Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

Um Menino Chamado Innocente
Um Menino Chamado Innocente
Um Menino Chamado Innocente
E-book505 páginas5 horas

Um Menino Chamado Innocente

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

Que tal entrar comigo nas páginas do tempo e reviver as aventuras de uma vida simples de um menino pobre do sítio? Uma vida cheia de diversão, natureza, coisas belas, saúde, trabalho, alegria... São quatorze anos de vida, antes que se pudesse crescer e lembrar que a melhor parte havia ficado para traz, em um mundo sem muito conforto, mas recheado de paz e amor, principalmente entre pais e filhos. Passado esse período de felicidade, vivia escrevendo aventuras de garotos heróis, misturando com as peripécias reais, vividas nos anos verdes de minha vida. Portanto se o mundo realmente fosse um tape de televisão transmitindo nossa vida através do tempo, gostaria de descobrir onde fica a tecla de retrocesso e voltar aos primórdios de minha saudosa infância. Como esta tecla não existe, venho através das páginas que seguem recordar esse tempo de ouro. Essa narrativa surgiu a partir de uma conversa com um amiguinho muito inteligente de apenas onze anos de idade, onde lhe dizia o quanto o invejava por ele ser criança; mas ele me respondeu que ele sim, invejava minha infância diferente das atuais e que, com certeza eu teria sido muito feliz naquela época; que minha fase criança teria passado, agora era sua vez e que eu o deixasse ser feliz, pois seu tempo seria muito curto nesta fase. E o mais importante, dizia ele: seja sempre muito feliz em cada fase desta vida; pois o tempo ingrato devora nossos dias, mais depressa do que se imagina. Cada um de nós, carrega trancado na memória, muitas lembranças felizes e outras nem tanto, daquele tempo de inocência, onde muitas vezes queria crescer para se tornar dono de sua própria vida. Por isso, quero convidá-lo a entrar em um mundo igual a sua própria história: aventuras reais de um mundo sem pé nem cabeça, onde o enredo foi criado de um dia a dia fascinante e o destino foi o responsável por criá-lo, seja ele interessante ou não. Desculpe-me se a sequência seja fora de um contexto normal das aventuras de garotos heróis. Isso acontece porque o garoto desta história tem sim, suas aventuras alegres e tristes, mas está longe de ser considerado um garoto herói. Desculpe-me também se alguns fatos tiveram que ser omitidos desta narrativa. Às vezes alguns fatos se tornam ou foram de modo constrangedor no decorrer de uma vida saudável, vivida em período onde não se existia computador, vídeo game ou televisão, para ocupar as atividades saudáveis na vida de qualquer criança, que precisa de fato, brincar, estudar, fazer traquinagens e até mesmo trabalhar. Entre nesse mundo real da vida de um menino “Innocente”, durante os primeiros quatorze anos de sua existência neste mundo cheio de adultos complicados e aproveite para recordar também o passado de sua própria existência, pois esta é uma aventura que mostra a história de vida do próprio autor, mas que também pode ser a sua.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento7 de out. de 2015
Um Menino Chamado Innocente

Leia mais títulos de Celso Innocente

Relacionado a Um Menino Chamado Innocente

Ebooks relacionados

Ficção Geral para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Categorias relacionadas

Avaliações de Um Menino Chamado Innocente

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    Um Menino Chamado Innocente - Celso Innocente

    Sumário:

    11 - Prefácio.

    13 - O primeiro eu.

    15 - Outra vez eu.

    18 - Dois, três, quatro, cinco anos.

    23 - Ratos e cachorros.

    27 - Um Innocente na cidade.

    32 - Presente da natureza.

    36 - Castração.

    41 - Monstro.

    48 - Valente Menino Jesus cuida de mim.

    50 - A gatinha e o intruso.

    54 - Crueldade de menino.

    59 - Rio Tietê.

    62 - Um triste adeus.

    68 - Um castigo.

    71 - Circuncisão.

    73 - Vila Barbosa.

    80 - Primeira escola.

    83 - Primeiro castigo escolar.

    86 - As águas vão chegar.

    89 - O menino, a faca e o porco.

    92 - Saudades! Já?

    95 - Que sejamos felizes nesse mundo novo.

