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Entre A Agricultura E A Ecologia, Uma Interface Por Onde Transita A Emancipação Dos Agricultores Do Trópico Úmido
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Entre A Agricultura E A Ecologia, Uma Interface Por Onde Transita A Emancipação Dos Agricultores Do Trópico Úmido
E-book331 páginas3 horas

Entre A Agricultura E A Ecologia, Uma Interface Por Onde Transita A Emancipação Dos Agricultores Do Trópico Úmido

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Sobre este e-book

A agricultura no trópico úmido enfrenta vários e grandes desafios: preservar a paisagem e a biodiversidade, contribuir para a diminuição do CO2 na atmosfera, reduzir a insegurança alimentar, ajudar a reduzir a pobreza, e resgatar a dignidade das famílias agricultoras. Vai ser difícil, mas é possível. Sabemos que a agricultura nos trópicos, tem um impacto direto e indireto em praticamente todos os principais problemas ambientais, desde a perda da diversidade biológica até as mudanças climáticas derivadas do efeito estufa. Afortunadamente, somos talvez a primeira geração com o conhecimento e os recursos para alterar esta tendência da agricultura aos desserviços. Por outro lado, infelizmente, ainda não estamos fazendo o suficiente do que sabemos ser necessário. A reestruturação da agricultura para enfrentar os desafios do futuro, vai exigir mudanças em vários níveis, desde o imaginário dos agricultores até o comprometimento dos decisores políticos. Alguns pontos essenciais necessários para superar esses desafios são conhecidos: i) Dar ênfase, à agricultura de pequena escala. ii) Priorizar a intensificação sustentável. Isso significa sustentabilidade social e econômica, mas nesta abordagem, o meio ambiente e a paisagem fazem parte do mesmo ecossistema de onde se planta e colhe; iii) Foco nas mulheres. Elas constituem mais da metade da população mais pobre das áreas rurais, além de serem as responsáveis diretas pela alimentação das famílias. Obviamente, muito mais é necessário e sabemos. No entanto, o principal que queremos comunicar nesse livro é muito simples: Quem quiser lutar pelos pobres do mundo, também deve lutar por seus meios de subsistência na agricultura. Por isso, nesse livro ênfase absoluta foi dada às tecnologias ajudem os agricultores a superar os entraves ambientais que os subordinam. Estratégias que procuram tirar proveitos dos serviços ecossistêmicos fornecidos pelo mesmo ambiente que os constrange foram, por isso, enfatizadas. Secundariamente, nenhuma tecnologia sugerida neste livro foi escolhida sem antes ser testada e comprovada junto aos agricultores com suas realidades e desejos.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento10 de jul. de 2021
Entre A Agricultura E A Ecologia, Uma Interface Por Onde Transita A Emancipação Dos Agricultores Do Trópico Úmido

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    Entre A Agricultura E A Ecologia, Uma Interface Por Onde Transita A Emancipação Dos Agricultores Do Trópico Úmido - Emanoel Gomes De Moura

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    Emanoel Gomes de Moura

    Apresentação

    Antes do início, deve ser assumido que este texto sugere a adoção de práticas agrícolas não usuais para resolver problemas comuns. Modesto e simples, ele não transcreve teorias científicas que podem ser vistas nos livros traduzidos, ou importados, nem procura adaptar teses ou desejos, porque o que ele pretende é enfrentar problemas regionais concretos de pessoas reais. Portanto, não espere, o curioso leitor, desfrutar aqui do conforto de reaprender o que já foi estabelecido. Antes, o que vai ser lido neste livro não tem compromisso com outras argumentações porque retrata o conhecimento acumulado em mais de duas décadas de experiências numa realidade ambiental absolutamente única no Brasil. No laboratório, nos experimentos controlados e no campo, os problemas e as soluções foram sempre diferentes daqueles vistos lá nas minhas terras vermelhas de onde viemos, e de onde saiu grande parte do conhecimento sobre manejo de solos do Brasil. Assim, as recomendações para mudança da aptidão das terras brancas sugeridas neste livro vão além daquelas que propõem apenas o aumento da disponibilidade de nutrientes, como se faz nas áreas do cerrado brasileiro. Nesta outra realidade, os atributos a serem modificados são ampliados e por isso a ênfase no manejo da fertilidade química foi propositalmente negligenciada. Além disso, os destinatários do conhecimento, aqui descrito, têm nome, cor e posição social bem definida. Desde a concepção, passando pelo desenvolvimento e terminando na validação em parceria com os agricultores, as exigências da produção científica de qualidade nunca foram, por nós, separadas da necessidade de contribuir para a emancipação dos agricultores familiares. Por isso, ênfase absoluta foi dada aqui às tecnologias que os ajudem a superar os entraves ambientais que os subordinam. Estratégias que procuram tirar proveitos dos serviços ecossistêmicos fornecidos pelo mesmo ambiente que os constrange foram, por isso, também enfatizadas. Secundariamente, nenhuma tecnologia sugerida neste livro foi escolhida sem antes ser testada e comprovada junto aos agricultores com suas realidades e desejos.

