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Encarnação De Jesus Em Carne E Osso
Encarnação De Jesus Em Carne E Osso
Encarnação De Jesus Em Carne E Osso
E-book428 páginas5 horas

Encarnação De Jesus Em Carne E Osso

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Sobre este e-book

Meu objetivo com este livro sobre “Encarnação de Jesus em Carne e Osso”, propõe-se resgatar a dimensão corporal no cristianismo, olhando o corpo na perspectiva da unidade antropológica, considerando que a teologia cristã tem uma dinâmica histórica e encarnatória. Centrado no mistério da encarnação e ressurreição, o cristianismo, desde sua origem, nunca desprezou o corpo, incluiu-o: um Deus que se fez carne, que ressuscita e promete a ressurreição dos corpos. Pretende-se, ainda, provar isso, voltando-se às raízes do cristianismo, às suas fontes, este estudo vai considerar as influências históricas, recorrendo-se à tradição mística judaica, exposta no Antigo Testamento e retomada no Novo Testamento, onde o corpo, objeto deste estudo, tem um papel decisivo na salvação e na cura do ser humano. Apresentamos num primeiro momento, a “carne” como categoria chave da mística Joanina. O evangelho espiritual, como é comumente conhecido, apresenta, em primeiro plano, a “carne” de Jesus como acesso único ao seu Espírito. Não há, portanto, como acessar a mais alta realidade espiritual ou mística fora do corpo. O Espírito é glorificado na Carne, reforçando a mútua imbricação entre corpo e espírito, característica da antropologia teológica cristã, pois a salvação não se refere unicamente à alma, mas ao Homem, em toda sua dimensão corporal. O corpo é o eixo da salvação. Discutir-se-á essa unidade, com a visão fragmentada do corpo de hoje, o corpo dualista de concepção grega, juntamente com outras influências negativas recebidas durante toda sua trajetória histórica, nestes 2000 anos. Resgatar a importância da corporeidade na religião cristã significa uma grande mudança de paradigma, com possibilidades de grandes mudanças comportamentais para o cristão, onde o corpo deixa de ter uma função secundária e desprezível, mas torna-se uma realidade humana, divinizada por Jesus Cristo, manifestada concretamente e amorosamente. Resgatar o corpo no cristianismo é destacar o Jesus histórico, aquele que sabe acolher, servir e curar: atos profundamente humanos, afetivos e corporais e que convida o cristão a contemplá-Lo para imitá-Lo. O corpo será, aqui, estudado enquanto lugar de transformação e de conversão, que busca valores de dimensões sagradas e eternas. Serão citadas várias práticas corporais cristãs que ajudam o homem a viver o processo de transformação, como: a respiração, a ascese, a oração, a meditação, a contemplação, o silêncio, a liturgia, a música, o canto, a dança. O processo da conversão do homem é a ressurreição “aqui-agora”, é transformar o “homem velho”, orgulhoso e egoísta, no “homem novo”, aberto para o outro, ressurgido da morte para vida. É ressuscitar, hoje, em Cristo, com Cristo, no Corpo de Cristo, pois o mistério do homem só se torna claro verdadeiramente no mistério do verbo encarnado. Assim, a partir do Corpo “Templo do Espírito” no batismo e nutrido pelo Corpo do Cristo na eucaristia, o cristão viverá o Corpo Transfigurado, o Corpo Glorioso, hoje, e em outros tempos. Esta história é uma história de Deus com Jesus: o rosto humano de Deus e de Jesus com o homem: o rosto divino do ser humano: eis a corporeidade no mistério da encarnação e ressurreição. O título nos remete a uma conhecida expressão popular para dizer a presença inteira de alguém em determinado lugar. A expressão pode, mas muito raramente, referir à semelhança extrema que uma pessoa tem com a outra. Seja num ou noutro sentido, este dito popular pode ser aplicado perfeitamente ao que João quer dizer, ou melhor, testemunhar de Jesus, através do seu evangelho. Ele é Deus em “carne e osso”! Ou seja, ele é plenamente Deus. Desta forma exclui qualquer engano: Jesus é Deus mesmo, o “logos” feito carne. Procuramos utilizar como metodologia a espiritualidade inaciana, contemplativa na ação, segundo o livro dos exercícios espirituais de santo inácio de loyola para realizar a experiência de encontro pessoal com jesus, no exercício espiritual do dia-a-dia. O autor saluar a
IdiomaPortuguês
Data de lançamento17 de jul. de 2022
Encarnação De Jesus Em Carne E Osso