    100 - Amigos da cidade.

    103 - Caminhão incrementado.

    106 - Exame final.

    109 - Um grande pecado.

    115 - Dono de casa.

    120 - Quem pode se alimentar na escola?

    124 - A vinda de tia Amélia.

    128 - Banho! Eu! Pra que?

    130 - Lobisomem.

    132 - Menina de circo.

    138 - Coração apaixonado.

    143 - Mágicas.

    147 - Tudo que é bom dura pouco.

    150 - A visita de vovô.

    155 - Quem ama seu dentista?

    158 - Adeus vovô.

    163 - Castigo! De novo?

    168 - Nunca fale com estranhos!

    171 - Mal-acostumado.

    173 - De volta à segunda série.

    180 - Cadê a tal felicidade?

    182 - Te acho muito homem!

    186 - A história de vovô.

    189 - Olaria.

    193 - Sexagésimo aniversário.

    195 - O padre que xingava.

    201 - Em jejum!

    205 - Deus sempre arranja o tempo.

    212 - Obrigado Querido Menino Jesus.

    218 - Brincadeira perigosa.

    224 - Corpo de Maní.

    226 - A nova escola.

    231 - Isso lá que é professora.

    232 - A primeira árvore.

    236 - Faltava um empurrãozinho.

    240 - Beijo na boca!

    250 - O nome que não devia estar lá.

    254 - Brincando com meninas.

    257 - Perdidos.

    260 - Professora meiga.

    267 - Nossa vida é como escalar uma montanha

    271 - Brasil, tricampeão mundial de futebol.

    276 - Amigo secreto.

    281 - Formatura.

    284 - Primeira eucaristia.

    286 - Uma amizade para sempre

    288 - Um novo emprego.

    295 - Representando.

    300 - Televisão para todos.

    304 - O contador de histórias.

    307 - Primeira história.

    311 - Um amigo diferente.

    315 - Réveillon.

    319 - Será que é assim mesmo?

    322 - Começa as mudanças.

    326 - Uma paixão perigosa.

    332 - Registro em carteira.

    338 - As paqueras.

    341 - A primeira crônica.

    344 - São Paulo.

    349 - J.A.M.

    354 - Mudança definitiva.

    357 - Sobre o autor

    359 - Outros trabalhos

    Alguns nomes foram substituídos por motivo de desconforto ou outra natureza.

    A criança é o pai do homem.

    Autor desconhecido

    Que tal antes ver o book-trailer deste livro?

    https://www.youtube.com/watch?v=Y8G0juY_2I4

    Ou o filme criado a partir desta história

    https://www.youtube.com/watch?v=tBv2N5GIJS0

    Outro curta baseado em tal livro

    https://www.youtube.com/watch?v=hq6WwJOKkkg

    Mais um vídeo desta biografia.

    https://www.youtube.com/watch?v=viZP1UI3xSY

    Uma homenagem feita por um amigo de infância.

    https://www.youtube.com/watch?v=4D-3wbm7DJc

    Um pequeno passeio pelos rios de minha infância

    https://www.youtube.com/watch?v=qmYg97NLfo8&list=UUUGHWWGQYFvkY81udo0m9kQ

    Eu sim o invejo, pela infância feliz e saudável que passaste há alguns anos, livre das tecnologias modernas que não deixam mais as crianças brincarem ou fazer traquinagens, permanecendo grudadas em videogames, televisão e internet. Deixe-me agora tentar ser feliz em minha infância que o tempo traiçoeiro vai corroer rapidamente.

    Regis de Assis Moura

    Aos 11 anos de idade.

    Prefácio

    Q

    ue tal entrar nas páginas do tempo e reviver as aventuras de uma vida simples de um menino pobre do sítio? Uma vida cheia de diversão, natureza, coisas belas, saúde, trabalho, alegria...

    São quatorze anos de vida, antes que se pudesse crescer e lembrar que a melhor parte havia ficado para traz, em um mundo sem muito conforto, mas recheado de paz e amor, principalmente entre pais e filhos.

