.

    —Eu... só queria um café —consigo ainda dizer. Não entendo muito bem porquê, mas intimida-me. Aquele olhar, os seus olhos tão grandes e tão claros que fazem com que o corpo me trema todo.

    —Como é que o queres? — pergunta-me enquanto se levanta da cadeira.

    —Não, não se preocupe, acabe de comer — respondo-lhe de imediato.

    E olhando para a rua pela janela do restaurante continuo:

    —Não tenho pressa.

    Deixo o meu casaco sobre um banco que se encontra em frente ao balcão e perto de uma pequena lareira que há no restaurante, a ver se assim seca um pouco, está encharcado. Dirijo-me ao jovem que se encontra a varrer e pergunto-lhe:

    —A casa de banho, por favor?

    —À direita —responde-me com um sorriso.

    Agradeço-lhe e caminho para lá enquanto vejo nos espelhos das paredes do restaurante como o homem que está a almoçar, e que tanto me intimida, me segue com o olhar. E a pinta espantosa com que estou! O rímel a escorrer, os cabelos que pareço uma louca acabada de fugir de um manicómio, bolas!! Não me admira que esteja a olhar, dou medo, ou pena, ou uma mistura de duas.

    Ao entrar na casa de banho, que também está decorada em madeira, dou-me conta de que não há espelho. Bem, era o que mais me faltava! E agora? Como é que é possível que numa casa de banho de um restaurante não haja um espelho?

    Tiro umas toalhitas da carteira e esfrego os olhos tentando tirar o rímel todo, mas claro... sem espelho, vá-se lá saber o que estou a fazer à cara! Portanto, sem pensar duas vezes, saio da casa de banho e aproximo-me dos espelhos que estão na parede do restaurante.

    Observa-me. Vejo o seu rosto refletido, por isso viro-me e digo-lhe:

    —O que foi? Tens espelhos em todo o lado menos onde os devia haver.

    E com meio sorriso ele explica-me:

    —Havia um espelho na casa de banho, mas partiu-se e ainda não foi reposto.

    Não lhe digo mais nada. Viro-me outra vez para o espelho, limpo todos os borrões negros dos olhos e apanho o cabelo num rabo de cavalo. Quando termino, dirijo-me até ao balcão, sento-me no banco onde tinha deixado o meu casaco uns minutos antes e o rapaz vai para o lado de trás.

    —Como queres o café? — pergunta-me.

    —Com leite e num copo, por favor.

    Prepara-me o café e põem-mo sobre o balcão. Prepara outro para ele, num copo mais pequeno, com apenas um pouco de leite.

    Acaba o café e deixa o copo e a colher na pia. Despede-se do jovem que estava a varrer, que suponho que seja empregado, e este vai-se embora.

    De repente, põe-se de frente para mim. O meu coração acelera. Porque é que me deixa tão nervosa?

    —Vives por aqui? — pergunta-me —Não me lembro de te ver pelo meu restaurante.

    —Não. Vivo perto do centro com a minha irmã e o namorado dela.

    —És estudante?

    —Sim, é o meu último ano.

    —Então devias cá vir, tenho menus para estudantes que ficam muito em conta; vêm cá muitos todos os dias, incluindo ao fim de semana. Melhor ainda, já que aqui estás podias chamar os teus amigos e ficavam a tomar alguma coisa.

    —Bem, da maneira como está o dia... e como não melhora, vou ter que ficar a viver aqui —respondo-lhe.

    Começa-se a rir. Meu Deus, que sorriso lindo que ele tem!

    —Bem, estás-te a rir! Já não pareces tão carrancudo agora —espeto-lhe.

    —Achas que sou carrancudo?

    —Sim. Quando entrei respondeste-me muito sério, demasiado diria eu...

    —Vá lá, não sejas assim comigo. Anda! Chama os teus amigos e jantem aqui. De qualquer forma, parece que não vai parar de chover e tu vives longe.

    —Tentei apanhar um táxi, mas claro, com o dia que está, passavam todos ocupados!

    —Não me estranha, espera... vou tentar telefonar a ver se consigo que algum te leve a casa.

    —Obrigada —digo-lhe com um sorriso.

    Agarra o telemóvel e marca o número. Mantêm-no em espera durante vários minutos até que por fim desliga. Olhando-me com cara de pena diz-me:

    —Não há nenhum táxi livre, desculpa. Continuo a achar que o melhor seria que ficasses aqui.

