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Bloodline's Royal
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E-book324 páginas4 horas

Bloodline's Royal

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Sobre este e-book

Na tumultuosa era do século XIII, o príncipe Vicent Valmont, herdeiro do reino de Alhand, embarca na perigosa Quarta Cruzada ao lado de seu grande amigo Addam, deixando para trás sua misteriosa esposa, Sophia. Abandonada na infância e adotada por um nobre após ser encontrada no enigmático bosque de Oricles, a vida de Sophia é marcada por segredos profundos. Enquanto Valmont se aventura em sua jornada, ele é consumido pela dor da traição e do luto, lutando para domar sua sede de vingança antes que ela o leve a perder sua própria alma.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento12 de dez. de 2023
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    Bloodline's Royal - Eddye Andrade

    Bloodline’s Royal

    Uma história de Eddye Andrade

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    Carta ao Leitor

    Prezado Leitor,

    É com grande satisfação e emoção que escrevo esta carta a você, após um pouco mais de 15 anos desde que escrevi Bloodlines Royal pela primeira vez, quando eu tinha apenas 17 anos de idade. O tempo voa, e ao longo desses anos, minha escrita amadureceu e evoluiu de maneiras que eu jamais poderia ter previsto naquela época.

    Hoje, tenho o imenso prazer de anunciar o relançamento da melhor versão possível de Bloodlines Royal. A história que criei na adolescência sempre ocupou um lugar especial no meu coração. Ela foi minha primeira incursão no mundo da escrita, a primeira aventura em que mergulhei de cabeça e criei personagens, mundos e tramas que me cativaram e espero que também cative você.

    Ao decidir relançar este livro, tomei o cuidado de manter o enredo e seus acontecimentos intactos. A essência da história permanece a mesma, preservando a magia que a tornou tão querida por mim. No entanto, com minha escrita mais amadurecida, pude aprimorar a narrativa, os diálogos e a profundidade dos personagens,

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    tornando a experiência de leitura ainda mais envolvente e emocionante.

    Revisitar Bloodlines Royal tem sido uma jornada de autodescoberta e nostalgia. Lembro-me de como me sentia ao escrever cada página, e agora, ao reler e aprimorar a história, essas emoções voltaram com força total. Espero que, ao ler esta nova versão, você também consiga viver a magia da história de maneira renovada.

    Gostaria de agradecer a todos os leitores que me apoiaram ao longo desses anos, àqueles que acompanharam minha jornada de escrita desde o início e aos novos leitores que estão descobrindo Bloodlines Royal pela primeira vez. Esta experiência tem sido incrível, e é graças a todos vocês que estou motivado a continuar escrevendo e compartilhando minhas histórias.

    Espero que esta nova edição lhe proporcione tanta alegria e emoção quanto me proporcionou escrevê-la. Obrigado por fazer parte desta jornada literária comigo.

    Com gratidão e carinho,

    Eddye Andrade.

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    Um livro é a prova de que os homens são capazes de fazer magia. - Carl Sagan

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    Capítulo I

    A jornada em direção à Veneza

    No ano de 1198 da Era Comum, a Quarta Cruzada foi proclamada pelo Papa Inocêncio III, visando a conquista de Constantinopla. Esta cruzada, ao contrário de suas antecessoras, tinha motivações mais voltadas aos interesses financeiros da Europa do que às questões religiosas. O Papa convocou monarcas, príncipes e nobres europeus a se unirem nesse empreendimento.

    Até o ano de 1202 da Era Comum, a cruzada já havia reunido um contingente de trinta e três mil valentes guerreiros e angariado o significativo montante de oitenta e cinco mil marcos de prata. Entre esses combatentes destacavam-se Addam Salermo, filho de um já falecido arquiduque, e seu inseparável amigo Vicent Valmont. Este último, filho do respeitado rei Miguel Valmont e da nobre rainha Kristim Valmont,

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    ostentava o título de príncipe e herdeiro do reino de Allhand, que também era o lar de Addam.

