Controle Gerencial e Educação em Contabilidade: Discutindo Perspectivas
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Sobre este e-book
O Controle Gerencial está ancorado na visão de que a Contabilidade representa um instrumento indispensável para manutenção das organizações. Esse tema tem como perspectivas propor o desenvolvimento de investigações alicerçadas em desafios de identificar, mensurar, analisar e evidenciar informações relativas aos eventos econômicos e financeiros das organizações. Trata-se de uma área da Contabilidade que procura incluir os diferentes agentes envolvidos nos ambientes profissional e acadêmico, como forma de estimular reflexões acerca do controle gerencial como estratégia para promover o desenvolvimento econômico e social das organizações. As investigações desenvolvidas sobre esse tema envolvem aspectos práticos relacionados a assuntos como o do controle gerencial em si, bem como sobre gestão de custos, sistemas de informação contábil, inovação na contabilidade etc.
De outro lado, a educação em Contabilidade é uma área que propõe investigações alicerçadas nos processos de ensino e pesquisa que perpassam a Ciência Contábil. A proposta consiste em instigar o desenvolvimento de investigações acerca de métodos, técnicas e instrumentos que visem ao aprimoramento e à melhoria da qualidade do ensino, da educação e da pesquisa em Ciências Contábeis, englobando inclusive, estudos que envolvam práticas, ensino e formação docente, bem como o uso das tecnologias na educação como um instrumento fundamental para o avanço do conhecimento na área, e trabalhos bibliométricos que identifiquem temas relevantes a serem estudados.
Dessa forma, o livro procura trazer, por meio, de trabalhos desenvolvidos em um Programa de Pós-Graduação em Contabilidade, um aprofundamento das pesquisas que podem ser produzidas a partir dos temas centrais do livro, servindo não só como instrumento de pesquisa científica, mas também como balizador de ações práticas nas empresas e nas instituições de ensino, contribuindo para o desenvolvimento da área contábil.
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Controle Gerencial e Educação em Contabilidade - Alexandre Costa Quintana
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E TRANSDISCIPLINARIDADE
APRESENTAÇÃO
A ideia de construir um livro com a proposta de ilustrar a construção de perspectivas de pesquisa na área de Controle Gerencial e Educação em Contabilidade surgiu após o primeiro ano de oferta do mestrado acadêmico em Contabilidade da Universidade Federal do Rio Grande (Furg); um ano marcado por muitos desafios. O desejo de consolidar um programa de mestrado nas linhas de Controladoria e Controle Gerencial e Educação e Pesquisa em Contabilidade motivou o desenvolvimento de muitas investigações, algumas delas aqui reunidas.
Este livro busca contribuir para pesquisa na área de Contabilidade, explorando diferentes possibilidades investigativas. Os 14 estudos apresentados nesta edição têm estrutura semelhante e fornecem um retrato de alguns desdobramentos que os estudos na área podem apresentar, tais como: pesquisa na área de negócios sobre epistemologia, indissociabilidade universitária, condicionantes do aprendizado nos cursos de Ciências Contábeis, análise do uso da técnica de análise de discurso na pesquisa em contabilidade, uso das tecnologias da informação e comunicação na educação superior, investimentos ambientais e sua relação com a rentabilidade das empresas participantes do índice de sustentabilidade empresarial, condicionantes da regulação do transporte individual remunerado ofertado por aplicativos, fricções em contratos de obra e os custos de transação associados, tomada de decisão nas instituições de ensino superior, uso do orçamento na gestão do agronegócio brasileiro, atributos do alerta empreendedor de gestores de empresas em processos de incubação, artefatos de controle gerencial nas pequenas e médias empresas, eficiência na gestão dos recursos destinados à educação básica, e por fim, estereótipos negativos de gênero nas líderes femininas de uma instituição federal de ensino superior.
Esperamos que este livro seja útil para alunos de graduação e pós-graduação em Contabilidade e áreas afins, bem como para pesquisadores da área. Agradecemos imensamente o envolvimento dos docentes e discentes que muito se esforçaram para o desenvolvimento das investigações aqui compartilhadas.
