Enfermagem Gerontogeriátrica
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Sobre este e-book
No segundo capítulo, mergulhamos no mundo da enfermagem gerontológica, explorando as diferenças entre gerontologia e geriatria, além de discutir diversas teorias que explicam o processo de envelhecimento. Também apresentamos os distúrbios mais comuns observados em idosos, preparando o leitor para reconhecer e entender as complexidades dessas condições.
O terceiro capítulo é dedicado às alterações fisiológicas do envelhecimento e aos cuidados de enfermagem correspondentes. Detalhamos as mudanças em sistemas vitais – como o tegumentar, musculoesquelético, respiratório, cardiovascular, entre outros –, oferecendo uma perspectiva integral sobre como essas alterações afetam a saúde dos idosos e como os profissionais de saúde podem melhor assisti-los.
Por fim, o quarto capítulo foca a assistência prática à pessoa idosa, discutindo desde o calendário vacinal específico para essa faixa etária até o uso de tecnologias assistivas. Também abordamos os diferentes tipos de atendimento e suporte disponíveis, desde o domiciliar até instituições de longa permanência.
Este livro é um recurso essencial para estudantes e profissionais da área da saúde, especialmente aqueles envolvidos na assistência geriátrica, oferecendo conhecimento profundo e aplicável para melhorar a qualidade de vida dos idosos.
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Enfermagem Gerontogeriátrica - Carla Silva de Andrade Neves
CAPÍTULO 1
ENVELHECIMENTO
1.1 Conceitos sobre envelhecimento
O envelhecimento é um processo complexo e multifacetado que envolve mudanças biológicas, psicológicas, sociais e emocionais ao longo do tempo. O envelhecimento biológico refere-se às mudanças físicas que ocorrem no corpo à medida que as pessoas envelhecem, inclui alterações nas estruturas e funções dos órgãos e sistemas do corpo, como a diminuição da densidade óssea, a perda de massa muscular, a redução da capacidade cardiovascular e o declínio na função do sistema imunológico. Ele também está relacionado ao processo de senescência celular, no qual as células se tornam menos capazes de se dividir e se regenerar.
Podemos classificar o envelhecimento em psicológico, social, emocional, ativo e bem-sucedido.
O envelhecimento psicológico refere-se às mudanças nas funções cognitivas, emocionais e mentais que ocorrem com a idade. Isso pode incluir declínios na memória, na velocidade de processamento de informações e na flexibilidade cognitiva. Além dos desafios cognitivos, o envelhecimento psicológico também envolve a adaptação a mudanças nas metas, prioridades e perspectivas de vida.
O envelhecimento social diz respeito às mudanças nas relações sociais e no papel do indivíduo na sociedade à medida que ele envelhece. Isso pode incluir aposentadoria, perda de amigos e familiares, mudanças nas redes sociais e transição para um papel de idoso na comunidade. Também pode envolver a participação em atividades sociais e grupos de apoio para idosos.
O envelhecimento emocional refere-se às mudanças nas emoções e no bem-estar emocional à medida que as pessoas envelhecem. Pode incluir uma maior resiliência emocional, mas também desafios emocionais, como a solidão, a depressão e o luto. O envelhecimento emocional envolve o desenvolvimento de estratégias de enfrentamento para lidar com as emoções ao longo do processo de envelhecimento.
O envelhecimento ativo é um conceito que promove a manutenção de um estilo de vida saudável, o engajamento em atividades físicas e mentais e a busca de oportunidades de aprendizado e crescimento contínuos à medida que se envelhece. Envolve a ideia de que o envelhecimento não deve ser passivo, mas sim uma fase da vida em que as pessoas podem continuar a se envolver ativamente com o mundo ao seu redor.
O envelhecimento bem-sucedido é um conceito que se concentra na manutenção de um alto nível de funcionamento físico, cognitivo, social e emocional na velhice. Envolve a capacidade de adaptar-se às mudanças e aos desafios do envelhecimento com resiliência e uma sensação geral de satisfação com a vida.
Importante notar que o envelhecimento é um processo individual e altamente variável. As experiências e os desafios enfrentados por cada pessoa ao envelhecer podem diferir significativamente, dependendo de diversos fatores, como genética, estilo de vida, ambiente social e acesso a cuidados de saúde. Portanto, é fundamental abordar o envelhecimento de maneira holística, considerando todas essas dimensões e reconhecendo a singularidade de cada indivíduo nesse processo.
Para Berger e Mailloux-Poirier (1995), enfermeiras canadenses, a velhice é um:
processo inelutável caracterizado por um conjunto complexo de fatores fisiológicos, psicológicos e sociais específicos de cada indivíduo. Assim, certos idosos estão mais envelhecidos, outros parecem mais jovens e há ainda os que sentem não ter qualquer utilidade, afirmando a complexa heterogeneidade da velhice.
