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Gordofobia: a discriminação baseada no peso
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Gordofobia: a discriminação baseada no peso
E-book161 páginas1 hora

Gordofobia: a discriminação baseada no peso

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Sobre este e-book

Na sociedade atual, o sobrepeso e a obesidade são considerados uma epidemia e um grave problema de saúde pública, tornando-se uma questão de relevância social. O indivíduo gordo é estigmatizado diante do padrão corporal estabelecido socialmente, que ratifica o preconceito e a discriminação. Sabe-se que a população de pessoas com sobrepeso já ultrapassa a população com o peso ideal, porém a forma como a sociedade vê e trata o gordo gera consequências para a sua vida. Desse modo, o presente trabalho teve como objetivo compreender as experiências de discriminação vivenciadas pelos gordos. Participaram desse estudo cinco mulheres que frequentavam grupos socioeducativos de obesidade e compulsão alimentar. Foram realizadas entrevistas com as participantes e a utilização de um questionário com perguntas sociodemográficas. Os dados foram transcritos e analisados por meio de uma análise de conteúdo temática. Os resultados apontam a representação social negativa do gordo, que revela a visão de anormalidade que lhe é atribuída no meio social. Além disso, os gordos vivenciam situações de discriminação em diversos cenários sociais que causam consequências negativas a sua saúde física, psicológica e social. A discriminação baseada no peso é cada vez mais produzida, reproduzida e compartilhada socialmente e está relacionada à imposição e à supervalorização do corpo magro pela sociedade, causando consequências negativas para suas vítimas
IdiomaPortuguês
Data de lançamento28 de fev. de 2023
ISBN9786525272559
Gordofobia: a discriminação baseada no peso

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    Gordofobia - Mayara Custódio Pereira

    CAPÍTULO 1 - CORPO GORDO: UM OLHAR SÓCIO-HISTÓRICO E ATUAL

    Segundo Allport (1954), o preconceito é uma atitude aversiva ou hostil contra uma pessoa que pertence a um grupo, simplesmente porque ela pertence a esse grupo (p.7). Para Jones (1972), o preconceito é uma atitude negativa, com relação a um grupo ou uma pessoa, baseando-se num processo de comparação social em que o grupo do indivíduo é considerado como ponto positivo de referência (p.3).

    A partir dessas definições e considerando a existência de diversos grupos sociais que são desprestigiados socialmente, é possível citar várias formas de preconceito que existem em nossa sociedade. Por exemplo: preconceito contra os negros, preconceito contra os idosos, preconceito contra as mulheres, preconceito contra os homossexuais, preconceito contra as pessoas gordas, preconceito contra os nordestinos, preconceito contra os ciganos e contra os índios etc.

    O preconceito apresenta-se por meio da discriminação que ocorre através dos comportamentos dos indivíduos e das ações destinadas a manter as características de nosso grupo, bem como sua posição privilegiada, à custa dos participantes do grupo de comparação (Jones, 1972, p.3). Portanto, o indivíduo que expressa seu preconceito através de comportamento discriminatório é responsável por produzir esse problema social.

    Para Lima e Vala (2004), o preconceito é considerado mais antigo do que as relações desiguais de poder em sociedade, bem como a necessidade de justificar essas relações. A partir de uma análise histórica do preconceito é possível encontrá-lo na antiguidade greco-romana, apesar de não ser um preconceito de origem racial, mas havia naquele período um preconceito de base cultural, um preconceito que era concebido contra os escravos da época.

    Segundo Sherirf (1967), o comportamento do preconceito é produto de pertença a um grupo social. O autor ao utilizar o termo produto, quer dizer que é com os pares e com as pessoas referenciais dos grupos aos quais pertencem que os indivíduos aprendem contra quem devem ter preconceito e de que modo devem expressar esse preconceito. Nesse sentido, o preconceito é compreendido como uma norma social de conduta dos indivíduos e é compartilhado com os outros membros do grupo. Essa conduta compartilhada é mais aceita por alguns indivíduos do que por outros, sendo interiorizada por alguns e negada por outros.

