Adoção por pessoas transexuais: à luz do princípio do melhor interesse da criança e do adolescente
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Sobre este e-book
A obra é dividida em três capítulos: o primeiro analisa a entidade familiar, percorrendo toda a sua evolução histórica, como também os princípios que regem as relações familiares. Já o segundo capítulo discorre sobre os aspectos gerais da adoção, abordando o seu surgimento no mundo e no Brasil, as suas principais formas existentes e todo o trâmite processual necessário para a sua realização. Por fim, o terceiro capítulo aborda a adoção por pessoas transexuais, tratando de todos os direitos assegurados a essas pessoas pelo ordenamento jurídico. Mencionando também a tutela jurídica dos transexuais no mundo e no Brasil, expondo os avanços legislativos em determinados países, bem como todo o progresso no entendimento jurisprudencial e legislativo do ordenamento brasileiro a respeito da tutela dos direitos das pessoas transexuais.
É importante ressaltar que nas decisões tomadas em relação aos menores de idade deve ser levado em consideração o princípio do melhor interesse da criança e do adolescente, resguardando sempre sua integridade e respeitando suas vontades e opiniões. Não sendo justo deixá-las em abrigos, muitas vezes sendo esquecidas, sem amor, carinho e cuidado, devido à identidade de gênero do adotante
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Adoção por pessoas transexuais - Mariana Machado Soares
1. INTRODUÇÃO
A Constituição Federal de 1988 (CF/88) consagra a todos os indivíduos, brasileiros ou estrangeiros residentes no país, a dignidade da pessoa humana e a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade e à igualdade. Essa proteção é inerente a todas as pessoas, sem distinção de cor, raça, sexo, origem e credo, e esses direitos são tutelados pelo Estado, que tem o dever de proporcionar a todos chances iguais para que possam atingir seus objetivos.
A igualdade de gênero é questão primordial para se viver em uma sociedade mais justa, igualitária e democrática, a qual é vista não só em relação ao respeito, mas abrangendo também direitos iguais, direito de ser inserido no mercado de trabalho e ter salários dignos, participar ativamente da política, direitos relacionados à adoção, às técnicas de reprodução assistida e várias outras infinidades de direitos.
Nesse mesmo sentido, Louro (2014, p. 183) entende que a igualdade de gênero:
[...] é um processo constrangido e limitado desde seu início, uma vez que o sujeito não decide sobre o sexo que irá ou não assumir; na verdade, as normas regulatórias de uma sociedade abrem possibilidades que ele assume, apropria e materializa.
A preocupação com a igualdade de gênero surgiu após a 2º Guerra Mundial. Depois das atrocidades vivenciadas nesse período, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) adotou e proclamou em 1948 a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), e foi a partir dessa Declaração que os países começaram a proteger e respeitar os direitos dos indivíduos.
O Estado brasileiro passou a ter uma preocupação com o indivíduo a partir da CF/88, protegendo e garantindo os direitos do indivíduo que esteja em território nacional, passando o ser humano a ser o centro do direito. Ficando evidente que a livre escolha de gênero não é fato impeditivo para exercer seus direitos e ter proteção estatal, o indivíduo transexual (trans) não se torna menos digno em decorrência da sua orientação sexual.
Assim sendo, o presente trabalho tem como objetivo geral analisar a garantia dos direitos que as pessoas transexuais têm em adotar, levando em consideração o princípio do melhor interesse da criança e do adolescente. Para dar auxílio, foram traçados os seguintes objetivos específicos: analisar as garantias e proteções que a CF/88 e as legislações infraconstitucionais garantem às pessoas transexuais; apresentar a evolução histórica do direito das famílias e o processo de adoção; destacar os atuais posicionamentos doutrinários, legislativos e jurisprudenciais acerca da adoção por pessoas transexuais.
Diante desse cenário, o presente trabalho foi dividido em três capítulos. O primeiro retrata a evolução da entidade familiar, abordando todas as modificações que a família passou ao longo dos séculos, como também os princípios aplicáveis às relações familiares.
Já o segundo capítulo aborda os aspectos gerais da adoção, percorrendo desde o seu surgimento no mundo e no Brasil e passando por todas as mudanças que a adoção e seu processo sofreram no decorrer dos anos. Retrata também as diversas modalidades de adoção, não sendo a condição sexual e o estado civil requisitos para o indeferimento de tal instituto.
Por fim, o último capítulo traz a adoção por pessoas transexuais, passando pelo conceito e toda evolução legislativa que sofreram ao longo da história, adquirindo diariamente espaço e voz, o que ainda é pouco, mas estamos avançando a cada dia. Foi abordado também o atual entendimento em relação à adoção de crianças e adolescentes por pessoas trans, bem como o posicionamento dos doutrinadores e da jurisprudência sobre o assunto; e, por fim, foi feito um panorama a respeito das garantias fundamentais que pessoas trans têm no Brasil com os demais países do mundo.
Tal tema tem grande importância na sociedade, principalmente no Brasil, devido aos altos índices de assassinatos e discriminações cometidos às pessoas transexuais. A violência de gênero vem crescendo diariamente, e o Brasil lidera o ranking mundial de assassinatos de transexuais. O Ministério da Saúde revela que, no ano de 2017, 11 pessoas trans eram agredidas diariamente no país.
O tema abordado nesta pesquisa é de suma importância, e é questão retratada em diversos congressos. Alguns autores, como Maria Helena Diniz, Rolf Madaleno e Elizabeth Zambrano, vêm discutindo esse assunto em seus livros, mas infelizmente muitos doutrinadores o excluem de suas obras, o que acaba enfraquecendo a discussão dessa matéria no mundo jurídico. Com o indeferimento da adoção por pessoas trans, o Estado deixa de assegurar os direitos fundamentais dos indivíduos.
O método de abordagem a ser utilizado durante este trabalho será o dedutivo-qualitativo, visto que o texto terá sua construção baseada em análise bibliográfica e referências pertinentes ao tema, relacionando-os com toda a parte teórica sobre o assunto.
O presente trabalho teve como base alguns estudos anteriores, conforme o quadro a seguir:
Fonte: Elaboração própria, 2023.
2. EVOLUÇÃO DA ENTIDADE FAMILIAR
A origem da família está relacionada à instituição mais antiga da humanidade, é nela que nasce e se forma o sujeito. A família desempenha um papel fundamental na construção de valores e na propagação da cultura. Ela é a base da sociedade, é a partir dela que tudo se inicia, que o indivíduo se desenvolve e se estrutura (PEREIRA, 2020, p. 3).
A família vem passando por diversas modificações ao longo da história. Por séculos, a família brasileira, pautada em um modelo único e indissolúvel, derivava