Etnomatemática, Etnociência e Etnocultura
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Etnomatemática, Etnociência e Etnocultura - Pedro Carlos Pereira
Table of Contents
CAPA
UMA CONVERSA INICIAL
Pedro Carlos Pereira
Saddo Ag Almouloud
Gabriela dos Santos Barbosa
INTRODUÇÃO
1 SOBRE INVESTIGAÇÃO ETNOMATEMÁTICA E SIMETRIA Paulus Pierre Joseph Gerdes (in memoriam)
1.1 O QUE É SIMETRIA?
1.2 SOBRE O PAPEL METODOLÓGICO E HEURÍSTICO JOGADO PELA SIMETRIA
1.3 O IMPACTO INTERDISCIPLINAR DA SIMETRIA NOUTRAS ESFERAS CIENTÍFICAS E / OU CULTURAIS
1.4 SOBRE O SIGNIFICADO ESPECIAL DA SIMETRIA INFLUENCIADO PELA CULTURA MOÇAMBICANA
BIBLIOGRAFIA DE PAULUS GERDES EM PORTUGUÊS
2 JOGOS TRADICIONAIS E RACIOCÍNIO EM SALA DE MATEMÁTICA NA REPÚBLICA DO MALI Mamadou Lamine Kanouté (in memoriam) Saddo Ag Almouloud
2.1 INTRODUÇÃO
2.2 IMPORTÂNCIA DA BRINCADEIRA NA FORMAÇÃO DA CRIANÇA
2.3 O PROBLEMA E A SUA ORIGEM
2.4 DO CÁLCULO MENTAL AOS NTÙNTÙN
2.4.1 O CÁLCULO MENTAL NA ESCOLA
2.4.2 O CÁLCULO MENTAL E A MEMORIZAÇÃO NO CONTEXTO DE CULTURA TRADICIONAL
2.5 O QUE SIGNIFICAM NTÙNTÙN E ngelu?
2.5.1 A PRÁTICA DE ntεntεn
2.5.2 A PRÁTICA DO ngelu
2.5.3 EXPLORAÇÃO PEDAGÓGICA: PROBLEMAS ESCOLARES – Ntùnjate e ngelujate
2.5.2.1 PROBLEMA ESCOLAR
2.5.2.2 DO ntεntεn ao ntùnjate
2.5.2.3 SEQUÊNCIA – A FAMILIARIZAÇÃO
2.5.2.4 O CIRCUITO – VOTE – DEBATE – VOTE
2.5.2.5 SEQUÊNCIA 3 – TRABALHO EM CASA
2.5.2.6 A PASSAGEM DE Ngelu ao Ngelujate
2.6 JUSTIFICATIVA DA ESCOLHA DOS NTÙNJATE
2.6.1 QUAIS TIPOS DE PROBLEMAS ESCOLHER?
2.6.2 TIPOS DE PROBLEMAS
2.6.2.1 TIPO 1 – Os problemas conflitantes (PC)
2.6.2.2 Tipo 2 – Os problemas bicho-papão
(PAN)
2.6.2.3 Tipo 3 – Os problemas sem questão (PSQ)
2.6.2.4 TIPO 4 – Os problemas do tipo faça sua questão
(ptq)
2.6.2.5 TIPO 5 –Os problemas de verificação das soluções (PVS)
CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
3 RELAÇÃO PEDAGÓGICA PROFESSORES, PAIS E SOCIEDADE: UMA ANÁLISE DOS RECURSOS DE ENSINO NOS PROCESSOS DE EDUCAÇÃO Alberto Bive Domingos
INTRODUÇÃO
3.1 PRÁTICAS NA EDUCAÇÃO E CONCEPÇÕES PEDAGÓGICAS
3.2 MÉTODOS DE ENSINO E A RELAÇÃO OBJETIVO-CONTEÚDO-MÉTODO
3.3 CLASSIFICAÇÃO DOS MÉTODOS DE ENSINO
3.4 ATIVIDADES ESPECIAIS
3.5 OBJETIVOS EDUCACIONAIS E COMPETÊNCIAS
3.6 PROFESSOR DIANTE DOS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
4 A ETNOMODELAGEM E A CONSTRUÇÃO DE PIPAS: UMA PROPOSTA DE SEQUÊNCIA DIDÁTICA PARA O ENSINO DE GEOMETRIA Renato Machado Aquino Pedro Carlos Pereira Thaís Muniz Lopes dos Santos
INTRODUÇÃO
4.1 PIPAS: UM BREVE HISTÓRICO
4.2 ETNOMATEMÁTICA: UM BREVE RELATO
4.3 UMA SÍNTESE SOBRE ETNOMODELAGEM
4.4 ABORDAGEM ÊMICA, ÉTICA E DIALÓGICA NO ETNOMODELO
4.5 PROPOSTA DE SEQUÊNCIA DIDÁTICA PARA CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE GEOMETRIA PLANA UTILIZANDO ETNOMODELOS EM SALA DE AULA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