    Passado esse período de felicidade, vivia escrevendo aventuras de garotos heróis, misturando com as peripécias reais, vividas nos anos verdes de minha vida. Portanto se o mundo realmente fosse um tape de televisão transmitindo nossa vida através do tempo, gostaria de descobrir onde fica a tecla de retrocesso e voltar aos primórdios de minha saudosa infância. Como esta tecla não existe, venho através das páginas que seguem recordar esse tempo de ouro.

    Essa narrativa surgiu a partir de uma conversa com um amiguinho muito inteligente de apenas onze anos de idade, onde lhe dizia o quanto o invejava por ele ser criança; mas ele me respondeu que ele sim, invejava minha infância diferente das atuais e que, com certeza eu teria sido muito feliz naquela época; que minha fase criança teria passado, agora era sua vez e que eu o deixasse ser feliz, pois seu tempo seria muito curto nesta fase. E o mais importante, dizia ele: seja sempre muito feliz em cada fase desta vida; pois o tempo ingrato devora nossos dias, mais depressa do que se imagina.

    Cada um de nós carrega trancado na memória, muitas lembranças felizes e outras nem tanto, daquele tempo de inocência, onde muitas vezes queria crescer para se tornar dono de sua própria vida. Por isso, quero convidá-lo a entrar em um mundo igual a sua própria história: aventuras reais de um mundo sem pé nem cabeça, onde o enredo foi criado de um dia a dia fascinante e o destino foi o responsável por criá-lo, seja ele interessante ou não.

    Desculpe-me se a sequência seja fora de um contexto normal das aventuras de garotos heróis. Isso acontece porque o garoto desta história tem sim, suas aventuras alegres e tristes, mas está longe de ser considerado um garoto herói.

    Desculpe-me também se alguns fatos tiveram que ser omitidos desta narrativa. Às vezes alguns fatos se tornam ou foram de modo constrangedor no decorrer de uma vida saudável, vivida em período onde não se existia computador, vídeo game ou televisão, para ocupar as atividades saudáveis na vida de qualquer criança, que precisa de fato, brincar, estudar, fazer traquinagens e até mesmo trabalhar.

    Entre nesse mundo real da vida de um menino Innocente, neste mundo cheio de adultos complicados e aproveite para recordar também o passado de sua própria existência.

    A maioria das personagens que desfilam por esta narrativa tiveram seus nomes preservados, ou seja: não foram alterados. Alguns, por necessidade de preservar motivos de desconforto ou outra natureza, foi necessariamente alterado, sem, contudo, prejudicar a narrativa.

    O autor

    O primeiro eu.

    E

    ra um dia qualquer do primeiro semestre do ano de 1957; bairro do Degredo¹, município de Penápolis, estado de São Paulo; mamãe já tinha dois filhos: Luiz Carlos com três e José Carlos com apenas um ano de vida… E eu?… Bem, aí é outra história. Eu ainda não pertencia a este mundo de ilusão… nem sei aonde me encontrava; talvez saltitante e feliz brincando no Jardim do Éden, aguardando meu momento de encarnação.

    Era tardinha do final de verão e mamãe sofria com tantas dores que deixava todos preocupados, inclusive papai, que andava igual barata tonta sem saber o que fazer. A sua sorte era a presença de vovó Maria Thereza, que por algum motivo estava visitando mamãe.

    Alguns dias antes, mamãe tivera uma estranha visão, dois homens, um branco e o outro moreno claro, chegavam pela trilha estreita até a entrada de sua casa lhe entregando um pequeno caixão branco, o qual ela recusara em receber e então os estranhos visitantes retornaram pela mesma trilha levando aquele presente macabro embora.

    Naquela época, morando no sítio, não se conseguia levar ninguém a um médico e mesmo uma parteira àquela hora era quase impossível e foi assim, quase sozinha {só com ajuda de vovó que tivera quatro filhos, inclusive um par de gêmeos (mamãe e uma irmã que faleceu bebê) todos em casa} sem nem mesmo ajuda de papai, que mamãe dera à luz a mais um machinho na família dos Innocente.

    Só depois desse sofrido parto, é que papai, desajeitado para a coisa, ajudara a vovó a limpar o nenê com pano umedecido em água morna e álcool. Mamãe, depois do sofrimento, até que se sentia muito bem, mas o pobrezinho recém-nascido, prematuro, franzino e nascido sob risco, não estava nada bem.