    Bolas! Outra vez.

    —Bah! Ontem à noite fui sair e estou com uma ressaca horrível, toda a minha roupa e cabelo cheiram a tabaco, preciso de tomar um duche, pôr roupa seca e meter-me na cama a dormir.

    Ao dizer isso, sai detrás do balcão e vai-se embora. Volta passados uns segundos com um casaco castanho vestido e um grande guarda-chuva verde na mão.

    —Anda! Acaba o café, põe o casaco e vamos.

    Olho para ele com cara de «estás maluco ou quê? », mas faço o que me diz. Dá-me a mão, saímos do restaurante e baixa a persiana.

    Vamos a correr debaixo do guarda-chuva pela rua enquanto ele não solta a minha mão, e então olha-me com aqueles olhões verdes e diz:

    —Olha! Já agora... Como te chamas?

    —Ruth, o meu nome é Ruth.

    —Prazer, Ruth, o meu nome é Alan.

    Sorri, continuamos a correr debaixo do guarda-chuva e em poucos segundos estamos à frente de um centro comercial. Estamos quase no Natal, e a fachada está decorada com luzes formando flocos de neve, renas, um trenó, um Pai Natal e os Reis Magos.

    Entramos no centro comercial. Que quentinho que está aqui dentro! Há imensa gente nas compras, umas com sacos, algumas só a passear, e eu continuo-me a perguntar o que faço aqui. De repente, olha para mim.

    —É a primeira vez que fecho o restaurante à tarde, e a culpa é tua.

    Sorri e, sem me soltar a mão, vamos para umas escadas rolantes que nos levam até ao primeiro piso do centro comercial. Dirigimo-nos até uma secção onde só há roupa de mulher. De repente. dirige-me o olhar e pergunta:

    —Vamos lá ver, o que é que te faz falta?

    —O quê? — digo-lhe perplexa.

    Sorri, não me diz mais nada e aproxima-se de uma vendedora.

    —Minha senhora, precisamos de roupa para ela —diz apontando para mim com a cabeça.

    Com um sorriso, a jovem pergunta-me:

    —O que é que procura?

    Olho para o Alan, ele volta a sorrir e diz:

    —Bem, umas calças de ganga, uma camisa, uma camisola e uns sapatos bonitos.

    —Muito bem, tamanho? —diz a jovem.

    E com mais medo que vergonha, respondo-lhe:

    —As calças de ganga, umas 36; a camisa e a camisola, tamanho S e os sapatos, uns 38. Obrigada.

    —Muito bem, venha comigo —diz-me a vendedora.

    Faço o que me pede e vai-me mostrando jeans, camisolas, camisas e, por último, uns botins pretos. Leva-me até um provador, entro e experimento a roupa toda, incluindo os botins. No final, decido-me por umas calças de ganga pretas, uma camisa branca com pelo por dentro e uma camisola de gola alta.

    Já vestida, abro a porta e mesmo à frente encontro o Alan. Olha-me com cara de surpresa, baixa o olhar e diz:

    —Fica-te bem.

    E a sorrir respondo-lhe:

    —Obrigada.

    Aparece a vendedora e pergunta:

    —Precisa de roupa interior?

    E sem me dar tempo de responder, o Alan diz-lhe que sim. Eu não digo nada, sigo a jovem que me leva ate à secção de roupa interior. Mostra-me uns conjuntos lindos e no final decido-me por um preto de renda, muito giro! Olho para o Alan, que tem estado connosco o tempo todo e em tom de brincadeira digo-lhe:

    —Isto não te deixo que me vejas posto, nem morta!

    Desmancha-se a rir e põe-se vermelho que nem um tomate enquanto diz:

    —Não, não, não, relaxa.

    Bem, por fim acabámos! Apesar de parecer estranho, não gosto de ir às compras, dá-me dor de cabeça, e com a ressaca com que estou, vai aumentando. Dirigimo-nos para a caixa para pagar a roupa que levo nas mãos.

    A jovem passa artigo por artigo.

    —São duzentos e cinquenta euros.

    O quêêê?! Mas antes de me dar tempo de abrir a boca, o Alan tira do bolso um maço de notas e paga à vendedora. Ao irmos embora, levo os sacos numa das mãos e então paro e digo mostrando-lhos:

    —Alan, não posso pagar isto, é muito dinheiro. Acho que é melhor que os devolvas.

