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A relação pessoa-ambiente nas narrativas dos moradores de uma cidade em transformação: diálogos com a psicologia ambiental
A relação pessoa-ambiente nas narrativas dos moradores de uma cidade em transformação: diálogos com a psicologia ambiental
A relação pessoa-ambiente nas narrativas dos moradores de uma cidade em transformação: diálogos com a psicologia ambiental
E-book247 páginas3 horas

A relação pessoa-ambiente nas narrativas dos moradores de uma cidade em transformação: diálogos com a psicologia ambiental

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Sobre este e-book

Crescer próximo à Praia Grande, Santa Catarina, com seus vales, rios e, principalmente, os canyons, fez-me refletir sobre o encantamento que sua beleza singular situada entre o litoral e a serra catarinense proporciona. A cidade faz parte do território do Parque Aparados da Serra, sendo situada aos pés dos grandes canyons e reconhecida como a "Capital Catarinense dos Canyons", obtendo o título de Geoparque em 2022. A cidade oferece uma visão para contemplação, favorecendo aos turistas lazer e desafios em meio à natureza. Nessa direção, configurou-se o despertamento do estudo das percepções na relação pessoa-ambiente dos atores sociais envolvidos com esse cenário. Valeu-se, por meio das entrevistas narrativas, do esforço em compreender as experiências e relações que os moradores de Praia Grande estabelecem com a cidade, além de suas percepções sobre a implementação de estratégias que visam fomentar o turismo na região. Os resultados apontam que a maioria dos moradores associam a atividade turística ao crescimento econômico e ao progresso. Há uma forte identidade de lugar, contribuindo para o processo de apropriação do espaço, elaboração de lugares significativos e simbólicos nas narrativas dos moradores da região estudada.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento28 de ago. de 2023
ISBN9786525295084
A relação pessoa-ambiente nas narrativas dos moradores de uma cidade em transformação: diálogos com a psicologia ambiental

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    A relação pessoa-ambiente nas narrativas dos moradores de uma cidade em transformação - Maicol de Oliveira Brognoli

    1 INTRODUÇÃO

    [...] a igreja e o salão porque eu me criei nas festas participando na comunidade [...]. E as festas são um marco importante para mim porque eu ajudo desde criança. Também foi o meu avô que trouxe a santa Nossa senhora Mãe dos Homens para a comunidade. (E3)

    A presente dissertação é fruto de uma caminhada inicialmente trilhada em meio ao sonho de me formar psicólogo, na qual me aproximei e apreciei muito vertentes dentro desta ciência que estudam e valorizam uma visão integral do ser. A graduação em Psicologia da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC) oferece esta oportunidade por meio de uma formação generalista, contemplando as escolas contemporâneas. Na cadeira de Psicologia Ambiental, saboreei um abrangente panorama entre o ser humano e suas relações com o meio em que está inserido: a reciprocidade entre o ser humano e a natureza. Intrinsecamente ao processo de formação à profissão de psicólogo, busquei também a apropriação de outros conhecimentos como a Pós-Graduação em Iridologia, a formação em Naturopatia, Florais de Bach e Reiki. Tive, ainda, a oportunidade de participar do Grupo Interdisciplinar e Interinstitucional de Estudos e Pesquisas sobre o Meio Ambiente e Espaço Urbano (GIPMAUR), que faz parte do Laboratório de Meio Ambiente, Desenvolvimento Urbano e Psicologia Ambiental. Esse espaço de pesquisa e discussão aguçou minha vontade de adentrar no mundo das Ciências Ambientais. Outrossim, ingressei no Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais (PPGCA) – UNESC, e é por meio dessa jornada de elaboração de conhecimentos interdisciplinares que, de fato, este hodierno estudo se concretiza.

    Percebi que crescer próximo à Praia Grande/SC com a exuberância de seus vales, rios e, principalmente, canyons levou-me a refletir sobre o encantamento que sua beleza singular situada entre o litoral e a serra catarinense proporcionam. A cidade compõe parte do território do Parque Aparados da Serra e do Geoparque Caminhos dos Cânions do Sul, situando-se aos pés dos grandes canyons e reconhecida como a "Capital Catarinense dos Canyons". Nesse panorama, vem ofertando propagandas e propostas turísticas que se baseiam em uma visão privilegiada para contemplação, favorecendo aos turistas lazer e desafios em meio à natureza.

