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Na Mira Da Bala
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E-book287 páginas3 horas

Na Mira Da Bala

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Sobre este e-book

Matteo Barbieri é brutalmente atacado por um homem mascarado em uma noite chuvosa no meio da rua. O crime brutal o deixa à beira da morte, que irrita seu pai, Vicenzo Barbieri, o chefe da maior família distribuidora de armas do Brasil. O crime ousado tensiona o clima das negociações e obriga seus dois maiores e mais fieis amigos, Luca e Leonard, a investigarem a família rival, chefiada por Aquino D Angelo, e o ricaço Bartolomeu Rossi, um antigo inimigo de Vicenzo. Em Galena, uma cidadezinha na fronteira com o Paraguai, uma estranha movimentação de traficantes de drogas e armas também ameaçam o império da família Barbieri.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento20 de nov. de 2020
Na Mira Da Bala

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    Pré-visualização do livro

    Na Mira Da Bala - Leonardo Tibiriçá Corrêa

    AGRADECIMENTOS

    Gostaria de agradecer, primeiramente, ao meu pai, Marcelo Tibiriçá da Silva Corrêa, por ter me ajudado a construir uma história mais emocionante e intrigante, respondendo minhas mensagens sempre que pedi um conselho ou uma opinião. Um verdadeiro maestro na construção desta obra.

    Também quero agradecer a minha namorada, Amanda Ramos, que sempre respondeu minhas mensagens para dar uma opinião ou um conselho sobre algum trecho, além de todo o apoio e incentivo a concluir esse livro.

    Por fim, quero agradecer a minha mãe, Alessandra Sueli Lattaro, e a minha irmã, Camilly Sueli Corrêa, que tem me apoiado, incentivado e por serem a melhor companhia durante o isolamento social.

    PRÓLOGO

    O

    relógio já marcava 22 horas e as ruas do nobre bairro da Mooca estavam desertas, a não ser por um homem que aguardava seu ônibus no ponto enquanto lia desatentamente o seu jornal do dia. O homem era alto, branco, com um casaco preto, calça jeans azul marinho e calçava sapatos de couro. Além disso, usava óculos e tinha um bigode, apesar de ser consideravelmente calvo.

    No jornal, leu que o dólar subira mais trinta centavos, pela manhã, e a economia brasileira despencava cada vez mais. O caderno sobre televisão falava sobre mais um reality show que iria estrear na televisão aberta. Por fim, foleou o caderno de esportes para ver a pontuação do campeonato nacional, apesar de não torcer por qualquer time.

    Uma luz forte e rápida brilhou no céu e iluminou-o parcialmente. Em seguida, a chuva começara a despencar. O jornal começou a ficar encharcado, enquanto tentava abrir seu guarda-chuva velho e barato. Olhou mais uma vez para o relógio, murmurou algumas queixas e olhou esperançoso para o fim da avenida, por onde seu ônibus deveria vir.

    Apesar daquela região não ser tão perigosa, cada segundo que se passava era uma tormenta e aumentava a ansiedade e medo de ser assaltado ou sequestrado a qualquer momento. A chuva apenas piorou a sua estadia mental. Mais uma vez, olhou para o relógio em seu pulso e olhou na direção oposta a de seu ônibus e viu um homem correndo em sua direção, enquanto gritava por socorro.

    — SOCORRO!

    O homem não tinha reação alguma, seus óculos estavam embaçados e o cérebro cansado pelo trabalho exausto, somado as noites mal dormidas e um trabalho extra que seu supervisor passou para fazer depois do horário, tinha extinguido com seu raciocínio rápido.

    O homem desconhecido se aproximava e atrás dele uma sombra, de 1,95 m aproximadamente, com rosto coberto por uma máscara o perseguida. O mascarado atirou nas costas daquele homem que corria e logo caiu sobre a rua toda encharcada e deserta. O homem no ponto de ônibus tentou se esconder atrás de uma mureta assim q ouviu o tiro e rezou para que seu ônibus chegasse logo.

    O mascarado se aproximou do corpo caído no chão, agachou próximo de sua orelha apoiando seu pé sobre suas costas, enquanto o homem baleado tentava pronunciar socorro, mas sem qualquer força para gritar. O mascarado sacou uma faca e colocou em sua garganta enquanto falava:

    — Precisarei pegar algo emprestado como prova do meu serviço, sabe como são os portugueses — neste momento, ele decepou a orelha do homem estendido no chão — mas não quero que você morra.