    Nem me responde, volta-me a dar a mão e saímos do centro comercial.

    Já à porta, continua a chover e parece que ainda com mais força. São quase sete e meia da tarde, é praticamente de noite. Então, abre o guarda-chuva, dá-me a mão e, como fizemos antes, saímos a correr e leva-me até à entrada de um prédio com vidros corridos e chão em mármore.

    Tira de um dos bolsos das calças umas chaves e abre a porta da entrada. Dirigimo-nos até ao elevador, carrega no botão para o chamar e ao abrir-se a porta olha para mim.

    —Anda, fica em minha casa, e se quiseres, quando acabar de trabalhar, levo-te à tua, combinado? - murmura.

    E sem saber ainda muito bem porquê, que não me vai sequestrar, nem violar, nem matar, nem que vou aparecer nas notícias do dia seguinte com o título «Rapariga de vinte e um anos desaparecida em Madrid em estranhas circunstâncias», respondo-lhe:

    —Está bem.

    Entramos no elevador e carrega no 6. Olha para mim e sorri enquanto o elevador sobe até ao sexto piso.

    E eu não sei o que é que se passa, mas quase sem o conhecer não tenho medo dele, e quando me olha e sorri eu... sinto que me derreto por dentro.

    2

    Ao abrir a porta, um calor agradável sai de dentro. Suponho que o apartamento tenha aquecimento central, que com o frio que faz aqui foi o melhor que se podia ter inventado. Em Almería não há, não faz falta.

    Entramos por um corredor longo, o chão é em mármore, as portas parecem de carvalho, toda a decoração é moderna, nova e com bom gosto. Móveis em mogno com cristaleiras e quadros de paisagens pendurados na parede. Nada a ver com os móveis do apartamento onde eu moro! Acho que esses móveis nem em casa da minha avó os há! Ao entrar na sala, que tem umas enormes janelas corridas, através das quais se pode ver toda a cidade iluminada, vejo também um casal sentado no sofá em frente à televisão. Ao ouvirem-nos entrar, levantam-se. Ele tem bastantes parecenças com o Alan, assim que deduzo que seja o seu irmão, e ela é morena, de um metro e cinquenta e pouco, com uns olhos castanhos grandes e uma boca perfeitamente moldada.

    —Ruth, apresento-te o meu irmão Adrián e a sua esposa Margarita.

    —Olá — digo acenando-lhes com a mão.

    Aproximam-se de nós e dão-me dois beijos cada um.

    Depois, o Alan leva-me por outro corredor até um quarto, abre a porta e diz-me:

    —Podes deitar-te na minha cama e dormir um pouco se quiseres.

    E eu agradeço-lhe. Estou como se me tivesse passado um camião por cima.

    —E já podes tomar um duche e tirar esse cheiro a tabaco, está bem?

    —Sim! E esta dor de cabeça que me está a matar!

    Digo-lhe cada vez mais cansada.

    —Vou-te dar agora uma toalha, e devíamos-te ter comprado um pijama, esquecemo-nos disso.

    —Sim, pois foi! E uma escova e pasta de dentes... completamente! Podes emprestar-me um teu?

    —Claro, mas vai-te ficar grande.

    —Não faz mal. Obrigada.

    Acompanha-me até à casa de banho do apartamento, vai-se embora e depois ouço o que diz:

    —Cunhada, podes-me arranjar uma toalha limpa e um ibuprofeno, por favor?

    Ela responde-lhe que sim, e dentro de poucos minutos o Alan aparece com uma toalha na mão, um copo de água e um ibuprofeno.

    —Toma-o, vais-te sentir melhor —diz enquanto me dá o ibuprofeno.

    Faço o que me diz e depois leva o copo vazio. Antes de se ir dirige-se a mim:

    —Vou trabalhar, está bem?

    Mas antes que se vá, peço-lhe:

    —Podes-me emprestar o teu telemóvel para telefonar à minha irmã? Por favor -e mostrando-lhe o meu que está sem bateria, continuo: Não tens um carregador para o meu?

    —Não. Mas vou procurar. Toma, telefona à tua irmã -responde estendendo-me o seu telemóvel.

    Marco o número da minha irmã que me atende com um:

    —Estou sim?

    —Noemí, sou eu, é que ainda estou em casa da Almudena. Ontem à noite foi copo atrás de copo e como hoje o dia está tão mau, fiquei por cá. Não te preocupes, estou bem, ok? Não sei quando vou chegar.