    Figura 1 – Lembrança de minha infância

    Fonte: Autor (2022).

    A imagem anteriormente elucidada é pessoal e simbólica ao pesquisador. Tornei-me adulto e mediante esse processo de desenvolvimento, lembro-me que enquanto criança, aos finais de tarde depois do cumprimento de tarefas domésticas e brincadeiras da infância, sentava-me no alto do terreno de meus pais e ficava apreciando esta paisagem. Indagava-me: Como tudo isso foi feito? Pela cultura familiar, pensava: Como Deus é poderoso! Quanta perfeição! O mais surpreendente é que havia dias os quais a paisagem estava longe, noutros parecia tão próxima que se eu caminhasse por pouco tempo, chegaria ao pé da montanha. Tive a oportunidade de subir a serra próximo a minha adolescência e vivenciar de perto a complexidade de sua beleza e seu ecossistema. Sempre me questionei: será que as outras pessoas também percebem a importância e a singularidade da natureza que nos envolve? Desse modo, ao ouvir falar demasiadamente sobre turismo em Praia Grande, debrucei-me em pensar mais sobre isso.

    Nesta direção, configurou-se o despertamento do estudo das percepções na relação pessoa-ambiente dos atores sociais envolvidos com esse cenário. Sob esse prisma, amparado nos subsídios das Ciências Ambientais, busquei auxílio para o estudo nos aportes teóricos da Psicologia Ambiental.

    Segundo Melo (1991), a Psicologia Ambiental surgiu como Psicologia da Arquitetura após a Segunda Guerra Mundial, mobilizada pela reconstrução das cidades afetadas. Incluindo muito mais do que fatores estéticos, as reconstruções focaram as necessidades psicológicas considerando os comportamentos dos habitantes. Para Teixeira et al. (2020, p. 02), a Psicologia Ambiental com o tempo passou a ter um caráter multidisciplinar recebendo contribuições da psicologia, geografia humana, sociologia urbana, antropologia, planejamento e arquitetura. As vertentes diversificadas em Psicologia Ambiental são oriundas das contribuições de outros campos. Por exemplo, menciona-se a de caráter comunitário que se destina aos estudos do espaço físico construído (antrópico) e/ou natural, produzindo um diálogo que abrange a inter-relação pessoa-ambiente.

    Ittelson (1973) corrobora as ideias apresentadas anteriormente, pois como seres humanos, temos qualidades ambientais tanto quanto características psicológicas, indicando que a humanidade é um elemento do ambiente, produzindo trocas mútuas indispensáveis para a qualificação do comportamento humano em determinado meio físico. Nas palavras do autor, o ambiente físico necessita estar envolto em um sistema social, e o social direcionado a ele.

    Vale frisar que o Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais (PPGCA) da UNESC tem características de interdisciplinaridade, dada tanto pela formação do quadro docente quanto pelo conteúdo das disciplinas previstas. Portanto, a referida pesquisa oferece uma forma de entrar e contribuir com esse campo interdisciplinar, pois os diferentes pontos de vista nos permitem desafiar as ideias recebidas e criar entendimentos sobre as pessoas e suas percepções, além de considerar as relações pessoa-ambiente destacando as nuances socioambientais envoltas no cenário turístico da cidade de Praia Grande.

    Oliveira (2014) defende que dificilmente a cidade turística é construída para satisfazer a expectativa do morador local, mas sim as expectativas externas ao lugar. Construindo obras grandiosas, pretende-se tornar a cidade mais competitiva, sem se importar com as questões de infraestrutura básicas inacabadas, necessárias ao lugar e aos moradores. Esse fato decorre do processo de produção do espaço na contemporaneidade baseado na lógica do sistema capitalista vigente, que transforma o espaço em mercadoria. O turismo constitui um exemplo desse processo. O auge do turismo contemplativo, baseado em observações e registro de galerias, museus e artefatos altamente culturais (URRY, 2001, p. 19), cedeu espaço para a eclosão do turismo da valorização da paisagem, natural ou artificial, que para fixar o olhar do turista, necessita ser chamativa e espetaculosa.