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    Encarnação De Jesus Em Carne E Osso - Saluar Antonio Magni

    1

    SUMÁRIO PG

    INTRODUÇÃO 5

    CAPÍTULO 1 FENOMENOLOGIA DA REVELAÇÃO DO

    VERBO DE DEUS 12

    CAPÍTULO 2 0 CORPO NO MISTÉRIO DA

    ENCARNAÇÃO E RESSURREIÇÃO 25

    CAPÍTULO 3 A VISÃO TEOLÓGICO-DOGMÁTICA DA FÉ NA CRIAÇÃO UNIDA À VISÃO INACIANA 55

    CAPÍTULO 4 A ENCARNAÇÃO DE JESUS SEGUNDO

    SANTO INÁCIO 97

    CAPÍTULO 5 JESUS: O LUGAR TEOLÓGICO DA GRAÇA ENCARNADO NA CARNE 126

    CAPÍTULO 6 CONTEMPLAR JESUS DE PERTO 144

    CAPÍTULO 7 A GRAÇA NA ENCARNAÇÃO, PAIXÃO E

    MORTE E NA RESSURREIÇÃO DE CRISTO 198

    CAPÍTULO 8 A VONTADE DE DEUS NOSSA ELEIÇÃO

    CONFIRMADA NA PAIXÃO DE CRISTO 213

    CAPÍTULO 9 A VONTADE DE DEUS É QUE

    RESSUSCITEMOS COM CRISTO 237

    CAPÍTULO 11 CONTEMPLANDO O SENHOR QUE

    NOS ACOMPANHOU EM CADA ETAPA DESTE

    RETIRO E ESTUDO 256

    EPÍLOGO 261

    BIBLIOGRAFIA 281

    LIVROS PUBLICADOS PELO AUTOR NO CLUBE DOS

    AUTORES 285

    2

    AGRADECIMENTO

    Agradeço de maneira toda especial à minha esposa Teka, pelo incentivo e toda retaguarda necessária para que eu pudesse ter tempo, paz e tranquilidade para contemplar e meditar os assuntos abordados neste livro. Agradeço também aos Padres: Adroaldo, orientador do CEI, que me orientou nos exercícios espirituais, e me ajudou a construir toda experiência dos retiros, contemplações, meditações e estudos, obtidos durante os Exercícios Espirituais em etapas, que realizamos eu e minha querida esposa, em Itaici. Ao padre Chiquinho, Vitor e em especial Geraldo de almeida Sampaio, que ajudaram na minha formação religiosa e apostólica no movimento de Cursilhos de Cristandade que realizei. À Márcia, minha acompanhante nos exercícios, pelas suas inspiradas orientações, à Irmã Fátima que orientou nosso grupo de oração e discernimento. E a todo o pessoal do CEI, Centro de Espiritualidade Inaciana de Itaici, que me proporcionaram todo conhecimento intelectual, e especialmente afetivo, da metodologia Inaciana. E onde tive a oportunidade de realizar uma especialização sobre orientação e acompanhamento espiritual, coordenado pela FAGE de Belo Horizonte.

    Oh! Verdade! Oh! Beleza infinitamente amável de Deus! Quão tarde vos amei! Quão tarde vos conheci! e quão infeliz foi o tempo em que não vos amei nem vos conheci! Meus delitos me têm envilecido; minhas culpas me têm afetado; minhas iniquidades têm sobrepujado, como as ondas do mar, por cima de minha cabeça. Quem me dera Deus meu, um amor infinito para amar-vos, e uma dor infinita para arrepender-me do tempo em que não vos ame como devia! Mas, enfim, vos amo e vos conheço, Bem sumo e Verdade suma, e com a luz que Vós me dais me conheço e me aborreço, pois eu tenho sido o princípio e a causa de todos os meus males. Que eu Vós conheça, Deus meu, de modo que vos ame e não vos perda! Conheças a mim, de sorte que consiga arrepender-me e não me busque em coisa alguma minha felicidade a não ser em Vós, Senhor meu! (Santo Agostinho)

    Se queres chegar ao conhecimento de Deus, trata de antes te conheceres a ti mesmo. (Abade Evágrio Pôntico).

    Então, os seus olhos abriram-se e reconheceram-no (Jo 24, 31).

