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Rosa da Fonsêca
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Rosa da Fonsêca
E-book186 páginas2 horas

Rosa da Fonsêca

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Sobre este e-book

Ex-vereadora da cidade de Fortaleza, Rosa da Fonseca teve importante participação na luta estudantil nos anos de ditadura militar no Brasil. Foi presa política e vítima de tortura antes de fundar, em 1973, o grupo Crítica Radical. Ao lado de Jorge Paiva, Célia Zanetti, Maria Luiza Fontenele e outros militantes, Rosa contribuiu para a ação e reorganização dos movimentos sociais nos últimos trinta anos de história política no Brasil.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento6 de nov. de 2017
ISBN9788575298046
Rosa da Fonsêca

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    Rosa da Fonsêca - Érico Firmo

    Copyright© 2017 by Érico Firmo


    FUNDAÇÃO DEMÒCRITO ROCHA

    Presidente | João Dummar Neto

    Diretor Geral | Marcos Tardin

    EDIÇÕES DEMÓCRITO ROCHA (EDR)

    (Marca registrada da Fundação Demócrito Rocha)

    Editora Executiva | Regina Ribeiro

    Editor Adjunto | Humberto Pinheiro

    Editor Assistente | Jáder Santana

    Editor de Design | Amaurício Cortez

    Projeto Gráfico e Ilustração | Amaurício Cortez, Dhara Sena, Karlson Gracie e Welton Travassos

    Ilustração | Karlson Gracie

    Fotos | Disponibilizadas pelo autor e Banco de Dados do O POVO

    Revisão | Joice Nunes

    Catalogação na Fonte | Kelly Pereira

    Produção de eBook | Amaurício Cortez

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


    F733r        Firmo, Érico

                          Rosa da Fonsêca / Érico Firmo. - 1. ed. – Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2017.

                          204p. : il. P&B - (Coleção Terra Bárbara)

                          ISBN: 978-85-7529-804-6

                          1. Biografia.  2. Fonsêca, Rosa da I. Título. II. Título

    CDU 929FONSECA


    sumário

    apresentacao

    introdução

    capítulo 1

    Daratutor

    A menina

    Revolucionária

    A prisão

    O debate

    capítulo 2

    Rearticulação

    Anistia

    A eleição da Maria

    Expulsão

    Administrar Fortaleza

    capítulo 3

    A descoberta

    Vereadora

    Último partido, última eleição

    Crítica Radical

    Brota a emancipação

    referências bibliográficas

    o autor

    a coleção terra bárbara

    apresentação

    A costura da narrativa sobre Rosa da Fonsêca é complexa e multifacetada como a personagem. A espinha dorsal deste livro foram as sete entrevistas ao longo de quase sete horas de conversa com ela. A maioria ocorreu na acolhedora casa nas imediações da Praça João Gentil, onde fica a sede da Crítica Radical. Porém, a mais longa entrevista foi realizada no sítio em Cascavel onde o grupo ensaia experiência de vivência compartilhada e sem a mediação do dinheiro. Por um dia, pude desfrutar do início do projeto-piloto da sociedade que julgam capaz de existir. Além das entrevistas, a produção acadêmica e bibliográfica que enfoca experiências das quais Rosa foi parte e os arquivos de jornais, principalmente O POVO, completam o tripé com base no qual a trajetória é contada.

    As notícias redigidas no calor dos acontecimentos ajudam a reconstituir detalhes perdidos nas memórias dos entrevistados e resgatam a visão do momento sobre fatos de décadas atrás. Após as conversas com Rosa, personagens de diferentes etapas da caminhada – aliados, ex-aliados, adversários, amigos, familiares – também foram entrevistados, na busca de compor panorama tão amplo quanto possível dessa trajetória controversa, de enfrentamento e radicalmente coletiva. Crucial para recompor essa trama foram os registros da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que guardam a memória de duas décadas de monitoramento intensivo de seus passos, perdurando mesmo quando a ditadura já havia terminado.

    O olhar da repressão ofereceu perspectiva singular para a compreensão da personagem e a reconstituição dos enfrentamentos que marcam sua vida.