    Durante toda aquela noite o bebê passara gemendo muito e vovó recomendou para que os pais encontrassem com urgência um marido com sua mulher para que em gesto de batismo evitasse que tal criaturinha sagrada fosse embora pagã.

    Assim, aos primeiros raios do sol daquela marcante aurora interiorana, papai seguiu até a casa do casal Alice e Helias e então, explicando o ocorrido resolveram batizar o nenê às pressas ali em casa mesmo. Escolheram para ele o nome de Aparecido e assim, com apenas algumas gotas de água sobre a fronte, o batizaram rapidamente em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo…

    Poucos minutos depois, o pobrezinho dormiu para sempre.

    Papai e Helias confeccionaram um pequeno caixão de madeira, forraram com uma manta que já fora dos outros dois filhos e revestiram o caixão com um lençol branco, depositando ali dentro o corpinho daquele anjo de Deus.

    Naquela mesma tarde, levado por um carrinho puxado por cavalo, o caixão seguira para o Necrópole Municipal Santa Cruz de Penápolis, distante do sítio apenas quatorze quilômetros e então, na primeira quadra, praticamente na estrada do terreno santo, fora depositado em sepultura profunda, depois coberto por terra fria.

    Outra vez eu.

    D

    ia de São João Batista, vinte e quatro de junho do ano seguinte, à noite mamãe e dona Alice conversavam sobre os trabalhos que realizariam juntas no dia seguinte, quarta-feira, na lavoura de café. Mamãe estava no nono mês de gestação e assim mesmo iria arruar café². Isso mesmo, iria…

    Quatro horas daquela madrugada, as fortes dores do parto assolaram novamente mamãe, que sem assistência médica e sem ajuda de uma parteira e com papai, como a mesma barata tonta, que sobre nascimento de nenê, só sabia mesmo... Bem... deixa para lá porque eu era muito pequeno para pensar bobagem... A frágil mamãe sofria as consequências de querer, ou não saber evitar mais um Innocente.

    Meia hora depois, assim, sem muita cerimônia, cheguei neste tal mundo de ilusão que todos falam, com os cabelos castanhos e olhos muito pretos. E como dizem: mulher grávida tem cada desejo! E aí de quem não atender a esses desejos! Foi assim que mamãe queria ter comido pele de porco. Justo no sítio que sempre tinha dessas baboseiras, com o chiqueirão lotado e justo quando mamãe queria, não tinha. Foi por isso que paguei um preço besta, tendo que carregar o desejo não atendido de mamãe comigo, em forma de pequenina pelinha de porco, grudada na parte mais sensível de meu corpinho recém-nascido.

    Papai me limpara com pano umedecido em água quente com álcool e mamãe, apesar do forte sofrimento da madrugada, até que passava bem.

    De manhã, Alice e Helias foram chamados e é claro que não me batizaram de emergência. Se a situação fosse a mesma de meu irmão Aparecido (que desapareceu), eu não estaria narrando esta realidade. Quer dizer: a menos que tivesse retornado ao jardim do Éden e transmitisse tais fatos de lá por mediunidade ou telepatia.

    Naquele mesmo dia, papai seguira até o cartório de registro civil da cidade, aonde me apresentara ao mundo em forma de papel. Mamãe queria que eu tivesse o mesmo nome de meu irmão que se fora, mas como diziam que não era bom, pois seria perigoso ele vir me buscar, então resolveram acrescentar Celso antes do Aparecido e assim se cumpriu.

    Aos poucos fui me desenvolvendo e as únicas coisas que então fazia sem parar, era mamar, chorar, sujar as fraldas de pano, que mamãe sempre lavava e passava à base de ferro quente com brasa do fogão à lenha e tomar banho com a ajuda de Lourdes que me adorava, quer dizer: me amava, pois, a gente só pode adorar a Deus. Ela, branca de cabelos lisos, longos e negros, tinha dez anos de idade e era filha de Alice, que também tinha Helena e Valdomiro. E se ela me amava em nenê, quem sabe no futuro eu poderia amá-la em jovenzinho, ou quem sabe ela gerasse uma filha para que eu a paquerasse.