5 ETNOMATEMÁTICA E PEDAGOGIA DECOLONIAL NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA Alexandre Herculano Ferreira Freitas Elohá Sheyla Vaz Gomes Gabriela dos Santos Barbosa
INTRODUÇÃO
5.1 PEDAGOGIA DECOLONIAL
5.2 A ETNOMATEMÁTICA
5.3 PEDAGOGIA DECOLONIAL, ETNOMATEMÁTICA E FORMAÇÃO DE PROFESSORES
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
6 EDUCAÇÃO INDÍGENA E O ENSINO DA MATEMÁTICA: TERRITÓRIO E CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS Pedro Carlos Pereira Felipe Marangoni Robledo
6.1 UMA VISÃO SOBRE TERRITÓRIO
6.2 OS INDÍGENAS: QUESTÕES POLÍTICAS, SOCIAIS E EDUCACIONAIS
6.3 DECOLONIALIDADE E O SABER MATEMÁTICO INDÍGENA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
7 MATEMÁTICAS E EMPREENDEDORISMOS NUMA EXPERIÊNCIA DE EDUCAÇÃO FINANCEIRA CRÍTICA Gabriela dos Santos Barbosa Jerlan Manaia de Araújo Pedro Carlos Pereira
7.1 EDUCAÇÃO FINANCEIRA
7.2 ETNOMATEMÁTICA
7.3 METODOLOGIA
7.4 ANÁLISE DOS DADOS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
8 ETNOASTRONOMIA, ETNOMATEMÁTICA E LEITURA DOS MUNDOS (em busca de práticas dentro e fora da sala de aula) Marcio D’Olne Campos
INTRODUÇÃO
8.1 NÓS E OS OUTROS ENTRE AS DIFERENÇAS E DESIGUALDADES DOS SISTEMAS DE CONHECER
8.2 ETNOASTRONOMIA E ETNOMATEMÁTICA, ENTRE OUTRAS ETNO-X
8.3 LEITURA DOS MUNDOS E PRÁTICAS EDUCACIONAIS DENTRO E FORA DA SALA DE AULA
8.4 POR QUE SULEAR NO HEMISFÉRIO SUL CONTRARIANDO O NORTEAR?
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
9 ETNOCIÊNCIA E ETNOCONHECIMENTO COMO PATRIMÔNIO DA HUMANIDADE: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES PARA UM DEBATE CONTINUADO DE COISAS IMPERMANENTES Rafael dos Santos
INTRODUÇÃO
9.1 A MULTIPLICIDADE DE EXPRESSÕES TORNA MELHOR TODA A HUMANIDADE
9.2 ECOSSISTEMAS
SOCIAIS DEVEM SER OBSERVADOS DENTRO DO CONTEXTO DO ETNOCONHECIMENTO
REFERÊNCIAS
10 NOTAS INTRODUTÓRIAS SOBRE AS POSSIBILIDADES DE REINVENÇÃO DA INSTITUIÇÃO ESCOLAR A PARTIR DE CONTRIBUIÇÕES DAS ETNOCIÊNCIAS Thiago Luiz Alves do Santos
INTRODUÇÃO
REFERÊNCIAS
SOBRE OS AUTORES
SOBRE A OBRA
CONTRACAPA
ETNOMATEMÁTICA, ETNOCIÊNCIA
E ETNOCULTURA
Editora Appris Ltda.
1.ª Edição - Copyright© 2023 dos autores
Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.
Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98. Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores. Foi realizado o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nos 10.994, de 14/12/2004, e 12.192, de 14/01/2010.
Catalogação na Fonte
Elaborado por: Josefina A. S. Guedes
Bibliotecária CRB 9/870
Livro de acordo com a normalização técnica da ABNT
Editora e Livraria Appris Ltda.
Av. Manoel Ribas, 2265 – Mercês
Curitiba/PR – CEP: 80810-002
Tel. (41) 3156 - 4731
www.editoraappris.com.br
Printed in Brazil
Impresso no Brasil
Pedro Carlos Pereira
Saddo Ag Almouloud
Gabriela dos Santos Barbosa
(org.)