Ana Paula Capuano da Cruz
Alexandre Costa Quintana
Sumário
ESTADO DA ARTE: TESES E DISSERTAÇÕES BRASILEIRAS DA ÁREA DE NEGÓCIOS SOBRE EPISTEMOLOGIA 9
Bruna Terra Mohad, Alexandre Costa Quintana e Débora Gomes de Gomes
INDISSOCIABILIDADE UNIVERSITÁRIA VISTA PELOS DISCENTES DO CURSO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR DO SUL DO PAÍS 23
Yuri Schleich Klug, Cristian Marciano Kuster, Flávia Regina Costa Czarneski e Débora Gomes de Gomes
CONDICIONANTES DO APRENDIZADO NOS CURSOS DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS: REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA SOBRE TÉCNICAS DE ENSINO 41
Michele Urrutia Heinz, Alexandre Costa Quintana, Débora Gomes de Gomes e Gabrielito Rauter Menezes
UMA ANÁLISE EPISTEMOLÓGICA DO USO DA TÉCNICA DE ANÁLISE DE DISCURSO NA PESQUISA EM CONTABILIDADE À LUZ DA ABORDAGEM FOUCAULTIANA 59
Viviane da Silva Lemos, Yuri Schleich Klug, Alexandre Costa Quintana e Ketlle Duarte Paes
USO DAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR: UM OLHAR SOBRE AS TESES E DISSERTAÇÕES BRASILEIRAS 75
Bruna Terra Mohad, Débora Gomes de Gomes, Gabrielito Rauter Menezes e Alexandre Costa Quintana
INVESTIMENTOS AMBIENTAIS E SUA RELAÇÃO COM A RENTABILIDADE DAS EMPRESAS PARTICIPANTES DO ÍNDICE DE SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL (ISE) 89
Alex Sandro Rodrigues Martins, Cristiane Munhoz de Azevedo e Alexandre Costa Quintana
REGULAÇÃO DO TRANSPORTE INDIVIDUAL REMUNERADO OFERTADO POR APLICATIVOS EM PORTO ALEGRE: INTERESSE PÚBLICO VERSUS INTERESSES PARTICULARES 107
Bruna Terra Mohad, Ana Paula Capuano da Cruz, Marco Aurélio Gomes Barbosa e Alexandre Costa Quintana
COMO AS FRICÇÕES EXISTENTES EM CONTRATOS DE OBRA GERAM CUSTOS DE TRANSAÇÃO? 123
Michele Urrutia Heinz, Ana Paula Capuano da Cruz, Marco Aurélio Gomes Barbosa e Alexandre Costa Quintana
TOMADA DE DECISÃO NAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR: UM ESTUDO QUANTO A CAPACIDADE DO TESOURO GERENCIAL 139
Fernanda Dalcin Flores, Décio Bittencourt Dolci e Débora Gomes de Gomes
USO DO ORÇAMENTO NO SISTEMA DE CONTROLE GERENCIAL: UMA VISÃO SINGULAR NA GESTÃO DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO 157
Bruno Peserico Martini, Ana Paula Capuano da Cruz, Marco Aurélio Gomes Barbosa e Débora Gomes de Gomes
ATRIBUTOS DO ALERTA EMPREENDEDOR DE GESTORES DE EMPRESAS EM PROCESSO DE INCUBAÇÃO 175
Anderson Betti Frare, Ana Paula Capuano da Cruz, Lívia Castro D’Avila e Alexandre Costa Quintana
USO DE ARTEFATOS DE CONTROLE GERENCIAL EM PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS: UMA META-SÍNTESE DA LITERATURA CIENTÍFICA 187
Lusia Ribeiro Ferreira, Débora Gomes de Gomes e Gabrielito Rauter Menezes
Eficiência na Gestão dos Recursos Destinados à Educação Básica no Brasil: Uma Meta-avaliação da Produção Científica 207
Viviane da Silva Lemos, Ketlle Duarte Paes, Débora Gomes de Gomes, Gabrielito Rauter Menezes e Yuri Schleich Klug
REFLEXO DOS ESTEREÓTIPOS NEGATIVOS DE GÊNERO NAS LÍDERES FEMININAS DE UMA INSTITUIÇÃO FEDERAL DE ENSINO SUPERIOR 225
Thais Aparecida Pereira, Michele Josiane Rutz Buchweitz, Ana Paula Capuano da Cruz, Flávia Regina Costa Czarneski e Marco Aurélio Gomes Barbosa
ANEXO – QUESTIONÁRIO 243
SOBRE OS AUTORES 247
ESTADO DA ARTE: TESES E DISSERTAÇÕES BRASILEIRAS DA ÁREA DE NEGÓCIOS SOBRE EPISTEMOLOGIA
Bruna Terra Mohad
Alexandre Costa Quintana
Débora Gomes de Gomes
1 INTRODUÇÃO
O número de instituições de ensino superior e pós-graduação vem crescendo e com isso espera-se que cresça também o número de publicações científicas. Dessa forma, surge a preocupação quanto aos aspectos epistemológicos dessas pesquisas (NOSSA; TEIXEIRA; FIORIO, 2007). Visto que, conforme Rocha, Araújo e Marques (2012), a escolha errada da abordagem pode comprometer toda a pesquisa, em virtude de não atingir aos objetivos propostos pela pesquisa.