    Miguel, Com cinquenta e três anos vividos, possuía estatura mediana, ostentava uma cabeleira escura, que se erguia até as orelhas com discretas mechas prateadas entremeadas. Uma barba curta e imaculadamente aparada conferia solenidade à sua figura. Em contraste, Kristim, beirando os cinquenta anos, desfrutava de uma estatura diminuta, não alcançando mais do que um metro e sessenta. Seu corpo conservava a juventude apesar das marcas do tempo, e seus cabelos, longos e dourados, exibiam raios prateados. Seus olhos eram como âmbar fundido, e sua pele resplandecia com uma palidez suave. Ambos cultivavam uma devoção profunda pelas tradições e pela Igreja, enquanto seu filho Vicent, desviava-se desse fervor religioso. Vicent, por sua vez, nutria um afeto especial por sua mãe e mantinha com seu pai uma relação amistosa e respeitosa.

    Allhand repousava no coração do Centro-Sul da Europa, na península Balcânica, envolto pela majestosa coroa dos

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    Montes Cárpatos, enquanto o Rio Danúbio fluía sereno por sua vasta planície, alimentando as terras até encontrar o Mar Negro. Naquele ano, a população da cidade somava dois mil e quinhentos almas, com aproximadamente duzentos guerreiros se lançando na cruzada ao lado do príncipe e seu fiel amigo.

    Vicent, ostentando seus vinte e seis anos, possuía um porte atlético e vigoroso, seus cabelos de um castanho claro fluíam em fios lisos e longos até a metade de seu torso. Seus olhos castanhos, pequenos e penetrantes, destacavam-se sob as delicadas sobrancelhas, emoldurando um semblante harmonioso. Enquanto isso, Addam, contando com seus vinte e oito anos, exibia uma compleição física semelhante à de Vicent. Seus cabelos dourados eram cortados à altura das orelhas, e seus lábios possuíam um volume sutil. Próximo ao seu olho esquerdo, acima de um de seus olhos verde-esmeralda, uma cicatriz testemunhava a lembrança de um ferimento sustentado durante um treinamento de espada com Vicent.

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    Embora Valmont sempre saísse vitorioso em seus combates de treinamento, Addam nutria uma profunda admiração por seu amigo, sem detectar qualquer ressentimento ou mágoa pelas derrotas. Essa admiração foi a força motriz que o levou a acompanhar de bom grado seu príncipe até a guerra santa.

    Addam, permanecendo na solteirice, contrastava com a união conjugal de Vicent, que compartilhava seu destino com a formosa Sophia Valmont, uma jovem de vinte e dois anos de idade. Antes de unir-se em matrimônio com o príncipe e adotar seu nobre sobrenome, ela respondia ao humilde título de Sophia Hershey. Em sua infância, quando contava cerca de sete anos, Sophia foi descoberta por alguns destemidos soldados nas profundezas do enigmático Bosque Oricles. Naquela ocasião, os militares realizavam a árdua busca por um fugitivo condenado à forca, um homem que havia astutamente escapado do escopo da justiça. A menina estava então vestida com andrajos sujos e esfarrapados, encontrando-se isolada na obscuridade daquele bosque

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    ermo, que demarcava a fronteira entre Allhand e um reino vizinho.

    O Bosque Oricles se erguia como um recanto de densidade impenetrável, com copas de árvores centenárias erguendo-se a bloquear quase por completo os raios da divina luz solar. Além disso, trilhas sinuosas e veredas traiçoeiras transformavam o local num verdadeiro labirinto noturno. Os habitantes de Allhand sempre evitavam adentrar o local, preferindo as vias mais seguras, mesmo que isso implicasse numa travessia mais longa rumo ao reino vizinho.

    Quando Sophia foi resgatada, seu silêncio era absoluto, e dias passavam sem que uma única palavra brotasse de seus lábios. Nada se sabia sobre seu passado, nem como havia sido atraída até aquele lugar. Os que a viam suspeitavam que ela havia sido afligida por algum infausto trauma que a lançara num ostracismo de silêncio e esquecimento.

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    Com o passar do tempo, a criança encontrou amparo junto a Conrard Hershey, um lorde nobre e íntimo amigo do rei Miguel. O nobre senhor havia enfrentado o infortúnio de perder sua esposa e filhos durante um parto de gêmeos, marcado por trágicas complicações. Conrard abraçou a menina, concedendo-lhe o nome de Sophia e o honroso sobrenome de sua linhagem. Ao longo dos anos, floresceu entre eles um amor paternal, e Sophia recobrou a sua inocência infantil, ainda que parecesse ter selado o passado de sua memória nas sombras do esquecimento.

