Festas De Carros De Boi
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Festas De Carros De Boi - Rogério Corrêa
Rogério Corrêa
FESTAS DE CARROS DE BOI
1ª edição atualizada
Brasília, DF
ICEIB
2024
Logomarca do ICEIBCopyright © 2024 by Rogério da Silveira Corrêa
Instituto Cultural de Escritores do Brasil — ICEIB.
Contato com o autor: rogerioscorrea@gmail.com
Capa: ID Arte Digital — idartedigital@gmail.com
Arte da capa: YAMANAKA, Mary L.S. Festas de Carros de Boi. Óleo sobre tela, 80 cm x 100 cm. São Paulo:2013. Coleção Particular.
Revisão: Maria DSA — maria.montillarez@gmail.com ou
A reprodução parcial ou total desta obra, por qualquer meio, somente será permitida com a autorização por escrito do autor (Lei 9.610, de 19/03/1998).
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
C824
Corrêa, Rogério
Festas de Carros de Boi. / [recurso eletrônico] / Rogério Corrêa. – 1ª edição atualizada. Brasília, DF: ICEIB, 2024.
62.165 Kb.
ISBN 979-84-4168-08-99
1. Geografia e viagens. 2. Folclore. 3. História. 4.
Cultura. 5. Culinária mineira. 6. Festas tradicionais.
Brasil. I. Título.
CDD 320.01 (22.ed)
CDU 32
Agradecimentos
Este livro é o resultado de um projeto que exigiu muita dedicação, noites dormidas pela metade e fins de semana de intenso trabalho, meu e de minha equipe do Instituto ICEIB – Instituto Cultural de Escritores do Brasil.
Além do meu próprio trabalho recolhendo dados, organizando-os e dando-lhes redação, a colaboração de várias pessoas e instituições, seja me fornecendo informações seguras, entrevistas, sugestões e outras formas de ajuda, foi fundamental para que esta obra seguisse um curso mais veloz. A cada um de vocês, meus sinceros agradecimentos.
Agradeço aos meus familiares, que estiveram comigo, dando aquele apoio que só a família sabe dar, independente das dificuldades. Às minhas filhas, Joana d’Arc e Laura, que perderam alguns momentos preciosos ao meu lado, ou estiveram em muitos momentos comigo, apenas porque esse projeto era importante para mim; à minha esposa Amélia, que me compreende e apoia, neste árduo ofício de ser escritor. Dedico a vocês três esta obra, tal qual lhes dedico minha vida.
Rogério Corrêa
Nota de revisão
O Instituto ICEIB ‒ Instituto Cultural de Escritores do Brasil,da qual é integrante o autor deste livro Rogério Corrêa, respeita a licença poética, e em vista do cerne daquilo que a compõe, a Literatura, sempre apoiará o uso de todas as variantes linguísticas nacionais, conforme seja o desejo manifestado pelo escritor de assim as expor em sua produção literária.
Desde o advento da Linguística no Brasil, como disciplina ensinada nas academias e mais recentemente em algumas escolas de ensino fundamental e médio, tornou-se comum procurar esclarecer às pessoas, acerca das enormidade de variantes linguísticas (falas regionais) existentes no Brasil e o respeito que se deve ter por elas, pois o essencial de uma língua é estabelecer comunicação. Uma vez que a comunicação se estabeleceu, os conceitos de certo
e errado
devem se sujeitar aos cuidados do bom senso, para evitar preconceitos linguísticos que culminem em preconceitos sociais.
Variantes linguísticas devem ser entendidas como componentes da nossa cultura e respeitadas dentro da fala. Todavia, não se pode admitir que o respeito à fala se sobreponha ao uso da Norma Padrão, especialmente em textos. A padronização da escrita evita muitas confusões de interpretação na leitura e uma torre de babel
na Língua Portuguesa.