    No dia cinco de outubro, um dia depois das festas de São Francisco de Assis, padroeiro de Penápolis, após a missa dominical das dez horas, com os mesmos padrinhos de meu finado irmão e com frei Ezequiel, que também me jogara ainda mais água na fronte, também fui batizado neste belo mundo de Deus, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

    1 (133)

    Já aos cinco meses de vida, meus cabelos estavam ficando loiros e meus olhos castanhos. Logo após uma grande mamadeira de leite Ninho e com os olhos cerrados pelo sono, minha querida pajem Lourdes, me colocara na cama de mamãe para dormir. Ao contrário do que ela imaginava, ali sozinho, acabei por me despertar e como já estava ficando crescido e curioso, acabei por me rolar muito naquela que seria pequena cama para um arteiro, indo parar em tremendo tombo, ao chão.

    Foi terrível pois além do grande susto e as dores no corpinho de ossos tão mole quanto cartilagens, tive mais medo, até capaz de virar trauma, devido as gritarias de mamãe e Lourdes, apavoradas com o que pudesse vir a acontecer e vomitei todo o leite mamado há poucos minutos, me deixando muito fraco a ponto quase perder a minha tão recente vidinha na Terra. Mas o pior foi que então me deu um grande sono de verdade e elas não me deixavam dormir, pois dizem que é perigoso um nenê ou bebê… (não sei o termo correto) dormir após um tombo, qualquer que seja a altura.

    E como todos precisam ter uma recordação da primeira infância para então mostrar e comparar com os futuros descendentes; papai me colocou sentadinho na cadeira do Foto Luís de Penápolis e com uma roupinha azul clara, parecida com vestido, devido ao seu tamanho grande, sapatinhos brancos e cabelos enrolados, o flash assustou meus olhos, no mês de fevereiro, quando eu tinha quase oito meses junto aos mortais.

    Dois, três, quatro, cinco anos.

    A

    os poucos o tempo passava sem que eu saiba contar muito o que acontecia naqueles dias; salvo algumas lembranças contadas por meus pais e padrinhos.

    A meiga Lourdes, com carinho, ainda cuidava de minhas constantes travessuras, até que eu completasse dois aninhos de existência neste mundo fabuloso.

    Então, já com mais um membro na família, pois embora não me lembre do acontecimento, minha irmã Fátima teria nascido em janeiro de 1960. Nesta época papai resolveu deixar o Degredo³ e se mudar para o Córrego dos Pintos, seguindo titia Amélia, que se mudara há pouco tempo para este local (sua história é muito especial). Inclusive, indo morar junto com ela na mesma casa, até se construir uma casa para nós, no sítio de dona Lola a vinte e dois quilômetros da cidade.

    E foi assim que me afastei de minha querida pajem Lourdes, que já tinha doze anos e de meus padrinhos, para conhecer vizinhos novos (quer dizer, eles me conhecerem, pois com dois anos de vida a criança não almeja conhecer ninguém).

    Quando a nossa casa de barro e pau a pique, a uns mil metros distantes (o que seria mil metros?) ficou pronta, seguimos de mudança para tal recanto, levando conosco a família de tia Amélia, para então desmanchar e refazer sua casinha, no sítio de seu concunhado Cóti.

    Ninguém poderia imaginar, mas estas duas famílias, a dos Innocente e a dos Leme (de tia Amélia por herança do marido Anor) estaria sempre interligada pelos séculos dos séculos.

    E eu, aos dois, três, quatro anos, até parecia não ter roupas, vivendo assim como um pequeno curumim indígena, sempre brincando pelado no terreiro, correndo o risco das galinhas ou patos, bicarem meu pequenino fazedor de xixi.

    Meus cabelos, agora já não eram mais enrolados, nem castanhos; estavam lisos e muito loiros, me fazendo até parecido com a tal raça ariana de certo nazista chamado Hitler (Ei! Só parecido).

    E para matar a saudade da antiga morada no bairro do Degredo (não por mim, que sequer me lembrava de um dia ter morado ou nascido por lá), papai, usando um cavalo arisco do senhor Airton, com Carlos na garupa e Zeca na sua frente e mamãe usando Bainho, o manso cavalo da família, comigo na garupa e minha irmã Nezinha em sua frente, seguíamos sempre a pequenos trotear das patas, pelo longo caminho de estrada de terra, desde a então nova morada, até a casa de meus padrinhos, em distância aproximada de doze quilômetros (não que eu soubesse o que seria quilômetros... Nem trotear... nem garupa...)