Este estudo foca na produção científica em Administração, Ciências Contábeis e Economia no Brasil sob a ótica da epistemologia. Há alguns trabalhos sobre Epistemologia na área Contábil como: Theóphilo e Iudícibus (2005), Ribeiro Filho et al. (2007) e Nossa, Teixeira e Fiorio (2007). Na área de Administração tem-se Rocha, Araújo e Marques (2012). Estudos com esse tipo de abordagem também são encontrados em outras áreas do conhecimento, como Fleuri (1999) e Silva (2004) na educação. Essas pesquisas foram utilizadas para construção do referencial teórico desta pesquisa.
De acordo com Kimura (2005), há uma preocupação com a questão do valor do conhecimento humano e do método mais adequado a ser aplicado e desenvolvido, constituindo ainda peças a serem encaixadas pelos filósofos e epistemólogos. Com o possível crescimento das produções científicas, e com o provável aumento das publicações sobre epistemologia, surge o problema desta pesquisa: quais são as abordagens epistemológicas mais presentes nas teses e dissertações brasileiras, nas áreas de Administração, Ciências Contábeis e Economia que tratam sobre epistemologia?
Para atingir ao problema de pesquisa, tem-se o seguinte objetivo geral: analisar as abordagens epistemológicas das teses e dissertações brasileiras, nas áreas de Administração, Ciências Contábeis e Economia que tratam sobre epistemologia.
Como objetivo específico tem-se: levantar e analisar criticamente as dimensões epistemológica, teórica, metodológica e técnica, manifestas e latentes, observadas na produção científica objeto de estudo, e identificar especificidades existentes nos diferentes tipos de trabalhos científicos analisados; identificar as características do desenvolvimento e apreender as tendências evolutivas da produção científica enfocada.
Segundo Gamboa (1987), a importância da análise da produção científica, amparada na competência metodológica justifica-se, visto que a sua questão é de fundamental e decisiva importância para o desenvolvimento e resultados da pesquisa.
2 EPISTEMOLOGIA
Então o primeiro passo é entender o que é epistemologia. De acordo com Japiassu (1934, p. 24), a palavra Epistemologia significa, "etimologicamente, discurso (logos) sobre a ciência (episteme)". Ainda segundo o autor, a epistemologia tradicionalmente surgiu do discurso de filósofos e eram chamadas de filosofia das ciências ou de teoria do conhecimento, visto que eram os filósofos que realizavam as pesquisas para a ciência.
Conforme Martins e Theóphilo (2009), a metodologia tem como foco melhorar os procedimentos e métodos aplicados na pesquisa. Ainda segundo o autor, essa metodologia pode seguir dois caminhos mais comuns: o mais usual é voltado à teoria do conhecimento (epistemologia) e o outro caminho é derivado da sociologia do conhecimento. Este estudo focou no método epistemológico.
Para Theóphilo e Iudícibus (2005), o desenvolvimento da ciência ocorre por meio das pesquisas cujo objetivo seja o crescimento de uma área específica, além disso ocorre o desenvolvimento também quando há pesquisas/investigações sobre os conhecimentos produzidos nessas pesquisas. De acordo com Martins e Theóphilo (2009), não existem fórmulas ou receitas para investigar, porém existem algumas formas de investigação científica, a partir de técnicas e métodos que são aplicados de acordo com o que se pretende estudar ou área de conhecimento.