ETNOMATEMÁTICA, ETNOCIÊNCIA
E ETNOCULTURA
DEDICATÓRIA
A PEDRA POLIDA DA AMIZADE
E A ETNOMATEMÁTICA DOS ANOS
Pedro Carlos Pereira foi um teimoso. Sim, teimoso. Teimou em não aceitar o papel de subalterno que as dificuldades da vida lhe impunham. Com muito sacrifício, obteve uma carteira de motorista profissional, por perceber que ser caminhoneiro lhe proporcionaria um rendimento um pouco melhor. Nas manobras a frente daqueles veículos pesado, foi adquirindo a visão etnomatemática da vida nas coisas práticas e, com muito sacrifício, estudou matemática entre uma viagem e outra, com o cansaço da faina diária transportando carga pesada... Mas Pedro, como o próprio nome sugere, sempre foi polindo a sua pedra bruta, aprimorando a sua estadia nesse plano e colonizando e domesticando seu destino, contrariando as probabilidades etnomatemática de uma sociedade excludente que, como dizia Darcy Ribeiro, o fracasso da educação é um projeto
. Contrariando a Etnomatemática dos anos, com sacrifícios colossais, fez seu mestrado, anos depois o doutorado indo e vindo entre o Rio de Janeiro e São Paulo, dando aulas, fazendo projetos de extensão, zelando pelos filhos, trabalhando, pagando as contas, torcendo pelo seu Fluminense, cuidando da sua espiritualidade, amando e adorando a sua esposa, Ana, o alicerce da pedra fundamental e polida da saga de Pedro nessa vida.
Sempre generoso com os alunos e amigos, via em projetos como a organização dessa obra a possibilidade de levar o conhecimento que o estimulou e o fez desafiar as Etnoprobabilidades da vida ao maior número de pessoas. Queria se irmanar com os demais autores, equipe da Editora, e com todos aqueles com os quais fosse estabelecer uma interlocução a partir dos textos aqui presentes.
Seu encantamento pelas formas matemáticas, pela lógica, pelas metáforas inerentes ao esquadro e o compasso e aos construtores de templos a virtude, fez do nosso amigo um franco maçom de primeira, a quem devo também entrar na ordem e me encantar com a educação matemática presente nos ritos, lendas, segredos, na arte e nos templos maçônicos.
A matemática exalava pelos poros do Pedrão
coração de ouro. Um vovô menino. Sempre disponível para ajudar aos amigos, trabalhar em alguma atividade filantrópica e acima de tudo se aperfeiçoar ao longo da vida. Sempre esculpindo a Pedra que ostentava até no seu nome...
Quis a vida que o seu músculo involuntário que pulsa sem parar não coubesse dentro de si o levasse antes que esta obra derradeira fosse publicada.
O livro é dedicado a memória de seu idealizador, nosso amigo Pedro Carlos Pereira, ou Pecape
, quem sempre dedicava as suas produções àqueles que, como ele, vejam na educação e no conhecimento a beleza da matemática nem sempre exata de uma vida teimosa em desafia as Etnoprobabildiades.
Vamos lapidar a pedra bruta em nossas vidas?
Por Rafael dos Santos
(um dos autores e amigo do Pedro)
AGRADECIMENTOS
Agradecemos, em primeiríssimo lugar, a Pedro Carlos Pereira (in memoriam), idealizador dessa obra e agregador de seus autores. A família de Pedro, especialmente a sua esposa, Ana, pelo apoio para que este projeto não fosse interrompido com a passagem do seu criador.
Agradecemos às educadoras e educadores do Brasil, em razão de sua perseverança no nobre ofício de ensinar, especialmente aos profissionais da matemática.
A toda a equipe da Editora Appris pelo carinho e pela compreensão das peculiaridades em finalizar o livro sem a presença física do Pedro. A atenção a nós dispensada foi fundamental para alcançarmos este resultado.
Aos familiares, amigos e alunos dos autores, pois vocês dão Humanidade e sentido às nossas existências, e nos fazem sentir o quanto vale a pena toda a nossa luta.
Obrigado a Etnomatemática e a Educação Matemática, que transcendem os limites da ciência dos números e nos faz perceber a transversalidade e complexidades dos saberes.
UMA CONVERSA INICIAL
Pedro Carlos Pereira
Saddo Ag Almouloud
Gabriela dos Santos Barbosa
Os artigos apresentados em nosso livro têm como foco principal as investigações, as práticas e os debates no âmbito da relação entre Etnomatemática, Etnociência, e Etnocultura para o ensino da Matemática e o seu arrolamento às demais áreas do conhecimento para os diversos níveis da Educação.