Neste livro trazemos como título um substantivo composto por justaposição carro de boi,escritos por aí de várias maneiras, principalmente com o boi no plural. Além disso, alguns estudiosos até defendem nomenclatura diferente para o termo. Tratar-se-ia de uma locução substantiva ‒ salve a controvérsia! E então vamos a mais uma:o formulário ortográfico de 1943 permitia que se grafasse com ou sem hífen aquela composição, mas o acordo de 1990 aboliu a divergência, fixando a grafia, sem o hífen.
Quanto ao substantivo compostocarro de boi fazer o plural no segundo elemento, após a preposição, a regra diz: substantivos compostos, quando se trata de dois substantivos ligados por uma preposição clara, apenas o primeiro elemento vai para o plural.
Sobre isso, alguns dicionários definem:
Significado de carro-de-boi
Português
Substantivo
Carro-de-boi [sic] masculino (plural: carros-de-boi[sic])
transporte rudimentar de madeira, com duas rodas, que se move sendo puxado por bois (Nossa Língua Portuguesa sd.).
O Dicionário Aurélio
traz: Substantivo masculino. Carro de boi. 1. Carro (1) movimentado ou puxado, em geral, por uma ou mais parelhas de bois, e guiado por carreiro.
No site Só Português
, e em qualquer boa Gramática da Língua portuguesa, é possível conferir a regra dos substantivos compostos. Em 2003 a Editora Itatiaia publicou o livro Ciclo do Carro de Bois no Brasil
. O título usando a variante "carro de bois" deve ter sido licença poética ao autor Bernardino José de Souza.
Rogério Corrêa questionou, pleiteou o uso de qualquer uma das diversas variantes que encontrou, enquanto pesquisava para compor este livro. Mas, no fim das contas, deixou a critério desta revisora aplicar ou não a Norma Padrão. Apliquei-a.
Maria das D. D. de Sá de Amorim
26 de junho 2013.
Nota do autor
Se olhar a minha árvore genealógica se poderá comprovar que meus antepassados, de várias gerações, são do mundo rural e carreiros.
Por ter vivido a minha infância e juventude na roça e amar a cultura do sertanejo, participo das Festas de Carros de Boi de Vazante – MG (a tradicional) desde 1994. Nunca perdi uma; de alguns anos para cá passei a estudá-las.
Houve edições que acompanhei todo o percurso a cavalo, porém, por morar fora de Minas Gerais nos últimos anos, indo lá só em ocasiões específicas, em algumas das edições preferi seguir de carro para os pousos dos carreiros. Acampava junto a eles, e no próximo dia, mudava para o outro pouso, e assim sucessivamente, até o último dia de festa.
Há três anos resolvi registrar as pesquisas em um livro e iniciei a busca de material sobre o assunto. Para meu espanto, no livro que ora escrevo o carro de boi iria precisar, não apenas do registro das festividades acerca dele, mas igualmente de que fosse narrada sua importância histórica para o Brasil e para o mundo, porque afora o livro O Ciclo do Carro de Bois
no Brasil, de Bernardino José de Souza, (1884-1949), edição póstuma, quase nada mais existe de científico a respeito do assunto.
Na pesquisa de campo, durante os três anos que me dediquei ao estudo, entrevistei vários carreiros, candeeiros; gravei diálogos com eles e com participantes das festas e entusiastas do tema. Esses depoimentos estão organizados nas páginas finais deste livro.
O intento de registrar a tradição dos carros de boi é, primeiro para relembrar à sociedade do valor que eles tiveram e ainda têm; tentar salvar do esquecimento essa tradição que foi vital à sobrevivência de tantas comunidades pelo país afora, e preencher a absoluta inexistência de conteúdo científico sobre os carros de boi.
Naqueles diálogos estabelecidos entre mim e os carreiros e candeeiros, além dos vários adeptos do assunto, pude comprovar quão apaixonados eles são pela cultura, labuta diária nos dias de festa; pela amizade e camaradagem entre eles e os demais participantes.
