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Professor homem: o estrangeiro na educação infantil
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Professor homem: o estrangeiro na educação infantil
E-book248 páginas2 horas

Professor homem: o estrangeiro na educação infantil

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Sobre este e-book

A Educação Infantil é um campo feminizado: a norma são mulheres no cuidado e educação de crianças. Estariam, então, os homens excluídos desse fazer? Quais os discursos veiculados e que circulam quando os professores homens são inseridos? Quais interpretações e significados são produzidos sobre eles e neles? Para responder a essas questões, Maria Arlete faz um estudo das relações de gênero, entendendo-o como uma construção social que influi na construção de identidades presentes em um espaço institucional específico: a escola.

"Este livro nos provoca a refletir sobre a presença dos professores homens na Educação Infantil, atuando com a educação e o cuidado de crianças pequenas. Trata dos desafios atuais para dar visibilidade à luta destes/as profissionais na luta contra as violências institucionais de gênero, contra as diferentes formas de preconceito de gênero."

(Daniela Finco)
IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de jan. de 2016
ISBN9788581929088
Professor homem: o estrangeiro na educação infantil

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    Pré-visualização do livro

    Professor homem - MARIA ARLETE BASTOS PEREIRA

    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E TRANSDISCIPLINARIDADE

    Aos meus amores,

    Valdir e Caroline.

    Agradecimentos

    Agradeço a Deus pela possibilidade desta travessia.

    Aos meus Professores e Professoras de ontem e de hoje...

    Aos/às colegas e amigos/as da Secretaria Municipal de Educação de Guarulhos.

    Aos amigos e amigas de minha convivência.

    A todos os familiares, meus e de meu marido...

    Ao meu pai, Albino (in memoriam), e à minha mãe, Alice, pelo seu amor... Sempre.

    Aos professores Alexandre, André, Claudio, Eduardo e Gilberto, que deram vida a este estudo.

    E a todas as pessoas que, de diferentes formas, estiveram comigo neste percurso, o meu mais sincero e profundo agradecimento.

    Apresentação

    Um conjunto expressivo de pesquisas tem acrescentado informações preciosas ao universo de estudos a respeito da criança. Um esforço contínuo, levado a efeito em todas as iniciativas do Programa de Pós-Graduação Educação e Saúde na Infância e Adolescência da Universidade Federal de São Paulo, tem conduzido um projeto científico fortemente interessado em recolher seus temas e objetos de dentro da densa trama que tece e entretece o tecido social. Isso se refere ao esforço que concatena os projetos de modo a evitar naturalizações e reducionismos que podem, ao termo, retirar do diálogo entre educação e saúde a fecundidade que os esforços interdisciplinares buscam.

    O trabalho de Maria Arlete é exemplar do quanto esse esforço coletivo abriu espaço para que alguns temas fossem revisitados de forma criativa. Assim, a Educação Infantil, que seguramente é um dos temas mais complexos e singulares na história social da infância no Brasil, é retomada pela autora com uma motivação igualmente singular, que é a de pensar as personagens das tramas desse cotidiano institucional que acolhe diariamente milhares de crianças pequenas na perspectiva dos estudos de gênero. E ela se propõe, no âmbito dos estudos de gênero, a pensar e repensar a presença do professor, a construção e reconstrução de papéis e expectativas. Isso é um exemplo claro da perspectiva acima realçada, ou seja, é uma demonstração direta do que é possível fazer quando o objeto de estudo é desnaturalizado e, como consequência dessa opção, que por si só é desafiadora, faz-se objeto recolhido e lapidado nas suas próprias tensões.

    O leitor tem a oportunidade de encontrar no estudo de Maria Arlete uma espécie de convite a conhecer uma plataforma na qual estão depositadas as questões que revelam a importância de trazer e manter a perspectiva de gênero nos territórios da Educação Infantil e, sempre, a Educação Infantil como espaço privilegiado para os estudos de gênero. Que novas pesquisas venham se juntar a esse estudo e que agora a autora não cesse de nos oferecer a riqueza de suas descobertas.

