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Formação matemática dos professores primários nos tempos da primeira república
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Formação matemática dos professores primários nos tempos da primeira república
E-book365 páginas4 horas

Formação matemática dos professores primários nos tempos da primeira república

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Sobre este e-book

Olhando para o período da Primeira República com olhos do passado, a história aqui contada é, dentre tantos relatos de formação de professores, uma narrativa que problematiza fatos que por mais de uma década (1920-1936) marcaram o debate educacional sobre a formação de professores para o ensino primário, dando a conhecer permanências e rupturas ocorridas nos referidos cursos. Nossa história leva a conhecer e a refletir sobre as transformações ocorridas na formação matemática de professores que se preparavam para ensinar na escola primária. Mostrando o cenário educacional dos anos iniciais da Primeira República, as ideias dos significados do passado no presente, encontradas nos documentos e nas memórias, compõem a escrita desta história de formação docente e tornam sua leitura uma nova possibilidade de análise do desenvolvimento e das mudanças ocorridas no ensino de matemática para formar professores.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de jan. de 2016
ISBN9788547302825
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    Pré-visualização do livro

    Formação matemática dos professores primários nos tempos da primeira república - Iara da Silva França

    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E TRANSDISCIPLINARIDADE

    Aos meus filhos e netos, troncos e galhos dos quais sou raiz!

    À minha mãe, meu eterno suporte!

    APRESENTAÇÃO

    Cumprindo o duplo papel de introduzir e motivar a continuação dessa leitura, apresento este trabalho que tem como origem minha tese de doutorado. Tal e qual a bordadeira que inicia seu trabalho com o tema e, aos poucos, vai escolhendo o desenho, o tecido, as agulhas, os fios, as cores, o acabamento e todos os elementos que comporão sua arte final, também eu, fui num ponto a ponto, bordando e transformando cada traço numa trama de fios que se enlaçam e entrelaçam até obter a obra final, contando assim a minha história. Uma história da formação matemática dos professores primários em tempos da Primeira República.

    Ao apresentar esta obra, destaco a colaboração especial de minha orientadora e da banca examinadora, composta por Wagner Rodrigues Valente (Universidade Federal de São Paulo); Maria Cecília Bueno Fischer (Universidade do Vale do Rio do Sinos); Joana Paulin Romanowski (Pontifícia Universidade Católica do Paraná); Rosa Lidya Correia Teixeira (Pontifícia Universidade Católica do Paraná) e presidida por minha orientadora, a professora Neuza Bertoni Pinto. Com sua leitura atenta e crítica, tornaram-se mais que mestres, amigos que me possibilitaram modificar cores, formas e o desenho final, trazendo-me novos elementos que se incorporaram à escrita deste livro.

    Muitas foram as instituições e pessoas que me ajudaram ao longo dos quatro anos de estudos e pesquisa da qual este livro é o fruto. Em todos os momentos, incluindo aqueles mais difíceis, quando em meio à pesquisa me faltou a saúde, a presença constante da minha orientadora, com seu carinho e incentivo, sempre acreditando e dando força aos meus anseios acadêmicos, foi crucial para o desfecho final e feliz desta escrita. Fundamental também foi a carinhosa acolhida que tive em todas as instituições nas quais busquei as fontes para esta pesquisa, destacando, entre outras, o Instituto Estadual de Educação Caetano Munhoz da Rocha (antiga Escola Normal de Paranaguá); o Instituto Histórico e Geográfico de Paranaguá; a Escola Estadual Faria Sobrinho, em Paranaguá; e o Colégio Estadual Moysés Lupion, em Antonina. Em todos os lugares por onde andei em tempos de pesquisa, muitas pessoas encontrei dispostas a colaborar, com fontes, depoimentos, ou simplesmente acolhendo. Porque foram muitas, prefiro não nomeá-las, mas agradecer e abençoar a cada uma.

    Impossível deixar de citar o Grupo de Pesquisa História das Disciplinas Escolares (GPHDE), suas coordenadoras, as professoras Neusa Bertoni Pinto e Rosa Lydia Teixeira Corrêa, meus colegas Antonio Flávio Claras, Lidiane dos Santos Felisberto, Elenir Terezinha Paluch Soares, Barbara Winiarski Diesel Novaes, Mariliza Simonete Portela e outros tantos que é difícil enumerar. As trocas com e entre os integrantes desse grupo, assim como os olhares de cada um, permitiram revisitar fontes e reorganizar as ideias. Gostaria de citar também a colaboração de todos os professores do Programa de Pós Graduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, em especial, os docentes das disciplinas que cursei, assim como, as funcionárias da Secretaria do PPGE – PUCPR.