    —Está bem —responde-me zangada.

    A minha irmã é inacreditável! É só um ano mais nova que eu e às vezes é pior que a minha mãe. Mas desta vez ela tem razão, como diz o meu pai, muita razão. Depois desliga.

    —Está tudo bem? —pergunta-me.

    —Sim, só ficou um pouco chateada. E... obrigada por tudo —respondo devolvendo-lhe o telemóvel.

    —De nada, não tens que agradecer. Agora vai tomar um duche e descansa um pouco, combinado?

    Consinto, ele vai-se embora e meto-me na casa de banho. Abro a torneira do duche e ao fundo ouço:

    —Mas, mano, quem é ela?

    —Uma rapariga que é estudante e que veio ao restaurante, porquê?

    —Como assim porquê? Não a conheces de lado nenhum e podia ser tua filha. Parece-te pouco?

    À mulher não a ouço falar.

    —Não estás a exagerar nem nada. Também não sou assim tão velho – responde-lhe o Alan.

    —Quantos anos tem, mano?

    —Olha Adrián, não sei, mas há algo nela que não sei explicar... é especial, e agora vou trabalhar, vemo-nos logo.

    Não ouço mais nada. Dispo-me, meto-me no duche e lavo a cabeça enquanto cantarolo Para toda la vida, de Fito & Fitipaldis.

    Ao sair, procuro um secador e encontro um numa gaveta do móvel da casa de banho. Seco o cabelo e vou até ao quarto do Alan enrolada na toalha.

    Ao entrar, só está um pequeno candeeiro aceso numa mesinha ao lado da cama e um pijama azul em cima dela. Visto a roupa interior que o Alan me comprou, o pijama e meto-me na cama. Não penso em mais nada. Demoro poucos minutos até adormecer.

    Desperto com um barulho. Está a trovejar. O vento empurra as persianas contra os vidros das janelas do quarto, não sei que horas são nem quanto tempo dormi. Acendo o candeeiro que está na mesa de cabeceira para ver o meu relógio. Doze e meia da noite, Meu Deus, a Noemí vai-me matar!

    Em cima da mesa de cabeceira está o meu telemóvel ligado a um carregador. O Alan deve-o ter trazido e tê-lo posto a carregar, e eu nem me apercebi. Ligo-o, e ao fazê-lo chegam dez mensagens de chamadas perdidas da minha irmã, umas desta tarde e outras desta noite. Vou levar uma bronca monumental!

    Estou a olhar para o telemóvel quando a porta do quarto se abre. Entra um pouco de luz do corredor e eu só tenho o pequeno candeeiro aceso. É o Alan:

    —Olá.

    —Olá —respondo.

    —Está a trovejar, acho que seria melhor se passasses aqui a noite e voltasses amanhã para casa, mas se não quiseres, levo-te agora mesmo.

    Ficar? Fico na dúvida durante uns instantes e penso... bem... não acho que haja mal em dormir aqui.

    —Está bem —respondo-lhe.

    O Alan agarra no telemóvel e marca um número.

    —Bernardo, podes-te ir embora, obrigado.

    Dirige-se agora a mim.

    —Trouxe-te um pouco de sopa do restaurante. Não comeste nada o dia todo, devias comer alguma coisa, de certeza que para a tua ressaca esta sopa te vai cair bem.

    Assinto e levanto-me da cama. Levo o telemóvel na mão e envio uma mensagem à minha irmã a dizer que não vou dormir a casa. Prefiro não lhe telefonar ou dá-me o raspanete do século. Digo-lhe que fico em casa da minha amiga Almudena e ela responde-me com um ok.

    O Alan leva-me até à sala, sento-me numa cadeira junto a uma mesa e ele vai-se embora, acho que para a cozinha. Passados poucos minutos aparece com um prato de sopa na mão, uma colher, um copo com água e um ibuprofeno. Depois, pousa-me as coisas à frente.

    —Obrigada —sussurro.

    Ele assente e eu como a sopa e tomo o ibuprofeno. Quando termino pergunto-lhe:

    —Quantos anos tens?

    —Quantos achas que tenho?

    —Não sei... uns vinte e oito.

    Nesse momento, solta uma gargalhada.

    —Não, tenho mais.

    —Quantos mais?