    3

    INTRODUÇÃO

    Quero iniciar este livro sobre Encarnação de Jesus em Carne e Osso, propõe-se resgatar a dimensão corporal no cristianismo, olhando o corpo na perspectiva da unidade antropológica, considerando que a teologia cristã tem uma dinâmica histórica e encarnatória. Centrado no mistério da encarnação e ressurreição, o cristianismo, desde sua origem, nunca desprezou o corpo, incluiu-o: um Deus que se fez carne, que ressuscita e promete a ressurreição dos corpos. Pretende-se, ainda, provar isso, voltando-se às raízes do cristianismo, às suas fontes, este estudo vai considerar as influências históricas, recorrendo-se à tradição mística judaica, exposta no Antigo Testamento e retomada no Novo Testamento, onde o corpo, objeto deste estudo, tem um papel decisivo na salvação e na cura do ser humano.

    Apresentamos num primeiro momento, a carne como categoria chave da mística Joanina. O evangelho espiritual, como é comumente conhecido, apresenta, em primeiro plano, a carne de Jesus como acesso único ao seu Espírito. Não há, portanto, como acessar a mais alta realidade espiritual ou mística fora do corpo. O

    Espírito é glorificado na Carne, reforçando a mútua imbricação entre corpo e espírito, característica da antropologia teológica cristã, pois a salvação não se refere unicamente à alma, mas ao Homem, em toda sua dimensão corporal. O corpo é o eixo da salvação. Discutir-se-á essa unidade, com a visão fragmentada do corpo de hoje, o corpo dualista de concepção grega, juntamente com outras influências negativas recebidas durante toda sua trajetória histórica, nestes 2000 anos. Resgatar a importância da corporeidade na religião cristã significa uma grande mudança de paradigma, com possibilidades de grandes mudanças comportamentais para o cristão, onde o corpo deixa de ter uma função secundária e desprezível, mas torna-se uma realidade humana, divinizada por Jesus Cristo, manifestada concretamente e amorosamente. Resgatar o corpo no cristianismo é destacar o Jesus histórico, aquele que sabe acolher, servir e curar: atos profundamente humanos, afetivos e corporais e que convida o cristão a contemplá-Lo para imitá-Lo. O corpo será, aqui, estudado enquanto lugar de transformação e de conversão, que busca 4

    valores de dimensões sagradas e eternas. Serão citadas várias práticas corporais cristãs que ajudam o homem a viver o processo de transformação, como: a respiração, a ascese, a oração, a meditação, a contemplação, o silêncio, a liturgia, a música, o canto, a dança.

    O processo da conversão do homem é a ressurreição aqui-agora, é transformar o homem velho, orgulhoso e egoísta, no

    homem novo, aberto para o outro, ressurgido da morte para vida. É ressuscitar, hoje, em Cristo, com Cristo, no Corpo de Cristo, pois o mistério do homem só se torna claro verdadeiramente no mistério do verbo encarnado. Assim, a partir do Corpo Templo do Espírito no batismo e nutrido pelo Corpo do Cristo na eucaristia, o cristão viverá o Corpo Transfigurado, o Corpo Glorioso, hoje, e em outros tempos. Esta história é uma história de Deus com Jesus: o rosto humano de Deus e de Jesus com o homem: o rosto divino do ser humano: eis a corporeidade no mistério da encarnação e ressurreição.

    O título nos remete a uma conhecida expressão popular para dizer a presença inteira de alguém em determinado lugar. A expressão pode, mas muito raramente, referir à semelhança extrema que uma pessoa tem com a outra. Seja num ou noutro sentido, este dito popular pode ser aplicado perfeitamente ao que João quer dizer, ou melhor, testemunhar de Jesus, através do seu evangelho. Ele é Deus em carne e osso! Ou seja, ele é plenamente Deus. Desta forma exclui qualquer engano: Jesus é Deus mesmo, o logos feito carne.

    O Espírito é glorificado na Carne, reforçando a mútua imbricação entre corpo e espírito, característica da antropologia teológica cristã. O corpo, hoje, se encontra sob o bombardeio das mais diversas técnicas de potencialização, promovido pela tecnociência. Estas intervenções são possíveis na medida em que o corpo é esvaziado de espírito. É coisificado. Segundo a antropologia teológica Joanina, iludem-se aqueles que julgam intervir no corpo sem alterar o espírito. Deste ponto é que saem as delicadas questões éticas, alvos de intensos debates e controvérsias.