    Dialogar com os colegas do Grupo de Pesquisa História da Educação Matemática (GHEMAT), em especial com o coordenador, professor Wagner Rodrigues Valente, permitiu a interação com pesquisadores de diferentes estados brasileiros, fortalecendo conceitos e entendimento do entrelaçamento desta com outras histórias da formação matemática dos professores.

    Neste estudo, as primeiras representações construídas a partir do conjunto de normas ditadas pela legislação pertinente e criadas por governantes e dirigentes permitiram compreender as finalidades da Educação em tempos da Primeira República.

    Foi necessário então, um olhar sobre as práticas presentes nas instituições formadoras de professores primários, como as Escolas Normais. Esse olhar mostrou-se condição fundamental para a compreensão das finalidades dessas instituições, em diferentes momentos do estudo, e do papel desempenhado por seus professores e alunos.

    Compreendemos pela análise das ideias circulantes nas Escolas Normais, recorrendo a atas de reuniões de congregação e das práticas escolares presentes nos cursos que formavam professores primários, como foi se desenvolvendo a formação matemática desses professores, por meio dos programas, métodos e materiais didáticos utilizados em sua formação.

    A emoção gerada por fontes como as atas pesquisadas nas escolas só não foi maior do que aquela causada pela leitura do caderno datado de 1915 de uma então futura professora, que nos permitiu desvelar aspectos de como era ensinada a matemática do curso intermediário, o qual também possibilitava ao aluno ali formado, lecionar na escola primária.

    Além destas, fontes como livros didáticos e periódicos foram fundamentais para compor a pesquisa aqui apresentada, cuja relevância encontra-se na possibilidade de análise do desenvolvimento e das mudanças ocorridas no ensino de matemática para formar professores primários, possibilitando-nos entrever as rupturas e continuidades dessa formação. Outro aspecto considerado é a importância da formação de professores primários, no período pesquisado, para a História da Educação, notadamente, a formação matemática desses professores no Paraná.

    A autora

    PREFÁCIO

    Entrar na antessala de um livro é algo honroso, gratificante, porém difícil, quando se trata de uma produção da qual participamos como orientadora. No que se refere à afinidade teórico-metodológica com a obra, um distanciamento se faz necessário, uma tarefa nada fácil. Difícil também porque a história da formação matemática de professores da escola primária, construída pela autora, remete a um aspecto ainda pouco discutido no campo da educação matemática: o espaço das relações entre a matemática e a pedagogia.

    Assim, este prefácio não se resume a um ato de louvor ou de incriminação do passado, mas procura destacar, na trama tecida com inúmeros fios, aqueles que revelam apropriações e representações que instigam novas questões acerca de velhos problemas da formação de professores.

    A história que a autora escreve é, dentre tantas histórias de formação de professores, uma narrativa que problematiza fatos que por mais de uma década (1920-1936) marcaram o debate educacional sobre a formação de professoras para o ensino primário, dando a conhecer permanências e rupturas ocorridas nos referidos cursos.

    Centrando seu olhar nas Bases Educativas para a Nova Escola Normal Secundária, proposta em 1923 por Lysímaco Ferreira da Costa, a autora analisou, com muita propriedade, transformações ocorridas na formação matemática dos professores do ensino primário.

    Nessa direção, o leitor é convidado a uma reflexão sobre a problemática da formação matemática de professores que se preparavam para ensinar na escola primária. Uma história que também mostra o cenário educacional dos anos 20 e 30 do século passado, com os anseios de seus personagens em relação à modernização da educação, reformas e novas propostas para a formação desses profissionais.

    Referindo-se à Marc Bloch, quando afirma que os homens são mais filhos de um tempo do que seus pais, Le Goff observa que os homens são talvez mais os filhos do tempo de seus pais, do que filhos de seus pais. ¹

    A história produzida por Iara é uma história filiada a um tempo de quase um século e que descortina o tempo de antepassados, em que a formação do professor era uma questão central nos debates sobre modernização da escola primária, um anseio constante no meio intelectual, social e político.

    O livro, estruturado em torno da formação matemática de normalistas, evidencia, não só apresenta, o cenário de entusiasmo e otimismo do período e também as transformações que se efetivaram nos processos da formação inicial dos normalistas, no Paraná, entre 1920-1936. Mudanças que introduzem novas rubricas na composição curricular da formação de normalistas para que possa reverter-se em mais qualidade de ensino na escola primária.

