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Atravessando o arco-íris: contos pornoeróticos homoafetivos
Atravessando o arco-íris: contos pornoeróticos homoafetivos
Atravessando o arco-íris: contos pornoeróticos homoafetivos
E-book119 páginas1 hora

Atravessando o arco-íris: contos pornoeróticos homoafetivos

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Sobre este e-book

Esta obra apresenta 24 histórias carregadas de pornografia e erotismo que passeiam através do universo LGBTQIA+, com temas universais e contemporâneos, como a descoberta da sexualidade, amores românticos, sexo casual, incesto, prostituição, poliamor, orgia gay, sadomasoquismo, relacionamento abusivo, transexualidade, pedofilia religiosa, travestismo, troca de casais, Aids e questões homossexuais, dentre outros.
IdiomaPortuguês
EditoraLitteris
Data de lançamento26 de nov. de 2022
ISBN9786555731477
Atravessando o arco-íris: contos pornoeróticos homoafetivos
Autor

Julio Cesar Farias

Julio Cesar Farias é professor, jornalista, pesquisador, carnavalesco, crítico teatral e escritor. Começou sua carreira literária escrevendo livros cujas temáticas se relacionavam ao Carnaval carioca, tratando dos quesitos julgados nos desfiles, crônicas mostrando os bastidores da folia e também sobre fatos históricos da escola de samba Unidos da Tijuca. Publicou, ainda, um compêndio sobre os Bois-Bumbás de Parintins e, agora, envereda, com determinação e coragem, pelo universo LGBTQIA+ num livro de contos originais, que mescla o erótico e o pornográfico em situações precisas abordando questões importantes, para dar voz à comunidade que cada vez se faz mais presente em busca de seus direitos, ao mesmo tempo em que vê o retrocesso do preconceito tornar-se um embate ferrenho nos tempos atuais.

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    Atravessando o arco-íris - Julio Cesar Farias

    atravessando_arcoiris.jpg

    copyright 

    ©

     2022 by Julio Cesar Farias

    Direitos em Língua Portuguesa reservados ao autor através da

    LITTERIS® EDITORA.

    ISBN: 978-65-5573-147-7 (Versão digital)

    ISBN: 978-65-5573-148-4 (Versão Impressa)

    CAPA: André Aquino, W&A Estúdio

    REVISÃO: Julio Cesar Farias

    EDITORAÇÃO: Cevolela Editions

    EDITORES: Artur Rodrigues / Deucimar Cevolela

    CIP - brasil. catalogação-na-fonte

    sindicato nacional dos editores de livros, RJ.

    CNPJ 32.067.910/0001-88 - Insc. Estadual 83.581.948

    Av. Marechal Floriano, 143 sala 805 - Centro

    20080-005 - Rio de Janeiro - RJ

    Tel: (21)2223-0030/ 2263-3141

    E-mail: litteris@litteris.com.br

    www.litteris.com.br

    www.litteriseditora.com.br

    www.livrarialitteris.com.br

    Sumário

    Capa

    Prefácio

    O Pecado Capital

    Formatura em Alto Mar

    Um Homem Para o Meu Marido

    A Receita da Felicidade

    O Despertar do Desejo

    O Beijo Revelador

    Destravando Músculos ao Inverso

    Troca de Passes no Rebuceteio

    Trenzinho da Alegria

    A Razão do Meu Ciúeme

    Reunião Surubática

    A Dança das Aranhas

    Vovô Não Viu a Uva

    O Tiro de Misericórdia

    Essa Coca-Cola é Fanta

    A Namorada da Minha Namorada

    A Dominação do Prazer

    A Senhora do Cárcere

    Soropositividade da Hipocrisia

    Como Amar Uma Mulher

    O Rei da Pegação

    A Estranha no Espelho

    Amor Em Dose Tripla

    Entrevista Babadeira

    Sobre o Autor

    PREFÁCIO

    Por Samile Cunha

    O audacioso Julio Cesar Farias aventura-se agora no gênero literário conto, mostrando toda sua versatilidade como escritor antenado com os novos tempos. Sua primeira investida neste universo de ficção, já que seus trabalhos anteriores objetivavam os estudos de cunho teórico, empírico e crítico em torno da imagem, da cultura e das festas populares.

    Neste volume, são 24 contos denominados pelo próprio como ficção realista, nos quais o autor transita por um universo interdisciplinar que conjuga o erótico, o pornográfico e o homoafetivo em uma profusão de cenas e imagens que acordam o insondável e o indescritível dos contos tradicionais. Suas estórias são relatos de encontros furtivos, ocasionais, cenas que elencam em sua carpintaria uma série de tramas recheadas de tensão, expectativas, desejos e sonhos.

    Com um olhar apurado e uma seleção vocabular ímpar, o autor condensa, em seus contos eróticos, fatos, vivências, experiências e descrições que incitam o leitor a mergulhar em um campo do saber impregnado de dogmas, de transgressão, de sexo, de odores e sabores, despidos de pudores, medos e interdições.

    São narrativas tecidas com inteligência e perspicácia onde o desejo e o tesão são coroados de êxtase, orgasmo e libertação. Onde os impulsos de castração, de perversão, de violação da doxa, da culpa e do arrependimento dão lugar a experiências sensuais, sexuais, intensas e vigorosas.

    Farias redesenha, em sua narrativa, as relações humanas em uma sucessão de contos que mexem com a imaginação do leitor, impelido a vivenciar através das personagens as impressões, as curiosidades e ações afiadas, cortantes como um fio de navalha. Sob a perspectiva de um olhar preciso, através do buraco de uma fechadura rodrigueana, somos expostos aos prazeres secretos e a um misto de erotismo, sedução e desejo que orbita em viagens inesquecíveis por quartos, ruas, praias e lugares inesperados. Um repertório de personagens, de ações e vozes que saltam aos nossos olhos e ouvidos ao referenciar a tentação do desejo, o impulso de prazer e as contradições da vida privada. São contos ousados, excitantes e prazerosos.