    Com intenção de provocar a reflexão concluiremos com questões do tipo: haveria como pensar teologicamente e espiritualmente o 5

    corpo no sentido técnico-científico? O corpo técnico é um corpo vazio, ou habitado por outra forma de compreender a dimensão espiritual? Como a antropologia teológica, de posse das indicações Joaninas, poderá dialogar (ou não!) com uma antropologia advinda das constantes, e desejada, mutações do corpo pela técnica?

    Ainda é muito comum entre nós a dicotomia cartesiana entre corpo e alma, res extensa e res cogitans. A res cogitans é a substância pensante. É próprio de sua natureza obter um conhecimento das coisas, transcender a si próprio e ser capaz de verdade. A res extensa é substância extensa em comprimento, largura e profundidade. Sua natureza consiste apenas em que é substância que tem extensão. O que nos remete à cisão entre espiritual e corporal, entre santo e mundano. Neste ponto parece paradoxal que evangelho chamado espiritual, representado pela águia com sua visão aguda e profunda e asas que a levam aos picos mais elevados, tenha centrado seu discurso sobre a carne,

    colada ao chão e ao mundo. A carne, surpreendentemente, é presença do espírito, desta forma o evangelho espiritual justifica sua fama, não por elevar o leitor às alturas místicas, mas por trazer a mais profunda mística para o interior daquilo que é mais humano, a carne. O contraste aparece logo em Jo 1,1-14, onde se anuncia que o verbo se fez carne, mas não tem sua origem na carne, marcando uma diferença qualitativa entre a carne humana e a

    carne de Deus, sem que uma negue ou despreze a outra.

    A carne humana é física, é cultural, é histórica, é política, é existencial. Por este motivo o primeiro conceito correlato ao de carne é mundo. Toda carne tem mundo, uma vez que Deus e seu Filho já habitavam o mundo desde o princípio (Jo 1, 9-10). Em Jesus, Deus inaugura uma forma totalmente única de habitar o mundo: através da carne que é forma inédita de relação com o mundo e também com aquela parte predileta do mundo, presente em Jo1,11 veio para o que é seu, e os seus não o receberam. A rejeição que Jesus sofreu, do mundo e dos seus, não consiste numa resistência a Deus simplesmente, mas o Deus na carne que armou sua tenda no quintal da humanidade. É a partir da debilidade da carne que o Logos estabelece a sua nova condição, que em nada se opõe à sua condição primeira, descrita em Jo 1,1

    6

    de estar junto de Deus: descido do céu para a vida do mundo (Jo 6,51). A afirmação da preexistência da Palavra não diminui, mas reforça o teor revelador de sua existência humana, de sua práxis

    histórica. Por ser pré-existente é que ela também pode ser eternamente existente. Notemos que partindo de polaridades distintas a tecnociência e o relato Joanino promovem o encontro entre a palavra e carne. Na primeira a carne se torna palavra, e na segunda é a Palavra que se faz carne. Nas duas é a Palavra que glorifica a carne. Uma é a palavra de Deus, outra é a palavra da técnica. Esta polaridade invertida de pressupostos pode ser um bom ponto de partida para a edificação de uma teologia do corpo, associando os dados da Sagrada Escritura com os últimos dados da ciência. Tarefa instigante para uma antropologia teológica que poderia se perguntar: haveria como pensar teologicamente e espiritualmente o corpo no sentido técnico-científico? O corpo técnico é um corpo vazio, ou habitado por outra forma de compreender a dimensão espiritual? Como a antropologia teológica, de posse das indicações Joaninas, poderá dialogar (ou não!) com uma antropologia advinda das constantes, e desejadas, mutações do corpo pela técnica? O corpo transformado,

    siliconizado, é testemunha de que, de qual espírito?

    Poderíamos ainda pensar, teologicamente, a relação do corpo dos atletas, com as Glórias das medalhas? O medalhismo poderia continuar sendo o espírito que anima o esporte? Quanto esforço, disciplina, intervenções cirúrgicas, entorses, que submetem o corpo ao ideal de ser o melhor de todos, e não o melhor que puder.

    Tal como a cruz, a medalha tem seu peso e seu preço: vale a pena pagá-lo? Isto para não nos alongarmos nas enormes somas de dinheiro, que comparam e vendem os corpos e suas habilidades no futebol e outros esportes milionários. Estas são questões que aqui só podemos anunciar ou convidar, pois, no momento, está além dos limites de nossa reflexão e deste estudo. Em todo caso João nos deixa a lição verdadeira: qualquer intervenção no corpo, não deixa incólume o espírito.