    Não me lembro da chegada pela cegonha do quinto filho Innocente (Geraldo), que se deu no mês de julho de 1962.

    E foi também nesse novo sítio, que certa noite ouvia mamãe gemendo desesperada de muita dor e papai sem saber o que fazer, nos forçando a ficar longe dela. Meu coraçãozinho de criança pequena, sem entender o que se passava, batia assustado. Como ainda não passava das nove horas, alguém foi do outro lado do rio Lajeado buscar dona Olívia, e ela, já idosa, gorda, de cabelos grisalhos, parecendo à dona Benta do Sítio do Pica-pau Amarelo, entrou apressada em casa.

    Depois de mandar papai providenciar uma bacia de água quente e muitas folhas da erva de Santa Maria, além de proibir a entrada de quem quer que seja, principalmente nós crianças, passou a cuidar das dores de mamãe.

    Com isto ficamos do lado de fora, à luz de lamparina, ouvindo mamãe sofrer e papai desesperado, nos deixando ainda mais assustados.

    Meia hora depois, que para mim mais se pareceu meio ano de angustia e sofrimento, ouviu-se um choro de recém-nascido e mamãe parou de sofrer; papai correu para dentro e nós, todos pequenos, ficamos na mesma. Se pelo menos papai soubesse nos acalmar, explicando que tudo não passava de mais um Innocente que estava chegando neste fantástico mundo dos carnais meu coraçãozinho angustiado teria sofrido bem menos.

    Alguns minutos depois dona Olívia nos chamou e nos apresentou o mais novo membro da família, todo limpinho, enrolado em cobertor, ao lado de mamãe que até parecia feliz. Confesso que não sabia de onde tinha vindo aquele novo bichinho. Só sabia que viera para ficar, aumentar a família e me roubar mais um pedacinho de mamãe para si.

    Na manhã seguinte, dona Aparecida Antiqueira, madrinha de minha irmã Fátima, viera em casa e como boa comadre e vizinha de sítio, resolvera ajudar um pouco nos afazeres doméstico, enquanto a nova mãe, segundo recomendações da parteira, deveria permanecer em repouso absoluto.

    Quando dona Aparecida dava banho no novo membro, em bacia de água bem quente, me aproximei para conhecê-lo melhor.

    — Bonito nenê! Não acha? — Disse-me ela.

    Bonito! Pensei sozinho. Parece uma perereca!

    E parecia mesmo. Com as pernas e braços encolhidos, o corpo todo vermelho, a testa enrugada, o pintinho pequenino e o saquinho quase preto por acúmulo de sangue e grande demais (bem maior do que o meu que já tinha cinco anos) … aquilo não era nada bonito! E olha que não era pelo ciúme que sentia do intruso.

    Agora éramos seis irmãos vivos, que por ordem de chegada eram: Luiz Carlos, nascido em 13 de junho de 1954, no sítio Boa Vista do senhor Otávio Ambrósio, no qual papai trabalhava na época, inclusive com a ajuda de mamãe (não sei como ela conseguia, com tantos filhos pequenos), vovô João Zanini⁴; José Carlos, que recebeu o apelido de Zeca e nasceu em 16 de março de 1956, também no bairro do Degredo; Eu, Celso Aparecido, com apelido de Cido, que nasci em 25 de junho de 1958; Fátima Aparecida, única menina, com apelido de Nenê, nascida em 10 de janeiro de 1960; Geraldo, com apelido de Nezo, nascido em 5 de julho de 1962 e este último, Marcos Antônio, apelidado de Bê, que nasceu em 13 de julho de 1963. Uma verdadeira escadinha, faltando apenas o degrau Aparecido, que faleceu com meio dia de vida. Os dois últimos nasceram neste sítio.