    Harvey (2005, p. 171) afirma que o empreendedorismo enfoca muito mais a economia política do lugar do que a do território, pois se busca paulatinamente promover e vender a cidade, visando investimentos de grande impacto que ampliem a imagem positiva sobre a cidade para os investidores. Em contrapartida, não há intenção de minimizar as problemáticas referentes à educação e à precariedade ou a outros problemas sociais, como a falta de moradias. Nesse contexto, o autor assegura que o empreendedorismo urbano contribui para aumentar as diferenças de riqueza e renda, assim como para ampliar o empobrecimento urbano (HARVEY, 2005, p. 180).

    Dessa forma, situando-me diante do até aqui exposto, correlacionei-me com a visão de Saramago (1995), busquei mais do que olhar, importando reparar no outro em sua singularidade, no modo pelo qual o ser humaniza-se novamente. Fora dessa percepção, o sujeito permanece em estado de máquina insensível que passivamente observa o desabar de tudo à sua volta. Por isso, despertar os sentidos é sentir e descobrir mais a natureza a cada momento, e consequentemente, as suas próprias naturezas, pois como já diziam os gregos: conhece a ti mesmo e conhecerás o mundo¹. Desse modo, as percepções direcionadas às relações pessoa-ambiente consideram a forma como o sujeito se apropria de um lugar diferenciadamente, dependendo de modelos culturais, sociais, estilo de vida, entre outros. Levando-se em consideração essas particularidades, considera-se que os processos de apropriação são complexos e se dividem em dois aspectos fundamentais: comportamentais de ação-transformação e de identidade de lugar simbólica (GONÇALVES, 2007, p. 29).

    Diante do exposto, justifica-se esse estudo justamente pelo conjunto de elementos que possam ser coletados e descritos pelos moradores locais, considerando-se direções opostas as quais o turismo pode ofertar. Por um lado, há um cenário de exuberante beleza, o município e a cidade em questão podem estar sendo influenciados em duas direções: há um processo de turismo crescente que prioriza a preservação, a educação ambiental, a sustentabilidade e o valor dos serviços ecossistêmicos. Entretanto, na outra direção há um movimento que considera a natureza como um produto a ser vendido em nome de um desenvolvimento meramente econômico; que pauta a natureza e o ambiente à sua volta como mercadorias, sustentando um mercado turístico predador visando o foco da alta lucratividade, todavia, produzindo uma narrativa de desenvolvimento sustentável.

    Conhecer a percepção dos moradores locais é de suma importância, pois como citam Clandinin e Connelly (2011, p. 27), as pessoas vivem histórias e no contar dessas histórias se reafirmam. Modificam-se e criam novas histórias. As histórias vividas e contadas educam a nós mesmos e aos outros, incluindo os jovens e os recém pesquisadores em suas comunidades.

    Desse modo, no intuito de conhecer o que pensam os moradores locais acerca do turismo em sua cidade, busco a reflexão sobre para quem escreveremos este estudo, quem serão os sujeitos respondentes, quais teorias subsidiarão (ou não) suas respostas, se há relevância ou sentido na pesquisa.

    As questões problemas norteadoras deste estudo pautaram-se em:

    1- Quais as percepções e suas influências na relação pessoa-ambiente que os moradores da cidade de Praia Grande/SC relatam na introdução do turismo como meio de desenvolvimento econômico?

    2- A população percebe que é incluída nas decisões com relação ao turismo?

    3- Quais as visões dos moradores perante a proposta do turismo sustentável preservando a cultura local e as questões socioambientais?

    O problema de pesquisa reflete que a natureza, pelo viés do atrativo turístico, vem sendo transformada, condicionada e consumida em situação de mercadoria. A degradação da paisagem natural reproduz um dos mais contraditórios e preocupantes fardos da economia capitalista: a sua insustentabilidade. Santos (1988) explicita que se chegou a uma condição na modalidade de divisão da paisagem natural (natural x artificial): se um lugar não é fisicamente tocado pela força do ser humano, este, todavia, é objeto de preocupações e de intenções econômicas ou políticas. Essa questão está implícita em sua obra, A Urbanização Brasileira (SANTOS, 1988), afirmando que as grandes corporações internacionais orquestram a falácia da chamada modernização das cidades.