    O homem que estava escondido na mureta, acabara de entrar em choque e não conseguiu pegar o celular e gravar ou chamar a polícia, apenas o observou atentamente o que estava acontecendo.

    O mascarado olhou ao seu redor para confirmar se haviam testemunhas e começou a caminhar para o ponto. O homem que estava no ponto de ônibus, inicialmente, permanecia agachado atrás da mureta tentando se esconder e torcendo para passar despercebido. Cobriu a boca com as mãos para minimizar todos os possíveis ruídos e, em hipótese alguma, pensou em olhar para a cena do crime novamente. Rezou incansavelmente para que o mascarado já tivesse partido.

    E naquele momento, um clarão em seu rosto fez perceber que o seu ônibus estava vindo em sua direção. Abruptamente, se levou e balançou os braços pedindo para que parasse. O motorista, então, diminuiu e encostou o ônibus no ponto. O homem estava imensamente assustado e completamente molhado. Começou a falar desesperadamente:

    — Preciso chamar a polícia, houve um assassinato ali.

    — Onde, senhor?

    — Ali! — ele apontou para onde o homem fora baleado, mas não havia mais corpo algum ali e estava escuro demais para notar algum detalhe sequer.

    — Por favor, senhor, acalme-se e sente-se.

    O homem estava surpreso com o desaparecimento daquele corpo. Sentou-se próximo a janela e observou pelo lado de fora com os olhos arregalados, refletindo sobre o que tinha presenciado, pois tinha absoluta certeza de que vira um assassinato.

    Olhou para as mãos trêmulas e voltou a olhar pela rua. Toda a rua fora iluminada abruptamente por causa de um relâmpago e pode-se notar a silhueta de um homem parado ao lado do ônibus, que tardava a partir.

    O homem mascarado olhava fixamente para a janela ao qual aquele senhor estava sentado e garantiu nunca se esquecer daquele rosto. O homem ficou boquiaberto e correu para o fundo do ônibus, onde se agachou como se estivesse se protegendo de um forte impacto e permaneceu naquela posição até que o ônibus finalmente saísse do ponto.

    E tudo isso não demorou mais do que 3 minutos, mas para aquele humilde senhor que apenas queria voltar de seu trabalho e descansar em casa ao lado de sua família, foram a verdadeira eternidade no inferno.

    Suas mãos não paravam de tremer, mas aos poucos se acomodou à cadeira e pode tentar acalmar a respiração ofegante que era predominante até então. Olhou para fora e ouviu o disparo ecoar pela sua cabeça, como se estivesse presenciando aquele terrível momento de novo. Não pareceria que um dia aquilo iria acabar.

    Encerrando a adrenalina, o homem começou a entrar em estado de exaustão. Lentamente, deixou a cabeça se recostar ao vidro da janela e pôs-se a cochilar. Eram quase 40 minutos até que chegasse a sua casa.

    Enquanto o ônibus distanciava-se da rua, o homem mascarado pegou o corpo desacordado, porém ainda vivo, que havia sido jogado como um saco de lixo para os arbustos perto da cena do crime, coberto de sangue que escorria pelo lugar que antes estava a sua orelha e pintava toda a sua roupa. Amarrou no poste de luz, que não funcionava e deu tapas amigáveis no ombro como se quisesse se despedir.

    Pegou o celular do bolso da caça do homem amarrado e ligou para uma ambulância. Calmo e sereno tentou simular um pedido de socorro imediato. Ao desligar, olhou por alguns segundos aquela cena e admirou-a como se fosse uma obra de arte.

    Caminhou e saiu pela primeira rua à direita onde estava sua moto estacionada. Subiu e colocou a chave no câmbio. Retirou a máscara e amarrou seus cabelos ruivos, que eram lisos e do comprimento até seu queixo, onde aumentava o volume de sua barba e bigode ruivos. Deu a partida em sua moto e foi embora em direção a zona oeste, ao qual era, propositalmente ou não, oposta ao ônibus. Não tardou muito e a ambulância chegou ao local e imediatamente à polícia fora acionada. O homem permanecia vivo.