    E na família dos Lemes a tal escadinha era de tal semelhança que até parecia que ambas as famílias disputavam entre si para ver quem conseguiria ter mais filhos. Veja só a hierarquia de herdeiros: João, Donizete, Moacir, Ivone, Gilmar e Zoca. Até a posição da única filha mulher na hierarquia era idêntica.

    Eu nem sabia como nasce um bebê, mas se soubesse diria que o povo da roça trabalha de dia na lavoura e a noite, como não se tem nada o que fazer no escuro, vai fazer nenê.

    Nesse período de Bê praticamente recém-nascido, papai tivera dificuldades na sua lavoura, principalmente de algodão, pois mamãe, resguardando um período de quarenta dias de dieta, sem poder ajudá-lo (fazia todo trabalho do lar). Porém, graças à união familiar, vindo da ajuda do irmão Luiz (meu tio Luiz) com toda sua família (esposa Anna e filhas Belinha e Nice, que o apoiaram na colheita atrasada dessa beleza branca e macia, contando também com a ajuda de pequeno trator cinquentinha, emprestado.

    Ratos e cachorros

    P

    ara o plantio do algodão, papai precisava arar a terra e sendo pobre não possuía de fato seu trator, com isto o fiel puxador de arado, teria que ser o nosso cavalo baio; que não sei se não gostava de trabalhar, se não gostava de arado, ou se não gostava de meu bondoso tio Anor, que era o responsável por dirigi-lo pela terra a ser revirada; só sei que Bainho, para escapar de tal responsabilidade resolveu dar coices e levantar as patas dianteiras como doido, que se fosse à época de Zorro, seria o famoso cavalo Silver. Infeliz Tio Anor, que precisou primeiro perder um tempão na árdua tarefa de domar o Bainho, antes do trabalho propriamente dito.

    E enquanto ele cuidava dessa parte, nós, as crianças, só sabíamos mesmo brincar e então fomos juntos ao pomar, chupar as deliciosas mexericas poncãs, que tinham as cascas até avermelhadas ou alaranjadas de tão maduras.

    Parece mecha de algodão desabrochada ao Sol ardente.

    Parece mecha de algodão desabrochada ao Sol ardente.

    E foi assim que meu primo João, com seus já oito anos de idade, ao me ver devorando uma delas, ao perceber um gominho menor, me disse que não deveria chupá-lo, pois ele pertencia a Deus e deveria ser colocado sobre a viga do chiqueirão para que Ele o apanhasse…

    … poucos minutos depois, sorrateiro (que eu nem sabia o que significava), voltei para conferir e não é que Deus tinha ido mesmo buscar o danadinho… quer dizer… disse-me Donizete (quase sete anos): Deus era nada menos que o safadinho de seu irmão João.

    Porém o mais safado mesmo era meu irmão Luiz Carlos, que sendo o mais velho, adorava destruir as brincadeiras dos demais, principalmente se fosse algo construído com terra ou outra matéria prima adorada por crianças. João também não era flor que se cheira e resolveu bolar um plano de vingança terrível. Apanhou um moinho de café velho, cobriu-o todo de terra úmida e gritou para Luiz:

    — Vem destruir se você for homem!

    O Innocente de meu irmão Luiz, descalço, para provar sua masculinidade de nove anos de idade, investiu em disparada como touro bravo e meteu um baita chute sobre o monte de terra, caindo em câmera lenta (será que naquela época existia esse troço?) ao chão gritando de dor, com os dedos do pé direito todo ensanguentado e grave risco de quebradura.

    Dessa maldade toda, ele saiu apenas ferido e meu primo João ganhou uma pesada surra de seu bondoso pai Anor, que abandonou imediatamente o Bainho para ver a tragédia. Resultado final: Luiz Carlos chorando de um lado com o pé todo enfaixado por pano velho, vermelho de sangue; João Lemes chorando de outro, com as pernas nuas cheias de vergões, devido às impiedosas chicotadas à base de cinta de couro cru e eu, com o coração disparado, temendo levar também algumas chicotadas simplesmente por estar presente em tal travessura.

    Durante a noite, como os cachorros Jagunço (um velho e grande cão rajado da raça perdigueiro) e Piloto (mais novo e menor, branco, da raça lulu), não paravam de latir, não nos deixando dormir (se é que latido de cachorro impede criança cansada de fazer arte, em dormir) papai se viu obrigado a levantar e gritar, ralhando com os pobrezinhos.