A paixão deles é nítida naqueles dias que antecedem as festas, mas também permanece quando elas terminam e eles devem voltar para suas casas. A paixão está contida no ritual de cada festividade, está contida no retorno para casa, porque voltam possuídos de uma expressão de êxito. Eu não exagero se digo que voltam cantando. Alguns desses carreiros levam longos dias de viagem para retornarem às suas casas.
Então, estou falando de uma comemoração que exige muito, fisicamente, de cada participante. É claro que exige mais das parelhas de bois, mas elas são selecionadas, treinadas e naturalmente mais fortes do que os homens. Daí que é-nos necessário molhar a garganta para tirar a poeira, ou para esterilizá-la da lama. Para tanto, usamos algumas doses da cachacinha mineira. Depois, temos de alimentar o corpo, que consome muita energia nas festividades. Por isso, é graças ao trabalho distanciado da editora, que não se sente exalar das páginas deste livro um suave cheiro de cachaça mineira, ou o delicioso aroma das comidas típicas, pois nessas festividades não podem faltar boa cachaça e comida mineira.
Em junho de 2010 fixei minha primeira barraca em torno das festividades, de posse de meu binóculo de pretenso Antropólogo, Jornalista, Historiador... mas sou Filósofo! Enfim, procurei mencionar todas as festividades que utilizam carros de boi na região de Vazante, tendo em vista que a maioria dos carreiros participa de mais de uma delas, e seria injusto retratar apenas uma ou outra festividade.
Geralmente as festividades acontecem no mês de julho, época em que se colhem as lavouras de milho, principal produto transportado pelos carreiros em dias de festa. Também é a época mais fria e empoeirada do ano, fatores esses que dão um ar mais rudimentar a festança. Muitos não participam da festa devido à junção dessas duas adversidades. Porém, no meu ponto de vista essas adversidades caem como luva. Aquele cenário fica mais agreste, dá um tom mais especial e faz com que os participantes vivenciem o que é realmente uma festa de carros de boi.
Essas duas festas são itinerantes. Quando resolvi partir para a pesquisa de campo com gravador e câmera fotográfica, fui conversando com muitas pessoas, priorizando as mais idosas, supondo que estivessem há mais tempo no ofício de carrear. Eu queria conhecer detalhes sobre a dura vida dos carreiros no passado.
Fui a várias fazendas na região de Vazante e circunvizinhanças. Gravava e fotografava tudo. Durante todos os dias da Festa de Carros de Boi da Comunidade Cachoeira e da Festa de Carros de Boi de Vazante (a tradicional/2011), fiquei em pontos estratégicos para ir conversando com os candeeiros, carreiros e visitantes, além de tirar fotos. Sempre os acompanhava, e quando conversava sobre algo mais relevante, eu gravava.
Primeiro dia: na roça de milho, enquanto enchiam os carros de boi com as espigas de milho, ou com as sacas de milhos debulhadas, após deixarem os carros preparados para o dia seguinte, eles montam os toldos junto aos carros de boi, ou suas barracas. Alguns dormem debaixo dos carros, preparam as suas refeições do lado do carro de boi, tomam suas cachaças, cervejas e contam os causos. Muitos deles afirmavam que só dariam a entrevista depois que eu tomasse uma dose de cachaça, ou outra bebida com eles, e comesse um tira gosto (carne de porco na banha, rapadura, farofa, carne, paçoca de carne ou pedaço de rapadura). Em geral, é algo especial, que eles preparam para os dias de festa, então é uma descortesia não aceitar o que oferecem, e burrice também, porque cheira muito bem e é delicioso! Impossível recusar. Ser educado também facilita a entrevista.
Após algumas entrevistas, seguindo esse ritual, reconheço que ficava um pouco alegre, pois bebia de tudo um pouco.
Todos os dias têm forró em meio aos pousos, e outras atividades que podem ser cantorias próximas aos carros de boi, regadas a muita bebida e prosas descontraídas. Mesmo as noites muito frias não desanimam os participantes. É que todos estão ali com um propósito maior: carrear. Passatempos