    Fica na dúvida uns instantes e no final diz:

    —Trinta e três, tenho trinta e três. E tu?

    —Vinte e um.

    E sem lhe querer dar a entender de que antes ouvi a conversa com o irmão, dou a conversa por finalizada.

    O Alan levanta-se e vai até ao casaco. Tira algo do bolso e dá-me. É uma escova e uma pasta de dentes. Agarro nelas e volto-lhe a agradecer.

    Observa-me.

    —Devíamos ir dormir, já é tarde. Dorme no meu quarto, eu durmo no quarto de hóspedes.

    —Podes dormir comigo? Não gosto de dormir sozinha.

    Não acredito no que acabei de lhe perguntar! Estou completamente louca!

    Mas é verdade. Nunca gostei de dormir sozinha, custa-me a adormecer. O Alan olha-me perplexo. A cara fica-lhe de todas as cores e eu parto-me a rir... mas antes que ele diga alguma coisa, acrescento:

    —No apartamento em que vivo com a minha irmã, tenho em cima da cama um Charmander e durmo sempre com ele. Não me vais fazer nada, pois não? —pergunto-lhe sarcasticamente.

    —Claro que não! Por quem me tomas?

    —Lá está, então hoje dormes comigo!

    Já não posso voltar atrás! Levanto-me, vou à casa de banho, que já sei onde é, e escovo os dentes. O Alan entra na outra casa de banho da casa. Quanto termino vou até ao quarto, que continua apenas iluminado pela luz do candeeiro. Meto-me na cama e, em poucos segundos, o Alan aparece com outro pijama azul muito parecido ao que eu estou a vestir.

    —Tens a certeza?

    —Sim —respondo-lhe.

    Não diz mais nada. Entra, fecha a porta e mete-se na cama comigo.

    —Então quer dizer que esta noite sou o teu Charmander? —diz em tom de gozo.

    —É isso mesmo, assim vou adormecer num instante —respondo, tentando parecer segura de mim mesma.

    Nem se aproxima de mim...

    —Boa noite, Pokémon.

    —Boa noite —sussurro.

    Apaga a luz, deita-se de costas e noto o seu corpo a tremer ao lado do meu. Consigo sentir o seu cheiro tendo-o tão perto de mim, com o coração a bater a mil à hora, mas o Alan não volta a falar. Em poucos minutos a sua respiração torna-se regular e, com a ressaca com que ainda estou, ouvindo-o respirar, adormeço num sono profundo.

    Acordo. Já é de dia e o Alan não está. Olho para o relógio, são dez da manhã. Mas a que horas é que este homem se levanta?

    Acendo a luz para me vestir e voltar para casa e vejo sobre a mesinha de cabeceira uma nota junto a um cartão do restaurante. Restaurante Márquez. Na nota está:

    Espero voltar a ver-te em breve.

    Sorrio, e volto a deixá-la sobre a mesinha.

    Quando olho à minha volta, vejo fotografias do Alan com um menino de uns quatro anos, moreno, com olhos castanhos e um nariz pequeno. Estão por todo o lado. Na parede, um desenho a carvão emoldurado por cima de uma secretária e um quadro de cortiça pendurado.

    Como é que não as vi antes?

    Com a ressaca com que estava não via nada, a luz do quarto esteve sempre apagada, exceto a do candeeiro pequeno. Acho que foi por isso que não as vi.

    Um filho? O Alan tem um filho?

    Tudo bem que seja doze anos mais velho que eu, mas o facto de ter um filho já é demais. Isso afeta-me de tal forma que me deixa desmoronada. Sinto que não estou preparada para aos meus vinte e um anos cuidar de uma criança; eu quase que ainda sou ainda uma. Tiro o pijama, visto à pressa a roupa que o Alan me comprou, meto na carteira a minha roupa e saio dali como se o diabo me perseguisse, com a solene promessa de nunca mais voltar.

    Quando chego à rua, está um dia ensolarado, ao contrário do meu estado de espírito esta manhã. Ponho os auriculares do meu mp3, que continua a dar Fito & Fitipaldis, adoro este grupo. E vou de volta para casa.

    3

    Quando chego a casa, a minha irmã não está, menos mal!

    Se me vê com roupa nova e que custou uma fortuna, mata-me. E se lhe digo a verdade então, primeiro mata-me e a seguir manda-me de uma ribanceira abaixo.