Cada pessoa envelhece de maneira única. Fatores como genética, estilo de vida, saúde em geral e experiências de vida influenciam como uma pessoa envelhece. Algumas pessoas envelhecem com boa saúde e vitalidade, enquanto outras podem enfrentar desafios de saúde. Por isso, um envelhecimento ativo é importante, mantendo um estilo de vida saudável à medida que se envelhece, incluindo dieta equilibrada, exercícios regulares, atividades sociais e estimulação cognitiva para promover o bem-estar.
A senilidade e a senescência são dois termos frequentemente usados para descrever aspectos do envelhecimento, mas eles têm significados ligeiramente diferentes e abordam diferentes aspectos desse processo.
A senescência é um termo geral que se refere ao processo natural de envelhecimento que ocorre em todos os seres vivos, incluindo os seres humanos. Trata-se de uma série de mudanças biológicas, físicas e funcionais que ocorrem ao longo do tempo e que são intrínsecas ao processo de envelhecimento.
Inclui mudanças nas estruturas e funções do corpo, como a perda de elasticidade da pele, a redução da densidade óssea, a diminuição da capacidade cardiovascular e a deterioração da visão e da audição. Também envolve alterações nas funções cognitivas, como a diminuição da velocidade de processamento de informações e a memória de curto prazo menos eficaz. A senescência é um processo gradual que ocorre ao longo da vida e é influenciada por fatores genéticos, ambientais, e pelo estilo de vida.
A senilidade é um termo mais específico que se refere ao estado de declínio físico, mental e funcional que pode ocorrer em pessoas idosas; pode ser influenciada por fatores genéticos, histórico médico, estilo de vida, acesso a cuidados de saúde e outros fatores. Geralmente, a senilidade implica uma deterioração significativa da saúde e do funcionamento, incluindo problemas cognitivos (como demência) e problemas físicos (como fragilidade).
É fundamental entender que nem todas as pessoas idosas passam por uma fase de senilidade. Muitas mantêm um alto nível de funcionamento físico e cognitivo e desfrutam uma qualidade de vida satisfatória. Além disso, o envelhecimento não é necessariamente sinônimo de doença ou declínio. A promoção da saúde ao longo da vida, a adoção de um estilo de vida saudável e o acesso a cuidados médicos adequados podem ajudar a minimizar os efeitos da senescência e da senilidade, permitindo que as pessoas envelheçam com dignidade e qualidade de vida.
1.2 Envelhecimento populacional brasileiro
O envelhecimento populacional demográfico é uma característica global que tem sido amplamente estudada e discutida em artigos. Esse processo refere-se ao aumento da proporção de pessoas idosas (definida como aquelas com 60 anos ou mais, segundo o Estatuto do Idoso) em relação à população total de um país ou região. Isso é resultado de taxas de natalidade em declínio e expectativa de vida em aumento.
O envelhecimento populacional é um fenômeno global que tem sido observado em todo o mundo nas últimas décadas. Esse processo se caracteriza pelo aumento da proporção de pessoas idosas em relação à população total de um país ou região. O envelhecimento populacional é impulsionado por vários fatores demográficos e socioeconômicos, e tem impactos significativos em diversas áreas, incluindo saúde, economia e políticas públicas.
O declínio na taxa de natalidade é um dos principais impulsionadores do envelhecimento populacional. As famílias têm menos filhos em comparação com o passado, o que leva a uma proporção menor de jovens na população.
Em contrapartida temos o aumento da expectativa de vida com os avanços na medicina, melhores condições de vida e acesso a cuidados de saúde. Isso significa que as pessoas estão vivendo mais tempo.
Os impactos socioeconômicos incluem a pressão sobre os sistemas de saúde. O envelhecimento populacional está associado a um aumento na demanda por serviços de saúde, já que as pessoas idosas geralmente têm mais necessidades médicas e de cuidados de longo prazo.
Os desafios previdenciários também são um exemplo de impacto socioeconômico, pois, com o aumento no número de pessoas idosas em relação à força de trabalho ativa, criam-se desafios para os sistemas previdenciários e de seguridade social, uma vez que há menos pessoas contribuindo para esses sistemas.
E, por fim, as mudanças na estrutura familiar, visto que com menos filhos e mais idosos, a estrutura familiar pode sofrer mudanças significativas, incluindo um aumento na necessidade de cuidados para os idosos.
Sobre os desafios de políticas públicas, podemos dizer que eles abrangem: a adaptação dos sistemas de saúde para atender às crescentes necessidades de saúde da população idosa, incluindo a oferta de cuidados de longo prazo e geriátricos; as reformas previdenciárias (muitos países estão revisando seus sistemas previdenciários para garantir a sustentabilidade financeira diante do envelhecimento da população); e a promoção do envelhecimento ativo, incentivando um envelhecimento saudável e ativo por meio de programas de saúde preventiva e oportunidades de engajamento social, o que é uma estratégia importante.