Nesse contexto, a Etnomatemática, Etnociência e a Etnocultura configuram-se como uma área de estudo que procura dialogar com a cultura-histórica-social e com a produção, a geração, a institucionalização e a difusão do conhecimento relacionadas às diferentes formas de contar, classificar, ordenar, localizar, modelar, explicar e inferir em diferentes contextos, no sentido de romper com os paradigmas clássicos e contemporâneos da Educação.
Os artigos abordam estudos que propõe caminhos para uma cultura educacional que respeite a diversidade dos docentes e discentes presentes nos diferentes contextos educacionais, dentro e fora do ambiente escolar, contemplando propostas que contribuem para uma compreensão dos processos do ensino e da aprendizagem de Matemática, focando questões culturais, teóricas, históricas, metodológicas, pedagógicas e epistemológicas, além de um arcabouço teórico-metodológico, tais como situações didáticas, campos conceituais, teoria antropológica do didático, registros de representação semiótica, engenharia didática, abordagens instrumental e documental, entre outras.
A ciência tem como desafio estudar fenômenos naturais e culturais, auxiliando o homem a compreender a realidade em que ele se insere e se desenvolve. Muitas vezes, as relações entre culturas das diferentes nações não estão conexas com a historiografia e a historiologia do ensino de matemática, mas é do conhecimento de todos que as múltiplas culturas influenciam no cotidiano escolar.
No mundo há uma grande diversidade cultural e a Etnomatemática busca trazer para o ambiente educacional o reconhecimento dessa cultura como parte integrante do processo de formação social do aluno, apresentando a matemática com um olhar histórico-social-político e não somente como um arcabouço de fórmulas e técnicas.
A diversidade étnica-cultural está presente em todos os lugares do mundo, no entanto, poucas vezes é discutida em sala de aula e várias pesquisas mostram que ao aceitar trabalhar essa diversidade no ambiente escolar, os alunos se sentem acolhidos e pertencentes a esse espaço, tornando-os mais participativos, e a sala de aula mais diversa e aconchegante. É muito importante trabalhar a aceitação e a valorização das diferenças a partir da Educação infantil, não só falando sobre elas, mas afirmando que cada ser humano possui particularidades distintas e que todas são importantes.
E há dois fatores ainda a ser considerados para uma melhor qualificação do ensino de matemática. Um é o uso da linguagem e a sua vinculação com a língua materna; o outro é a contextualização com as tecnologias dos dias atuais. Não há como negar que a linguagem matemática se insere nas mais diferentes atividades humanas, nas diversas áreas das ciências, e está intrínseca no contexto da sociedade em que está inserido o indivíduo, como na arte (música, dança, pintura, escultura), na arquitetura, nos esportes, na engenharia e na informática. Cada grupo de indivíduos tem seu próprio sistema de percepção e compreensão do mundo e o conhecimento cultural se reflete na língua, e é o que procuramos aplicar ao estudo da matemática, servindo como uma ferramenta ou como uma metodologia de ensino.
A Etnociência, um ramo de estudo da Antropologia Cognitiva, busca a cultura como objeto de estudo e o papel que o homem desempenha em relação a ela. É também conhecida como uma etnografia de saberes e definida como a ciência do concreto. Para atender essas condições, os etnocientistas definem cultura como um sistema de cognições compartilhadas onde o elemento essencial é o intelecto e não tanto o meio ambiente ou a tecnologia. Podemos assim dizer que o etnocientista se interessa em saber como seus pares percebem a cultura e não tanto como ela realmente é, ou seja, o indivíduo integrado, imerso, numa realidade natural e social, o que significa em permanente interação com seu meio ambiente, natural e sociocultural, fato a ser considerado na apresentação dos conteúdos matemáticos durante as aulas.
Esperamos que as propostas do fazer Etnomatemática, Etnociência e Etnocultura, seus significados e contribuições para a formação do professor e para o ensino e aprendizagem da matemática aqui apresentados, sejam úteis para você, professor, e para sua sala de aula.
Pedro Carlos Pereira
Saddo Ag Almouloud
Gabriela dos Santos Barbosa
INTRODUÇÃO
O nosso livro tem início com um artigo, in memoriam, do professor Paulus Gerdes, intitulado Sobre investigação etnomatemática e simetria
, que relata um estudo sobre o papel metodológico e heurístico jogado pela simetria, o impacto interdisciplinar da simetria noutras esferas científicas e/ou culturais e sobre o significado especial da simetria influenciado pela cultura moçambicana, seja no artesanato, na dança ou na arte, as simetrias.
