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Não Há Mais Para Onde Fugir
Não Há Mais Para Onde Fugir
Não Há Mais Para Onde Fugir
E-book133 páginas1 hora

Não Há Mais Para Onde Fugir

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Sobre este e-book

Os textos que o autor reuniu para este volume foram extraídos de seus diários e agendas, escritos entre 1996 e 2016. São pequenos ensaios, quase crônicas, fragmentos de observações de seu dia a dia, os quais acabaram por compor não apenas um retrato de sua geração, mas um painel da decadência cultural do Brasil e do Ocidente. São anotações sobre costumes, da invasão lenta e não tão suave do politicamente correto ao cerceamento gradual da liberdade de expressão, além de pinceladas sobre a completa vulgarização do trinômio sexo, drogas e música alta (não necessariamente em qualidade). A compilação procurou ser a mais fidedigna possível, independente dos exageros, dos erros de avaliação e previsão que o autor registrou (embora alguns de seus vaticínios tenham se mostrado certeiros nos dias de hoje). Outros dois volumes concluirão essa trilogia da derrocada civilizacional , como a chama o poeta: um sobre literatura (e seu amor aos livros) e o derradeiro sobre o cenário político daquele período.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento8 de abr. de 2024
Não Há Mais Para Onde Fugir

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    Não Há Mais Para Onde Fugir - Lino Porto

    NÃO HÁ MAIS PARA ONDE FUGIR

    Lino Porto

    NÃO HÁ MAIS PARA ONDE FUGIR

    – Microensaios, comentários, anotações e ideias gerais –

    Lino Porto,

    1996 a 2016.

    Copyright © 2024 by Lino Porto

    Todos os direitos reservados.

    Proibida toda e qualquer forma de reprodução sem a permissão expressa do autor.

    Apoio: Clube de Autores

    (Https://www.clubedeautores.com.br)

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

    (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Índices para catálogo sistemático:

    1. Literatura brasileira  B869

    Aline Graziele Benitez - Bibliotecária - CRB-1/3129

    Ninguém pode viver sem frases.

    (Nelson Rodrigues, O Reacionário)

    SUMÁRIO

    APRESENTAÇÃO

    SEXO, DROGAS E ROCK AND ROLL

    NÃO HÁ MAIS PARA ONDE FUGIR

    RACISMO À FLOR DA PELE

    ARTISTAS ARTEIROS

    ...AND NO RELIGION TOO

    ALGUM RESCALDO TARDIO (PÓS 2016)

    QUIA IN INFERNO NULLA EST REDEMPTIO

    NOTAS FINAIS E FATAIS

    APRESENTAÇÃO

    Tudo começou com um diário no fim dos anos 1970. Em 1990 entrou em cena um microcomputador, facilitando minhas anotações sobre tudo o que me cercava. Em 17 de março de 1996 (confirmei as datas antes de destruir meus diários) entrei pela primeira vez na então novidade chamada Internet. Aí surgiram o e-mail e as primeiras redes (ainda não tão insociáveis), como IRC, ICQ e Orkut. Assim, em vez de transcrever minhas observações fúteis sobre a vida em agendas ou cadernos, como vinha fazendo desde 1978, passei a registrá-las virtualmente, embora o papel ainda tenha continuado a me perseguir em lembretes, post-its, rascunhos e guardanapos, também guardados, sabe-se lá para quê. Em 2020, durante a pandemia, revi toda essa maçaroca de informações e procurei organizar a bagunça, antes de me desfazer fisicamente dela. O resultado foi este livrinho (além de outros dois, pois considerei mais prudente separar os textos em costumes, literatura e política). Já havia parado com a brincadeira por volta de 2016, por cansaço, mais mental do que físico. Sinais de desesperança impediram que eu transcrevesse tudo o que passava por meu cérebro, forçando-me a utilizar algum filtro criterioso nos registros. Mas já era um tanto tarde...

