Na Trilha Do Trem De Ouro
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Na Trilha Do Trem De Ouro - Rodrigo Orsoli
O Emblema
Arhur Pretti
Luxemburgo, janeiro de 2023
Era sexta-feira, 13 de janeiro de 2023, às dez e vinte sete da manhã, mas não tinha nada de assustador ou algo parecido como todos os contos que fazem menção a essa data. Olhando pela janela, apenas um vento frio soprava do lado de fora em um dia nublado, era inverno em Luxemburgo, mas não havia nem sinal de neve ou o frio congelante de anos atrás. Muitas pessoas ainda não acreditam na realidade do aquecimento global e acreditam que os dados da temperatura terrestre estão sendo manipulados para que pareça que o planeta está ficando mais quente. Espero que essa crença seja verdade, e que o planeta vai voltar naturalmente a esfriar nos próximos anos, permitindo que as pessoas vejam a neve novamente e possam apreciar as lindas paisagens de inverno.
Já se passaram alguns anos desde que um banco de investimentos me contratou para integrar sua equipe em Luxemburgo como contador, não tenho porquê reclamar do trabalho e tampouco do salário, acho que ganho o suficiente para viver e poder usufruir minhas férias no Brasil com minha família e ainda viajar por duas semanas nas lindas praias Europeias.
Sendo um contador, meu trabalho se resume em questões financeiras, tributárias, econômicas e patrimoniais em um banco de investimentos. Sempre gostei muito de números e acabei fazendo uma faculdade em Ciências Contábeis. Ainda bem que escolhi essa área, pois foi ela que abriu as portas para ser contratado por uma empresa na Europa, tendo em vista que o mercado contábil está em alta não só por aqui, mas pelo resto do mundo afora também. Em especial, sempre gostei mais de matemática do que das outras matérias, por esse motivo escolhi essa profissão, por ter mais habilidades em exatas do que humanas na escola. Ainda assim, sempre gostei muito de História e Literatura, em especial de Histórias que fazem menção à Segunda Guerra Mundial. Acho que, por ironia do destino, sendo sorte ou azar, vim cair bem em um país onde houve uma grande invasão na Segunda Guerra Mundial e sofreu forte influência nos cinco anos que permaneceu ocupada pela Alemanha Nazista.
Sexta-feira, 13 de janeiro de 2023, um dia normal para mim, trabalhando em home-office, como muitas pessoas ainda fazem após a pandemia, desde que as máscaras deixaram de ser obrigatórias, bem como trabalhar em tempo integral e presencial. Acho que os donos de empresas perceberam que os lucros são maiores, tendo em consideração que não gastam mais tanto dinheiro com locação de espaço, energia, café e outros itens necessários que fazem parte do dia a dia do funcionamento de um escritório, onde os funcionários são obrigados a bater o ponto e permanecer 5 dias por semana das 8:00 até as 18:00. No meu trabalho agora é necessário ir apenas 2 ou 3 vezes por semana, dependendo da demanda ou reuniões e, para mim, isso é um ótimo negócio, pois posso praticar exercícios na hora do almoço, com exceção dos dias que não esteja chovendo ou menos de 3 graus celsius de temperatura do lado de fora.
Moro há mais de 5 anos no Grão Ducado de Luxemburgo, e durante este tempo passei a maior parte do tempo na região sudoeste do país. Para mim tudo isso é ótimo, pois como gosto de correr e andar de bicicleta, existem várias opções de caminhos asfaltados entre as plantações e parques florestais que ligam a cidade onde moro a outras vilas como Differdange, Belvaux, Bascharage entre outras.
Geralmente gosto de correr no máximo 10 km, contando ida e volta, o que me leva, na maior parte das vezes, a correr até o Castelo de Sanem, que possui um grande gramado verde e algumas belas flores na primavera, mas é sempre deserto no outono e inverno. Quando tenho um pouco mais de energia e quero esticar a corrida, acabo correndo em outra direção, no sentido do Parque de Belvaux. Corro por um pequeno caminho, que no passado era uma estrada de ferro e ligava a cidade de Pétange a Siderúrgica de Belval, onde imagino que escoavam os minérios extraídos das jazidas, que são muitas por aqui. Aprecio corridas e pedaladas por longas distâncias, em especial na primavera e verão que têm uma temperatura mais agradável do que esses 7 graus celsius que me dispus a correr hoje.
Minha parada para pegar o fôlego e, às vezes, nos dias de calor para tomar algo, é sempre no Fond-de-Gras, onde tem uma cafeteria e restaurante. Tudo é deslumbrante aos olhos das pessoas que gostam de história. A plataforma onde os trens saem para turismo é muito charmosa, se parece com um grande cenário de filme, tudo original e bem conservado, datado do ano de 1900. No meio da plataforma há um grande relógio antigo, a arquitetura do local é magnífica e dentro, o que seria a estação, hoje é uma pequena cafeteria que parece ter parado no tempo, bem como a senhora que atende o balcão.
Começou a chover e entrei no café para fazer uma pausa. Notei que a chuva estava ficando mais intensa, decidi me sentar a uma mesa e pedir algo para beber. O local estava quase vazio e, pudera, nem um louco sai em um dia como esse em um lugar que é lotado de turistas no verão e vazio no inverno, em plena sexta-feira 13 e chuvosa, temperatura de 7 graus, mas com sensação de 4.