    O autor

    Dedicatória

    Este livro está inteiramente dedicado ao meu pai Antônio Moura. Agricultor arrendatário, um trabalhista, que me ensinou a gostar da agricultura e dos agricultores e a sonhar com um mundo onde o trabalho seja maior que o capital

    Entre a Agricultura e a Ecologia, uma interface por onde transita a emancipação dos agricultores do trópico úmido

    Índice dos Capítulos

    1 - A emancipação dos agricultores a partir do desenvolvimento da agricultura

    Introdução

    A contribuição social da agricultura para o desenvolvimento da civilização

    O desenvolvimento da agricultura como estratégia para diminuição da pobreza

    Como aumentar a contribuição do setor agrícola para a redução da pobreza?

    A superação da dupla subordinação dos agricultores- desafio histórico e atual

    O exemplo da subordinação dos agricultores às restrições ambientais e políticas - o caso do Maranhão

    A agricultura e a pobreza no Maranhão

    As comunidades tradicionais e a pobreza rural do Maranhão

    Literatura complementar

    2 - Desvantagens e vantagens naturais para o desenvolvimento da agricultura no trópico úmido

    Introdução

    A estratégia dos agricultores para superar as adversidades ambientais na agricultura tropical

    Dificuldades ambientais para agricultura sustentável no trópico úmido

    Vantagens ambientais para agricultura sustentável do trópico úmido

    Leitura complementar

    3 - A agricultura ecológica e a intensificação da produção no contexto do trópico úmido

    Introdução

    A agricultura do passado seus avanços e retrocessos

    A proposta de uso da eco-eficiência para a intensificação ecológica da agricultura

    A intensificação ecológica na agricultura tropical e no Maranhão

    Literatura complementar

    4 - Na interface entre a Ecologia e a Agronomia – Os Serviços Ecossistêmicos

    Introdução

    A interface entre Ecologia e a Agricultura

    O desenho dos agrossistemas, tendo em vista o aproveitamento dos serviços ecossistêmicos na Agricultura

    Os serviços ecossistêmicos na agricultura

    Literatura complementar

    5 - A fixação biológica de nitrogênio (FBN) por leguminosas arbóreas um serviço ecológico essencial para agricultura tropical

    Introdução

    A FBN, os processos, e sua aplicação nos agrossistemas tropicais

    O uso da FBN em leguminosas arbóreas para a produção de biomassa

    Diversidade de Rhizobia em Nódulos de Leguminosas nos Trópicos Úmidos

    Literatura complementar

    6 - A importância da matéria orgânica para manutenção da fertilidade dos solos tropicais

    Introdução

    Matéria orgânica do solo, conceitos e frações

    O carbono orgânico do solo (COS) e suas relações com a matéria orgânica.

    Funções e importância da matéria orgânica para o manejo dos solos no trópico

    Literatura complementar

    7 - Qualidade da biomassa tendo em vista o aumento dos teores e a estabilização da matéria orgânica do solo

    Introdução

    A qualidade da biomassa vegetal como fonte de carbono no solo

    Estratégias para o aumento da estabilização e do acúmulo da matéria orgânica no solo

    A relação do conteúdo da matéria orgânica com a produção agrícola

    Literatura complementar

    8 - A absorção e a eficiência do uso de nutrientes adquiridos e a emancipação dos agricultores do trópico úmido

    Introdução

    Eficiência do uso de nutrientes, definições, cálculos e aplicações

    A melhoria do ambiente do solo para o crescimento das raízes, tendo em vista o aumento da absorção de nutrientes

    Estratégias para aumentar a absorção e a eficiência do uso de nutrientes

    Literatura complementar

    9 – A produção e uso de biomassa arbórea, serviço ecológico estratégico para mudar a aptidão das terras do trópico úmido

    Introdução

    O sistema de plantio em aleias - culturas semeadas entre árvores leguminosas - uma sugestão para a produção de biomassa