O polo epistemológico é aquele em que há a constante construção do objeto científico, bem como ocorre a definição do problema de pesquisa, havendo uma permanente reformulação dos padrões, paradigmas e critérios de cientificidade que fazem parte e também orientam o processo de investigação na pesquisa (IVONE, 2005). Dentro da epistemologia pode-se realizar divisões de acordo com os enfoques epistemológicos. As abordagens epistemológicas que penetram nas pesquisas da área da educação, e permeiam as pesquisas em ciências humanas e sociais são as seguintes: empírico-analíticas, fenomenológico-hermenêuticas e crítico-dialéticas (GAMBOA, 1987).
Os enfoques epistemológicos dividem-se em: empirista, positivistas, sistêmica, funcionalista, fenomenológica, hermenêutica e crítico-dialética (MARTINS, 1994). Há diversos tipos de abordagens metodológicas, porém conforme Martins e Theóphilo (2009), de modo geral esses tipos são incluídos em três categorias: abordagens empírico-positivistas; fenomenológica e crítico-dialética.
Esta pesquisa utilizou alguns enfoques epistemológicos propostos por Ivone (2005) e Demo (1981), as quais foram a base para a construção do instrumento de coleta de dados, tais como: teórico-empirista, empirista-positivista, sistêmica, estruturalista, fenomenológico-hermenêutica e crítico-dialética.
2.1 Teórico-empirista
No empirismo o pesquisar acredita que a ciência considera apenas a realidade observada ou ainda apenas a parte dos fenômenos, ou seja, acredita-se que todas as pessoas possuem a mesma capacidade de observar os fatos (a realidade). Ainda segundo o autor, a ciência é basicamente uma forma de descrever aquilo que se observa, bem como dos experimentos que são realizados e acabam tornando-se induções. Assim essa abordagem tem uma preocupação excessiva no sentido de explicar os fatos por meio da observação da realidade, ou seja, aceita apenas o conhecimento daquilo que se possa observar (MARTINS; THEÓPHILO, 2009).
Conforme Theóphilo (2004) e Martins e Theóphilo (2009), essa abordagem busca superar subjetividade, considerando-se como verdade apenas o que é empiricamente possível de constatar. Ainda segundo os autores, essa abordagem baseia-se na indução e acredita-se que o conhecimento é adquirido por meio da observação da realidade.
Essa abordagem sofreu algumas críticas, principalmente no tocante as pesquisas sociais. Isso ocorreu em virtude de considerar que a única maneira de generalizar algo seria por meio de inúmeras repetições; que a observação nem sempre revela a parte mais importante do fenômeno; e por não levar em consideração a interpretação que o investigador pode vir a ter sobre os fatos.
2.2 Empirista-positivista
Esta abordagem tem como principal foco explicar os fenômenos, e para que isso ocorra, são observadas as relações entre estes mesmos e busca-se elevar o grau de mérito das observações dos fatos (TRIVIÑOS, 2007). Conforme Theóphilo (2004) e Martins e Theóphilo (2009), essa abordagem estuda as relações dos fenômenos de forma simples, sem se aprofundar, ou seja, preocupa-se com a relação entre os fatos, e não tem interesse nos fatores determinantes dos fenômenos. Pode-se dizer que na abordagem positivista tem-se o conhecimento a partir da observação superficial dos fatos, sem preocupar-se com o que está por trás. A raiz do positivismo está no empirismo, porém nessa etapa a abordagem é mais complexa que a anterior, tendo em comum a busca excessiva dos fatos (MARTINS; THEÓPHILO, 2009).
De acordo com Martins e Theóphilo (2009, p. 40), o positivismo lógico tem como foco principal esclarecer as expressões constantes nos discursos da ciência e não está muito preocupado com a realidade observada. Assim, a busca do porquê
das coisas e fatos é substituída pelo como
as coisas acontecem. De acordo com Demo (1981), as principais características do positivismo, são: I) Regra do fenomenalismo: o positivista não aceita a distinção entre o fenômeno e a essência
(DEMO, 1981, p. 125), ou seja, para os positivistas a essência é subjetiva e estes só consideravam o que se observava do fenômeno; II) Regra do nominalismo: os conceitos são tomados apenas como nomes a objetos concretos
(DEMO, 1981, p. 125), ou seja, os positivistas não aceitam a conceituação, visto sua forma abstrata; e III) Regra da neutralidade científica: a qual baseia-se na ideia que a experiência não experimenta valor, pois este não é constatado
(DEMO, 1981, p. 126).
