7 melhores contos de Camilo Castelo Branco
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7 melhores contos de Camilo Castelo Branco - Camilo Castelo Branco
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O Autor
Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco nasceu em Lisboa, no dia 16 de março de 1825, na Rua da Rosa. Filho ilegítimo de Manuel Joaquim Botelho e de Jacinta Rosa do Espírito Santo, sua criada. Antes dele, tinha já nascido uma outra filha do casal, Carolina. No ano seguinte, a família mudou-se para a Rua da Oliveira.
A mãe morreu em 1827 e o pai perfilha Camilo e a irmã dois anos depois, em 1829. Camilo iniciou os estudos primários em Lisboa (1830), na escola de mestre Inácio Minas, situada na Rua dos Calafates, e depois na escola de Satírio Salazar, na Calçada do Duque.
No ano seguinte (1830) a família deslocou-se para Vila Real, onde Manuel Joaquim tinha sido colocado como responsável pelos correios. Acusado de fraude, o pai foi demitido em 1831 e regressou a Lisboa, onde acabou por falecer em 1835.
Os parentes decidiram confiar a educação dos dois órfãos a uma tia paterna, Rita Emília — uma das personagens de Amor de Perdição — e os dois regressaram, por isso, a Vila Real (1836). Quando a irmã se casou (1839), instalou-se com o marido na casa de um cunhado, o P. Antônio de Azevedo, em Vilarinho de Samardã, nas proximidades de Vila Real. Camilo acompanhou-a e recebeu do P. Antônio uma educação literária e religiosa tendente ao estado clerical; foi quando iniciou nos clássicos portugueses e adquiriu os conhecimentos básicos de latim e francês. Simultaneamente contatou de perto com a vida rural, que depois descreveu em algumas das suas novelas.
Com apenas dezesseis anos (1841), Camilo casou com Joaquina Pereira de França e instalou-se em Friúme (Ribeira de Pena). O casamento precoce pareceu ter sido resultado de uma mera paixão juvenil, não tendo resistido muito tempo. No ano seguinte preparou-se para ingressar na Universidade, indo estudar com o Padre Manuel da Lixa, em Granja Velha.
Em 1843 nasceu a sua filha Rosa e decidiu inscrever-se na Escola Médica do Porto. Nos anos seguintes freqüentou irregularmente as aulas e chegou mesmo a perder o ano por faltas, em 1845. Pensou ainda em matricular-se no curso de Direito, em Coimbra, mas o projeto não teve continuidade. Nesse mesmo ano fez a sua estréia literária com o poema herói-cômico Pundonores Desagravados
Em 1846 encontrou em Vila Real a jovem Patrícia Emília de Barros — sua prima — e fugiu com ela para o Porto, sendo perseguido pela justiça, em resultado da queixa dos parentes da moça. Passou a colaborar nos jornais O Nacional e o Periódico dos Pobres. Escreveu a peça Agostinho de Ceuta, que foi representada pela primeira vez num teatro de Vila Real.
Depois da morte da esposa (1847), Joaquina Pereira, mudou-se para o Porto e entregou-se a uma vida de boemia, entremeada com escândalos de caráter amoroso, ao mesmo tempo que se dedicou mais profissionalmente à atividade jornalística, prestando colaboração ao Jornal do Povo. Rosa, a sua filha legítima, morreu e nasceu uma outra filha, Bernardina Amélia, fruto da relação com Patrícia Emília.
Em 1850 instalou-se durante algum tempo em Lisboa e passou a viver exclusivamente da sua atividade literária. É nesta altura que conheceu Ana Plácida, noiva de Manuel Pinheiro Alves, o que não o impediu de se envolver amorosamente com uma freira do Porto, Isabel Cândida Vaz Mourão. Decidiu então inscrever-se no seminário do Porto, decisão a que não será estranho o casamento de Ana Plácido, mas rapidamente abandonou o curso de Teologia. Nos anos seguintes fundou dois jornais de caráter religioso, O Cristianismo (1852) e A Cruz (1853) e continuou a colaborar com vários outros, em ocasiões distintas.