    No dia de seu décimo sexto aniversário, Conrard deixou este mundo, passando a sua filha todos os seus bens e riquezas, bem como a contínua ligação com a realeza que ele próprio desfrutara em vida.

    Sophia, uma encantadora donzela de cabelos anelados em tonalidades de um louro profundo, que deslizavam suavemente sobre seus ombros, era agraciada com olhos azuis que pareciam acolher segredos do céu e uma boca habilmente esculpida, a moldar um sorriso que era a própria personificação da esplendorosa graça. Sua

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    inigualável beleza cativou o coração do príncipe Vicent desde a adolescência. Os destinos deles se entrelaçaram num matrimônio sagrado quando Sophia contava meros dezenove anos. Além de ser a consorte de Vicent, ela era sua confidente mais íntima, uma amiga inseparável. Addam também partilhava de um laço estreito com ela, sua amizade pelo príncipe não era senão um reflexo do afeto profundo que nutria por Sophia.

    Uma noite antes da partida iminente de Vicent em direção a seu destino, ele desvela para Sophia sua decisão de unir-se aos outros europeus numa cruzada santa. A notícia lança um arrepio de apreensão sobre ela, que depara-se com a sombra ameaçadora dos horrores da guerra.

    - Não vá. Nunca se pode prever o que a guerra, mesmo a tida como santa, guarda em seu seio! - exclamou, sua voz carregada de preocupação.

    Porém, Vicent, firme em sua convicção, replica com serenidade:

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    - Não se preocupe, minha querida. Estarei lá para prestar auxílio, sem arriscar minha segurança.

    Nesta mesma noite, o príncipe envolve-a com ternura, despindo-lhe a vestimenta da inquietude, depositando beijos suaves em sua nuca, compartilhando, assim, uma derradeira noite de amor antes da partida que se delineava.

    Na manhã seguinte, Vicent desperta às primeiras luzes do dia, quando o sol estava prestes a romper a escuridão noturna. Uma suave claridade infiltra-se pelas frestas das cortinas do quarto, um recinto adornado com uma cama monumental, cujas elegantes pinturas ilustravam a união do casal. O leito encontrava-se ladeado por obras que preenchiam as paredes. Aos pés da cama, dois robustos baús guardavam seus pertences. Outros baús e um tapete azul-celeste, ornamentado com intrincados bordados em tons cinzentos, completavam a decoração do aposento.

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    Antes de partir, Vicent beija a fronte de Sophia, que ainda repousava, vestiu suas vestes e se dirigiu com seus cavaleiros à praça do reino, o ponto de encontro com seu fiel amigo e os nobres que se engajaram na causa. Diante de Addam, Vicent expressa sua esperança de um retorno salvo e breve.

    - Não temas! Estarei aqui para velar por tua segurança, meu senhor. - declarou Addam, com um toque de sarcasmo, acompanhando as palavras com um afável toque no peito de Vicent.

    Entre sorrisos, os dois empreendem a jornada rumo a Veneza, onde os guerreiros europeus se reuniram antes de dar continuidade à trajetória. A viagem se estenderia por aproximadamente dezoito dias após a partida de Allhand. Vicent, em sua humildade, recusou a pompa da carruagem real, preferindo a jornada a cavalo, em sintonia com os demais combatentes que seguiam o chamado da cruzada.

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    Enquanto os destemidos combatentes continuavam a traçar seu destino nos campos de batalha distantes, o monarca e a rainha, imersos em assuntos de alcova, mantinham a confiança de que Vicent estaria abrigado sob o manto protetor dos seus leais cavaleiros reais. Tinham a fé de que os outros reinos, embrenhados em conflitos de maior magnitude, absorveriam a atenção, deixando Allhand em relativa tranquilidade. Enquanto isso, Sophia se entregava à contemplação de palavras escritas às páginas do seu diário, devotando pensamentos incessantes a seu amado e sussurrando preces silenciosas para assegurar sua incólume proteção.