    CAPÍTULO 1:

    UNIÃO MATRIMONIAL

    O

    sol raiava fortemente sobre as cabeças de duas famílias que comemoravam o casamento de seus filhos, que namoravam apesar da divergência dos interesses empresariais. Francine Leblanc era a caçula de Thierry e Lorraine Leblanc, além de seus dois irmãos Oliver, primogênito e Adam. A família Leblanc não era uma potencia na cidade, mas era a referência lucrativa na área de jogos de azar, além de comandar o tráfico de drogas de heroína. Eles não lidavam com os traficantes, isso era papel da família do noivo.

    A família do noivo Afonso Castro, filho de João e Matilde Castro, que tinham mais três filhos: Santiago casado com Ana Carolina, Madalena que era solteira e Catarina, a caçula que completará 18 anos, há uma semana. Leblanc e Castro negociavam a difusão de heroína em quatro estados, Paraná, Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro.  Thierry construíra um império da importação de heroína do Paraguai e João Castro um império multimilionário de tráfico de drogas no país.

    Francine trabalhou pouco tempo como uma espécie de secretária dos irmãos e do pai e sempre tinha que telefonar para João ou Santiago para marcar o local de recebimento da carga. Eventualmente, Afonso é quem ia levar o pagamento. Jamais o pagamento estava presente no mesmo local que as drogas.

    E com o tempo, acabaram marcando de sair juntos. Inicialmente, Thierry ficou relutante e Lorraine proibira os encontros noturnos. João também não estava nada contente e Matilde não abriria a boca para argumentar. Era um costume da família portuguesa.

    Inevitavelmente, Francine engravidara e Afonso estava decidido a assumir seu filho. Então, em uma reunião entre portugueses e francês, mediada por Vicenzo Barbieri, patriarca dos Barbieri, foi marcado a data de casamento para dentro de um mês.

    Vicenzo Barbieri era um italiano, trazido na década de 1950 por volta de seus três anos. Era casado com Giovana Barbieri, ao qual tiveram três filhos: Antonella, Matteo e Andrea. Antonella tinha 42 anos e era casada com Henrique Rossi e Andrea era casado com Carla Greco. Nenhuma das três famílias tinha algum neto, então Francine e Afonso iriam dar inicio a terceira geração do sistema ilícito brasileiro.

    A família Barbieri controlava todo o tráfico de armas, importadas de inúmeras partes do mundo. Não somente a captação, mas a distribuição era responsabilidade da própria família. De norte a sul, de leste a oeste, os Barbieri estavam presentes vendendo e contrabandeando suas armas ilegais.

    Obviamente, um de seus clientes mais fiéis eram os Castro, já que necessitavam de armas para poderem difundir a heroína e garantira a segurança dos casinos ilegais. Devido à amizade histórica entre os portugueses e italianos, Vicenzo resolvera bancar o casamento de Francine como um gesto nobre por parte da fidelidade fraternal. O casal o convidou a ser padrinho.

    Apesar dos esforços e de todo o preparo, era impossível aguentar aquele sol escaldante após a cerimônia na Igreja Católica Ortodoxa Paulistana. A festa fora marcada em um casarão alugado por Vicenzo para acomodar todos os convidados da noiva e do noivo. Eventualmente, alguns vendedores de rua, como eram chamados os traficantes de heroína, estavam presentes. Era terminantemente proibido o uso de drogas, bem como acomodar viciados.

    As mesas estavam distribuídas por todo o espaço aberto, de um lado havia uma imensa mesa servindo o almoço e do outro a piscina, livre para ser usada a quem pudesse. Todas as crianças gritavam agudamente para que seus pais as autorizassem a entrar na piscina e poderem se refrescar. Provavelmente, os pais também quisesse aproveitar a agua gelada da piscina a ter que aguentar conversa fiada de duas famílias ricas que mau se comunicavam com os demais parentes. Era tudo um simbolismo de fineza e glamour.

    No centro, com uma sobra improvisada por uma tenda, havia uma extensa mesa vertical disposta da esquerda para a direita, Vicenzo e Giovana, João e Matilde, Francine e Afonso e Thierry e Lorraine. Ao lado dos franceses, havia duas cadeiras reservadas para Aquino D’Angelo e uma possível acompanhante, já que Elisa, sua esposa, viera a falecer de câncer de mama há um mês.

