Indistintos
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Sobre este e-book
Indistintos é uma série de contos em estilo rápido e direto e poemas repletos de imagens surreais. Do policial que vai à mesma padaria todos os dias ao 'faxineiro' de uma espécie inusitada de estabelecimento o que vemos são figuras nas quais esbarramos todos os dias, às vezes sem saber o que se passa em suas mentes (quase sempre) doentias. Indistintos fala da realidade, da realidade que John K. Lewis criou com os filtros que tem na cabeça. Da realidade de um homem cuja realidade o perturba. Ou pelo menos é o que ele quer que você pense.
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Indistintos - John Kipling Lewis
Para minha amada esposa Alice, sem a qual eu estaria morto para o mundo.
Para meus filhos, Jackson, O Inventivo, e Cole, O Brilhante: amo-os mais do que as palavras podem descrever.
Edição Profissional por Andrea Trask.
Agradecimentos especiais a Liz Henry por editar até mais do que devia.
Forte agradecimento a Steve Wineman pela edição ninja
mesmo depois de provar meu chá.
O Café
Venho a este café uma, às vezes duas vezes por semana. As garçonetes, todas polonesas, conhecem-me pelo nome. O filho do proprietário, grego, conhece-me pelo nome. Penso que até os cozinheiros me conhecem pelo nome, já que sempre peço torradas francesas com morangos. Tenho vindo aqui há mais de um ano agora, e creio que isso faz de mim um freguês.
Há outros fregueses também. Sempre um grupo de motoristas de ônibus come aqui por volta das quatro da tarde. Eles comem e conversam enquanto aguardam seus horários os forçarem a levar pessoas do trabalho para casa. Quando falam sobre seus prazeres, eu costumeiramente sinto pena deles. Seus carros ou suas férias. Estas coisas que eles mantêm consigo, eles riem e fazem chacota delas. Eu sorrio quando eles sorriem. Aprendi a fazer isto.
Perto das quatro e meia da tarde há um policial que vem aqui. Assim como eu, ele senta no balcão. Ele é alto, mas esquisitamente redondo no meio. Ele trabalha direcionando o tráfego no túnel do Queens, no Centro, apenas a uma quadra daqui, então veste um uniforme laranja brilhante. Um mês atrás eu fiz a ele uma pergunta hipotética sobre ver um policial cometendo um crime. Desenhei uma longa linha reta em meu bloquinho e escrevi do lado esquerdo transeunte
e do outro assassino
.
No meio escrevi vários crimes descendo uma escala. Neste ponto o filho do dono e as garçonetes estavam curiosos sobre o que eu estava fazendo e também observavam. Perguntei a ele onde nesta linha eu devo agir se vir um policial em serviço cometendo um crime
. Ele devolveu a pergunta questionando se eu havia visto algum policial fazer algo, e eu expliquei que era algo puramente hipotético. Ele perguntou novamente, e eu mantive minha posição. Sua resposta vinha devagar. Não friamente calculada, apenas devagar. Como se a ideia fosse suficientemente complicada para nunca haver atingido o limiar de alguma sinapse em seus miolos, inaugurando em seu cérebro uma seção de ligações neurais nunca antes usada.
Pouco me importava qual seria a resposta. Eu não estava aguardando uma resposta de verdade. Estava muito mais interessado em desenhar o quão esperto ele era, e estava claro que ele não era. Hipóteses não eram seu ponto forte.
Ao sentar a meu lado hoje ele inclinou-se para frente com seus cotovelos sobre o balcão, ambas as mãos segurando uma fatia de pão branco coberta de salada de atum. Levantei-me e disse à garçonete que voltaria logo, e ele sequer virou-se para me olhar enquanto eu me movia atrás dele. Com apenas um movimento, que pratiquei por uma semana com a abotoadura de minha bolsa-carteiro, abri a trava de sua arma. Ao mesmo tempo pisei com meu pé direito em sua panturrilha direita, então quando ele começou a virar em minha direção ele começou a deslizar da banqueta escorregadia do café. Ele mal havia conseguido se livrar de seu sanduíche e minha mão já estava firme na coronha de sua Glock 9mm. Com todo o meu peso sobre sua panturrilha ele simplesmente escorregou da banqueta, com os cotovelos ainda apoiados sobre o balcão, voltejando seu torso.
Ele remexeu-se entre as duas banquetas enquanto eu dava um passo para trás, engatilhando. Por reflexo pôs suas mãos em frente ao rosto, enquanto eu dava mais um passo para trás.
O café estava, de repente, em profundo silêncio. O policial, usando técnicas aprendidas em seu treinamento, ordenou-me que abaixasse a arma. Suavemente recusei. Meu rosto sem expressão. Como eu podia explicar a este homem que a alegria que ele tinha em sua vida era o que o mantinha vivo? Como explicar a alguém querendo sobreviver que você está alienado a todas as coisas que o mantém? Fingindo os prazeres e a necessidade de sobrevivência que você testemunha à sua volta.
Não dá.
É uma parte de seus cérebros sentir esse prazer na vida. Há algo neles que forçadamente os leva a querer estar vivo. Eles têm certeza disso, e o veem nos outros. Isto cria um constructo social entre indivíduos. Se ambos queremos viver, ambos evitaremos conflitos entre nós. Infelizmente ele tinha a arma e eu precisava dela para me matar. O contrato social havia sido quebrado.
Conflito.
Porque eu era um freguês, pessoas haviam crescido conectadas a mim. Eu não queria machucar mais ninguém. Eu não queria que a memória de minha morte fosse associada a este lugar. Este era seu local de trabalho, e se eu acabasse com minha vida aqui alguém me limparia deste chão. Duvido que pudessem trabalhar aqui depois disto.
Mantive a arma apontada para baixo, aos pés do policial, que repetia suas palavras de ordem de abaixar a arma. Eu estava quase chorando, impossibilitado de falar, então sussurrei "não quero