    À medida que a jornada se desenrolava, Vicent, com frequência, fixava seus olhos no medalhão que trazia consigo, ostentando o delicado retrato esculpido de Sophia, uma jóia a adornar seu peito. Addam, com seu humor perspicaz, tentava infundir ânimo ao príncipe por meio de sarcasmos e gracejos, mas Vicent, inquieto, não conseguia afastar a constante sombra de preocupação que pairava sobre a decisão de se lançar nos campos de guerra.

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    Após quatro longos dias de cavalgada, a comitiva de nobres e cavaleiros desembocou num modesto povoado, cujo nome ecoava como Couteau de Feu, situado ao longo da rota que conduzia de Allhand a Veneza. Era o único reduto naquelas paragens áridas, distante léguas do próximo. Com a intenção de repousar com segurança, dada a reputação da aldeia como refúgio para mercadores e artífices, bem como um abrigo para pequenas caravanas que preferiam evitar o avanço de salteadores de estrada, planejavam passar ali a noite. Contudo, naquela noite, o vilarejo parecia envolto num manto de estranheza. Nem mendigos vagueavam pelas ruelas, todas as habitações permaneciam hermeticamente cerradas, e um silêncio opressor dominava a paisagem, até mesmo as tochas, que normalmente iluminavam as ruas, permaneciam apagadas.

    Desconfiados, Vicent, Addam e seus acompanhantes perceberam a notória e espectral ausência de vida naquele vilarejo. Em meio à quietude funesta, seus ouvidos captaram os inquietantes passos de

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    aproximação. Da penumbra, emergiu uma idosa senhora com chagas marcando-lhe o corpo, envergando trajes esfarrapados e imundos, seus cabelos desalinhados e poucos dentes corroídos, assinalavam uma aparência de extrema penúria.

    Ela parecia faminta e profundamente exaurida. Vicent, ao divisá-la, prontamente desvencilhou-se de uma das suas bolsas e, com compaixão, ofereceu-lhe um pedaço de pão. Antes que a mulher pudesse manifestar sua gratidão, ele lançou a inquirição:

    - O que ocorre neste lugar, nobre senhora?

    Ela respondeu, entre mordidas na porção de pão que o tempo havia transformado em uma dura iguaria:

    - Senhor, uma praga desconhecida e terrível abateu-se sobre nossa humilde aldeia. A maioria dos aldeões fugiu, e os que permaneceram jazem enfermos em suas camas ou encontraram já o descanso eterno.

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    Addam inquiriu, com ar de perplexidade:

    - Como é possível que, mesmo estando a uma considerável distância daqui, não tenhamos tido notícia dessa epidemia até agora?

    A anciã retrucou:

    - A praga surgiu há somente dois dias e, de modo implacável, já ceifou a vida de muitos. É uma doença cruel e rápida, acreditam que tenha nascido nas entranhas do inferno, ou que nos encaminhe diretamente para lá.

    Diante do perigo iminente, os cavaleiros decidiram que o prudente era partir de imediato, temendo a possibilidade de contraírem a misteriosa pestilência. Todos concordaram em prosseguir com a jornada e renunciaram à perspectiva de descanso na vila de Couteau de Feu. No entanto, naquela mesma noite, vários deles notaram a aparição de dolorosas chagas em seus corpos, um sinal inequívoco de que haviam caído sob o flagelo da enigmática praga. Horas não se passaram antes que todos compreendessem a magnitude

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    da crise que os envolvia, lançando-os na deliberação de permanecer na senda até Veneza ou regressar a Allhand, na busca de tratamento adequado.

    - Deveríamos prosseguir, pois ao retornar a Allhand com a praga, exporíamos nossa população a um risco mortal. - opinou Vicent, como príncipe, preocupado com o destino de seu reino.

    Addam, apreensivo com a perspectiva de compartilhar o fado dos habitantes do vilarejo, discordou e preferiu o retorno. A maioria dos presentes se alinhou a seu lado. Vicent, contudo, persistiu em seu apelo para que continuassem em frente, enquanto Addam sustentava que, ao retornar, havia a chance de encontrar a cura.