    Impressionantemente, Aquino estava atrasado e consideravam que não viria para a festa e Vicenzo estava profundamente magoado pelo conterrâneo desmerecer seus investimentos naquele casamento.

    D’Angelo era uma família formada pelo pai Aquino e seus dois filhos, Enrico e Filippo. Controlavam o tráfico de drogas das metanfetaminas, desde a fabricação até a sua distribuição com traficantes fortemente armados.

    Barbieri e D’Angelo era sinônimo de rivalidade nos anos 1980 e 1990, já que D’Angelo também começara a vender armas e construir bordéis, financiado por generais e grandes empresários. Houve até uma guerra que costeou um sequestro de Elisa ainda grávida, que levou, horas mais tarde, a um aborto espontâneo devido ao intenso estresse. Vicenzo nega ter sido o mandante de tal atrocidade e poderia ser interesse dos espanhóis derrubar dois impérios através de uma guerra entre si.

    O que Aquino não concordava é que não houve interesse de espanhóis ingressarem ao mercado brasileiro até dois anos atrás, quando envolveram o tráfico de cocaína em toda região sudeste e centro-oeste do país. Mas, após a morte de Elisa, Aquino cedeu abaixou seu ego e cederam a alguns encontros casuais com Vicenzo, que o convidou ao casamento de seus afilhados.

    A fortuna de Aquino fora construída sobre o mercado de metanfetamina. Foi o primeiro fabricante e comerciante do país. Por anos, manteve outras drogas fora de seu radar, exceto a maconha. Porém, com o ingresso da heroína portuguesa-francesa e da cocaína espanhola, passava pela pior crise financeira da história da família D’Angelo, que ainda assim era considerada a família mais rica e mais nobre. Ter a proteção ou a benção D’Angelo era sinônimo de sucesso.

    Enquanto todos almoçavam, Oliver caminhava por entre as primas de Afonso, tentando laça-las com seu terrível charme francês. Era um homem forte, bruto e com uma terrível aparência que ficava pior com aquele imenso nariz pontudo. Entretanto, a paquera através de sua lábia era empolgante e ele demonstrava muita confiança. Mariana, uma das primas de Afonso, cedeu aos encantos do francês, que a levou para o banheiro no fundo da casa para traça-la.

    Francine e Afonso bebericavam seu champanhe presentado por Adam. Santiago fumava o segundo maço de cigarros ao lado de Tomás, seu cunhado. Passou o casamento inteiro reclamando para os ouvidos inchados de Tomás, que Francine cometera um erro.

    Vicenzo ia de mesa em mesa cumprimentar os convidados e tirar fotos, como se a festa fosse em sua homenagem ou algo parecido. Giovana estava cantando alguns versos animados em italiano e fofocava vulgaridades no microfone, que constrangia seu marido.

    Andrea falava ao celular e nitidamente demonstrou uma expressão de surpresa, com sinais de medo ou raiva, não dava para saber exatamente o que sentia, era muito calmo e cauteloso com suas ações até nos momentos que exigiam mais adrenalina. Foi até o encontro de seu pai e falou:

    — O senhor precisa vir aqui comigo. Tenho que conversar com o senhor.

    — Que grosseria, Andrea, estou aqui cumprimentando os convidados.

    — Pai, preciso urgentemente falar contigo.

    — Peça ajuda a seu irmão Matteo, que até agora não apareceu. Deve estar atrasado por ter dormido com outra vagabunda. Moleque insolente.

    — Pai, é sobre o Matteo. Ele está no hospital — Vicenzo mudara a expressão abruptamente, demonstrando estar com medo. Com o braço, Andrea o puxou para um canto mais afastado dos ouvidos fofoqueiros.

    — O que houve? Ele está bem?

    — Na verdade, não sei. O hospital me ligou dizendo que Matteo fora atacado por um homem desconhecido ontem à noite. Felizmente, a ambulância o encontrou amarrado a um poste com um bilhete em seu bolso.

    — Vamos imediatamente para este hospital. Avise Luca que eu quero que investigue sobre isso.

