Andar a Pé
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Sobre este e-book
É como se se transpusesse os troncos das árvores derrubadas das florestas primitivas. Esperança e futuro não estão nos relvados ou nos campos cultivados, nem nas vilas ou cidades, mas nos pântanos impermeáveis e instáveis. É preciso caminhar e prestar atenção, não é preciso ir muito longe. Afinal, o essencial da condição humana reside na simplicidade e não no acumular persistente de coisas.
Henry David Thoreau
Henry David Thoreau (1817-1862), é considerado por muitos como um dos maiores escritores norte-americanos. Ensaísta, poeta, naturalista, investigador, historiador, filósofo e transcendentalista, ficou conhecido, entre outras, pela obra Desobediência Civil, na qual defende a desobediência individual e pacífica como forma de oposição legítima contra as injustas. Esta sua filosofia influenciou o pensamento político e as ações de filósofos, ativistas e diversas personalidades que viriam a lutar por muitos dos direitos que hoje tomamos como adquiridos, entre os quais Gandhi, Tolstói ou Martin Luther King, Jr.
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Andar a Pé - Henry David Thoreau
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É verdade, hoje em dia não somos mais do que uma pálida versão dos cruzados, e a esta fraqueza nem os caminhantes intrépidos escapam, pois não se comprometem com proezas intermináveis.
As nossas expedições são apenas passeios que terminam à noite no conforto da lareira da qual partimos. Metade da caminhada não é mais do que percorrer lugares já conhecidos.
Devíamos ir mais longe no mais simples dos passeios, e talvez, no espírito da aventura infinita, nunca mais regressar – preparados para enviar de volta aos nossos desolados reinos os nossos corações embalsamados, quais singelas relíquias. Se estão dispostos a deixar pai e mãe, irmão e irmã, mulher e filho e amigos, e não voltar a vê-los; se pagaram as vossas dívidas, e escreveram o vosso testamento, trataram dos vossos assuntos, e são homens livres; então estão preparados para uma caminhada.
A vida reside no lado selvagem.
O mais vivo é o mais selvagem.
O que ainda não se subjugou ao homem, a terra retempera-o. Aquele que avança em frente incessantemente, nunca descansando das tarefas, se desenvolve depressa e exige infinitamente à vida, irá sempre encontrar-se num novo país ou no meio selvagem, rodeado da matéria-prima da vida. É como se transpusesse os troncos das árvores derrubadas das florestas primitivas.
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© 2021
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Titulo: Andar a Pé
Título original: Walking
Autor: Henry David Thoreau
Tradução: Raquel Ochoa
Revisão: Silvina de Sousa
Paginação: Maria João Gomes
Capa e ilustrações: Vera Braga / Alma dos Livros
Impressão e acabamento: Multitipo — Artes Gráficas, Lda.
ISBN: 978-989-9054-10-3
1.ª edição em papel: Abril de 2021
Todos os direitos reservados.
Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada
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devidamente previstas na lei.
A presente edição não segue a grafia
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Prefácio
Nos meus passeios, depois de traduzir este livro, comecei a atravessar baldios, numa sede de terrenos sem cimento, estrada ou calçada, num inegável apelo ao prazer de trespassar, e assim comecei a encontrar tesouros, por exemplo, trilhos escondidos debaixo dos pinheiros centenários, trilhos abertos porque alguém ali passeia, repetidamente, mas nunca se vêem — os caminhantes são uma raça discreta e silenciosa.
Na viagem, não importa aonde se chega, mas sim o partir, é um dito conhecido, ou outra forma de dizer que nunca podemos dar-nos ao luxo de não viver o tempo presente, a cada segundo, a cada metro palmilhado, porque cada um dos nossos momentos debaixo do sol é o maior erário, se conseguimos
ESTAR ALI
...
Quem diria que a liberdade é a realidade e que as leis e os compromissos são a ficção? Quem diria, nesta vida de corrida e competição, que os nossos músculos em andamento se desenvencilham das correntes em que cada um se deixou enredar por não exercer o seu lado selvagem? Quem e por que razão se deixou apartar tanto da natureza ao ponto de já não se considerar um torrão dela?
Sempre soube que caminhar me trazia lucidez, aumentava a minha ânsia de conhecimento e acalmava a minha busca furiosa para um sentido — um —, ao de leve que fosse, por o absurdo cósmico da vida. Mas foi Thoreau, neste seu radical panfleto, quem me conseguiu explicar a lógica entre a caminhada e o ser livre.
«Há algo de servil no hábito de invocar uma lei a que devemos obedecer. (...) Vivam em liberdade, filhos da névoa — no que diz respeito ao conhecimento, nós somos todos filhos da bruma. O ser humano que escolhe viver em