    Marcos Cezar de Freitas

    Universidade Federal de São Paulo - Unifesp

    PREFÁCIO

    Car@s leitor@s,

    É com grande alegria que aceitei o desafio de fazer o prefácio do livro de Maria Arlete, parceira nas formações continuadas na Rede Municipal de educação de Guarulhos, em defesa da valorização das diferenças e igualdade de gênero.

    Este livro nos provoca a refletir sobre a presença dos professores homens na Educação Infantil, atuando com a educação e o cuidado de crianças pequenas. Trata dos desafios atuais para dar visibilidade à luta destes(as) profissionais na luta contra as violências institucionais de gênero, contra as diferentes formas de preconceito de gênero.

    Como é a entrada do homem nesse universo eminentemente feminino? Como se dá a construção de sua identidade? Como se estabelecem às relações de gênero, quer entre ele e as outras educadoras, quer com as crianças? Quem são esses professores? Como atuam com este tempo de vida? O que pensam da profissão que exercem? Como se veem numa profissão considerada feminina?

    A Educação Infantil é uma profissão de gênero feminino e de atuação majoritariamente feminina. Diferentemente dos outros níveis de educação, que nascem como espaços de atuação masculina e vão se feminilizando, a Educação Infantil tem um diferencial, pois ela surge como um campo feminino. A Educação Infantil no Brasil sempre foi território de atuação das mulheres, desde as lutas por creches no movimento feminista.

    A feminilização do magistério e a suposta aptidão feminina para lidar com as crianças pequenas trouxeram reflexos na vida escolar e na constituição da identidade profissional docente. A constituição da identidade docente na Educação Infantil exige a problematização das marcas históricas e culturais, desconstruindo a lógica da associação entre as características ditas femininas e habilidades naturais para o cuidado e educação das crianças.

    Este livro tem como questão central na formação docente: a identidade do(a) professor(a) de Educação Infantil. Retrata os múltiplos desafios para os profissionais docentes homens (e mulheres), frente às mudanças que ocorreram nesta etapa da Educação. Trata de questões inviabilizadas e silenciadas, questões conflitivas que permeiam o cotidiano e as relações entre instituição e as famílias, nos fazendo refletir. Qual o papel social e educativo das creches e pré-escola? Qual sua função na educação das novas gerações?

    Nos últimos anos, diversas pesquisas foram realizadas articulando as questões de gênero e a educação de crianças pequenas. Não é mais possível pensar no magistério sem articular gênero, principalmente quando se trata da Educação Infantil. As modernas sociedades ocidentais fixaram as características básicas da masculinidade e da feminilidade com base nos aspectos biológicos. A normalização da dicotomia homens versus mulheres acabou por fundar a forma de pensamento segundo a qual há um jeito de ser feminino e um jeito de ser masculino, há comportamentos, atividades e funções, que são entendidas como adequadas, naturais, apropriadas, etc. para as mulheres ou para os homens. Assim, a cristalização dos papéis masculinos e femininos no cotidiano da Educação Infantil pode levar à classificação e à hierarquização das diferentes práticas que acabam por criar a distinção entre os comportamentos anormais e os normais, situando lugares a serem ocupados.

    Para nos ajudar a questionar e desconstruir as normas de gênero, Maria Arlete traz as histórias de vida, experiências docentes e vozes desses professores, revelando e problematizando como esses professores homens acabam por tornar-se estrangeiro em território considerado naturalmente feminino, e como todo estrangeiro, levanta suspeitas, curiosidades, e consequentemente, fabrica-se verdades sobre este ser forasteiro. Por que existe a tendência dos professores homens serem destinados a ficarem com os grupos de crianças maiores? Por que quando estão com as crianças pequeninhas no berçário são impedidos e privados dos momentos de higienização como trocas de fraldas, momento do banho ou uso dos banheiros?

    Afinal, quem é este profissional? Quem é este homem que parece estar fora de lugar: O que este homem está fazendo aqui? ou ainda, sua sexualidade é posta em suspeição: Será que é mesmo um homem? Uma vez que escolheu uma profissão do gênero feminino?