    Esta obra é, pois, um pente fino sobre o que esbocei a respeito de costumes, na falta de rótulo melhor, durante aquele longo período. Apanhado de anotações com sabor de pequeninas – e, por vezes, enfurecidas – crônicas (e alguns daqueles vaticínios acabaram revelando-se proféticos!) sobre sexo, drogas, música alta (não na qualidade), comportamento, derrocada da arte, avanço do politicamente correto sobre a linguagem e sobre a liberdade de expressão, paradoxos, ambientalismo, subterfúgios vários, incongruências absurdas e coisas do gênero, que registrei como indicadores de alerta sobre a degradação dos valores que constituem a nossa frágil civilização, ainda que ela resista e persista, cada vez mais precária e esfarrapada.

    Não usei ordem cronológica, pois pouca diferença faz se dado texto fora escrito em 1998, 2007 ou 2015. Agrupei precariamente as minhas garatujas por subtópicos, sem, entretanto, dar-lhes títulos (apenas números, de 001 a 200). A relação entre elas não é, evidentemente, linear. Na ausência de justificativa melhor, talvez possa-se dizer que o link sequencial das anotações seja algo espiritual ou afetivo.

    Acaso o conteúdo destes pequeninos ensaios não obtiver valor literário, quem sabe venha a servir como retrato da deterioração de uma era ida e sofrida, ou mero esboço psicossociológico sobre uma geração que, envolta em permanentes curtições físico-químicas, sem perceber, viveu acuada por forças cuja origem desconhecia. E sobreviveu.

    SEXO, DROGAS E ROCK AND ROLL

    O que no século XIX fora Vinhos, Mulheres e Canções, hoje deveria ser renomeado para Putaria, Crack e Funk.

    001

    O pior dos artistas e atletas atuais, com suas mil tatuagens, piercings e adereços, é que sequer podemos falar mal deles, sob risco de sermos tachados de preconceituosos. O sujeito tatua símbolos indecifráveis em seu corpo, sobre os quais ele pouco ou nada sabe além da superfície, e nós sequer podemos chamar aquilo de profundo mau-gosto. Temos que fingir que nem percebemos. Ora, se for para fingir que não percebemos, ou apenas para dizer "nossa, que legal!, que sentido tem verdadeiramente aquilo tudo? Que ousadia existe em ser aceito por todos ou ser visto com indiferença? É um tiro n´água. E permanente! Ao menos eles sempre me fazem lembrar de Mário Quintana: eu tenho a alma tatuada, como um verdadeiro selvagem..."

    002

    Raul Seixas e Sergei são dois bons exemplos de soldados involuntários da Escola de Frankfurt. Eles foram rebeldes autênticos, no tempo que era difícil e até venturoso ser rebelde. Valia a pena. Tínhamos inveja deles. Mas nenhum deles pretendia que todos os copiassem e, muito menos, que seu tipo de vida fosse ensinado em escolas infantis, como ardentemente buscam os politicamente corretos de agora. Hoje a rebeldia não faz mais o menor sentido. Praticamente todos os tabus já foram quebrados, exceto o de se poder falar mal de muçulmano. Pode-se até matar a mãe, desde que com uma boa desculpa. Nada mais é proibido. A única rebeldia hoje é não ser rebelde. Em um mundo em que todos são malucos-beleza, só é ousado quem for careta. É como aquele único sujeito vestido em uma praia de nudismo. O triunfo do politicamente correto é uma volta ao império romano em sua fase decadente final, sem passar por seu esplendor, apenas à espera de ser aniquilado de fora pelos bárbaros, ou desde dentro pelos cristãos.

    003

    Nenhum rebelde gosta de bando. Nenhum rebelde gosta de concorrência, de ser copiado. O que o rebelde gosta mesmo é de ser admirado. Ele não sonha em ser o melhor. Ele quer ser o único.