    Há uma relação entre a fenomenologia da carne e a encarnação cristã. A carne não é somente o princípio da 7

    constituição do corpo objetivo, há nela sua substância invisível. A encarnação em sentido cristão difere tanto da compreensão grega quanto da judaica. A encarnação do verbo significa sua vinda em uma carne viva, carne que tem sua realidade e suas propriedades da vida. A proposição de João E o Verbo se fez carne (Jó 1, 14) é incompatível com a filosofia grega. A filosofia ocidental, desde suas origens gregas, reconhece como único modo de manifestação o mundo visível, ignorando a interioridade invisível da vida e seu modo originário de revelação. A fenomenologia da vida permite abordar a questão da carne e do corpo com pressuposições fenomenológicas novas. Fenomenologia é uma metodologia ou um modo de pensamento filosófico que retoma a importância dos fenômenos, os quais devem ser estudados em si mesmos - tudo que podemos saber do mundo e de nós próprios resume-se a esses fenômenos, a esses objetos fenomenais que o ser experimenta em sua finitude.

    Entende-se o homem na graça de Cristo, sendo que, a partir disto, se entende a dimensão do ser humano em sua relação com Deus, pois, esse homem foi criado à imagem de Deus para chegar a realizar a perfeita semelhança, sabendo que, será à luz do mistério da Encarnação que se compreende a divinização humana.

    Neste livro trilhamos o caminho de entendimento da filiação humana com Deus a partir de Jesus Cristo, o Verbo encarnado.

    Um dia destes um amigo me perguntou porque eu estava escrevendo, o que havia me motivado a escrever. Na hora fiquei um pouco chateado pela pergunta, mas logo veio a resposta em meu coração: estou escrevendo para levar os outros a não errarem como eu errei até hoje!

    Minha vida profissional na Força Aérea e na indústria, como um profissional de engenharia de manutenção e segurança de voo e de segurança no trabalho, me fizeram aprender uma regra: existem duas maneiras de aprender: errando ou vendo os outros errarem, isso é aprendendo com o erro dos outros. Quando acontece um problema, um desacerto pessoal ou familiar, ou mesmo um acidente, a resposta que muitas vezes escutamos, ou até damos é: o que eu tenho com isso! É amigo, talvez esta seja sua resposta. Por causa de uma resposta como esta, já aconteceram muitos problemas e acidentes, 8

    muitas vidas foram perdidas e com certeza enormes foram os prejuízos. As pessoas ainda reagem ao termo segurança, associando-o com palavras de sentido negativista ou restritivo, tais como: não entre n’água você pode afogar-se, pare, fique quieto, não faça isso, é muito perigoso, e tantas outras.

    Todas essas imposições são limitações que se tornam inaceitáveis por serem contrárias ao natural desejo do homem, causando traumas ou fortes reações de oposição. Mas veja bem amigo, há sempre uma perspectiva adequada para realizar-se uma tarefa ou tomarmos uma atitude de forma mais segura e eficiente.

    Podemos correr, subir e nadar, falar e agir sob condições de menor riscos, traumas, atitudes ou perigos. A conscientização de como somos limitados, de características, tipos de personalidade e temperamentos diferentes, certamente ajudará a que você tome decisões seguras e sensatas, evitando, ou ajudando a evitar problemas, situações difíceis, tanto pessoais, como familiares e até acidentes. A resposta que damos vontade de Deus mostra o quanto somos responsáveis por tudo que acontece à nossa volta. Através dos nossos pensamentos, emoções e palavras, criamos situações ao longo de nossas vidas que poderão ser destrutivas ou construtivas.

    Todos os acontecimentos em nossas vidas até o momento em que nos encontramos foram criados por nossos pensamentos e crenças que tivemos para fazer a vontade de Deus, em cada momento de nossa vida, pensamentos estes que usamos ontem, na semana passada, no mês passado, no ano passado e durante toda nossa vida. O que passou não pode ser modificado, mas, o importante é o que estamos escolhendo pensar agora, qual a resposta estou dando agora, porque o pensamento sim pode ser modificado, pois todos os estados mentais negativos atuam como obstáculos à nossa vontade de fazer a vontade de Deus e sermos felizes.