    As palavras de Addam ecoavam nos corações daqueles que o escutavam. O receio de que um exército de enfermos pudesse contaminar toda Veneza era perturbador, e ninguém desejava ver o seu fim no meio do caminho, sem destino. E assim, a decisão foi selada: a

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    comitiva iria retroceder, evitando cuidadosamente a vila fadada à desgraça.

    Regressando à Allhand, no alvorecer do primeiro dia, a sinistra enfermidade ceifou a vida de três cavaleiros reais e um marquês. Os guerreiros, aos poucos, tornaram-se portadores visíveis dos sintomas da aflição, e a sombria marcha rumo à perdição avançou vertiginosamente no segundo dia, quando o número de vítimas fatais cresceu para um alarmante total de onze. Sete destemidos cavalos também não resistiram à praga e pereceram sob o jugo da jornada.

    Havia uma ferida que desfigurava o ombro de Addam, uma nódoa semelhante àquelas que afligiam os demais infectados, alastrou-se implacavelmente, avançando para o peito e parte do pescoço. Ele não dissimulou a cruel enfermidade que o açoitava, mas escondia com nobreza o seu temor de uma morte de agonia e seu sentimento de vergonha.

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    Vicent, igualmente acometido pela peste, não permitia que o egoísmo nublasse seus pensamentos sobre a própria salvação. Mesmo acossado pelas dores de sua chaga e a debilidade que ela infligia, sua maior angústia residia na possibilidade de propagar a malevolência de sua doença aos entes queridos.

    No terceiro e quarto dias, a mortal doença ceifou a metade dos combatentes, cada um deles portador das chagas pútridas que emolduravam seus corpos. O príncipe, em um gesto de abnegação, estava mais preocupado em evitar que a doença assoladora se alastrasse pela população de seu reino do que com a própria saúde, mantendo seus pensamentos voltados à segurança de seu povo.

    Depois de cinco extenuantes dias de cavalaria sem trégua, o príncipe, seu fiel amigo e outros dois remanescentes cavaleiros adentraram Allhand nas sombras da noite. Todos os animais de montaria haviam sucumbido antes que o reino se materializasse à vista, um presságio do triste destino que os esperava. Os servos, ainda que imbuídos de apreensão, reconheceram

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    os quatro combatentes e, com uma celeridade movida pela urgência, abriram os portões para permitir-lhes a entrada. Chamando o rei imediatamente, Miguel prontamente se fez presente para tomar conhecimento da condição de seu filho.

    Ao vislumbrar as feridas que desfiguravam os corpos dos viajantes e a palpável exaustão que os acometia, Miguel compreendeu que a decisão de retornar havia sido motivada por alguma terrível enfermidade.

    - Onde estão os outros? - indagou o rei.

    - Pai, não se aproxime! Todos sucumbiram, só restamos nós quatro. - respondeu Vicent com voz enfraquecida.

    Miguel tentou avançar na direção de seu filho, mas foi impedido pelas palavras titubeantes de Vicent:

    - Afasta-se, pai, ou você também ficará doente.

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    O monarca prontamente acatou o pedido e indagou: - O que aconteceu?

    - Pai, mande desocupar o antigo depósito onde guardamos as ferramentas do jardim real, para que possamos nos isolar lá e evitar contaminar alguém. Contraímos alguma enfermidade durante a jornada a Veneza, mas desconhecemos sua natureza. - explicou Vicent.

    Miguel, sem hesitação, deu ordens para que os servos preparem o recinto de acordo com as instruções de seu filho. Enquanto isso, Sophia e a rainha foram informadas sobre o retorno do príncipe e de seus companheiros, bem como da precária condição de sua saúde.

    Sophia e Kristim manifestaram veemente desejo de ir ao encontro de Vicent, mas foram advertidas de que ninguém poderia visitá-los, uma vez que a praga era contagiosa. Apenas um médico se dirigia ao armazém onde estavam isolados. Miguel explicou à rainha a

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    gravidade da situação e as providências que já haviam sido tomadas para convocar o mais hábil médico do reino.

    Sophia, com lágrimas nos olhos, recolheu-se apressadamente a seus aposentos, enquanto a rainha permaneceu no local, envolta em apreensão e nos braços do rei, que, com palavras de conforto, lhe assegurou que tudo se resolveria e que o melhor médico do reino já estava a caminho para cuidar dos enfermos.