    A história que a autora disponibiliza aos leitores busca, portanto, responder a indagação sobre a natureza das mudanças levadas a efeito na formação matemática dos professores primários paranaenses, em tempos em que a Escola Normal passava, em vários estados brasileiros, por uma reorganização de seu currículo e de sua base teórico-metodológica.

    Ao abordar historicamente esse aspecto da formação docente, este livro propicia ao leitor o conhecimento de práticas formativas advindas da Primeira República, tempos em que o Brasil apresentava-se contornado de anseios de mudanças, de modernização, com ampla circulação de ideários da Escola Nova. É o que mostram as bem constituídas fontes-cores do estudo, tanto as normativas quanto as referentes às práticas escolares de formação.

    Ao não medir esforços para localizar e inquerir as mais pertinentes e originais fontes históricas, o empreendimento investigativo da autora confere a originalidade da história produzida. O Caderno da Janina (1915) deu visibilidade à cultura escolar que marcava a formação de normalista em período anterior à reforma. Confrontando programas, oficialmente prescritos com registros de aulas, o estudo vai apontando mudanças em relação às disciplinas, aos programas, aos métodos, e também aos professores formadores.

    Além das valiosas fontes, uma originalidade da pesquisa foi, não apenas ressaltar, também problematizar o espaço físico comum ocupado pelas duas mais importantes escolas do Paraná, o Ginásio Estadual e a Escola Normal, apontando o rompimento histórico de uma prática cultural e sua ressonância na qualidade da formação matemática das normalistas.

    Assim, as problematizações acerca das disciplinas do curso de formação estimulam reflexões e indagações sobre as finalidades que elas cumpriram no processo de formação.

    Nesse sentido, a contextualização das rupturas assinaladas, seja nos métodos de ensino, nas disciplinas ou na utilização do mesmo prédio, sinalizam para os vínculos entre a história de uma disciplina escolar e a história da instituição formadora na qual uma disciplina é ministrada elementos que apontam para a complexidade de uma cultura escolar em suas relações- com outras culturas, dentre elas, a cultura profissional dos formadores.

    A menção à presença de disciplinas comuns na escola ormal e no ginásio, as denominadas disciplinas de cultura geral, assim com a ausência da disciplina de cultura profissional, foi um ponto de destaque no livro. Por assinalar uma linha divisória na composição curricular dos referidos cursos (ginásio e Escola Normal), o estudo marca a presença de duas culturas na formação matemática das normalistas: uma mais geral e teórica, e outra, mais técnica e prática. Essa distinção repercute na escolha dos formadores, nas decisões de composição curricular e nos programas e métodos de ensino, aspectos que sofrem intervenções em vista do alcance das novas finalidades do curso, ao propiciarem conhecimentos úteis para o ofício do magistério, para o professor ensinar e contribuir aos anseios da modernidade almejada.

    Com o objetivo de formar adequadamente o professor para o ensino primário, a reforma introduziu novas disciplinas de caráter pedagógico, ofertando subsídios pedagógicos aos futuros professores, para atuarem em sala de aula. As disciplinas de cultura geral, voltadas à formação matemática (Aritmética, Álgebra e Geometria) vão perdendo seu rigor e abrindo espaço para a psicologia e metodologias do ensino.

    O estudo mostra sua originalidade, também, ao notificar a presença de dualidades culturais no processo formativo: um saber matemático (formação geral), protagonizado pelo método tradicional de ensino; e um saber pedagógico (instrução técnica), para ensinar matemática na escola primária, protagonizado pelo método intuitivo.

    Na disciplina Metodologia Geral, centrada na natureza dos métodos e na Metodologia Aplicada, que orientava sobre a condução do ensino em cada matéria, pode ser observada a dualidade de métodos: o tradicional com a difusão do método intuitivo no espaço da formação inicial dos professores do ensino primário. O estudo destaca, ainda, como elementos de mudanças, a inclusão de matérias como Antropologia e Pedagogia, no 2o ano, Psicologia Infantil Aplicada à Educação, no 3o ano, e Medodologia e História da Pedagogia, no 4o ano, sinalizando para a modernização empreendida por Pietro Martinez, na década de 1920, a difusão do método intuitivo e do uso das Cartas de Parker. Mudanças que podem ser notadas não só nas nomenclaturas das disciplinas, na carga horária, nas finalidades do ensino e na modernidade pedagógica dos materiais didáticos.