    Quando o homem passa a atuar em uma profissão que possui como características o cuidado, a sensibilidade, o afetivo, surgem diversos questionamentos sobre sua sexualidade. Por outro lado, também podemos perceber as imagens tipicamente ligadas ao masculino, à autoridade, disciplinamento, à obtenção de ordem e respeito dentro das normas da escola e da própria vida social, uma relação de poder e controle, emergem como mecanismo para explicar a presença do homem na educação das crianças pequenas. Esta visão também pode permear as práticas docentes de ambos os sexos de que seria mais fácil para o professor impor sua autoridade e seu controle sobre as crianças, principalmente sobre os meninos mais agressivos. Tais práticas de disciplinamento podem representar um reforço ou uma confirmação da sua masculinidade¹.

    Desse modo, o livro nos revela que é preciso ir além de abordar a questão da masculinidade em oposição à feminilidade. É preciso buscar desafios para superar as amarras das dicotomia de gênero, questionando em quais bases as diferenças são construídas e, como nos aponta a filósofa belga Françoise Collin:

    Como é que a diferença se instalou nos dois? Por que a afirmação da diferença ontológica se vê confrontada com a realidade tristemente empírica de uma dualização generalizada das funções sociais? Que acidente ou que peripécia pode justificar ou elucidar esta passagem da neutralidade da sexuação, da diferença que difere a cada instante, para a dualidade e, o que é pior ainda, para a hierarquia?²

    Como profissionais que atuam na Educação, temos sido capazes de refletir sobre nossas práticas e mudar nossos hábitos, de acordo com os movimentos de mudança que a nossa sociedade vem passando? Temos sido capazes de repensar os valores, crenças e costumes culturais face às novas formas de relações sociais?

    As lutas e conquistas ocorridas na sociedade nas últimas décadas contribuíram para mudanças sociais, culturais e políticas, as mudanças na estrutura das famílias e nos papéis de gênero estão presentes e têm impactado as instituições de Educação Infantil e a vida e a educação das crianças pequenas. Se, por muito tempo, a questão do respeito à diversidade ficou fora dos debates sobre educação, ela é hoje um dos temas centrais das preocupações contemporâneas em diversos países.

    Porém, ao olharmos para as disciplinas dos cursos regulares de formação docente no Brasil, ainda podemos perceber que professoras e professores continuam sem subsídios para trabalhar com as questões de gênero, corpo e sexualidade. Pesquisas mostram que os projetos curriculares da maioria das instituições de ensino superior no Brasil destinadas à formação docente não contempla esses aspectos.

    A publicação deste livro favorece a criação de um espaço de discussão sobre as condições igualitárias de gênero e sobre a qualidade na Educação Infantil, para pensar em uma formação docente que dê conta de práticas emancipatórias, dirigindo os esforços no sentido de contrapor os paradigmas autoritários e androcêntricos de nossa sociedade. Pensar a experiência de ter homens como cuidadores, por exemplo, ou famílias de mesmo sexo. Pois é preciso enxergar a aceitação da pluralidade das identidades humanas, e desta forma, problematizar as questões relativas ao gênero e preconceitos.

    Assim, pesquisas como a de Maria Arlete na Educação Infantil possuem grandes desafios, como o de revelar o espaço educativo de creches e pré-escolas como espaço de emancipação, contra as diferentes formas de discriminação para a construção de pedagogias descolonizadoras.

    O livro é um convite para que possamos refletir sobre a meta da igualdade de gênero, para o combate ao sexismo e a homofobia no âmbito da educação, que se inicia desde a educação da infância, junto à luta cotidiana que busca que os Estados também assumam suas funções políticas e sociais frente à temática, assegurando a eliminação de todo conceito estereotipado dos papéis masculino e feminino e das discriminações de gênero em todos os níveis e em todas as etapas da educação.

    A satisfação em iniciar esta publicação está em fortalecer o compromisso político pedagógico frente aos desafios colocados pelas questões emergenciais colocadas nesta obra. Para que possamos valorizar as diferenças de gênero na Educação Infantil, desde as primeiras relações das crianças, para que as diferenças não se transformem em desigualdades.

    Daniela Finco

    Professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)

    Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas que já têm a forma de nosso corpo...

    E esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares...

    É o tempo da travessia...

    E, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado para sempre à margem de nós mesmos.