    004

    Reparei, ao falarem de maus-tratos aos animais, que os protetores destes parecem bastante sectários. Ainda não encontrei algum que, ao se deparar com ratos ou baratas em casa (uso o plural, porque no singular há sempre aquele que tenta me desmentir) não os mate ou que não procure se livrar deles imediatamente, ao menos colocando veneno para que sumam. Ainda não vi nenhum deles demonstrar amor a pulgas, piolhos, ácaros, sapos, percevejos, ratazanas, aranhas, lombrigas, morcegos e outras criaturas menos simpáticas (amplio a lista para lacraias, centopeias, vespas, plantas carnívoras e venenosas, piranhas, águas-vivas, enguias elétricas, tênias, escorpiões e outros que, até onde sei, não são desejados como bichos de estimação), mas criaturas de Deus, ou da Natureza, ainda assim. Todos seres vivos que nascem, crescem, se reproduzem e morrem, tal qual nós. Todos eles querendo seu lugar ao sol (ou ao luar). Nessas horas é sempre bom morar no alto de um prédio de uma cidade grande, uma metrópole capitalista. Quem já viveu ao menos uma semana no mato sabe o desprazer que é pisar em bosta de vaca, não conseguir desviar de uma teia de aranha, ser picado por mosquitos (por ora deixarei a cobra de lado), enfrentar cocô de passarinho em um lençol outrora branco, ver uma coruja comer um sapo vivo, ou simplesmente avistar um camundongo no meio do seu quarto às três da manhã. É sempre fácil participar de revoluções em abstrato. O duro é encarar a indiferença da natureza dura.

    005

    Aliás, a coruja é o símbolo da sabedoria (olhos bem abertos em busca do saber...). Mal sabem que ela só consegue se alimentar de animais vivos, pulsantes.... É muito mais digno matar um animal para comê-lo do que simplesmente para se livrar dele, por medo ou nojo.

    006

    Bom que talvez jamais venhamos a descobrir que as plantas também se comunicam. Não, claro, na linguagem que estamos habituados a perceber nos animais de ordem superior (classificação essa, diga-se de passagem, humana, não natural), através dos olhos meigos de um cão ou do sorriso de um golfinho (os sencientes), mas talvez numa linguagem química ou térmica. Já pensou o dia em que alguém traduzir uma cenoura dizendo "não gosto quando me arrancam da terra e sinto muita dor quando me fervem numa panela"? Que duro golpe não será aos vegetarianos!? Sem falar no provável nascimento de um fervor por alimentos artificiais...

    007

    Um exemplo moderno que aceito de bom grado é o boicote que muitos consumidores fazem contra empresas poluidoras ou que maltratam animais. É por aí o caminho. O capitalismo se ajusta sozinho, previamente ou no tranco. Melhor ainda é o exemplo silencioso do consumidor individual, ao não adquirir o produto da empresa que ele tanto detesta. De grão em grão o patrão vai melhorando (ou despiorando, se preferirem). Triste é quando tentam forçar o patrão a ser o que ele nunca foi: bonzinho (essa é a sua pior face, pois a mais ineficaz, defeito imperdoável e fatal neste mundo complexo e interligado). Ou quando tentam substituí-lo por funcionários públicos altruístas. Ou, mais triste ainda, quando tentam a solução hippie de dar às costas ao patrão, ignorando seus produtos e serviços, tentando retornar ao paraíso perdido que teria sido este planeta antes de o porco capitalista aparecer, o retorno a uma vida frugal (mas não medieval, que ninguém é de ferro!), com baixo consumo de calorias e carbono, mas com muito sexo, drogas e rock and roll. Ou seja, só um pouquinho da modernidade (guitarras, jipes, pranchas de surf, anestesia, pílula anticoncepcional e hospitais asseados), mas sem a selvageria que deu à luz a essas boas coisas industriais da vida... Hipócritas me doem nos nervos.

    008

    Os homossexuais que conheço são quase todos muito mais sexuais do que homo. Deve haver, mas ainda não

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