    Praia Grande, município catarinense lócus desta pesquisa, passa por um processo em que o desenvolvimento do turismo promete progresso e riqueza. Esta é a preocupação central da pesquisa, fazendo uma ausculta embasada nas nuances envolvidas com o turismo comercial e com o turismo sustentável. Tonetto (2021), buscando Tuan (1980), reforça os argumentos do problema de pesquisa, qual seja, o ponto de vista do visitante, por ser simples, é facilmente enunciado. A confrontação com a novidade também pode levá-lo a manifestar-se.

    Por outro lado, a atitude complexa do nativo somente pode ser expressa com dificuldade e indiretamente através do comportamento da tradição local, conhecimento e mito (TUAN, 1980, p. 72-73). Assim, propôs-se a analisar como os moradores locais são impactados em suas vidas com o processo turístico.

    O objetivo geral da pesquisa é: conhecer as percepções socioambientais que os moradores de Praia Grande/SC têm do turismo de sua cidade. Foram estabelecidos os seguintes objetivos específicos: identificar a percepção dos moradores quanto aos projetos turísticos que estão sendo implantados na cidade; verificar se os moradores conhecem as experiências dos grupos tradicionais com o local; identificar o quanto os moradores estão integrados (identidade de lugar) à história de Praia Grande; analisar o processo de apropriação do espaço pelos moradores locais; avaliar as perspectivas de turismo sustentável com valorização da cultura local; identificar as percepções simbólicas em relação à natureza no imaginário dos entrevistados.

    1.1 CAMINHOS METODOLÓGICOS

    Quanto à abordagem, a pesquisa se classifica como qualitativa. Segundo Denzin e Lincoln (2006, p. 17):

    A pesquisa qualitativa é uma atividade situada que localiza o observador no mundo. Consiste em um conjunto de práticas materiais e interpretativas que dão visibilidade ao mundo. Essas práticas transformam o mundo em uma série de representações, incluindo as notas de campo, as entrevistas, as conversas, as fotografias, as gravações e os lembretes. Nesse nível, a pesquisa qualitativa envolve uma abordagem naturalística, interpretativa, para o mundo, o que significa que seus pesquisadores estudam as coisas em seus cenários naturais, tentando entender, ou interpretar, os fenômenos em termos dos significados que as pessoas a eles conferem.

    Desse modo, visando conhecer as percepções socioambientais que os moradores de Praia Grande/SC têm do turismo de sua cidade, buscou-se relevar o fato de que a pesquisa qualitativa pretende compreender o comportamento humano a partir do modo como os indivíduos entendem suas realidades, construindo e interpretando os seus pensamentos, sentimentos, emoções e ações, pautados em seus aspectos de singularidade e atribuições de significados próprios (MINAYO, 2012).

    Ainda, este estudo é caracterizado como sendo um estudo exploratório e descritivo. De acordo com Gil (2010), os estudos exploratórios descritivos buscam compreender o campo de amostra em sua ampla complexidade, permitindo ao pesquisador aplicar ferramentas, como as entrevistas, para encontrar cenários que nem sempre estão explícitos (GOLDENBERG, 1997). As pesquisas descritivas têm como objetivo básico descrever as características de populações e de fenômenos. Muitos dos estudos de campo, bem como de levantamentos, podem ser classificados nessa categoria (GIL, 2010, p. 131).

    Já que esse estudo teve como intuito promover a investigação objetivando a profundidade das narrativas, foi utilizado o estudo de caso, a unidade de caso em sua acepção clássica (GIL, 2009). Assim, a unidade-caso, aqui, constituiu-se de um grupo de moradores da cidade e do município de Praia Grande/SC num contexto definido.

    O coletivo desta pesquisa compôs-se de 10 sujeitos, 3 do sexo feminino e 7 do sexo masculino, com idades que variam entre 43 e 82 anos. O estudo foi realizado em Praia Grande/SC com residentes da cidade e do município investigados que se dispuseram a participar da pesquisa, prestando-se à entrevista narrativa pautada pela técnica bola de neve. Segue o quadro 1 com a fonte dos dados:

    Quadro 1 – Fonte dos dados

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