Em 1857, transferiu-se para Viana do Castelo, como redator do jornal A Aurora do Lima. Ana Plácido foi também para lá, a pretexto de apoiar uma irmã doente, e a ligação entre os dois tornou-se pública. O escândalo criou-lhe dificuldades com vários jornais em que colaborava. Talvez por isso decidiu publicar o jornal O Mundo Elegante, em 1858. Ainda nesse ano, sob proposta de Alexandre Herculano, foi eleito sócio da Academia Real das Ciências. Por essa altura, Camilo e Ana Plácido passaram a viver juntos e deslocaram-se de terra em terra para fugir à justiça. Em 1859 nasceu o filho Manuel Plácido.
Após queixa de Manuel Pinheiro Alves contra a mulher e o amante, Ana Plácida foi presa em Junho de 1860 e Camilo fogiu da justiça durante algum tempo, mas acabou por entregar-se em outubro, ficando detido na cadeia da Relação do Porto, onde foi visitado pelo próprio rei D. Pedro V. Finalmente, em outubro de 1861 os dois foram absolvidos pelo juiz, curiosamente, pai de outra grande figura das letras, Eça de Queirós.
Em 1863, nasceu em Lisboa o segundo filho do casal, Jorge, que veio a criar-lhe sérios problemas, com o seu alcoolismo crônico. Com a morte de Manuel Pinheiro Alves, o marido de Ana Plácido, Manuel Plácido, legalmente seu filho, herdou a casa de São Miguel de Ceide, em Famalicão. No ano seguinte, já instalados em São Miguel de Ceide, nasceu o terceiro filho, Nuno, que viria, também ele, a manifestar comportamentos desregrados durante a juventude. Ao longo destes anos, Camilo desenvolveu uma intensa atividade literária, ganhando notoriedade pública como escritor.
Em 1868 voltou ao Porto para dirigir a Gazeta Literária. No ano seguinte passou longas temporadas em Lisboa, embora o domicílio familiar permanecesse em São Miguel de Ceide. Anos depois, em 1875, pensando na educação dos filhos, transferiu a residência para Coimbra. Dois anos depois, o filho mais velho, Manuel Plácido, morreu. Por esta altura Camilo tinha já alguns problemas de visão, que se agravaram com a idade.
Mais tarde, em 1881, participou ativamente no rapto de uma jovem para a casar com o filho Nuno. As relações com o filho degradaram-se e Camilo acabou por expulsá-lo de casa em 1882. Em 1883, atormentado por dificuldades financeiras, leiloou a sua biblioteca. Em 1885 foi-lhe finalmente concedido o título que ele solicitara em vão, quinze anos antes — visconde. Em 1888 casou com Ana Plácido.
Definitivamente cego, suicidou-se na sua casa em S. Miguel de Ceide, em 1º de junho de 1890.
Camilo foi seguramente o primeiro escritor profissional português. Durante quase toda a sua vida ativa assegurou a sua subsistência e a da família, depois de assumida a relação com Ana Plácido, com os seus trabalhos jornalísticos e as novelas que publicava em ritmo frenético: a sua bibliografia ultrapassou muito a centena de títulos, descontada a profusa colaboração espalhada pelos jornais da época.
Essa atividade literária tão intensa — forçado das letras
, chamou-lhe alguém — bem como a leitura freqüente e atenta dos escritores portugueses, sobretudo os clássicos, são os principais responsáveis pelo domínio da língua, que revela em numerosas passagens das suas obras. É verdade que o ritmo vertiginoso com que escrevia (o Amor de Perdição, por exemplo, terá sido escrito em cerca de quinze dias) não lhe permitia trabalhar como gostaria a escrita. Essa urgência da escrita foi certamente a grande responsável pela irregularidade qualitativa da sua obra, onde encontramos textos de inegável qualidade a par de outros que não conseguiram resistir ao tempo.
Embora fosse um escritor da segunda metade do século XIX, a verdade é que muitas das suas novelas refletem o clima social, político e mental da primeira metade — época extremamente conturbada, a nível político, e marcada por profundas transformações de natureza social.
