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Literatices, Literaturas E Leituras À Toa
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Literatices, Literaturas E Leituras À Toa
E-book123 páginas1 hora

Literatices, Literaturas E Leituras À Toa

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Sobre este e-book

Coletânea de pequenos textos do autor, extraídos de seus diários entre 1996 e 2016, com foco em temas literários (livros, autores, poesias, prosa, teoria literária, mercado editorial, censura, revisionismo bibliofilia e correlatos). Um painel interessante sobre aquele conturbado período e sua influência sobre as leituras que Lino Porto se impôs nesses vinte anos, no qual viu a Internet nascer e engolir ao menos parte do mercado livreiro tradicional. Mais do que isso, o autor testemunhou a queda brusca de qualidade da literatura brasileira e mundial, substituída por uma literatice rasa e insossa, em que se publica cada vez mais e se lê cada vez menos.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento15 de abr. de 2024
Literatices, Literaturas E Leituras À Toa

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    Literatices, Literaturas E Leituras À Toa - Lino Porto

    LITERATICES,

    LITERATURAS E LEITURAS À TOA

    Lino Porto

    LITERATICES,

    LITERATURAS E LEITURAS À TOA

    – Digressões sobre literatura, livros, poesia e censura –

    Lino Porto,

    1996 a 2016.

    Copyright © 2024 by Lino Porto

    Todos os direitos reservados.

    Proibida toda e qualquer forma de reprodução sem a permissão expressa do autor.

    Apoio: Clube de Autores

    (Https://www.clubedeautores.com.br)

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

    (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Índices para catálogo sistemático:

    1. Literatura brasileira  B869

    Aline Graziele Benitez - Bibliotecária - CRB-1/3129

    Tudo que não é literatura me aborrece.

    (Franz Kafka)

    SUMÁRIO

    APRESENTAÇÃO

    LITERATURA DURA

    AS MODERNAS FORMAS DE CENSURA

    A ESTRANHA POESIA QUE ENTRANHA

    PREFÁCIO TARDIO

    RITMO BRADICARDÍACO

    PESSOAS LITERÁRIAS

    D.H. LAWRENCE, O FASCISTA HIPPIE

    EU E OS LIVROS MEUS

    APRESENTAÇÃO

    Este livro é uma coleção de excertos de meus diários, agendas e anotações diversas, escritos entre 1996 e 2016, agora selecionados e revisados, com enfoque único em literatura: poesia, prosa, livros, autores (consagrados ou não), censura oficial e extraoficial, academicismo, crítica literária, lugares-comuns do mercado editorial, literatice (minha e de outros) e assuntos correlatos a este tão vasto universo.

    Não chegam a ser resenhas ou ensaios (muito menos ensaios acadêmicos), visto se tratarem de notas curtas, muito menos possuem a pretensão de serem profundos, exceto a de mostrar meu entusiasmo ou minha irritação com autores e livros que de alguma forma me tocaram em algum momento daquele período e que, por óbvio, influenciaram também o meu escrever, tanto poético quanto em prosa.

    A obra dá continuidade ao que iniciei em Não há mais para onde fugir (coletânea de notas sobre costumes, sexualidade e decadência civilizacional), a qual bebe na mesma fonte: meus escritos mais pessoais e frugais, que nunca se imaginaram um dia tornarem-se livros.

    Haverá um terceiro e último volume, reunindo apenas comentários, digressões e divagações sobre política, com que espero encerrar essa trilogia da derrocada civilizacional, fragmentos daquele período agitado do mundo (e de minha vida). Ainda que possam ser acusados de superficiais, visto a brevidade de cada ponto abordado, refletem o meu espírito, o de minha geração e sobretudo o daquela era conturbada.

    LITERATURA DURA

    001

    Por mais influente que um livro possa ser, o seu conteúdo só é de fato apreendido durante a sua leitura. O prazer que ele proporciona é somente no presente. A recordação sobre ele é usualmente incorreta ou incompleta. Lembro do impacto de A Mãe (de Máximo Gorki) e de Os Miseráveis (de Victor Hugo) em meus dezesseis anos. Hoje mal recordo os livros em si. Claro, Jean Valjean continua em minha mente, mas apenas como um nome (talvez até por conta mais do cinema). Mesmo que eu tivesse tomado notas de cada obra, teria de recorrer a elas, relê-las, para poder falar mais acuradamente sobre cada uma. O impacto pode ser duradouro (quantos não viraram socialistas só por conta de A Mãe?), mas o entendimento concreto de um livro é algo que se perde com o tempo, mesmo para o mais ferrenho especialista no assunto.

    002

    Ser especialista em qualquer coisa significa abdicar do resto. Exemplo: invejo um estudioso da poesia romântica inglesa. Sabe cem vezes mais que eu sobre Byron, Keats, Shelley. Porém, é quase certo que eu saiba sobre literatura russa tanto ou mais que ele. É humanamente impossível que uma pessoa, ao aprofundar-se em um ou dois assuntos, consiga ter mais que uma vaga ideia do resto. Há exceções, mas tais exceções não seriam estudiosos propriamente ditos, não seriam acadêmicos, seriam diletantes que, por conta e risco próprios, foram abrindo picadas nesta selva selvaggia e vendo um pouco de tudo. Ou seja, eles substituíram a profundidade pela amplitude. E acho que estão corretos ao procederem assim. Melhor ver um pouco de cada país do que tudo de um só. Embora aqueles que conhecem tudo de um só nos deem banhos de sapiência quando discutem conosco sobre o tópico. Porém, quando atravessamos a fronteira, o barril deles se mostra vazio, enquanto o nosso cantil ainda tem água suficiente para garantir a travessia neste deserto do saber.