    Compreender mudanças ocorridas na formação matemática de normalistas é uma investigação complexa que requer uma análise rigorosa das fontes históricas, um olhar ampliado para as relações da disciplina com a cultura profissional dos formadores e um olhar atento à natureza da cultura da escola primária e da escola secundária, aspectos que o presente livro contempla, dada a seriedade, disciplina e criatividade cultivadas pela autora ao longo de seu doutorado.

    Muito sucesso em sua nova etapa de pesquisadora, querida ex-orientanda!

    Profª Drª Neuza Bertoni Pinto

    Curitiba, 15 de março de 2016

    Sumário

    INTRODUÇÃO

    capítulo 1

    A PROBLEMÁTICA DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

    DO ENSINO PRIMÁRIO (1920-1936)

    A instrução na Primeira República

    A formação de professores primários no Paraná (1920-1936)

    Formação de professores primários no Paraná no final da Primeira República (1920-1936)

    capítulo 2

    AS Escolas Normais NO ESTADO DO PARANÁ

    Nas bases educativas, a nova Escola Normal paranaense

    A Princesa dos Campos

    A Rainha do Itiberê

    No entrelaçamento das bases, alguns pontos comuns...

    As Escolas Complementares do Paraná

    As complementares primárias

    Escolas Normais Complementares

    Na organização das disciplinas, as diferenças...

    Professores que formavam os normalistas: formação

    Métodos para ensinar: ideário em circulação e apropriação

    Os cursos das Escolas Normais paranaenses

    capítulo 3

    FORMAÇÃO MATEMÁTICA EM ESCOLAS NORMAIS DO PARANÁ

    A formação matemática anterior às Escolas Normais

    Dos programas para a form(ação)

    As disciplinas matemáticas nas Escolas Normais paranaenses

    Métodos para ensinar e aprender as matemáticas: do intuitivo ao ativo

    Os materiais didáticos no ensino das matemáticas

    Da matemática das Escolas Normais para as escolas primárias... ou vice-versa?

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

    REFERÊNCIAS

    INTRODUÇÃO

    [...] mas ainda é tempo de viver e contar.

    Certas histórias não se perderam.

    Carlos Drummond de Andrade

    Histórias e estórias. Há poucos anos atrás, aprendíamos na escola que a diferença entre história e estória é que a primeira é aquela que conta sobre fatos reais, e a segunda é uma invenção saída da imaginação de alguém, conta a ficção. No entanto, depois da última reforma gramatical da Língua Portuguesa (do Brasil), o vocábulo ‘estória’ caiu parcialmente em desuso, e utilizá-lo agora não é errado, mas uma opção do autor. Sobre esse assunto, explicam os novos dicionários da Língua Portuguesa falada no Brasil, que a palavra estória já não precisa ser utilizada, pois o seu sentido é muito restrito e pode ser substituída pela palavra história, com significado muito mais amplo. Entretanto, embora tenham mudado os usos e desusos que se faz dos vocábulos, nesse caso estória e história, ambos se materializam e tomam forma quando transmitem ideias e informações de geração a geração, formando o corpo daquilo que denominamos um conhecimento. Esse conhecimento pode ser de fatos que aconteceram e são transmitidos, como a história oficial, ou o simples conhecimento das coisas cotidianas, dos afazeres diários, dos costumes, da moral, das lições por meio de fábulas e das fantasias misturadas aos fatos reais contadas pelas lendas. E essas histórias e/ou estórias podem ser transmitidas pela escrita (também pictórica) ou oralmente.

    Confesso que ambas as formas de transmissão das histórias me encantam. A escrita, porque nos possibilita ler e fazer a nossa interpretação quantas vezes desejarmos, tendo a cada leitura uma conversa diferente com o autor, pois teremos uma nova interpretação a cada leitura. A história contada, porque nos induz a termos a mesma interpretação daquele que a contou, possui, porém, a riqueza das palavras ditas, dos gestos, do olhar. É linda porque a interação é direta e parece objetiva, porém, nos deixa ver também o não dito, aquilo que está nas entrelinhas das palavras e dos gestos, mas especialmente no olhar.

    A reforma gramatical brasileira considerou um dos vocábulos desnecessário, mas quando pensamos nos dois vocábulos da forma que nos foi ensinada em algum lugar do passado, pergunta-mo-nos: quantas estórias estão contidas nas histórias e vice-versa? Até que ponto a História realmente aconteceu do modo como é contado e uma estória não possui uma realidade implícita? Existe um ditado popular brasileiro que diz que quem conta um conto aumenta um ponto. Quantos pontos terão sido aumentados ou diminuídos na História? Poderíamos mensurar quanto há de verdadeiro ou não na História? E na história da educação matemática? Há histórias não contadas ou não detalhadas na história da educação matemática? Há outro ditado popular no Brasil que diz que toda história tem três versões: a sua, a minha e a verdadeira. Haverá a versão verdadeira da história da educação matemática? E quanto à formação matemática? Que estórias estarão implícitas nessa história?