O envelhecimento populacional não é uniforme em todo o mundo. Alguns países e regiões enfrentam esse fenômeno de forma mais intensa do que outros, devido a diferenças nas taxas de natalidade, expectativa de vida e migração.
Em resumo, o envelhecimento populacional é um desafio complexo e multidimensional que afeta países em todo o mundo. O planejamento adequado, as políticas públicas eficazes e uma abordagem centrada no bem-estar e na qualidade de vida dos idosos são essenciais para enfrentar os impactos desse fenômeno demográfico crescente, que é uma realidade no Brasil, assim como em muitos outros países.
No contexto brasileiro, o envelhecimento populacional tem se manifestado de forma significativa nas últimas décadas.
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2022, a porcentagem de idosos no Brasil era de 10,9% (22.169.101), o que é um aumento de 57,4% em relação a 2010, quando era de 7,4% (14.081.477). Esse número representa um aumento significativo em comparação com anos anteriores, evidenciando o envelhecimento populacional contínuo.
O índice de envelhecimento chegou a 55,2 em 2022, indicando que há 55,2 pessoas com 65 anos de idade ou mais para cada 100 crianças de 0 a 14 anos. Em 2010, o índice era de 30,7. As regiões Sudeste e o Sul tinham estruturas mais envelhecidas: 12,2% e 12,1% da sua população, respectivamente, tinham 65 anos de idade ou mais. A idade mediana da população brasileira aumentou 6 anos desde 2010.
Ao longo dos anos, houve uma redução na proporção da população jovem e um aumento na população em idade adulta. Em 1980, apenas 4% da população brasileira tinha 65 anos ou mais. No entanto, em 2022, essa faixa etária atingiu a marca de 10,9%, representando o maior percentual registrado nos Censos Demográficos. Entretanto a proporção de crianças com até 14 anos de idade, que era de 38,2% em 1980, diminuiu para 19,8% em 2022.
Essa transformação no perfil etário da população começou a se tornar visível a partir dos anos 1990, porém a pirâmide etária do Brasil deixou de ter o formato típico de uma pirâmide a partir de 2000. Essa característica, conhecida como envelhecimento populacional, consiste na diminuição da população pela proporção de pessoas mais jovens em contraste com o aumento da população idosa.
Figura 1.1 – População residente no Brasil (%)
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). (https://educa.ibge.gov.br/jovens/conheca-o-brasil/populacao/18320-quantidade-de-homens-e-mulheres.html).
CAPÍTULO 2
INTRODUÇÃO À ENFERMAGEM GERONTOLÓGICA
2.1 Gerontologia e geriatria
A geriatria e a gerontologia são duas disciplinas relacionadas, mas distintas, que se concentram no estudo e na prestação de cuidados aos idosos. A geriatria é uma especialidade médica que se concentra na avaliação, no diagnóstico e no tratamento de problemas de saúde específicos que afetam os idosos. Ela se preocupa principalmente com as questões clínicas e médicas associadas ao envelhecimento, como doenças crônicas, fragilidade, declínio cognitivo e incapacidade funcional.
Os geriatras são médicos especializados em geriatria. Eles realizam avaliações físicas e psicológicas, elaboram planos de cuidados personalizados para cada idoso, avaliando as condições médicas individuais dos pacientes, atuam também no gerenciamento de múltiplas doenças crônicas, na otimização e interação das medicações, focando a autonomia e independência dos idosos, e, consequentemente, na melhoria da qualidade de vida.
Já a gerontologia é um campo multidisciplinar que estuda a definição do processo de envelhecimento em sua totalidade, abordando não apenas questões médicas, mas também aspectos psicológicos, sociais, econômicos e culturais do envelhecimento, pois envolve profissionais de diversas áreas, como enfermagem, psicologia, serviço social, nutrição, odontologia, entre outros.
Eles colaboram para entender o envelhecimento em um contexto mais amplo e adotam uma abordagem holística do envelhecimento, considerando aspectos como bem-estar emocional, qualidade de vida, adaptação às mudanças de vida, envelhecimento saudável e políticas de envelhecimento. A pesquisa em gerontologia é geralmente multidisciplinar, abrangendo uma variedade de tópicos, como teorias do envelhecimento, políticas de envelhecimento, questões culturais e sociais, aspectos psicológicos e sociais, e estudos sobre qualidade de vida na terceira idade.
Em resumo, a diferença fundamental entre a geriatria e a gerontologia reside em seu foco e sua abordagem. A geriatria é uma especialidade médica que se concentra nos aspectos clínicos da saúde dos idosos, enquanto a gerontologia é um campo multidisciplinar que aborda o envelhecimento de forma mais ampla, incorporando diversas disciplinas e considerando as várias dimensões do envelhecimento humano. Ambos os campos desempenham papéis essenciais na compreensão e no atendimento às necessidades da população idosa.
A graduação em gerontologia começou a ser