    Guimarães Rosa

    sumário

    INTRODUÇÃO

    capítulo 1

    GÊNERO – QUE CONCEITO É ESSE?

    capítulo 2

    EDUCAÇÃO INFANTIL

    2.1 Sentimento de Infância

    2.2 Educação Infantil no Brasil

    capítulo 3

    IDENTIDADES

    3.1 Identidade – A Busca do Conceito

    3.2 Identidade – Feminilidades e Masculinidades

    3.2.1 Magistério: Profissão Feminina?

    3.2.2 Masculinidades – Homens no Plural

    3.3 Identidade Docente

    capítulo 4

    Histórias de Vida

    4.1 O Lugar do Estudo: a Cidade de Guarulhos

    4.2 Os Sujeitos Pesquisados

    4.3 As Entrevistas

    capítulo 5

    DISCUSSÃO – HISTÓRIAS DE VIDA DOS PROFESSORES HOMENS

    5.1 A Travessia do Professor Alexandre

    5.1.1 A Docência na Educação Infantil

    5.1.2 Ver-se com os Olhos do Outro

    5.2 A Travessia do Professor André

    5.2.1 A Docência na Educação Infantil

    5.2.2 Ver-se com os Olhos do Outro

    5.3 A Travessia do Professor Claudio

    5.3.1 A Docência na Educação Infantil

    5.3.2 Ver-se com os Olhos do Outro

    5.4 A Travessia do Professor Eduardo

    5.4.1 A Docência na Educação Infantil

    5.4.2 Ver-se com os Olhos do Outro

    5.5 A Travessia do Professor Gilberto

    5.5.1 A Docência na Educação Infantil

    5.5.2 Ver-se com os Olhos do Outro

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

    REFERÊNCIAS

    INTRODUÇÃO

    O importante quando se pensa a diferença é que ela não é o oposto da igualdade e sim à padronização – ela se opõe ao que é uniforme. O que se quer ressaltar é que as diferenças devem ser compreendidas como elementos que formam a produção da multiplicidade. Diferença nada tem a ver com falta ou desigualdade. A produção da diferença é um processo social e, portanto, não se trata de qualquer referência ao natural ou ao biológico. Diferenças afirmam-se na relação com outras, elas são forças. Produzir diferenças não quer dizer, apenas, anular limites e, sim, requer uma reflexão sobre alteridade fora da polarização homem x mulher, branco x não-branco, adulto x criança, urbano x rural. Aliás, as diferenças não pedem respeito ou tolerância, elas são apenas diferenças, são forças constitutivas que circulam, transitam, fazem-se enxergar e encontram se com os jogos de poder. O que se quer, quando falamos que as diferenças não se cansam de se produzir e serem produzidas, é problematizar o status de verdade que permeia as relações humanas.

    (Silvia R. M. Jardim e Anete Abramowicz)

    Faço uso destas palavras como epígrafe deste livro, pois, embora atualmente, haja uma busca pela valorização das diferenças por meio de leis e decretos, a história das relações humanas, desde os seus primórdios, nos mostra a difícil arte de lidar com elas e, consequentemente, com os sujeitos que carregam essas diferenças.

    As marcas permanentes que atribuímos à escola dizem muito mais respeito às situações, vivências e experiências comuns e importantes que vivemos no seu interior, com colegas, professores(as), equipe escolar do que com os conteúdos curriculares a nós apresentados, e que têm a ver com a construção das identidades sociais, sobretudo nossa identidade de gênero e sexual³. Assim sendo, diante da responsabilidade da Educação, e consequentemente dos(as) educadores(as) que a compõem, nada mais desafiador do que começar nossas reflexões a partir da primeira etapa da educação básica, visto a sua importância na educação de nossas crianças – meninos e meninas.

    Outros desafios se impõem ao nos debruçarmos sobre essa etapa da educação e observarmos um número reduzido de professores homens. Mais do que tentar entender por que eles não estão, busquei compreender como eles chegaram lá. E como é estar lá. Ouvi-los. E buscar saber quais desafios se colocam cotidianamente para eles em suas vivências nesse universo feminizado – creches e pré-escolas.

    O professor homem na Educação Infantil provoca, logo de início, impacto, estranheza, susto, como foi possível constatar através dos relatos dos professores em suas histórias de vida, e também "[...] evoca figuras ameaçadoras, poderosas ou deve ser alguém de fora

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