    Os meus pais não estão a atravessar uma fase muito boa em relação ao dinheiro. O meu pai leva uma vida de trabalho, é o mais velho de oito irmãos. O meu avô morreu quando ele e os meus tios ainda era muito pequenos. Portanto teve que ficar a tomar conta dos seus sete irmãos, não pôde sequer ir à escola e hoje em dia tem um hectare de terras, mas as colheitas têm vindo a decair desde então. A minha mãe é dona de casa, por isso pagam-nos a renda do apartamento como podem, com a esperança de que possamos estudar.

    Entro no meu quarto, troco de roupa e guardo no armário a que trazia vestida. Agarro no meu telemóvel e mando uma mensagem à Noemí:

    Já estou em casa.

    Responde-me passados poucos minutos:

    Estou com o Leonardo no café da esquina; se quiseres vem cá ter e tomas o pequeno-almoço connosco.

    Saio de casa e vou ter com a minha irmã e o meu cunhado.

    Ao chegar ao café, sento-me com eles e peço um café. A minha irmã não me repreende e eu agradeço; se o fizesse não lhe poderia dizer nada, teria toda a razão do mundo. «Menos mal!», penso.

    Convidam-me para ir almoçar com eles, vão a um bar que abriu há pouco tempo perto de onde vivemos, mas rejeito o convite, não me apetece ir outra vez de arrasto com eles, prefiro ficar em casa, comer alguma coisa e mandar-me para o sofá a ver televisão. Levantamo-nos, eles vão-se embora e eu vou para casa.

    Não consigo parar de pensar no Alan, no dia que passei com ele, naqueles olhos verdes de que tanto gosto, mas enquanto a minha mente diz não, o meu coração diz-me tudo ao contrário.

    Estou compenetrada nos meus pensamentos quando o meu telemóvel toca, é a minha amiga Lisa.

    —Oláááá! —diz quando atendo.

    —Olá linda! Como estás?

    Fico muito contente por a ouvir, vemo-nos poucas vezes, mas de cada vez que estamos juntas passamos bons momentos, gosto muito de estar com ela.

    —Muito bem. Esta noite vamos sair as três, a Marisa, a Ana e eu, vens também?

    A Marisa e a Ana são amigas da Lisa. Conheci a Lisa na Escola de Artes e Ofícios de Madrid, que é onde estuda a minha irmã. A Lisa decidiu deixar a escola há um ano e está a fazer um módulo de Vitrinismo. Nestes três anos em Madrid, tive a sorte de as conhecer, e se há pessoas com as quais posso contar quando tenho algum problema, são sem dúvida elas.

    —Claro que sim! —digo-lhe.

    —Combinado, às nove e meia apanho-te em casa.

    —Ok. Até logo.

    Às duas e meia da tarde vou a um restaurante chinês que há perto de minha casa. Peço um dos menus e levo-o. Não tenho vontade de estar a cozinhar só para mim, para além de que detesto cozinhar. Pego numa Coca-cola do frigorífico e sento-me no sofá a ver televisão, mas sem prestar muita atenção; os meus pensamentos voam outra vez para o Alan, o cheiro dele, a noite com ele, todas as recordações voltam-me à cabeça e as palavras dele a soar na minha mente.

    Tenho que o esquecer, mas não consigo.

    Quando acabo de comer, levanto-me, apanho o que sujei e vou a correr para a casa de banho. Eu sabia! Veio-me o período! Para terminar bem o dia!

    Ponho um tampão e volto para o sofá, às quatro começa o filme Casamento por conveniência, adoro esse filme! Vejo o filme e choro, choro e choro, quando estou com o período fico mais sensível do que o normal, de maneira que choro por tudo, e mais ainda no final quando se descobre que estão os dois apaixonados um pelo outro, mas depois separam-nos e levam-no a ele preso. Como é que é possível ser-se tão chorona?

    Às seis da tarde preparo um café e continuo a ver televisão, mas o filme que vai começar agora não me interessa. Faço zapping a ver se encontro alguma coisa que me distraia, mas nada, não tenho sorte. Por volta das sete e meia chega a minha irmã e o Leonardo, foram ao cinema ver o Monstros S.A.; contam-me como foi giro e divertido.

    —Devias ir vê-lo –diz a minha irmã -É maravilhooooso!

    Lembro-me de que o podia ir ver com o Alan, ipso facto, apago essa imagem da cabeça.