    Érico Firmo

    fevereiro, 2017

    introdução

    Glória a todas as lutas inglórias

    Mestre-sala dos mares, Aldir Blanc e João Bosco

    A mulher mais polêmica do Ceará

    Pode escrever: o oficial de Justiça Benício de Abreu Tranca mandou prender a Rosa da Fonsêca e a capanga dela porque estavam entravando o nosso trabalho. Se elas voltarem, vão ser presas de novo. A frase foi ditada à reportagem do jornal O Povo e publicada em 21 de dezembro de 1996. A capanga era Célia Zanetti, mais costumeira companhia na linha de frente dos confrontos. A Rosa dê graças a Deus que nós somos homens pacíficos, porque se não ela teria apanhado muito, acrescentou Tranca¹.

    Rosa era vereadora e estava a dez dias do fim do único mandato público que exerceu na vida. Célia e ela discutiram com policiais militares que cumpriam ordem de despejo de sem-tetos acampados em terreno em Messejana, zona sudeste de Fortaleza. Em menos de duas semanas, Rosa encerraria sua trajetória política. Não para se aposentar, mas para recomeçá-la, desta vez fora dos partidos ou instituições.

    Aquela foi a segunda vez em que foi levada pela polícia só durante o mandato. A primeira, durante protesto na solenidade na qual Tasso Jereissati deu posse aos primeiros diretores de escola eleitos. Em ambas as ocasiões, passou algumas horas detida. Duas décadas e meia antes, entretanto, a situação foi bem mais dramática.

    Passou dois anos e dois meses encarcerada, período no qual enfrentou torturas psicológicas e físicas. Três meses antes de ser presa, em 1971, havia desafiado o ministro da Educação da ditadura militar, Jarbas Passarinho, em debate ao vivo na televisão.

    Voltou a ser detida na década seguinte, ao tentar impedir o despejo de comunidade que ocupava terreno no Quintino Cunha, quando Maria Luiza Fontenele era prefeita. E, novamente, em 1989, durante greve dos metalúrgicos na Tecnorte Esmaltec, acusada de incitar a invasão da fábrica.

    Duas décadas mais tarde, em 19 de novembro de 2009, a foto principal da Folha de S.Paulo mostrou Rosa caída na entrada do Supremo Tribunal Federal (STF). Estava em julgamento o pedido de extradição do italiano Cesare Battisti. Ao protestar pela libertação do ativista, foi arrastada do local pelos seguranças.

    Difícil encontrar outra pessoa na história do Ceará que tenha feito tanto barulho com tão escassa atuação institucional. Não ocupou nenhum cargo público, mesmo quando a prefeita era a amiga e companheira de militância Maria Luiza. Afora os quatro anos como vereadora, toda sua hitória foi no meio sindical e em movimentos sociais.

    Mesmo o mandato legislativo não foi convencional. E não só por causa das detenções. Abandonou a própria cerimônia de posse quando tomou conhecimento de ameaça de despejo de comunidade no bairro Pirambu, zona oeste de Fortaleza. Por ter ido ao local do conflito, não aparece na foto oficial da Câmara que registrou o início da legislatura.

    Contar a história de Rosa é percorrer a trajetória da esquerda no Ceará e no Brasil nas últimas cinco décadas. Participou da primeira greve quando tinha entre 17 e 18 anos, como professora em Quixadá. Envolveu-se em movimentos clandestinos contra a ditadura e recusou a indenização oferecida décadas depois pelo Estado. Teve papel destacado na campanha pela anistia e participou da reorganização dos partidos durante a reabertura. Exerceu papel de protagonismo na fundação da Central Única dos Trabalhadores (CUT), da qual foi a segunda presidente no Ceará. Atuou na linha de frente nos movimentos de mulheres, na luta por moradia, terra, direitos humanos, contra a fome e a carestia.

    Foi personagem-chave, mesmo sem cargo, na primeira experiência de governo da esquerda pós-ditadura. Coordenou o primeiro grande ato fora Collor realizado no Brasil. O protesto fez o então presidente dizer, em Juazeiro do Norte, que tinha aquilo roxo.

    Irritou os homens mais poderosos do estado nas respectivas épocas: Tasso Jereissati, Ciro Gomes e Juraci Magalhães. Foi descrita como a mulher mais polêmica do Ceará.² Ela é o calo do governador do Estado, segundo o jornal O POVO em 10 de janeiro de 1988. A simples alusão ao seu nome é capaz de desconcertar o governador Tasso Jereissati.