    Temos aprendido que devemos usar a força das nossas emoções para destruir os maus sentimentos que habitam em nossa alma e impedem que nossa vida, e a de todos aqueles que dela participam desfrutem de alegria, paz e amor. Para conseguirmos dominar esses inimigos internos, temos descoberto na oração, no exercício espiritual diário a força de vontade e perseverança necessários para transformarmos para melhor, nossas vidas e a vida 9

    daqueles com os quais convivemos. É destes exercícios e orações que iremos desenvolver nossos estudos e reflexões Esse é o grande motivo pelo qual escrevemos este livro: que minha experiência e a experiência de minha esposa, nossos erros e acertos, ajudem a cada um de vocês leitores amigos, a buscarem uma vida feliz e cheia de sentido na vocação que Deus o tem chamado, e que a cura interior seja alcançada através do conhecimento de como se encontrar com Deus através da oração e do discernimento diário. Para que isto aconteça teremos estudos, exercícios, testes, oração, meditações e contemplações, na busca de nos conformarmos à pessoa de Jesus Cristo, nosso Mestre e Senhor. E assim sermos bons cristãos e discípulos missionários de Jesus Cristo realizando a vontade de Deus em cada momento de nossa vida!

    No próximo capítulo iremos mostrar que a Fenomenologia é o estudo de um conjunto de fenômenos e como se manifestam, seja através do tempo ou do espaço. É uma matéria que consiste em estudar a essência das coisas e como são percebidas no mundo.

    A palavra fenomenologia surgiu a partir do grego phainesthai, que significa aquilo que se apresenta ou que se mostra, e logos é um sufixo que quer dizer explicação ou

    estudo. Tudo isto será estudado no próximo tópico.

    10

    CAPÍTULO 1 FENOMENOLOGIA DA REVELAÇÃO DO

    VERBO DE DEUS

    Vamos iniciar em saber o que é Fenomenologia: Fenomenologia é o estudo de um conjunto de fenômenos e como se manifestam, seja através do tempo ou do espaço. É uma matéria que consiste em estudar a essência das coisas e como são percebidas no mundo. A palavra fenomenologia surgiu a partir do grego phainesthai, que significa aquilo que se apresenta ou que se mostra, e logos é um sufixo que quer dizer explicação ou

    estudo.

    Na psicologia, a fenomenologia baseia-se em um método que busca entender a vivência dos pacientes no mundo em que vivem, além de compreender como esses pacientes percebem o mundo a sua volta. O conceito da fenomenologia foi criado pelo filósofo Edmund Husserl (1859-1938), que também trabalhava como matemático, cientista, pesquisador e professor das faculdades de Göttingen e Freiburg im Breisgau, na Alemanha.

    De acordo com a fenomenologia de Husserl, todos os fenômenos do mundo devem ser pensados a partir das percepções mentais de cada ser humano. O filósofo queria que a filosofia pudesse ter as bases e condições de uma ciência rigorosa. No entanto, um método científico é determinado por ser uma

    verdade provisória, ou seja, algo que será considerado como verdadeiro até que um fato novo mostre o contrário, criando uma nova realidade.

    Para que a filosofia não fosse considerada uma verdade provisória, Husserl sugere que a fenomenologia devia referir-se apenas às coisas como estão na experiência de consciência, e que devem ser estudadas por suas essências, eliminando os pressupostos do mundo real e empírico de um objeto da ciência.

    Para exemplificar o pensamento da fenomenologia de husserl, imagina-se um quadrado, como forma geométrica. Esse quadrado, não importa o tamanho que tenha, seja grande ou pequeno, sempre será um quadrado em essência na mente de um indivíduo.

    A fenomenologia é um estudo que fundamenta o conhecimento nos fenômenos da consciência. Nessa perspectiva, todo conhecimento se dá a partir de como a consciência interpreta 11

    os fenômenos. Esse método foi desenvolvido inicialmente por Edmund Husserl (1859-1938) e, desde então, tem muitos adeptos na Filosofia e em diversas áreas do conhecimento. Para ele, o mundo só pode ser compreendido a partir da forma como se manifesta, ou seja, como aparece para a consciência humana. Não há um mundo em si e nem uma consciência em si. A consciência é responsável por dar sentido às coisas.

    Na filosofia, um fenômeno designa, simplesmente, a forma como uma coisa aparece, ou manifesta-se, para o sujeito. Ou seja, trata-se da aparência das coisas. Sendo assim, todo o conhecimento que tenha como ponto de partida os fenômenos das coisas podem ser compreendidos como fenomenológicos. Com isso, Husserl afirma o protagonismo do sujeito perante o objeto, já que cabe à consciência atribuir sentido ao objeto.