    Pouco tempo depois, como alguém fazia barulho na dispensa, meu irmão Zeca, perguntou o que era e ouviu um sermão dizendo para calar a boca e ir dormir. Pode ser que o barulho fosse feito por algum rato (e era: um rato bem grande).

    Na manhã seguinte, havia um escorregão no chão de terra da cozinha, que estivera molhado, devido nossos banhos que nem gato, em grande bacia de latão, na tarde anterior, e na dispensa faltava um saco de arroz em casca de cinquenta quilos, além de uma trilha daquela sementinha bem amarela, que seguia pelo caminho, devido o saco talvez furado. Papai concluiu que tínhamos recebido a visita de um gatuno (não seria ratuno?)

    E nas visitas diárias à tuia de milho, com intuito de apanhar alimento para as galinhas e porcos, constantemente papai ou meus irmãos mais velhos encontravam grandes rolos de um animal, geralmente de cor marrom avermelhada e às vezes cinza, que após se deliciar de algum rato desavisado, dormia em paz. Eram grandes Jararacas⁵, com até quase dois metros de comprimento; ou Surucucu⁶, que chegava até os quase quatro metros (será que aos cinco anos eu já era expert ops em nomes científicos? Ops de novo). Porém (voltando ao assunto), o fato era que por azar delas, foram se alimentar e dormir em hotel errado. Embora eu (em silêncio) não concordasse, papai as arrastava para o quintal e as assassinava sem piedade, a cruéis golpes de enxadadas.

    Com o tempo passando e os rolos de animaizinhos perigosos desaparecendo aos poucos, é que outros animaizinhos agradeciam… aproveitando essa desordem toda, foi que papai percebeu seu erro ao interferir na natureza, destruindo predadores naturais, deixando com que os ratos ficassem muito à vontade, além de na tuia de milho, como também na dispensa de mantimentos. Com isto resolveu colocar as ratoeiras para trabalhar e assim, na outra manhã, elas foram levadas ao grande terreiro, todas abalroadas de tantos animaizinhos, condenados por fazerem suas festas em local impróprio.

    Nós, as crianças, resolvemos participar dessa festa (não para os ratos). Papai soltava um de cada vez e o bichinho, se vendo livre e assustado, saía em disparada pelo terreiro. Com isto, para completar a festa, Piloto e Jagunço, se encarregavam do extermínio. Piloto depois de até parecer brincar bastante com tal condenado, metia os dentes afiados sobre a cabeça do infeliz e Jagunço, sendo grande, dava apenas uma patada. Eu, apesar da folia, ficava horrorizado com tamanha maldade contra indefesos bichinhos.

    Jagunço era tão esperto quanto velho. Quando papai matava um porco e fritava suas carnes ou fazia sabão com suas vísceras (intestinos e outros) no grande tacho de ferro sobre fogão improvisado no quintal, mamãe ou um dos filhos precisava ficar de guarda, pois o danado dava um jeitinho e roubava partes daquelas carnes temperada à base de soda cáustica, de dentro do tacho quente.

    — Não sei como esse cachorro faz pra roubar as coisas sem se queimar — protestava dona Odete do Serafim.

    Nós meninos, sem que nossos pais reclamassem, tirávamos bonitos bifes do infeliz porco sacrificado em prol de saciar nossas necessidades alimentares, fritávamos e saboreávamos apenas com sal e ajuda de um garfo, na chapa do fogão à lenha, que ficava na cozinha de nossa morada de taboca e barro.

    E enquanto aquelas coisas aos poucos se transformavam em sabão, nós nos divertíamos no resistente balanço criado por meu irmão Carlos, com corrente boa e um pedaço de couro trabalhado, no galho mais grosso da amoreira que ficava junto ao chiqueirão dos porcos.

    Alguns dias depois do gatuno ter visitado nossa moradia, foi pego roubando na casa de Sebastião Sueca, que o pegando em flagrante, o amarrou pelas mãos e pernas, chamando em seguida a polícia.

    Um Innocente na cidade.

    C

    omo sempre fazíamos estivemos passeando na casa de meus avôs maternos, na

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1