Laterais Literais E Literários
De Lino Porto
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Laterais Literais E Literários - Lino Porto
LATERAIS LITERAIS E LITERÁRIOS
– Crônicas Esportivas –
Lino Porto
Copyright © 2024 by Lino Porto
Todos os direitos reservados.
Proibida toda e qualquer forma de reprodução sem a permissão expressa do autor.
Capa: Ferroviário E.C. (SC), 1968, autoria desconhecida
Apoio: Clube de Autores (https://clubedeautores.com.br/)
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Índices para catálogo sistemático:
1. Literatura brasileira B869
Aline Graziele Benitez - Bibliotecária - CRB-1/3129
PREFÁCIO
Algumas das crônicas aqui reunidas foram gentilmente publicadas no blog do escritor José Torero, no site da UOL, entre 2008 e 2011. Parte delas foi escrita em colaboração com meu irmão Cláudio Porto, cuja coautoria destaco, quando pertinente, com um asterisco junto ao título da respectiva crônica (*).
São artigos esportivos para uso geral, masculino e feminino, na ausência de classificação mais adequada, aqui editadas em suas versões revisadas, ampliadas e, quando possível, atualizadas, comprovando que quatro mãos erram melhor do que duas e que o tempo muitas vezes mata toda e qualquer pretensa literatura.
Também pudemos observar quão pouco o futebol e o país mudaram neste período, apesar de muitos personagens já terem nos dado o seu adeus, sendo substituídos por outros "craques de semelhante envergadura técnica e moral".
Abram-se as cortinas e deixemos a bolar rolar.
SUMÁRIO
PRETÉRITO DO FUTURO (*)
ANTI-TROUXEDORES DE 2040 (*)
FUTEBOL FEMINIL
MEMORAÇÕES
DÉCALOGO A QUEM AMA FUTEBOL (*)
ESTÁ CHEGANDO A HORA
AMARELO FILHO DE PROSTITUTA
NOSSOS 10 MAIORES JOGÕES DA HISTÓRIA (*)
E SE PELÉ NÃO TIVESSE EXISTIDO? (*)
ONZE EM SEIS
PELOS LADOS DO CAMPO
Ah, tá...
Au, tá...
ESTATÍSTICAS DO TEMPO
SE SE JOGASSE (*)
PRA FRENTE BRASIL
OS PESADELOS DE ZAGALLO EM 1970
A RESSACA: o que restou de cada um depois de 70
A BOA, A FEIA E A MÁ (*)
SAUDOSISMO SALUTAR
LATERAIS LITERALIZÁVEIS (*)
FRANGOS RURAIS
PRETÉRITO DO FUTURO (*)
Rio de Janeiro, 1920. Alguns jovens e atléticos amigos conversam em um restaurante defronte a movimentada e limpíssima praia de Botafogo, com suas águas ainda claras e areias finas.
– Chega, não me falem mais de gripe espanhola. Acho que sobrevivemos e o futuro será radiante.
– Quanto otimismo! Isso é bem característico de um flamenguista sofredor: nunca perder a esperança.
– Gostei quando vocês se separaram do tricolor das Laranjeiras, mas não precisavam ter feito aquela profecia idiota, de que um dia vocês terão a maior torcida do país e mais títulos cariocas do que eles.
– Sim, a turma do pó-de-arroz deve estar rindo à socapa. Acho que se vocês tivessem continuado no Fluminense o sofrimento hoje seria zero. Que aposta mais furada, hein!
– Não sei, não, mas algo me diz que o futuro será diferente. Acho que daqui a meio século o Menguinho será o maior time do Brasil, quiçá do mundo.
– Menos, Capitolino, menos... daqui a meio século sem dúvida teremos o mesmíssimo quadro futebolístico de hoje e de outrora: Fluminense, Botafogo, São Cristóvão e Bangu, nesta ordem. Talvez o América, se não sucumbir à pressão de sua exigente torcida.