    Luca era um velho amigo de Vicenzo, que trabalhava como seu guarda-costas, conselheiro e até detetive particular. Ao longo de décadas, serviu como assassino particular da família Barbieri e eliminou inúmeros concorrentes e inimigos. Acioná-lo envolvia praticamente um armamento nuclear.

    O patriarca italiano não avisou Giovana para não assustá-la. Avisou Thierry e João que deveria se ausentar e clamava pela ajuda de seu filho Andrea. Ambos não se ofenderam com a saída, mas questionaram o motivo.

    — Como posso dizer? Tenho que consertar um velho guarda roupas do bambino aqui, que mal troca uma lâmpada.

    C’est bon. Mas depois, João e eu queremos comemorar. Só os patriarcas. É uma união promissora que este casamento irá gerar, além de meu precioso neto.

    — Com prazer. Agora tenho que ir.

    Vicenzo e Andrea sentaram no banco de trás do Porshe cinza e partiram para o hospital. Vicenzo tremia e olhava fixamente para seus joelhos. Suava tanto pelo calor quanto pelo nervosismo que o afligia. Andrea estava preocupado, mas também estava começando a ficar preocupado com o seu pai.

    — Quem faria algo com Matteo?

    — Não sei, pai, mas iremos descobrir.

    Vicenzo olhou para fora e respirou fundo como se, naquele momento, todo o ar do mundo desaparecera. Tudo o que ele queria era encontrar o mais rápido possível seu filho, Matteo.

    — Não avisei Antonella. Ela nem apareceu ao casamento.

    — Sua irmã tem aquele infeliz. Não consigo acreditar que uma mulher tão forte e inteligente acabe com um homem daqueles. Mas não vou me irritar com ele. Que vão para o inferno. Quando eu voltar para a casa e tiver certeza que Matteo está bem e seguro, ligo para ela e aviso sobre o ocorrido.

    Perfetto.

    CAPÍTULO 2:

    HOSPITAL

    O

    motorista ia o mais rápido que podia, mas não era o bastante para Vicenzo Barbieri. Passando a mão pela testa suada, olhou enojado para seus dedos pegajosos e, enfim, pegou um lenço do bolso do paletó, passou sobre a careca, dobrou-o e o guardou.

    — Será que não da para ir mais rápido?

    — Perdoe-me, senhor, estou indo o mais rápido que posso.

    Che grande animale — disse expressando com feições de desprezo.

    — Pai — disse Andrea — se acalme. Pelo menos Matteo está no hospital já.

    — Está pedindo para me acalmar? Você é retardado, Andrea? Será que as escolas brasileiras te deixaram mais burro? Eu não vou me acalmar enquanto não puder vê-lo e ter certeza que meu filho está bem. Alguém tentou mata-lo, mas sei que será um homem morto em breve.

    — Só quero dizer, que pelo menos ele está a salvo...

    — Ele não está a salvo! Ele estará a salvo quando eu estiver ao lado dele. E se alguém tentar mata-lo de novo? Olha, Andrea, fate silenzio. Consegue?

    — Claro, pai, desculpa — disse abaixando a cabeça mostrando sinal de submissão ao pai.

    Scusi, ande mais rápido se quiser manter seu emprego. Deixe que eu resolva as multas de trânsito.

    — Sim, senhor — o motorista respirou fundo como forma de respeito às exigências do patrão e pisou o mais fundo no acelerador.

    Em menos de 15 minutos, chegaram, finalmente, ao hospital. O motorista abriu a porta para Andrea descer e em seguida Vicenzo, que fez o sinal da cruz, pois naquele hospital havia uma enorme estátua de Nossa Senhora, a qual o patriarca era muito devoto. Andrea fez um gesto como se quisesse ajuda-lo a erguê-lo. De maneira ranzinza respondeu:

    — Não estou doente, Andrea, Matteo é que está.

    O hospital Nossa Senhora da Mooca era um dos melhores hospitais que existia na capital. Matteo Barbieri era muito conhecido por ser um verdadeiro populista, ao qual lhe rendeu cargo como vereador, mas não quis permanecer na política. A visibilidade e a transparência podiam por a tona o império Barbieri da noite para o dia. Além disso, Matteo adorava uma fofoca

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