As suas novelas constituem um painel descritivo, em tom freqüentemente sarcástico, da sociedade portuguesa do século dezenove. A sua atenção debruçou-se sobretudo sobre uma aristocracia em clara decadência — material e moral — e uma burguesia em ascensão, que, aos seus olhos, se destacou pela boçalidade.
A obra de Camilo é, em grande parte, um reflexo do seu próprio percurso biográfico. A agitação, a instabilidade, os raptos, o conflito entre a paixão e a razão que encontramos nas novelas de Camilo, encontramo-los igualmente na vida do autor. Por outro lado, como profissional das letras que era, Camilo não pôde ignorar os apelos do seu público, que os editores traduziam sob a forma de pressões incontornáveis. Camilo vivia da escrita, e para isso precisava vender, o que implicava obedecer de alguma maneira às solicitações do público leitor. É essa sujeição aos gostos dominantes que explica também a conversão
naturalista, detectável nas últimas obras de Camilo.
Independentemente dessas cessões, há na sua obra passagens antológicas, onde transparecem os costumes, os comportamentos, o jeito de falar do norte de Portugal.
A exuberância, o imprevisto, o excesso passional das suas intrigas cativaram igualmente a geração literária dita ultra-romântica, que o homenageou quase no fim da vida.
A intriga é quase sempre de teor passional, como se esperaria de um escritor romântico. Os impulsos do coração determinam a ação das personagens principais, que, normalmente, se defrontam com outras, movidas por outros impulsos menos ideais: o estatuto social, as rivalidades familiares, os interesses econômicos.
As suas intrigas são freqüentemente demasiado lineares, mas não se pode negar a Camilo uma capacidade de efabulação notável.
As condicionantes estéticas da sua época, os circuitos editoriais, a sociologia e psicologia do seu público e a sua própria personalidade impuseram à sua obra novelística características fortemente românticas. No entanto, a sua longa permanência de quase meio século na vida literária, e a sua dependência financeira da escrita, levaram-no, talvez a contragosto, a tentar acompanhar a evolução ideológica do seu tempo ensaiando uma escrita realista e até naturalista.
É autor de uma obra multifacetada. Nela se destaca, como sabemos, a componente novelística, mas estende-se também pelo teatro, jornalismo, ensaios biográficos e históricos, poesia, polêmica, crítica literária, além de dezenas de traduções e uma extensa epistolografia.
De abismo em abismo
Eu é que não podia satisfazer a minha curiosidade com a descosida revelação de Valadares.
Muitas vezes acalorei a questão do cinismo, aplicando-a a Miquelina; mas este nome enfurecia-o de tal modo, que as nossas relações estiveram a romper-se, e reataram-se com a condição de eu nunca lhe tocar ligeiramente em semelhante assunto.
Sujeitei-me; mas, na primeira ocasião prosperada pelo acaso, alcancei esclarecimentos, que elucidam a degradação da pobre mulher.
Em 1848, Miquelina vivia ainda no Porto. A sua vida já a sabem. Como veio ela tão abaixo?
Foi assim:
Alguns dias depois da fuga vergonhosa com o defunto lacaio, Miquelina foi conduzida a Lisboa. A avó, que pôde sobreviver ao golpe, quis salvar a neta da cólera do filho. Este ausentara-se para Chaves, no momento em que a filha entrara em casa. De lá, escrevendo à mãe, dizia-lhe que desse à infame algum destino, porque, enquanto a sua presença envergonhasse aquela casa, nunca ele tornaria ali.
Daquela família estava em Lisboa um magistrado, tio materno de Miquelina. Foi este o encarregado de recebê-la durante alguns meses na sua casa.
Não se passaram muitos dias, sem que Miquelina revelasse os seus instintos. Namorava escandalosamente um homem, sem nome, que frequentava as janelas de um alfaiate, que morava em frente.