Os positivistas acreditam que os fatos devem ser tratados da mesma forma quando se fala em ciência, ou de forma semelhante, ou seja, acreditavam em uma unidade metodológica (DEMO, 1981). Assim, o positivismo não acredita nos aspectos subjetivos, apenas considera real aquilo que se pode observar, testar e afrontar com alguma observação empírica (MARTINS, THEÓPHILO, 2007).
2.3 Estruturalismo
Ao contrário do positivismo, o estruturalismo acredita que o conhecimento de um objeto só acontece se houver sua decomposição (DEMO, 1981). Theóphilo (2004) e Martins e Theóphilo (2009), também corroboram com isso, os autores afirmam que o conhecimento é adquirido a partir da decomposição da forma do objeto. Demo (1981) ainda complementa ao afirmar que pela decomposição analítica, pode-se desvendar o objeto que existe dentro de certa técnica e assim também será desvendado os seus elementos internos profundos.
Conforme Theóphilo (2004) e Martins e Theóphilo (2009), essa abordagem busca a clareza profunda dos fenômenos e acredita-se na capacidade do ser humano em alcançar. Ainda segundo os autores, apesar da realidade aparentemente não ser ordenada, ao estudar os elementos interno de maneira profunda é possível verificar que existe uma ordem.
Demo (1995) faz referência aos achados de Levi-Satruss ao apresentar os seguintes elementos principais do estruturalismo: I) decomposição analítica do objeto; II) a complexidade existe apenas aparentemente; III) os fenômenos são variáveis e não explicativos, precisa-se analisar os elementos do objeto de modo profundo; e IV) existe uma ordem, uma constância explicativa do fenômeno.
Na abordagem estruturalista, os estudos não são primordialmente quanto aos conteúdos, e sim quanto as relações entre eles, o que se denomina de forma, sem desconsiderar a permuta dos conteúdos (DEMO, 1981). Ainda segundo Demo (1981, p. 224), a formalização seria o caminho da objetividade e da exatidão
. Assim o estruturalismo aproxima-se das ciências exatas.
2.4 Sistêmica
A abordagem sistêmica, ao contrário do estruturalismo, busca explicar o todo, visto que acredita que o fenômeno somente será explicado quando se considera o todo. As partes isoladas não significam nada, se não considerar o todo, pois o fenômeno só existe se o todo existir. Uma das principais características da circularidade sistêmica é que esta considera somente a adaptação do fenômeno ao meio o qual está inserido, acreditam que pode haver problemas, contanto que não interfira na organização (DEMO, 1981).
Bruyne, Herman e Schoutheete (1982) corroboram ao confirmarem o objetivo da abordagem sistêmica é atingido quando o problema de pesquisa está direcionado para o todo sobre as partes, sendo assim observado de maneira global.
De acordo com Theóphilo (2004) e Martins e Theóphilo (2009), essa abordagem percebem o mundo como uma organização e creem na unidade da ciência, ou seja, acreditam na mesma forma das leis com relação as diferentes áreas do conhecimento. Os autores ainda afirmam que as concepções da ciência tratam-se de sistemas, levam em consideração o todo sobre as partes e tem como principal foco o estudo do objeto de maneira globalizada, destacando os aspectos estruturais e as relações existentes entre os elementos que os constitui.
Outra característica importante é a retroalimentação dos processos, que ocorre por meio da inter-relação entre as partes, e isso traz equilíbrio periódico ao ambiente (DEMO, 1995).
2.5 Fenomenologia
Fenomenologia busca explicar os fenômenos como estes são realmente. A área denominada fenomenologia é a que estuda os fenômenos que são objetos da pesquisa, buscando compreender, descobrir e esclarecer o que estes fenômenos realmente são, ou seja, busca-se descrever esses fenômenos e não os analisar (IVONE, 2005).