O capítulo apresenta simetrias rotacionais, axiais, central, frisos, bilateral e rotacional de ordem 2. A frequência e o valor cultural dessas simetrias estimularam a investigação do professor Paulus nas seguintes direções: por que é que ocorrem essas simetrias? Por que é que são culturalmente estimuladas? Como é que podem ser incorporadas no ensino da simetria em particular e da geometria em geral? Como é que pode ser explorado o seu potencial matemático? Os estudos foram muito influenciados pelas mudanças na simetria que ocorrem durante o processo de produção e construção dos artefatos tradicionais moçambicanos.
O segundo capítulo, Jogos tradicionais e raciocínio em sala de matemática na República do Mali
, escrito pelos professores Mamadou Kanouté e Saddo Ag Almouloud, é uma descrição da pesquisa que tem como foco o ensino e a aprendizagem da Matemática em língua africana, mais especificamente na República do Mali. A reformulação do sistema educacional de Mali está baseada no uso das línguas nacionais como matéria e meio de ensino. Um conceito matemático construído e expresso na língua materna da criança permite ao aluno compreender o conceito e ao professor ter acesso às concepções do aluno.
Para a realização desta pesquisa contamos com duas práticas tradicionais utilizadas para a construção do conhecimento matemático: os jogos ntenten e ngelu e contagem oral. As questões de modelagem teórica da contagem oral Bamanan, bem como a didatificação dos jogos tradicionais, ambas se relacionam a um problema etnomatemático.
A abordagem didática de tal problema pode ser considerada como o estudo de dois aspectos principais em constante interação. O primeiro aspecto diz respeito ao estudo de práticas sociais com o objetivo de extrair modelos de conhecimento que façam sentido em matemática. O segundo está cunhado pelo estudo das condições de didatificação desses modelos para integrá-los nos conteúdos da formação docente.
O terceiro capítulo, Relação pedagógica professores, pais e sociedade: uma análise dos recursos de ensino nos processos de Educação
, do professor Alberto Domingos, traz a relação pedagógica como parte fundamental dos processos de ensino, destacando-se o estado na formulação de diretrizes para que o ensino alcance os objetivos desejados, conforme os currículos em vigor, com a colaboração dos professores, dos pais e da sociedade para a efetivação da aprendizagem dos alunos.
Metodologicamente, trata-se de uma pesquisa qualitativa, bibliográfica, permitindo refletir sobre a relação entre os pais e a Educação dos seus filhos, se eles devem participar da qualidade da Educação oferecida aos filhos. Diante disso, foram discutidos os recursos pedagógicos envolvidos no processo de ensino, com destaque para as propostas de intervenção e para o melhoramento das relações pedagógicas, pois a Educação desempenha um papel transformador no homem e na sociedade.
Nesse sentido, os professores, os pais e a sociedade devem trabalhar coletivamente, para criarem formas e mecanismos que remetam os alunos a se tornarem autodidatas e construtivistas sobre o que têm a aprender, a construir e a inovar, incentivando-os a serem criativos e dinâmicos em sua aprendizagem.
No quarto capítulo, A etnomodelagem e a construção de pipas: uma proposta de sequência didática para o ensino de Geometria
, os professores Pedro Carlos, Renato Aquino e Thaís Muniz procuram resgatar uma prática cultural ainda mantida em alguns bairros das zonas norte e oeste da cidade do Rio de Janeiro, que é a construção e o empinar pipas. Em sala de aula, eles buscam relacionar esse fazer com conceitos básicos da Geometria Plana, com os alunos da segunda fase do ensino fundamental. Para tanto, a Etnomatemática, como um campo de pesquisa na Educação Matemática, permite ter um ensino de matemática mais significativo e com sentido para os alunos, pois ela objetiva a compreensão da relação matemática-mundo por práticas e meios desenvolvidos por um grupo cultural.
Como o estudo foi realizado sobre a construção de pipas, tomou-se como referencial a Etnomodelagem, por provocar um diálogo entre a matemática acadêmica e a matemática informal desenvolvida na cultura de uma localidade. Sabendo que a Etnomatemática nos mostra como a diversidade de estudos feitos em diferentes culturas contribui para a compreensão e para a valorização das práticas matemáticas informais, temos a Etnomodelagem, que nos traz a união entre o campo de pesquisa da Etnomatemática com a Modelagem matemática, abrangendo diferentes abordagens, sendo fator motivacional para a aprendizagem, trazendo o ambiente cultural do aluno para sala de aula.
O quinto capítulo, Etnomatemática e pedagogia decolonial na formação de professores de Matemática
, dos professores Alexandre Freitas, Elohá Gomes e Gabriela Barbosa, relata as possibilidades de articulação da pedagogia decolonial e da Etnomatemática na formação de professores que ensinam