O magistrado suspeitou, e proibiu-lhe o uso das janelas. O homem, que, por força, havia de ter um nome, e poderia muito bem chamar-se José Maria, não era tão escasso de meios que não comprasse um criado da casa. O criado era o intermédio da correspondência, menos da última carta, surpreendida pelo magistrado. Esta carta autorizava José Maria a empregar a força judicial para tirar de casa Miquelina. Nesse mesmo dia, a perigosa donzela
foi mudada para casa de um general, cunhado de seu tio.
O general era solteiro, homem de cinquenta e tantos anos bem conservados, admirador das boas mulheres, e vigoroso ainda para não desmentir o culto, quando se lhe pedissem provas práticas das teorias um pouco irrisórias na sua idade.
Tinha consigo duas irmãs, mais novas, que, mutatis mutandis, professavam as ideias do irmão.
Dito isto, vê-se que a casa, onde Miquelina foi reclusa, era um viveiro de moral.
Foi bem recebida, e até muito bem aconselhada. As irmãs do general falavam muito da virtude, e da honra. Quem as não conhecesse, acrescentaria duas mártires inéditas às onze mil virgens conhecidas, de que Byron duvidou, e eu não me sinto muito propenso a acreditar, nem o meu amigo Valadares.
O José Maria não sei que fim levou. Seria algum desses quatro que em 1845 se precipitaram dos Arcos das Águas-livres!?
Se foi, não andou bem, porque fez as coisas de modo que ninguém fala dele. Os Werthers sabem escolher as ocasiões, senão... é melhor deixarem-se morrer de tédio, que é a morte que me espera a mim, e a ti, leitor, no fim deste livro, se não morreres no meio.
O general namorou Miquelina. Namorando-a, seduziu-a. Seduzindo-a, abriu-lhe a outra meia porta da corrupção.
Porque foi assim que as coisas se passaram:
Miquelina afeiçoou-se ao general, como se afeiçoara a Valadares, ao lacaio, e ao José Maria. Trazia o cunho da perdição! Era uma destas desgraçadas que a gente vê cair, cair, cair a despeito de todos os estorvos! Que Deus, ou que demônio imprime o movimento nestas máquinas, sem coração nem cabeça? Não se sabe! A verdade é que eu sinto vontade de chorar essas vítimas cegas de um destino bárbaro, e tenho fúrias de blasfemo quando me dizem que Deus se entremete nas coisas deste mundo... Vamos adiante, senão atiro a pena fora, e rasgo o papel...
Ora já vedes que o general era um devasso, e a pobre menina deve merecer-vos uma pouca de compaixão, se eu vos afianço que o amou, até ao ciúme.
Disseram-lhe um dia que uma mulher de capote e lenço entrara no quarto do general, que era ao rés da rua. Miquelina estava doente de cama. Ergueu-se com febre, vestiu-se precipitadamente, desceu as escadas cambaleando de fraqueza, escutou à porta do traidor, e ouviu risadas, e palavras obscenas.
Era noite, quando isto se passava.
As irmãs do general deram pela falta da hospeda, e desceram a procurar o irmão. Miquelina, quando as sentiu, na incerteza do que devia responder-lhes, fugiu. Fugindo, achou-se numa rua que não conhecia, atravessou umas poucas, chegou a uma praça onde encontrou umas mulheres esfarrapadas que a trataram por tu, e fugiu até deparar as escadas de uma igreja, onde um soldado lhe veio dizer palavras desconhecidas.
Fugiu ainda; mas a desgraça corria a par dela.
O frio da noite, e a febre do coração aniquilaram-na. Sentou-se num portal, e desmaiou. Uma patrulha deu-lhe com a ponta do pé, e a desgraçada não respondeu. Tomaram-na como bêbeda, e foram seu caminho.
Outra patrulha sacudiu-lhe a cabeça pelos cabelos. Miquelina gemeu, abriu os olhos, e pediu erguendo as mãos que a deixassem morrer. Estava perto do hospital de São José. Os soldados pediram socorro ao próximo corpo da guarda, e mandaram-na para lá.
No hospital, deram-lhe uma cama na enfermaria... não sabemos que enfermaria; mas parece que o facultativo, na visita de manhã, mandou retirar