    Efeito da biomassa de leguminosas arbóreas no aumento e na estabilização da matéria orgânica do solo

    Efeito da aplicação de biomassa sobre os teores de cátions básicos na zona radicular

    Mudanças positivas nas condições físicas do solo, em função da aplicação de biomassa como cobertura morta

    Efeitos da aplicação de biomassa no solo sobre a performance fisiológica das plantas

    As interações entre os cátions básicos, as frações de COS e a produtividade do milho após a aplicação de biomassa de leguminosas arbóreas

    Efeito da biomassa de leguminosas arbóreas sobre a produtividade e sustentabilidade dos agrossistemas do trópico úmido

    Aspectos do antagonismo entre as árvores e as culturas – Alelopatia

    Literatura complementar

    10 – A percepção dos agricultores sobre a adoção de novas tecnologias - o caso do Maranhão

    Introdução

    Uma nova proposta para uma agricultura sustentável e de maior dignidade

    O que os agricultores e suas famílias pensam do novo sistema-Resultados quantitativos

    O que os agricultores e suas famílias pensam e falam do novo sistema-Resultados qualitativos

    Literatura Complementar

    Agradecimentos

    1 - A emancipação dos agricultores a partir do desenvolvimento da agricultura

    Introdução

    A agricultura no trópico úmido enfrenta vários e grandes desafios: preservar a paisagem e a biodiversidade, contribuir para a diminuição do CO2 na atmosfera, reduzir a insegurança alimentar, ajudar a reduzir a pobreza, e resgatar a dignidade das famílias agricultoras. Vai ser difícil, mas é possível. Sabemos que investir corretamente na agricultura reduz a pobreza, a fome e a opressão. No entanto, também sabemos que a agricultura, inda mais nos trópicos, tem um impacto direto e indireto em praticamente todos os principais problemas ambientais, desde a perda da diversidade biológica até as mudanças climáticas derivadas do efeito estufa. Afortunadamente, somos talvez a primeira geração com o conhecimento e os recursos para alterar esta tendência da agricultura aos desserviços. Por outro lado, infelizmente, ainda não estamos fazendo o suficiente do que sabemos ser necessário.

    A reestruturação da agricultura para enfrentar os desafios do futuro, vai exigir mudanças em vários níveis, desde o imaginário dos agricultores até o comprometimento dos decisores políticos. Alguns pontos essenciais necessários para superar esses desafios são conhecidos: i) Dar ênfase, à agricultura de pequena escala. Existem vários milhares de pequenas fazendas familiares no trópico úmido com apenas alguns hectares cada uma, onde as famílias precisam cultivar, preservar e garantir o seu sustento. O apoio a este padrão de agricultura alcança a maioria dos pobres das regiões onde se inserem; ii) Priorizar a intensificação sustentável. Isso significa sustentabilidade social e econômica, mas nesta abordagem, o meio ambiente e a paisagem fazem parte do mesmo ecossistema de onde se planta e colhe; iii) Foco nas mulheres. Elas constituem mais da metade da população mais pobre das áreas rurais, além de serem as responsáveis diretas pela alimentação das famílias. Obviamente, muito mais é necessário e sabemos. No entanto, o principal que queremos comunicar nesse teto é muito simples: Quem quiser lutar pelos pobres do mundo, também deve lutar por seus meios de subsistência na agricultura.

    A contribuição social da agricultura para o desenvolvimento da civilização

    Enquanto algumas atividades humanas, como a religião e a medicina, foram componentes centrais, ou importantes produtos da civilização, a agricultura foi o componente que tornou a civilização possível. Uma sociedade de caçadores e coletores não poderia construir grandes assentamentos permanentes, ou permitir que parte significativa de seus membros se especializassem em atividades não relacionadas à alimentação, como o artesanato e a ferramentaria. Sem que houvesse a produção de um excedente confiável e substancial de alimentos, as primeiras sociedades, mesmo com seus sistemas de autoridade e hierarquias sociais, ainda não estavam em uma posição adequada para formar governos, sistemas de classes, exércitos fortes, comércio e mercados, sistemas avançados de escrita e de educação e outros elementos de uma civilização mais sofisticada. Foi o excedente alimentar resultante do aumento da eficiência da agricultura que libertou um grupo significativo de pessoas das atividades de produção de alimentos, para o desenvolvimento de especializações que conduziu ao avanço da civilização (Tauger, 2011).