Sentado na mesa do café, olhei o cardápio para ver se algo me agradava, pois se passava das 13 horas e vinte e dois minutos e eu já deveria ter voltado para casa, tomado banho, comido algo e voltado para o trabalho, visto que tinha uma reunião agendada para às 15 horas sobre a implantação do novo sistema contábil. Como sabia que não teria tempo suficiente para voltar para casa e preparar algo para comer, decidi pedir.
O cardápio não tinha muitas opções que me agradavam, então dei uma olhada ao redor e notei alguns croissants de chocolate no balcão. Decidi pedir um acompanhado de um café expresso, pois não queria comer muito, ainda tinha o caminho de volta e sabia que por lá não passava ônibus, teria que fazer uma caminhada de pelo menos uns 3 km até chegar no ponto mais próximo. Com um pouco de sorte talvez conseguisse pegar uma bicicleta semielétrica e com bateria na estação mais próxima, a fim de que isso pudesse agilizar o meu retorno para casa. Aqui em Luxemburgo existem vários locais até mesmo remotos onde você pode pegar uma bicicleta e devolver em outro ponto, no entanto o local mais próximo das bicicletas fica a 2 km de distância, e eu estava 13 km longe de casa.
Levantei minha mão solicitando que a senhora do café viesse à minha mesa para fazer o pedido, mas ela deu de ombros, como se estivesse sobrecarregada de serviço naquele local vazio. Notei que só tinha a minha mesa e mais uma outra ocupada com apenas 2 homens que comiam um sanduíche de presunto com queijo e tomavam cerveja, eles usavam macacões com camisa branca ao estilo dos antigos maquinistas, mas não estavam sujos de carvão como vemos nos filmes, acho que porque estavam sem serviço no trabalho, não havia nada para fazer ali nesta época do ano. Permaneci com a mão levantada e a chamar a senhora do café, mas pressenti que ela não queria dar uma de garçonete, então me levantei, exausto, depois da corrida de 13 km, e fui até ela.
Eu falei em francês.
- Bonjour Madame.
Ela respondeu em luxemburguês, com um ar antipático.
- Moien.
Em Luxemburgo existem 3 idiomas oficiais, sendo eles o luxemburguês, alemão e francês, mas é bem comum encontrar outros idiomas falados aqui, por ser um país com 175 diferentes nacionalidades e a língua inglesa é lecionada nas escolas, onde uma boa parte da população a utiliza para se comunicar.
Ela murmurou mais algumas palavras em luxemburguês, mas eu não entendi nada, costumo dizer que meu inglês é ruim, meu francês é péssimo e o luxemburguês não existe nem palavra para expressar, pois ele é nulo.
Sendo assim resolvi falar em inglês mesmo.
- Please, I would like an expresso and a chocolate croissant.
Ela não respondeu nada, mas entendeu o pedido, pois com a mesma mão que ela estava folheando o jornal pegou o croissant, colocou em um saco de pão e foi para a máquina de café italiana preparar o expresso, foi neste momento que me deparei com uma notícia no jornal, cuja página estava aberta.
ENCONTRADO ESQUELETO DE UM SOLDADO DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
A descoberta de um esqueleto que se parece ser um soldado alemão da Segunda Guerra Mundial, levou à paralisação dos trabalhos de escavação do novo estacionamento no centro da cidade, durante várias horas, na capital luxemburguesa. Uma equipe especializada foi até o local analisar os restos do corpo bem como tentar descobrir a causa da morte.
O esqueleto foi descoberto perto da ponte du château, junto à Bock Casemates, na manhã de quarta-feira, durante as obras de um novo estacionamento.
A notícia não dava mais informações sobre o ocorrido, apenas uma foto do esqueleto no local com suas vestes e um emblema no uniforme do lado direito do peito, que me fez ficar pensativo sobre esse símbolo específico em seu casaco, pois já tinha visto aquilo antes, mas não recordava de onde.
2.
Biblioteca Nacional
Arhur Pretti
Luxemburgo, janeiro de 2023
Depois que cheguei em casa e finalizei o meu trabalho, tentei fazer alguma busca na internet atrás da resposta para o símbolo misterioso que tinha visto no soldado morto, mas não tive sucesso em minha pesquisa. A internet é excelente para buscar e achar informações superficiais de tudo, mas quando é preciso algo mais profundo ou antigo, temos que ir à biblioteca.
Acordei de manhã, era sábado, tomei um café, peguei o trem para a estação central de Luxemburgo, andei poucos metros e subi no bonde, desci na frente da biblioteca nacional, situada na 37D Avenue J. F. Kennedy, um lindo e gigantesco prédio. Entrei e observei que o local estava vazio, como quase todos os outros lugares aqui em Luxemburgo, tirando os shoppings e supermercados. Lógico, esses vivem lotados aos finais de semana. Subi alguns degraus de escada, peguei alguns livros sobre a Segunda Guerra Mundial, história de Luxemburgo, achei um livro de símbolos, emblemas, brasões e outras imagens sobre o assunto, sentei em uma das mesas disponíveis, abri meu notebook e comecei a pesquisar.
Depois de duas horas ali sentado, comecei a ficar com sono. Precisava de outro café para despertar, e então, como eu já conhecia o lugar, fui até uma chaleira elétrica