Essa abordagem utiliza métodos que ajudam a compreensão e a inteligibilidade como propriedades específicas para explicação e descrição dos fenômenos sociais
(IVONE, 2005, p. 72). Essa abordagem é oposta ao positivismo, em virtude da tentativa de romper com as certezas sobre o senso comum. Na fenomenologia ocorre uma análise, a qual contesta as aparências empíricas, mas ao mesmo tempo as explica (BRUYNE; HERMAN; SCHOUTHEETE, 1982).
De acordo com Bruyne, Herman e Schoutheete (1982), essas aparências podem ser suficientes com relação à prática, porém não compõem o conhecimento científico e nem a evolução da prática. Assim, ao contrário do positivismo que acredita na construção do conhecimento por meio de um mundo objetivo, a fenomenologia acredita nessa construção de maneira subjetiva, ou seja, tudo dependerá do modo como o sujeito vê o ambiente o qual o objeto está inserido. Conforme Theóphilo (2004) e Martins e Theóphilo (2009), a abordagem fenomenológica busca o conhecimento a partir da interpretação, buscando ir além dos dados objetivos, tentando descobrir o que está por traz desses dados.
Na fenomenologia o importante é o significado dos fatos/fenômenos e não se preocupam como os fatos se apresentam (FARIA, 2009). Ribeiro Filho et. al. (2007) complementam ao afirmar que essa abordagem busca descrever o fenômeno visando encontrar sua essência, buscando o significado das palavras, leis e textos.
2.6 Crítico-Dialética
A abordagem dialética passa pelo tempo e faz uma análise crítica do objeto, do procedimento e do que está além do próprio objeto (BRUYNE; HERMAN; SCHOUTHEETE, 1982). A dialética é um momento de transição, é quando algo novo supera o antigo (DEMO, 1995). A abordagem dialética preocupa-se principalmente com a visão de certo momento da realidade, a chamada visão estática, que de certa forma estava implicitamente nas abordagens anteriores (GAMBOA, 1987).
Na dialética o campo de pertinência se situa não ao nível da teoria enquanto formulação analítica das soluções, mas ao nível pré-teórico dos problemas que fundam a possibilidade da teoria
(BRUYNE; HERMAN; SCHOUTHEETE, 1982, p. 68).
Demo (1981) traz os seguintes pressupostos teóricos dessa abordagem: I) Historicidade: o vir-a-ser contínuo das formações sociais
(DEMO, 1981, p. 145); II) Processo, no sentindo que está sempre em formação, ou seja, de nunca ser algo completamente formado, acabado, fechado.
(DEMO, 1981, p. 146); III) Mutação Social, a mutação da sociedade ou de um sistema sempre ocorrerá, seja de forma completa ou em parte (DEMO, 1981); IV) Transcendência: é a continuidade da ação de um sistema anterior, assim o sistema pode ser parcialmente ou totalmente superado. O conflito social pode ser capaz de levar à superação histórica
(DEMO, 1981, p. 151), ou seja, a mudança ocorrerá pelo conflito; e V) Relatividade Social, segundo Demo (1981) é relativa e carrega dentro de si o sentido da provisoriedade, das fases subsequentes, da imperfeição, do constante vir-a-ser
(DEMO, 1981, p. 152).
2.7 Estudos anteriores
Silva (2004) teve como objetivo em seu estudo analisar, a partir das abordagens metodológicas, as implicações epistemológicas das dissertações e teses produzidas, levando em consideração suas inter-relações com os determinantes sociopolíticos e econômicos. De 27 documentos analisados, 88,9% adotaram a abordagem empírico-analítica e a fenomenológicas-hermenêuticas 11,1%. O autor verificou que nas pesquisas empírico-analítica estão relacionadas com a quantificação dos fenômenos, voltado para estatística. E as pesquisas fenomenológicas-hermenêuticas consistem na compreensão dos fenômenos.
Ribeiro Filho et al. (2007), tiveram como objetivo em sua pesquisa analisar a partir das abordagens metodológicas, a problemática das dissertações aprovadas no Programa do Mestrado Multiinstitucional e Inter-Regional de Pós-Graduação em Ciências Contábeis do Convênio UnB, UFPB, UFPE e UFRN (Contabilidade). Os autores analisaram os conteúdos desenvolvidos nos estudos da mostra de pesquisa, bem como as abordagens metodológicas utilizadas, métodos e técnicas de pesquisa. Constataram que existe a necessidade de aprimorar a formação básica do pesquisador, para que este tenha um aprofundamento nos conhecimentos sobre Metodologia Científica, Filosofia e Epistemologia de pesquisa.