    Não por coincidência, foram na proximidade de grandes rios, notadamente do Tigre, Eufrates, além do Nilo e do Ganges, que surgiram as primeiras grandes civilizações que se teve notícia. De fato, as primeiras grandes civilizações surgiram nas localidades onde a produção de excedentes agrícolas permitiu o desenvolvimento do comércio, do artesanato e outras atividades correlatas. A agricultura foi, portanto, anterior à civilização, um pré-requisito para o surgimento da sociedade civilizada. Então, os agricultores, em interação contínua com o ambiente natural, apoiavam o desenvolvimento da civilização por meio da produção de alimentos animais e vegetais, com um trabalho que os colocava na interface entre a sociedade e o meio ambiente. De fato, criando raízes há cerca de 12.000 anos, a agricultura desencadeou uma tal mudança na sociedade, e na forma como as pessoas viviam, que seu desenvolvimento foi apelidado de Revolução Neolítica. Os estilos de vida tradicionais de caçadores-coletores, seguidos pelos humanos desde sua evolução, foram postos de lado em favor de assentamentos permanentes graças ao suprimento confiável de alimentos. Por causa do avanço da agricultura, as cidades e civilizações cresceram e, como as safras agora podiam ser cultivadas e os animais criados para atender à demanda crescente, a população global disparou - de cerca de cinco milhões de pessoas há 10.000 anos para mais de sete bilhões hoje.

    Então, a razão pela qual temos civilizações permanentes é por causa da agricultura. Com o desenvolvimento da agricultura, as comunidades não tiveram que seguir os rebanhos a procura do que comer. Agora que havia civilizações permanentes, precisava haver casas permanentes, então casas permanentes foram construídas. Para produzir grandes quantidades de comida, os fazendeiros precisavam de ajuda extra, o que os levou a domesticar animais de carga e de tração. À medida que mais e mais civilizações permanentes começaram a se desenvolver, apareceram também as rotas comerciais. Por meio dessas rotas comerciais, os moradores tinham acesso a produtos novos, bonitos e caros, como o cobre e os tecidos coloridos. Finalmente as classes sociais foram desenvolvidas. Aqueles que possuíam coisas caras (tecidos coloridos) faziam parte da classe alta, e aqueles que só tinham produtos menos caros (pano bege, comum) faziam parte da classe baixa. De fato, a agricultura teve um efeito social profundo, não apenas tornando as civilizações permanentes, mas também criando as classes sociais e as rotas comerciais.

    A civilização começou com a agricultura e ainda hoje é dependente dela. Embora a humanidade tenha mudado significativamente, a realidade é que todos os países do mundo ainda dependem da agricultura para sustentar o bem-estar da sua população. Em algumas regiões seu significado é mais óbvio, principalmente onde a pobreza se concentra na zona rural. Mas em qualquer lugar, a contribuição da agricultura ainda é imprescindível para a sociedade em função de seus vários aspectos:

    i) O suprimento de alimentos é sem dúvida, o aspecto mais importante da agricultura. Não importa onde ou o que você está comendo, os ingredientes de suas refeições vêm de algum lugar onde alguém plantou e colheu. Todas as estradas levam à agricultura. Em países que enfrentam insegurança alimentar e desnutrição grave, com certeza seu setor agrícola não está funcionando a contento. Quando a agricultura prospera, menos pessoas passam fome.

    ii) A agricultura pode ajudar o ambiente - porque ela possui o poder de degradar ou preservar. Quando os agricultores priorizam a preservação da biodiversidade em suas terras, isso beneficia o ambiente, a lavoura e a paisagem. Mais biodiversidade significa um ambiente mais saudável, melhor conservação da água e polinizadores mais atuantes. Todas essas são boas notícias para o meio ambiente como um todo, tornando a agricultura uma parte importante do ciclo da vida.

    iii) Fonte de matéria-prima - também é um papel que ainda hoje a agricultura exerce com grande destaque sendo a fornecedora de matérias tão importantes como algodão, açúcar, madeira ou óleo de palma. Esses materiais são essenciais para as principais indústrias o que torna, dependente da agricultura, a fabricação de produtos farmacêuticos como óleo diesel, plástico e muito outros produtos. Na verdade, as matérias primas são tão importantes que a saúde econômica de um país depende fortemente de quantas matérias-primas ele produz, ou possui.

    iv) Fontes de emprego - é também uma área onde a agricultura e a indústria agrícola se destacam, em muitas regiões, como as maiores empregadoras. Seja trabalhando como agricultor, técnico em equipamentos agrícolas, agentes de desenvolvimento, comerciário na área de insumos, ou cientistas, todos estão empregados graças à agricultura. Nos países em desenvolvimento, o aumento dos empregos na agricultura e nos setores correlatos ajudam a reduzir as altas taxas de desemprego. Quando se trata de reduzir a pobreza, as evidências mostram que focar na agricultura é significativamente mais eficaz do que investir em outras áreas.