    Uma importante contribuição do autor é a ideia de que a consciência é sempre intencional, é sempre consciência de algo.

    Esse pensamento contraria a tradição, que entendia a consciência como possuidora de uma existência independente. Na fenomenologia de Husserl, os fenômenos são a manifestação da própria consciência, por isso todo o conhecimento é também conhecimento de si. Sujeito e objeto acabam por se tornar uma e a mesma coisa. O que é um Fenômeno?

    O senso comum compreende um fenômeno como algo extraordinário ou fora do habitual. Já, a concepção do termo no vocabulário da filosofia representa, pura e simplesmente, como uma coisa aparece ou se manifesta. Fenômeno tem origem na palavra grega phainomenon, que significa aquilo que aparece,

    observável. Portanto, fenômeno é tudo aquilo que possui uma aparição, que pode ser observável de algum modo.

    Tradicionalmente, aparência é entendida como a forma como nossos sentidos apreendem um objeto, opondo-se à essência, que representa como as coisas realmente seriam. Em outras palavras, como as coisas seriam para elas mesmas, a coisa-em-si.

    Essa relação entre parecer e ser é crucial para a compreensão dos fenômenos e da fenomenologia. Husserl buscou alcançar as essências a partir da intuição gerada pelos fenômenos.

    O grande objetivo de Husserl com sua Fenomenologia era a 12

    reformulação da filosofia. Para ele, era preciso refundar a filosofia e estabelecer a fenomenologia como método, sem que isso constituísse a ciência proposta pelo positivismo. A filosofia deveria voltar-se para a investigação sobre as possibilidades e limites do conhecimento científico, afastando-se das ciências, sobretudo, da psicologia, que analisa os fatos observáveis, mas não estuda as condições que levam a essa observação. O estudo dos fundamentos das ciências caberia à filosofia.

    Os fenômenos são entendidos pela representação que a consciência faz do mundo. O entendimento deve ser entendido sempre como consciência de algo. Com isso, o autor nega a ideia tradicional da consciência como uma qualidade humana, vazia, que pode ser preenchida com algo. Toda a consciência é consciência de algo. Essa sutil, mas relevante diferença, traz consigo um novo modo de concepção do conhecimento e de representação do mundo. As coisas do mundo não existem por si, da mesma forma que a consciência não possui uma independência dos fenômenos.

    Há uma forte crítica à separação entre sujeito e objeto, tradicional das ciências. Para Husserl, o conhecimento é construído a partir de inúmeras e pequenas perspectivas da consciência, que quando organizadas e retiradas as suas particularidades, produzem a intuição sobre a essência de um fato, ideia ou pessoa. São os chamados fenômenos da consciência.

    Para a fenomenologia de Husserl, sujeito e objeto possuem uma existência compartilhada. Husserl compreende que essa reformulação poderia fazer com que a filosofia superasse sua crise e fosse entendida, definitivamente, como uma concepção metódica do mundo. Ele afirma a existência de elementos transcendentais do conhecimento, os quais são acúmulos que vão condicionar a experiência dos indivíduos no mundo. Para ele, a experiência, pura e simplesmente, não se configura em ciência, e que o conhecimento possui uma intencionalidade. Não se produz conhecimento, senão por uma necessidade e um ato intencional da consciência. O que Husserl queria dizer é que os fenômenos são manifestações que só possuem sentido quando interpretados pela consciência. Sendo assim, a consciência de algo varia de acordo com o contexto no qual ela está inserida. Cabe ao filósofo 13

    interpretar os fenômenos, única e exclusivamente, tal qual eles aparecem.

    A fenomenologia em Michel Henry caracteriza-se pelo reportar de todos os movimentos da vida subjetiva ao seu solo original: à afetividade. É pela declinação no afeto que a intencionalidade, a consciência, as prestações transcendentais do sujeito são simultaneamente fenômenos vivenciados na dupla dimensão do sofrer / fruir.