    Brown (1995), formula sua definição de preconceito como um conjunto de atitudes sociais de inferiorização ou de crenças depreciativas, a expressão de afetos negativos, ou a expressão de comportamentos hostis ou discriminatórios contra membros de um grupo e por causa do seu pertencimento a esse grupo (p.8). De forma mais explícita, o preconceito pode ser compreendido como uma conduta racional que produz um comportamento planejado nas relações intergrupais, que visa manter a posição social do grupo. Esse comportamento repercute nas normas sociais dos grupos, muito mais do que na experiência social dos indivíduos (Jones, 1972; Sherif, 1967).

    Para Lima (2016), o preconceito se manifesta nos diversos níveis sociais e ocorre quando o indivíduo se fecha para conhecer o objeto, ficando aprisionado nos seus conhecimentos prévios, ou quando o indivíduo, em contrapartida, se abre de maneira exagerada ao objeto, sem refletir sobre ele com as suas próprias opiniões. Desse modo, o preconceito se configura quando a relação entre o sujeito e o objeto não corresponde mais a um processo contínuo de troca mútua. Nesse sentido, preconceitos são as atitudes que se constituem em julgamentos antecipados que têm componentes cognitivos, tais como as crenças e os estereótipos; os componentes afetivos, reconhecidos na antipatia e na aversão; e a tendência para a discriminação.

    De acordo com Lima (2013), cada forma de preconceito tem suas peculiaridades, porém alguns fundamentos são comuns aos variados tipos, como, destacar a diferença e categorização entre os grupos; o sentimento de antipatia por uma pessoa, pelo simples fato dela pertencer a outro grupo; a padronização dos membros do grupo que são alvos do preconceito; a resistência social e cognitiva em desconsiderar as crenças e as expectativas negativas em relação ao grupo alvo, mesmo quando as evidências ao grupo são favoráveis e consistentes.

    Na Psicologia, as pesquisas sobre o preconceito começaram a ser desenvolvidas na década de 1990. A partir desse período foram lançados livros que abordam a temática do preconceito, da discriminação e dos estereótipos. No Brasil, é consenso que existe preconceito e discriminação, ressaltando que é importante entender o fenômeno do preconceito para poder combatê-lo (Lima, 2013).

    Para Lima e Vala (2004), o preconceito apesar de ter relevância como um problema social é na maioria das vezes percebido como um problema do outro: do outro que é a vítima, do outro que é o autor. As vítimas de preconceito são sempre os outros, portanto, distante do indivíduo que não sofre com o preconceito. Desse modo, é importante e necessário que haja uma maior ênfase investigativa nas novas expressões de preconceito no campo da Psicologia Social.

    Nesse sentido, faz-se importante investigar o surgimento de uma nova expressão de preconceito na sociedade, como, o preconceito contra gordos, no qual o indivíduo com excesso de peso passa a ser alvo de atitudes preconceituosas e comportamentos discriminatórios devido ao seu corpo apresentar um atributo - a gordura - considerado negativo para a sociedade que supervaloriza o corpo magro. Ao longo dos tempos os significados do corpo foram se modificando e se ajustando aos modelos socioculturais aceitáveis durante a história, até os dias atuais.

    Portanto, o corpo gordo não fica limitado apenas à questão orgânica, pois ele também é resultado de um processo histórico e cultural que condensa diversos significados presentes na história. Por esse motivo, o corpo não deve ser percebido como uma estrutura a-histórica, sem características de um determinado período, pois ele é reflexo e construção de uma sociedade específica, com suas regras, significados e aspectos culturais. Diante do exposto, compreende-se que há todo um sistema no delineamento de um corpo-sentido, que é vítima e vitrine de olhares diversos.

    CORPO GORDO: ASPECTOS HISTÓRICOS E CULTURAIS

    No corpo estão inscritos todas as regras, todas as normas e todos os valores de uma sociedade específica, por ser ele o meio de contato primário do indivíduo com o ambiente que o cerca. (...) o corpo é a expressão da cultura, portanto cada cultura vai expressar por meio de diferentes corpos, porque se expressa diferentemente como cultura. (Daolio, 1995, p.

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