    O desenvolvimento da agricultura como estratégia para diminuição da pobreza

    De fato, o crescimento da agricultura contribui para reduzir a pobreza mais do que o crescimento em outros setores porque os mais pobres se beneficiam mais com o crescimento agrícola do que com o crescimento econômico em outras áreas. Vários estudos demonstram que o crescimento rural reduz a pobreza nas áreas rurais e urbanas, mas o crescimento urbano não alivia a pobreza nas áreas rurais. De fato, uma decomposição do crescimento por setores demonstra que o crescimento da agricultura beneficia os pobres nas áreas urbanas e rurais, enquanto o crescimento da manufatura não afeta a pobreza rural. Em artigo de Datt and Ravallion (1998), um modelo de equação simultânea para determinação da pobreza explica e estima o caráter pró-pobre do crescimento agrícola. Os resultados mostram que o rendimento da agricultura está inversamente relacionado a vários índices de medidas de pobreza. Como esperado, o crescimento da produção agrícola contribui para o alívio da pobreza diretamente induzindo a um aumento nos salários e à uma queda no preço de alimentos. A superioridade do crescimento rural sobre o crescimento urbano para aliviar a pobreza também foi estabelecida por Wodon (1999) em Bangladesh. Suas simulações sugerem que uma estratégia de desenvolvimento por meio da implantação de um plano pró-rural, provavelmente, reduziria três pontos na contagem da pobreza no país em 2008, em comparação com um cenário de linha de base sem mudança de política agrícola.

    A rigor, o crescimento da agricultura permanece, em geral, duas a três vezes mais eficaz na redução da pobreza do que uma quantidade equivalente de crescimento gerado em outros setores. Isso vale independentemente do método empírico ou da métrica de pobreza usada para fazer esta estimativa (Benfica & Henderson 2020). Sem dúvida, os efeitos sobre a redução da pobreza na agricultura são maiores para os mais pobres da comunidade. Além disso, quanto mais baixas as taxas de alfabetização, mais forte é a progressividade do efeito agrícola na redução da pobreza e sobre o crescimento não agrícola. Isso garante que a atenção política à agricultura nas regiões mais pobres pode ser a forma mais eficiente para aliviar as carências das populações mais vulneráveis.

    Embora haja um consenso sobre o impacto positivo do crescimento da agricultura na comunidade rural a estrutura do crescimento deve ser também observada pelo seu impacto na pobreza e no desenvolvimento humano em geral. Daí a composição setorial do crescimento é importante, ou seja; em que setor o crescimento econômico geral se origina? Isso importa muito para alívio da pobreza e da fome porque o crescimento econômico originário da agricultura, quando associado ao crescimento nos rendimentos das famílias rurais, terá forte impacto na redução do número de pobres, desde que não ocorra em um cenário de extrema desigualdade na propriedade de ativos, especialmente da terra. Matthew et al. (2019) descobriu que em países com distribuição de renda altamente distorcida, o crescimento atinge os pobres com dificuldade, seja se origina de aumentos na produtividade agrícola, ou não agrícola. Segundo algumas estimativas, os países com alta desigualdade precisariam duas vezes mais crescimento do que países de baixa desigualdade para alcançarem a mesma redução nos níveis de pobreza (Hammer, et al 2000).

    Como aumentar a contribuição do setor agrícola para a redução da pobreza?

    A maioria dos pobres do mundo ainda vive em áreas rurais e depende crucialmente da agricultura para seus meios de subsistência. Daí, com o aumento da produção na agricultura, deve aumentar também a renda não agrícola, mas isso por si só não ajudará necessariamente os pobres. O próximo passo é perguntar onde a renda extra é gasta. De fato, para a redução da pobreza, não é apenas o aumento inicial da renda que interessa. Importa também onde se gasta a renda extra auferida pelos agricultores beneficiados. É sabido que, à medida que a renda aumenta, diminui a proporção gasta em alimentos básicos como a farinha e o arroz, enquanto a proporção gasta em alimentos superiores,

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