Rocha, Araújo e Marques (2012), estudaram sobre as abordagens epistemológicas mais presentes nas dissertações de um Programa de Pós-Graduação em Administração no nordeste brasileiro. Constataram que o enfoque epistemológico mais presente nas dissertações é o positivista, o qual está presente nas seguintes abordagens: empirista-positivista, hipotético-dedutiva e empirista-positivista. Assim, constataram a necessidade empírica.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Com o problema de pesquisa já definido, buscou-se a segunda etapa para realização da revisão sistemática. Ocorreu uma busca no banco de dados da Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD), na primeira semana do mês de setembro de 2017. Esse portal foi escolhido devido ao fato de ter por objetivo a compilação em seu banco virtual das teses e dissertações defendidas no Brasil, bem como as teses e dissertações de brasileiros que defenderam no exterior. Outro motivo que levou a escolha desse banco de dados é em função de ser uma das maiores iniciativas para divulgação e visualização de teses e dissertações existentes (BDTD, 2017). A busca de teses e dissertações foi realizada conforme Quadro 1.
QUADRO 1 – ESPECIFICAÇÃO DA BUSCA NO BANCO DE DADOS DA BDTD
FONTE: elaborado pelos autores
Nessa busca foram mapeados o total de 62 teses e dissertações. Em seguida foi realizada uma avaliação crítica (terceiro passo da revisão sistemática), por meio da leitura dos resumos para selecionar os estudos que de fato abordavam epistemologia nas áreas de Administração, Ciências Contábeis e Economia. Na Tabela 1, é possível verificar o resultado da busca e o resultado após a análise crítica.
TABELA 1 – RESULTADO DA BUSCA VERSUS ANÁLISE CRÍTICA
FONTE: elaborada pelos autores
A Tabela 1 demonstra que por meio da busca foram mapeados 62 trabalhos entre teses e dissertações, porém após a análise crítica foram utilizados o total de 27 (teses ou dissertações) para análise dos resultados (seção 4). Com relação à população desse estudo, esta consiste nas 62 teses e dissertações encontradas no banco de dados da BDTD, quando aplicado os filtros conforme Quadro 2, e a amostra consiste nos 27 trabalhos, sendo 11 teses e 16 dissertações, que após a análise crítica pode-se constatar que realmente abordam como tema principal a epistemologia e as áreas de Administração, Ciências Contábeis e Economia, constante no banco de dados da BDTD.
FIGURA 1 – MOSTRA DA PESQUISA
FONTE: elaborado pelos autores
A partir da Figura 1 é possível verificar que 59% dos trabalhos são dissertações e 41% são tese. Em virtude do número de programas de doutorado nas áreas de Administração, Ciências Contábeis e Economia ser menor do que o número de programas de mestrado das mesmas áreas, pode-se afirmar que é expressivo o percentual de teses dessa mostra. Os próximos passos da revisão sistemática irão compor as seções 4 e 5.
4 ANÁLISE DOS DADOS DA REVISÃO SISTEMÁTICA
Este estudo buscou coletar os dados de forma padronizada, conforme detalhado anteriormente, de modo a realizar a revisão sistemática. A seleção das teses e dissertações foi realizada conforme Figura 2.
FIGURA 2 – FLUXOGRAMA DE BUSCA E AVALIAÇÃO DAS TESES E DISSERTAÇÕES
FONTE: elaborada pelos autores
A Figura 2 foi inserida para melhor entendimento da busca realizada de teses e dissertações estudadas neste capítulo. Após a leitura crítica dos trabalhos, foram selecionadas 27 teses e dissertações, conforme Quadro 2.
QUADRO 2 – TRABALHOS SELECIONADOS APÓS ANÁLISE CRÍTICA
FONTE: elaborado pelos autores
O Quadro 2 demonstra todas as teses e dissertações que compõem a amostra dessa pesquisa. Uma das informações constante no banco de dados criado nessa pesquisa é quanto à universidade que originou as teses e dissertações, conforme Tabela 2.
TABELA 2 – UNIVERSIDADES DE ORIGEM DAS TESES E DISSERTAÇÕES