    A concepção do corpo é abalada, na medida em que se trata do corpo do homem, quando o corpo não é mais mundano, mas uma carne viva. A carne advém na vida segundo o modo originário de fenomenalização que lhe é próprio. Henry considera que o mesmo se dá para a experiência de outrem. Para Husserl, o que possibilita ao homem ter acesso aos outros homens e a tudo o que pode valer a título de ser, é a intencionalidade. Era, aliás, essa mesma intencionalidade que pretendia nos desvelar nossa própria vida transcendental, que seja na auto constituição intencional do fluxo da consciência que produz sozinha seu auto aparecimento espontâneo (seu Selbsterscheinung), ou na reflexão metódica da redução fenomenológica. Que o fracasso com o qual se choca a intencionalidade no caso de nossa própria vida transcendental se repete no caso da experiência de outrem, eis que não tem nada surpreendente se este se revela não ser originalmente e em si nada outro senão o que eu próprio sou: um Si vivente. (HENRY, 2000, p. 340-341).

    Conforme Henry, na problemática husserliana, o fracasso se deve à intencionalidade conferir a outrem a significação de portar nele a vida, atribuir a seu corpo a significação de ser uma carne, um corpo vivo. Isso é devido ao fato de não poder atingir a vida de outrem como a vida atinge a si mesma em si. Quanto ao fracasso das filosofias da intencionalidade, Heidegger não o atribui à própria intencionalidade, mais precisamente à essência da fenomenalidade na qual a intencionalidade se manifesta. Para Henry, a fenomenalidade que Heidegger conhece é a auto exteriorização original da exterioridade pura chamada por ele de horizonte ek-stático da temporalidade, na segunda parte de Ser e tempo. O que Heidegger reprova em Husserl, no último seminário 14

    de Zähringen, é a inserção da intencionalidade na consciência, em uma subjetividade, e a manutenção da interioridade para encontrar o Objeto original tal como ele é, seu modo de se mostrar na clareira do Ser. Em Husserl, no que concerne à experiência de outrem, o outro se envolve na interioridade que é própria da consciência do pensamento clássico. Portanto, seu corpo ao aparecer no mundo, mundo reduzido em sua esfera de aparência, se dá a uma percepção efetiva. Mas a vida escapa sob a forma de uma significação intencional e irreal. Heidegger afasta os conceitos de consciência, de subjetividade, de interioridade. Henry atribui ao Dasein heideggeriano – ser-no-mundo -a solução procurada para o problema da experiência de outrem.

    O Da-sein – o fato de ser-aí – é por si mesmo um sercom e, dessa maneira um ser-aí com os outros. O Dasein não é um ser com porque, nos abrindo ao mundo, ele nos abriria aos outros ao mesmo tempo em que a tudo o que se mostra no mundo, na mesma imediação, sem que tenha necessidade de sair de uma esfera qualquer individual na qual nós estaríamos inicialmente fechados. Não é porque, de fato, nós estamos com alguém no mundo, ou com muitos, que nós somos esse ser com. Que estejamos sozinhos ou com outros, o ser com precede sempre.

    (HENRY, 2000, p. 342).

    De acordo com Henry, as modalidades da experiência de outrem, de sua presença ou ausência, supõem essa anterioridade do ser com. Henry interroga se essa possibilidade de anterioridade do ser com pode ser lida no Dasein, como idêntica a ele. A maneira utilizada por Heidegger para remontar a essa última condição da experiência do outro, não é uma análise imanente do Dasein que abre o caminho para o ser com, mas sim o mundo, os entes que se mostram no mundo que servem de ponto de partida. Esses entes não são puros objetos, mas

    instrumentos que trazem em si uma relação com outrem.

    O conteúdo do mundo é constituído por instrumentos-ao-alcance-da-mão, e o outro está presente como utilizador ou produtor do instrumento. Isso não se dá não como se o instrumento preexistisse em si ao seu utilizador, ao outrem. O

    15

    instrumento mostra em si outrem – Dasein - como lhe preexistindo mesmo se este último não estiver presente. O outrem, Dasein, está presente a priori no mundo dos instrumentos. Mas, de acordo com Heidegger, o mundo não se identifica com o ente intramundano.

    O mundo desvela o ente, mas não o cria. O instrumento intramundano, remetendo a um utilizador ou produtor, ao invés de mostrar nele um outro, e dessa maneira o ser primitivo com o outro, é o ser-com primitivo que possibilita algo como um instrumento. Henry considera que a explicação heideggeriana é incapaz de apreender o ser-com legitimando a significação que ela lhe dá.

    Algumas dificuldades se colocam porque em uma fenomenologia, apreender o ser-com significa elucidar o modo de manifestação que lhe é próprio. Isso pode significar tanto a elucidação do modo de manifestação

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