    No decorrer da História, as situações vão mudando e, aquilo que era importante ou até essencial em uma época, deixa de ser usado ou é substituído em outra. Isso aconteceu com a palavra estória para designar uma situação específica de história e acontece em diversas outras situações, inclusive com a história da educação matemática, onde também encontramos usos e desusos no decorrer do tempo e nos diferentes espaços geográficos.

    Aprendemos que na História não há verdades, há representações possíveis sobre uma mesma história. Tais representações são como esquemas intelectuais incorporados que criam as figuras graças às quais o presente pode adquirir sentido, o outro tornar-se inteligível e o espaço ser decifrado². Em outras palavras, buscar entender as representações de um tempo ido é pensar na realidade a partir do sentido dado a ela, por meio da leitura que fazemos das fontes.

    Vamos, então, buscar significados para uma realidade do passado que nos chega por meio de representações, recriando-a no presente ao contar uma história da educação matemática, localizada em determinado tempo e espaço. Ou fazer a representação de uma história da educação matemática inserida num contexto mais amplo no espaço, tornando-se uma história na educação matemática.

    Três perguntas são então suscitadas: como, porque e para que contar mais uma história da educação matemática? Mais especificamente, a história da formação matemática nas Escolas Normais do Paraná dos anos 20 e 30 do século XX?

    É necessário que se entenda, primeiramente, que o meu estudo é produzido valendo-se de três grandes áreas do conhecimento: a História, a Educação e a Matemática, visto que, "para utilizar o documental que nos permite compreender o passado da educação matemática temos que buscar ferramentas conceituais nos campos da História da Educação³. Sobre os métodos utilizados nas pesquisas em educação matemática que utilizam a História Cultural, estes são construídos [...] partindo de um lugar, a Educação; abordando um conteúdo, a Matemática; e utilizando um ferramental da História⁴". Tais explicações permitem encontrar a resposta do produzir essa representação do passado utilizando as bases da história cultural.

    O porquê me parece uma explicação redundante, porém farei aqui uma breve justificativa. É comum ouvirmos duas versões diferentes nas histórias sobre uma história passada: uma é a de que tudo o que passou era melhor do que o que temos no presente. No caso da Educação, há uma visão saudosista em que muitas pessoas costumam dizer que as crianças aprendiam mais facilmente, que as técnicas e os métodos utilizados eram melhores e mais eficazes e, inclusive, que os recursos, apesar de mais escassos, eram mais bem utilizados. Sobre a educação matemática, ouvimos que os métodos que utilizavam a memorização eram os que efetivamente davam certo e que somente decorando se consegue aprender tabuada. A outra versão é o oposto da primeira, e diz que tudo o que era feito em educação, e, particularmente, em educação matemática, não dava muito certo porque a metodologia estava errada, a memorização era prejudicial, não havia recursos suficientes, entre outros.

    Parece que, em se tratando de história, não é possível comparar tempos e espaços diferentes. O passado tem o seu valor dentro do contexto em que se encontrava inserido, assim como todas as ações do presente inserem-se no contexto em que estamos vivendo. Passado e presente são formados por uma enorme teia de relações que se estabelecem nos espaços e no tempo e continuam interagindo com as pessoas, podendo interferir no presente e no futuro. O tempo passado não era nem melhor, nem pior que o presente. Era apenas diferente. Ele não volta. Heráclito de Éfeso viveu há aproximadamente 500 anos a. C. e afirmou que nós não podemos nunca entrar no mesmo rio, pois como as águas, nós mesmos já somos outros. A água que permanece correndo rio abaixo pode não ser a mesma que antes por ali passou, porém, traz resquícios da anterior, como o presente, que nunca será igual ao passado, mas continuará seu percurso movido por uma força (ideário) e trará pedaços (materialidade) do passado, continuando a ser parte integrante do presente.

    Assim, o que a escola é hoje, com certeza está relacionado com os acontecimentos passados. É preciso uma ação para que haja uma reação, pois os acontecimentos não permanecem acomodados no tempo não sendo, portanto, lineares. Os acontecimentos dialogam entre si, e um fato do presente pode ser uma reação do passado, ou seja, de alguma forma, o passado pode permanecer no presente, quer seja pela materialidade (em um documento, uma foto, uma carta, um caderno), quer

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