    —Eu vou —respondo-lhe —Já agora, hoje vou sair com a Lisa e as amigas, vamos jantar fora.

    —Que não te passe pela cabeça ficar a dormir em algum lado! Vens dormir a casa! -dispara a minha irmã.

    Já estava a demorar para me dar um sermão...

    —Não te preocupes Noemí, volto daqui a pouco. Para além disso, amanhã tenho aulas e tenho que me levantar cedo.

    —Espero bem que sim —diz em tom de aviso.

    Levanto-me do sofá e entro na casa de banho. Dispo-me, tomo um duche, lavo o cabelo, seco-o e depois passo-lhe o alisador.

    Feito! Estou perfeita.

    A Marisa e a Lisa são de Madrid, e a Ana vive em Aranjuez.

    Lembro-me de quando eramos pequenos, os meus pais levaram-nos uma vez a passear a mim, à minha irmã e ao meu irmão e fiquei encantada com Aranjuez e o Palácio Real de Filipe II. Temos em casa umas fotografias dos jardins e são maravilhosos.

    Já são quase nove e meia. Vou até à sala, onde está a minha irmã e o meu cunhado a ver televisão, e sento-me no outro sofá à espera que a Lisa me telefone.

    Às nove e meia, a Lisa já lá está em baixo à porta do carro à espera; quando chego à entrada, aceno-lhe com a mão e saio.

    —Oláááá! Noite de raparigaaaaas —digo-lhe entusiasmada.

    Vai-me saber bem. Preciso de me distrair e esquecer-me do Alan, e esta é a melhor maneira.

    —Oláááá, linda! Vamos?

    —Vamos!

    —A Marisa e a Ana já estão à nossa espera no O'Briens; dizem que é um bar onde se come muito bem, vamos lá ver...

    —Está bem... Vamos!

    A Lisa estaciona perto do bar, saímos e à porta estão a Marisa e a Ana. Cumprimentamo-nos com dois beijos cada uma e entramos. Vamos para uma mesa livre ao lado de uma das janelas do bar, e sentamo-nos.

    —O que é que contam? —pergunta a Marisa.

    —Nada de especial... Pouca coisa—responde a Lisa.

    Quero-lhes contar que conheci o Alan e o que se passou com ele. Mas lembro-me de que fui sair para o esquecer, e começar a falar dele não é uma boa ideia, por isso calo-me.

    A Marisa conheceu o Sergio, o dono de um pub no centro de Madrid, e conta-nos o quanto está apaixonada. A Ana conheceu outro rapaz, só foram para a cama uma vez, mas ela quer algo mais apesar de parecer que ele quer tudo ao contrário.

    Estamos a conversar quando o empregado aparece, pedimos as bebidas e enquanto ele as traz, olhamos para a carta, mas não nos decidimos. A Lisa conta-nos que conheceu um rapaz muito giro, amigo do irmão dela, mas pelos vistos, depois de ter passado a primeira noite com ela, não lhe voltou a dizer mais nada.

    —Mas vamos lá ver, o que é que se passa com os rapazes da nossa idade? Conhecem-te, fazem os possíveis para irem para a cama contigo e depois, já não me lembro de ti! —digo em voz alta.

    E é quando digo isto que me lembro de que o Alan nem sequer me roçou na noite em que dormimos juntos. Será que ele é diferente do resto dos homens do planeta?

    E então, sem conseguir aguentar mais, conto às minhas três melhores amigas tudo o que se passou com o Alan há só um dia. Escutam-me sem dizer nada, até que finalmente a Lisa diz:

    —Ruth, não acho que seja boa ideia estares com alguém que tem um filho, isso pode-te trazer problemas, por muito que gostes dele; eu esquecia-o se fosse a ti. Ou então, vai para a cama com ele e nunca mais o voltes a ver.

    Não lhe digo nada porque não quero isso do Alan, quero tudo dele, quero o seu corpo, a sua mente, a sua alma e o seu coração. Mas propus-me a esquecê-lo e a não complicar a minha vida, por isso, como Napoleão Bonaparte disse: «Uma retirada a tempo, é uma vitória».

    O empregado aparece com as bebidas e aponta os nossos pedidos, uma dose de presunto serrano, uma salada César e meia dose de croquetes caseiros. Tudo para partilhar.