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    Capítulo II

    Não Existe cura humana

    Em uma imponente carruagem, puxada por exuberantes equinos, o médico adentrou o castelo, pronto para desvendar o enigma que o destino havia lançado sobre a nobre família Valmont. Com passos seguros, ele dirigiu-se ao soberano, apresentando-se com requinte, para, em seguida, encaminhar-se ao armazém onde os enfermos estavam recolhidos. À medida que adentrava o recinto, deparou-se com uma cena lúgubre: dois cavaleiros jaziam sem vida, enquanto os sobreviventes ostentavam feridas graves e agonizantes em suas peles.

    Com voz firme, o médico comandou os serviçais:

    - Removam os corpos deste lugar e incinerem-nos. Um dos servos prontamente respondeu:

    - Sim, senhor.

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    Os cadáveres dos cavaleiros foram deslocados e queimados em uma área afastada das moradias do castelo. O médico, após minucioso exame dos enfermos, dirigiu-se ao castelo para comunicar à família real o estado da situação. Com um semblante grave, proferiu as palavras:

    - Sinto profundamente, mas não há remédio que possa resgatá-los.

    O rei, consternado com a notícia, clamou em desespero: - Isso não pode ser! Deve haver algo que se possa

    fazer!

    O médico, com semblante pesaroso, replicou:

    - Lamento, mas seria necessário um milagre para que ambos sobrevivessem à noite. Não vislumbro tal possibilidade.

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    A rainha, ante o veredito, desfaleceu, amparada por seu consorte. Sophia, oculta atrás da porta, escutou a angustiante sentença. Lágrimas corriam livremente por seu rosto enquanto discretamente abandonava o castelo e procurava a entrada do armazém, onde seu amado e seu amigo enfrentavam o tormento. Passando despercebida pelos sentinelas que guardavam a entrada, ela se infiltrou pela janela, despercebida.

    - Sophia, o que fazes aqui? Deves partir antes que também sucumbas! - murmurou Vicent, com a voz fraca e debilitada ao notar a presença da amada.

    - Eu te curarei, meu amor. Tu não sofrerás mais. - Sophia declarou com os olhos marejados.

    - Não há cura para mim nem para Addam. - respondeu Vicent.

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    Ao acordar e flagrar Sophia conversando com Vicent, Addam permaneceu em silêncio, sem querer interromper o diálogo.

    - Posso curar-vos. Devo fazê-lo o quanto antes. Eu sei que o médico não pode ajudar, mas eu posso. - insistiu a jovem.

    - Como realizarás tal feito? - questionou Vicent.

    Sophia tomou a mão de seu marido, fechando os olhos com intensa concentração. Uma radiante luminosidade negra emitiu de suas mãos, percorrendo o corpo de Vicent. Este se contorceu sob a intensa energia que fluía por seu ser, uma dor quase insuportável, mas igualmente uma cura miraculosa. Tentou vociferar, mas suas palavras não encontraram voz. Gradativamente, a resplandecência se atenuou, e Vicent estava ileso, sua pele restaurada, sem cicatrizes ou vestígios de sua condição anterior.

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    - Como fizeste isso? - indagou Vicent, ainda estupefato.

    - Recordas-te quando fui encontrada em Oricles quando criança? - Sophia começou a elucidar.

    - Sim, mas o que isso tem a ver com o que acaba de ocorrer?

    - Permite-me explicar. Quando encontraram-me, minha mãe havia sido ardida viva na fogueira, condenada pela igreja por bruxaria, pois era uma Banshee.

    - Banshee? O que é isso? - interrogou Vicent. Sophia prosseguiu:

    - Existem várias espécies de Banshees, algumas alegam que descendemos das fadas, mas somos a mais tenebrosa entre elas.

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    - Tu és uma Banshee? - Vicent questionou, incrédulo.

    - Não, sou híbrida. Minha mãe era uma Banshee, e meu pai, um humano. Ele a encontrou três dias antes de perecer.

    - Como, oque aconteceu? como ele morreu? - indagou Vicent.

    - Minha mãe era uma mensageira da morte, uma das formas de Banshee.

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