– Sempre restam grãos de dúvidas no ar. Tenho para mim que aquele time de portugueses, o Vasco da Gama, vai crescer junto com o meu Mengo. Tenho muita simpatia pelos cruz-maltinos. Dizem que eles aceitam até negros no time.
– Não me faça rir. Desde quando negros sabem jogar futebol?! Esqueceu que o esporte bretão é elitizado por natureza, ou você nunca leu Lima Barreto?
– Nossa, agora você me pareceu bem racista e elitista!
– Ora, o que há demais nisso?
– Nada, sem dúvida. Contudo, li a respeito de uma revolução modernista que está vindo por aí e que a democracia liberal tem tudo para triunfar na esteira dela, inclusive com mulheres sufragando.
– José Cláudio, este teu irmão está cheirando muito ópio ou bebendo muito absinto. Daqui a pouco esse raro flamenguista vai dizer que um dia um operário chegará à presidência da República.
– Se isso acontecer, o forte de Copacabana certamente se insurgirá e a monarquia será restaurada.
Gargalhadas geral. Enquanto isso, um simpático negro, de alcunha Donga
, tira um som diferente, sincopado, de seu pandeiro. Os moços decidem, então, em tom de galhofa, tentar adivinhar como será o futebol brasileiro na próxima virada de século, tecendo previsões para os próximos oitenta, cem anos...
– Aposto que teremos um estádio com refletores, coberto e para mais de 50 mil espectadores sentados.
– Ah, sim, claro, e gente andando nas ruas com um telephone ao ouvido...
– E avenidas plena de autos e arranha-céus modernos na orla da longínqua Ipanema...
– Para que 50 mil se a torcida do Regatas Flamengo cabe em um Ford bigode?!
Risos. Muitos risos. Ó quanta alegria!
– Arre! Parem de zombarias e piparotes! Tentemos fazer um exercício mínimo de futurologia.
– Não sou cartomante, mas conheço bem o meu país. Aqui as coisas nunca mudam. O povo é conservador por natureza, especialmente os aficionados por desportos. E no final deste século ainda teremos algum coronel bigodudo dando as cartas na política. E não será o neto do Rui Barbosa!
– Vocês acham que o futebol paulistano terá algum futuro?
– Não creio. Corinthians Paulista e Palestra Itália me parecem sem apelo popular. Ouvi dizer que nasceram juntos, filhos da mesma burguesia de imigrantes que se deram bem com o recente ciclo da industrialização. São clubes de elite que só existem graças à vigorosa imprensa bandeirante. Ainda está para nascer um bom football club em São Paulo. Duvido que por lá apareça outro craque como Charles Miller ou um forward que consiga assinalar mais de 500 golos na carreira.
– É humanamente impossível um player anotar 500 tentos em toda a sua carreira. Equivale a dizer que um goalkeeper possa um dia também fazer golos, ou que ainda no século XX haverá mulheres praticando com seriedade algum desporto.
– Palestra Itália... também, com esse nome... desde quando italiano sabe jogar bola? Este esporte é britânico por excelência. Jamais gozará de muita popularidade entre latinos. São Paulo é o túmulo do futebol.
– Talvez aquele time da baixada santista...
– A Portuguesa?
– Não, aqueloutro.
– Ah, o Jabaquara. Esse sim tem jeito de campeão. Pode registrar.
Os demais frequentadores do recinto observam, em um misto de desdém com atenção, os joviais esportistas burilando suas soturnas previsões, enquanto cofiam o fio de seus bigodes.
– Vocês já imaginaram um campeonato brasileiro?
– Descerebrado! Para quê? É notório que o futuro está nos estaduais.
– Campeonato nacional, já pensaram? O América Mineiro, o Náutico Capibaribe, o Galícia, a Ponte Preta, o Renner e o Rio Grande, medindo forças em pontos corridos, como em Grã-Bretanha...
– Ih, daqui a pouco ele vai sonhar com um certame contra times da Argentina, do