    O tom usado pelo oficial de Justiça que mandou prender Rosa, citado no início, é sintomático dos ódios que ela despertava nos responsáveis pela ordem pública. O que fizemos foi tirar um entulho do caminho. Prender Rosa da Fonsêca é questão de limpeza pública. Não a prendi antes porque não queria sujar minhas mãos, disse o oficial Benício Tranca.³

    Rosa subverte padrões em todos os campos da vida. Largou o noivo quando viu que não se enquadraria numa pacata vida interiorana. Decidiu se mudar para a capital, fez faculdade, engajou-se no movimento estudantil. Fez da mobilização social a sua vida.

    Acredita que os amores que passaram dificilmente entenderiam que ela não caberia em estruturas fechadas como o matrimônio. Antes de chegar nessa hora, eu voava. Fugia (risos), conta. Desenvolvi quase uma defesa a qualquer coisa que queira me prender, me dominar, me submeter.

    Ela buscou ir ao extremo em praticamente tudo o que fez. Em permanente transformação — não revolução —, pois, na astronomia, revolução significa dar uma grande volta para, no fim, retornar ao mesmo lugar.

    Uma vida intensamente política e que teve nos sindicatos o palco preferido como forma de construção da revolução. Ao final, Rosa rompeu com os sindicatos, com a política e com a ideia de revolução. Hoje, aposta numa experiência nova, talvez sem paralelo no mundo e, certamente, pouco compreendida.

    Esta é a história de muitas vidas entrelaçadas. De muitas pessoas, muitas parcerias e confrontos. De grandes amizades e inimigos viscerais. Trajetória vivida

    sempre no coletivo. Radical talvez seja a melhor maneira de defini-la, pois levou a luta por seus ideais às mais extremas consequências.

    capítulo|1

    1. Daratutor

    Rosa da Fonsêca foi presa pela primeira vez em 30 de setembro de 1971, enquadrada na Lei de Segurança Nacional.⁵ Em princípio, a estudante de 22 anos foi mantida na sede da Polícia Federal, local que atualmente abriga a Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor), no Centro. Demorariam dois anos e dois meses até a libertarem.

    Rara distração permitida no cárcere eram as palavras cruzadas levadas pelas irmãs. Rosa as devolvia quando preenchidas. Desde criança, havia brincadeira em família de falar as palavras ao contrário, com sílabas de trás para frente. Em uma das palavras cruzadas, escreveu: DARATUTOR. Em ordem inversa: torturada.

    As irmãs entenderam a mensagem. Levaram o recado à mãe. Maria Rocilda Ferreira da Fonsêca exigiu ver a filha. Confrontou o diretor da Polícia Federal, o temido delegado Laudelino Coelho.

    Havia um policial federal conhecido da família. Pinheirão, como o chamavam, era amigo de José Nery Farias Grangeiro — casado com Lúcia Helena, irmã de Rosa. O cunhado pediu a ele que arranjasse um jeito de vê-la, mesmo que só a distância. Contrariando ordens, Pinheirão levou Rosa até uma antesala e abriu uma janelinha por onde Rocilda pôde ver a filha. Aliviou-se ao confirmar que estava viva. Mas também percebeu os hematomas, as marcas da tortura. Pôs a boca no mundo.

    Foi à Igreja de Fátima, na avenida 13 de Maio, e pediu espaço ao padre para denunciar a situação durante a missa. Escreveu cartas diversas. Para a escritora Rachel de Queiroz, para conhecidos no Judiciário. Ao próprio presidente Emílio Garrastazu Médici.⁸ Até para o papa Paulo VI.⁹ Pádua Barroso, notável advogado que atuou na defesa dos perseguidos políticos, dizia que Rocilda era a mais braba entre os familiares dos presos.

    Mesmo sem permissão para falar com a filha, ia diariamente à sede da Polícia Federal. Em certa ocasião, o delegado perguntou sobre outro filho dela. Antes de Rosa, Manoel Fonsêca já integrava organizações de esquerda contra a ditadura. Quando a irmã foi presa, ele estava na clandestinidade, com a polícia em seu encalço. O diretor supunha que a mãe soubesse o paradeiro e tentou convencê-la a delatá-lo. Porque aí a gente mandava buscar com toda segurança, era muito mais tranquilo, argumentou.

    Rosa da Fonsêca na prisão, em 1971, durante a ditadura militar

    Rocilda respondeu: "Doutor Laudelino, eu não sei onde o Fonsêca está, não. Mas, se eu soubesse, eu não lhe diria. Para o senhor fazer com ele o que está fazendo com a

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