    003

    Músicas têm a vantagem (sobre livros e filmes) de que são ouvidas muitas vezes, até entranharem de vez e para sempre. Um filme, por ser rápido (duas horas), também tem forte impacto, mas de curto prazo. Lembraremos dele no futuro, de seu enredo, de sua mensagem, e de uma ou outra cena inesquecível, mas só livros dão solidez intelectual e de fato emocionam. Só livros realmente influenciam uma mente, uma influência sub-reptícia, discreta, intermitente, de longo prazo, mesmo que só consigamos descrever uma obra como Dom Casmurro em apenas duas ou três páginas (ou frases) e ainda sim sob forte risco de cometermos algum erro factual. A memória que possuímos de cada livro lido é fiel não ao seu teor, mas à sua alma.

    004

    Tive um dia que tomar uma decisão difícil: tendo em vista que os livros necessários para o mais abrangente entendimento sobre a humanidade são inumeráveis e demandariam mais de cem anos para serem lidos, restava-me optar entre ler menos livros, mas de forma mais apurada, didática, técnica, ou ler o máximo de livros possível, vorazmente, de modo que o meu entendimento sobre eles fosse mais amplo, ainda que pouco profundo. Decidi por esta última opção. Corro o risco de me tornar cada vez mais um generalista, em vez de especialista em algum autor ou em alguma escola literária, mas percebi que, no fundo, é melhor ler mais, com menos profundidade, do que ler menos, com mais apuro. Ao fim de certo tempo, 200 livros ou 2000 livros darão mentalmente na mesma, em termos de lembrança factível de seus enredos. Melhor, pois, tentar abraçar o maior número possível de obras. Desde que, claro, com algum critério mínimo na prévia escolha de cada título a devorar. Critério que, aliás, é outra coisa angustiante a se definir. Enfim, sou leitor voraz que se arrogou ao direito de escrever.

    005

    Vejo três vertentes na cultura (refiro-me aos valores morais e intelectuais que norteiam um povo): a popular, que retrata o que vê no presente, sem querer indicar nenhum futuro diferente por conta disso. A ideológica, que tenta apontar para um futuro radiante, sem se preocupar verdadeiramente com o presente, impondo-nos lenta e gradualmente a sua visão de mundo. E a elitista (ou a alta cultura), que tenta deixar um legado para as próximas gerações, baseadas no que fomos no passado, no que somos no presente e no que poderemos vir a ser no futuro. Essa alta cultura há muito não mais existe no Brasil. A elite cultural abdicou de ser a verdadeira guia moral e intelectual do povo. Irmanou-se à cultura ideológica, rendendo-se a ela, tornando-nos a todos apenas intelectuais orgânicos a serviço da causa, o que é abominável sob quaisquer aspectos, ainda que essa causa fosse nobre (não o é). É por isso que, para onde quer que se olhe, nunca mais vimos ou veremos um Machado de Assis. No máximo um Ziraldo. E isso é culturalmente degradante, torpe e vil.

    006

    Quase todos os intelectuais do auge do Império Britânico (Wilde, Dickens, Shaw, Huxley, a turma do Bloomsbury, Russel, Doyle, Lawrence, Orwell etc) eram todos no mínimo simpáticos ao socialismo ou aos seus derivativos (Shaw flertou com o fascismo e com a eugenia, por exemplo). Sentimento de culpa? Necessidade de cuspir no prato em que comiam? Não percebiam que trabalhavam para o inimigo? Não notaram que somente o modelo britânico lhes propiciava liberdade e prosperidade, até mesmo para falar mal dele? O único a perceber essas discrepâncias foi Orwell em seus anos finais. Quanto não dariam os intelectuais soviéticos para viverem sob aquela horrível e repressiva sociedade inglesa?

    007

    Nem comento sobre a intelectualidade francesa (está bem detalhado em O Ópio dos Intelectuais, de Raymond Aron). Ela persistiu em pregar o modelo autoritário russo até onde pode fazê-lo sem se envergonhar. Sartre continuou a apostar no pior até mesmo depois que o stalinismo foi desnudado. Merleau-Ponty rompeu com Stálin, mas não com Marx. Camus tentou ao menos trilhar caminho independente. A França sempre me pareceu um adolescente, daqueles inegavelmente inteligente, mas em eterna busca por encrenca, roubando placas de trânsito na rua somente para decorar a sua república estudantil.

    008

    Já os intelectuais americanos sempre tentaram imitar os franceses, ao menos em seu estilo rebelde despojado, mas mantendo certa inveja da aristocracia intelectual britânica. Muitos ficaram famosos e ricos ao escreverem roteiros para Hollywood (a quem sempre

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