    Em sua morfologia, o livro traz experiências sensoriais, sexuais e pornográficas que se desdobram em jogos, provocações e muita putaria picante que transitam entre a virgem encoxada ao roludo que rompe as entranhas e as pregas da castidade. São personagens comuns, corpos negligenciados por medo ou por insegurança, mas impulsionados a romper seus limites, tabus e contradições. Corpos que fundam novas territorialidades e que evidenciam temas que urgem por serem verbalizados, questões que, para além da língua (a língua portuguesa) ou do recurso poético de Julio Cesar Farias, clamam por serem relidos e evidenciam sua potência discursiva e sua contemporaneidade, dando voz e representatividade à comunidade LGBTQIA+.

    O PECADO CAPITAL

    A pequena cidade amanheceu estarrecida por ter sua fé abalada com a revelação feita no noticiário local. No campanário, os sinos badalavam em sons desesperados. As ruas eram um alvoroço só. Uma pequena multidão de fiéis revoltados, aflitos e histéricos se postava em ladainha de protesto diante das portas cerradas da igreja, tomando o adro após a escadaria, com seus terços nas mãos.

    Algumas beatas, cobertas em véus negros, choravam num lamento dolorido pela heresia revelada e a hecatombe que abatia aquele templo sagrado, colocando em xeque a fé de um rebanho inteiro. Homens de roupas simples rodeavam a velha construção de blocos de pedras, empunhando facões e varas de madeira, querendo fazer a justiça humana, já sem acreditarem na divina.

    A guarda já estava a postos, tentando evitar uma carnificina sem precedentes. Os párocos que ali serviam, em pânico, se escondiam, acuados no interior daquela igrejinha, que era uma relíquia dos tempos coloniais. Na parede do altar, a figura de Cristo em sofrimento na cruz pendia abençoando a sala comprida onde se posicionavam em fileiras bancos de madeira para receber as ovelhas daquela congregação.

    Tentando controlar o nervosismo, Everaldo se sentia culpado por ter se omitido e deixado a situação chegar àquela gravidade, e os fatos que se sucediam ao longo dos anos terem se tornado um escândalo social sem tamanho para aquela pequena comunidade do interior do Maranhão. O estopim foi o suicídio de um rapaz após passar pela doutrinação daqueles sacerdotes e contar, em carta de despedida, o que se sucedia naquelas aulas malditas.

    Efetivamente, essa assexualização dos homens e das mulheres da Igreja, com a proibição do casamento para não se dividir riquezas da Igreja, torna-se a maior causadora desses crimes sexuais praticados por esses servidores de Deus. Renegar e reprimir algo biológico, que é a libido, para que sigam o dogma de uma vida casta monástica, induz a essa violação das regras, por se saber que a carne é fraca, ainda que o espírito seja elevado. Isso é fato consumado ao longo dos séculos e que se repete incessantemente.

    Em parte, o remorso de Everaldo era contido pela vergonha do que deixara que os padres também lhe fizessem naquela época, quando era coroinha nas missas da Freguesia Santa Inês, sem resistir à tentação como deveria ter feito. Afinal, por medo, pelas ameaças, e também, por que negar, por vontade própria, compactuou com eles, calando-se e, até contribuindo com a continuidade daquela heresia carnal. Porém, sua integridade fora abalada, principalmente, pelos religiosos terem despertado nele um prazer do qual tentara se livrar a vida toda e não conseguira, em vez de ajudá-lo a recuperar seu juízo. Assim, de vítima desse pecado dos padres, passara a ser também um pecador.

    E ele sabia que tinha uma grande parcela de culpa, por sua condição efetiva homossexual. Martírio que o fazia sofrer silenciosamente desde pequeno, mas não podia deixar transparecer para seus amigos e familiares. Assim, a vida seguia como tinha que ser com seus conterrâneos, sem se revelar, preso no armário social. Mesmo assim, ele dava um jeito de se satisfazer com outros homens em outras paragens longe da sua terra.

    Mas o que ele poderia fazer? Sabia que seu depoimento era de extrema importância para o desmantelamento daquele antro de párocos pervertidos, que há anos cometiam aquele abominável pecado capital, não consentido e imposto aos seus assistentes. Porém, caso se expusesse publicamente falando tudo que sabia para ajudar na prisão dos culpados pelo aliciamento de tantos meninos e jovens durante anos, sua vida, com toda certeza, estaria acabada naquele local de pessoas tão conservadoras. O melhor a fazer era negar que passara por aquela situação profana e condenável da qual fora um conivente consentido e preservar sua falsa identidade de cabra macho nordestino arretado.

    Hoje, um homem feito, ele lembrava como tudo aconteceu. Era tradição as mães mais católicas quererem ver seus filhos seguindo a carreira monástica ou, pelo menos, ajudando aos padres nas cerimônias da eucaristia, a rezar missa, auxiliar nos batizados e casamentos. Esses jovens se revezavam a cada evento no suporte clerical, tanto nas missas semanais quanto nas quermesses comunitárias.

    Os meninos passavam uma boa parte do dia, antes ou depois da escola, na companhia dos padres que lhe ensinavam os preceitos religiosos e os procedimentos de assessoramento ao qual estavam ali para servir. Obrigações impostas pelos ensinamentos desses homens de batina escura e que tinham que ser seguidas e obedecidas sem questionamentos.

    Everaldo recordou seus quatorze anos, idade em que ingressou nos meandros litúrgicos daquela velha igrejinha, frequentada por toda a cidade

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