    A Maria conta-me que a mãe dela conheceu uma mulher que estava com um homem divorciado que tinha um filho, e que essa mulher hoje encontra-se feliz com esse homem e ambos têm agora um filho fruto da sua relação. A Ana, no entanto, pensa o mesmo que a Lisa e que também o fato dele ser doze anos mais velho que eu, não melhora nada as coisas.

    Eu já não volto a falar mais do Alan, acho que devo esquecer o que se passou e ponto final! Nunca mais voltar àquele restaurante e seguir a minha vida como até agora.

    Mas sinto uma inquietação no meu coração que nem a companhia das minhas três melhores amigas faz desaparecer.

    Trazem-nos a comida. Está tudo muito bom. Duas Coca-Colas e uma Aquarius de limão depois, vamo-nos embora.

    Não quero beber álcool, já bebi que chegue na sexta à noite.

    Saímos do bar em direção ao pub onde se encontra o novo namorado da Marisa.

    Não estou com muita vontade de ir, mas a curiosidade de o conhecer leva-me lá; como é que as mulheres podem ser tão coscuvilheiras?

    O pub chama-se Giovanni, e a música que toca soa bem.

    Entramos e vejo como a minha amiga Marisa se aproxima de um morenaço de olhos castanhos, muito giro, e de lhe espetar um beijo na boca.

    Sorrio, não o consigo evitar, ao menos uma das quatro é feliz.

    Aproximamo-nos dela e a Marisa apresenta-o. Cumprimentamo-nos com dois beijos e pedimos algo para beber.

    —Eu quero uma Coca-Cola, por favor —digo ao Sergio.

    —Amigaaaa, uma Coca-Cola? Pede um copo —incita-me a Lisa.

    —Acho que na sexta só me faltou beber a água das flores; não volto a beber álcool até que me esqueça.

    A Lisa ri-se e dá-me a Coca-Cola. Estou encostada ao balcão quando ouço:

    —Olá, tens um cigarro?

    Viro-me e vejo um rapaz loiro, com um sorriso branco, perfeito, e de olhos azuis.

    —Não fumo, desculpa.

    Mas ele insiste.

    —Posso-te oferecer alguma coisa? Chamo-me Jesús.

    Penso, penso e penso, e no final respondo-lhe:

    —Não, mas muito obrigada.

    —Como é que te chamas?

    —Ruth.

    —Prazer em conhecer-te Ruth, espero que aceites o meu convite noutro dia.

    O Jesús vai-se embora e eu decido que são horas de voltar a casa. Amanhã tenho aulas e tenho que me levantar cedo. Despeço-me delas e do Sergio, que amavelmente me oferece a Coca-Cola, e a Lisa sai comigo do pub. Quando se assegura de que já entrei no táxi que me vai levar para casa, volta a ir para dentro.

    Quando chego ao apartamento, as luzes tão todas apagadas. A minha irmã e o Leonardo já devem estar deitados. Vou até ao quarto, dispo a roupa e ponho o meu pijama com flores roxas, depois vou para a casa de banho e tiro a maquilhagem.

    Ao meter-me na cama, apago a luz, agarro no Charmander e coloco-o ao meu lado, mas, ainda assim, esta noite sou incapaz de adormecer, as recordações da noite anterior não param de me passar outra e outra vez pela cabeça, consigo reproduzir perfeitamente a voz do Alan na minha cabeça. O que é que me está a acontecer? Foi só um dia e não o consigo esquecer.

    Cansada de andar às voltas, acendo outra vez a luz e encima da mesinha de cabeceira agarro no livro que ando a ler, Os pilares da Terra, de Ken Follet.

    Leio durante um bocado. Do livro gosto mais dos desenhos que da estória. Enquanto leio distraio-me, e a minha mente ocupa-se com o que o livro me conta, em vez das memórias do Alan.

    Meia hora depois, deixo o livro, apago a luz, abraço o Charmander e por fim, adormeço.

    4

    O despertador toca, e eu desligo-o de imediato.

    Detesto acordar cedo, mas tenho que ir às aulas. São sete e meia da manhã. Levanto-me da cama e vou até à cozinha preparar um café.

    Não fiz mais do que me levantar e já estou a pensar nele. Quanto tempo é que tem de passar para que me esqueça dele?

    Sento-me no sofá em frente à televisão, mas não a ligo. Nunca o faço.

    Quando acabo de tomar o café, visto-me, penteio-me, agarro na minha mochila e vou para as aulas. Está um

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