Uma Escola Experimental Democrática, da Vida e Para a Vida (1968-1974)
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Uma Escola Experimental Democrática, da Vida e Para a Vida (1968-1974) - Zaira da Cunha Melo Varizo
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E TRANSDISCIPLINARIDADE
Dedico este livro às minhas filhas,
Cláudia, Flávia e Márcia,
fontes das minhas aspirações.
À história seca, fria, impassível, prefiro a história apaixonada. Inclinar-me-ia mesmo a considerá-la mais verdadeira.
(George Duby)
PREFÁCIO
Prefaciar uma obra da professora Zaíra, além de uma grande honra, é tratar de forma inquestionável a importante parte da história da Educação na região central brasileira, revelando que, na região do cerrado, por meio da instituição de grupos de investigação, existem pesquisadores e educadores motivados ao estudo do fenômeno da aprendizagem e da formação de professores, voltados à construção de uma nova escola, de uma nova educação, para uma nova sociedade sempre inquietante e provocadora.
Assim, em suas linhas e entrelinhas, a obra acaba por trazer aos leitores uma história tecida por Zaíra, referência de muitos professores do Centro-Oeste, de entrelaçamento entre a universidade pública e a educação básica, entre a pesquisa acadêmica e a formação de professores, que ensinam conteúdos e favorecem experiências de aprendizagens e de vida, entre o conhecimento e seu ensino, da aprendizagem e a diversidade e inclusão, do rigor do fazer ensino e da criatividade na necessária e desejável transposição didática.
Esta obra é, portanto, um trecho importante não apenas na história da professora Zaíra, mas também da Universidade Federal de Goiás (UFG), do Colégio de Aplicação, da licenciatura e suas práticas da Faculdade de Educação, da educação do estado de Goiás, de um mergulho acadêmico nas práticas pedagógicas a inspirar muitos estudantes, pesquisadores e professores do Centro-Oeste. Esta obra é, assim, capítulo essencial da história das licenciaturas, do engajamento da UFG em espaço de profunda articulação ensino-pesquisa-extensão e, sobretudo, do compromisso da universidade com a sociedade e seus desafios, trazendo para nós páginas da tessitura da consolidação do campo da Educação e da Pedagogia como práticas, teorias, filosofias, política universitária e pública.
Nesta leitura, podemos tomar ciência de movimentos de reconstrução da formação dos licenciados e da edificação do Colégio de Aplicação como braço fundamental da articulação entre universidade e educação básica, formação inicial com a formação continuada, a lançar, via suas experiências e reflexões teórico-epistemológicas, novas possibilidades no aprender e ensinar nossas crianças e jovens, por meio de novas e desafiantes perspectivas da formação de docentes. Somente com o permanente processo de formação de professores e educadores poderemos obter uma nova escola: esse é o testemunho deste livro, experimentar, na qualidade de questionamento, investigação, rupturas, aprendizagens; é o âmago desse processo como nos apresenta, com método, fontes documentárias e emoção, a professora Zaíra nesta obra.
As narrativas destas páginas deixam transparecer as muitas emoções de Zaíra na construção desta história, que poderia ser contada por muitos outros, mas no olhar, na reflexão e nas palavras de Zaíra, esse enredo reveste-se de uma afetividade que foi uma das linhas-mestras da caminhada dessa importante educadora. Isso ela explicita ao posicionar-se no texto: prefiro a história apaixonada
.
Ao longo da leitura, o leitor vai se dando conta da ideia central da obra de ESCOLA-LABORATÓRIO, apoiada na perspectiva conceitual do aprender a aprender, inspirada em John Dewey, o que é profundamente coerente com a complexidade do fenômeno da aprendizagem e, por consequência, na formação de profissionais em uma universidade pública que deve ter como uma de suas missões emanar novos referenciais no campo educativo. Leitura que revela, mais uma vez, que a história não é linear, nem isenta de obstáculos e dúvidas, mas feita por seres humanos, incompletos, porém sonhadores.
Um ponto alto da obra é a preocupação da autora em descrever os contextos político-cultural-acadêmico-ideológico dos diferentes momentos e movimentos dessa história. A autora, ao tecer a história do Colégio de Aplicação, presenteia-nos com a própria história do delineamento da Pedagogia como área de conhecimento, sua organização acadêmica como espaço acadêmico-científico, ampliando tal narrativa para além da história da UFG.
Enfim, a obra aqui presente é um testemunho real do esforço da universidade, via Colégio de Aplicação da UFG, para superar o ensino tradicional, a fragmentação do conhecimento e a superação de uma visão de isolamento da escola básica e do ensino superior da realidade dinâmica e complexa que o cerca, origem e destino primeiro de seus alunos.
Professor Cristiano Alberto Muniz
Docente aposentado da Universidade de Brasília (UnB)
APRESENTAÇÃO
Contar a história do Colégio de Aplicação, 50 anos depois de sua criação, foi para mim muito difícil. Eram tantas as lembranças e elas chegavam desordenadas, embaralhadas, embaçadas, primeiro as imagens, depois as vozes, os movimentos, os sentimentos, os encontros e os desencontros. Eram muitas as indagações, as dúvidas, a ansiedade por respostas dos debates garridos, das certezas que se diluem em incertezas, das frustrações e, por que não dizer, as emoções da mulher, da profissional e também da pesquisadora que se forjava naquele momento.
Pensei... pensei... demoradamente, visitei páginas amareladas, empoeiradas, evoquei vultos, rebusquei fatos, acontecimentos capazes de retratar os primeiros passos de um grupo de professores que, junto a mim, visava ao desenvolvimento de uma pesquisa pedagógica. Arrebatava-nos um clima de entusiasmo, vontade férrea, persistência diante dos obstáculos, sem medo de errar, pois sabíamos que errar fazia parte do caminho, de paixão pelo que se faz.
Como encerrar em poucas páginas tudo que houve de notável no nosso colégio? Como fazer justiça ao mérito, à inteligência, ao trabalho de cada um daqueles professores que fizeram parte, com alguns docentes da Faculdade de Educação (FE), da construção do Colégio de Aplicação (CA) como escola-laboratório, a partir de 1971.
Impossível. Assim, deixo neste livro o que pude extrair de documentos oficiais que tinha em mãos, de