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Serpente: Alcateia do Lobo, livro 2
Serpente: Alcateia do Lobo, livro 2
Serpente: Alcateia do Lobo, livro 2
E-book601 páginas10 horas

Serpente: Alcateia do Lobo, livro 2

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Serpente: sequência de O LOBO (A Alcateia do Lobo, livro 2) de Kathryn Le Veque

A filha do Wolfe é tão impetuosa como o próprio Wolfe!

1283 d.C. - Edward I está em meio à sua campanha para domar os galeses mas, sobressaindo-se ao caos, está um cavaleiro galês conhecido como a Serpente. Com um ataque mortal, sir Bhrodi ap Gaerwen de Shera é um guerreiro de enorme alcance e poder. Descendente dos reis de Anglesey por parte de mãe e dos condes de Coventry por parte de pai, Bhrodi está na posição única de ter a realeza galesa e nobreza inglesa, fazendo dele uma peça muito importante na guerra de Edward no País de Gales. O rei inglês não pode subjugar completamente os galeses enquanto Bhrodi resistir e todo o norte do País de Gales ao lado dele. Edward é perspicaz e sabe que precisa estabelecer uma aliança de poder e política com de Shera. Com isso em mente, Edward apela ao mais poderoso guerreiro do norte da Inglaterra, o lendário William de Wolfe, para que prometa uma de suas filhas a de Shera.

William sente-se honrado com o apelo do rei, mas também fica aliviado; tendo perdido um de seus filhos no ano anterior nas guerras do País de Gales, ele compromete a sua filha mais nova, lady Penelope Adalira de Wolfe, em casamento com a Serpente. Mas lady Penelope não é uma mulher comum; criada por cavaleiros, ela foi treinada pelos melhores e, apesar dos protestos de sua mãe, ela luta como um deles. Extraordinariamente bonita, com cabelos escuros e olhos castanhos, ela é uma beleza sublime e um ótimo legado do poderoso de Wolfe. Porém, Penelope não deseja ser negociada como noiva e resiste à ordem oficial do rei; no entanto, a sua relutância é inútil. Ela deve se casar com o galês conhecido como a Serpente, reunindo duas casas poderosas e trazendo paz para duas nações.

Introduzida em um estranho mundo galês de brutalidade e costumes desconhecidos, Penelope e Bhrodi estão, a princípio, resistentes um ao outro; No entanto, Bhrodi fica intrigado com a mulher que se parece com um anjo, mas luta como o próprio demônio. Seus primeiros dias juntos são difíceis mas, à medida que se conhecem, Bhrodi começa a vê-la como uma mulher tão compassiva quanto corajosa. Há muito mais em lady Penelope do que pode parecer. Ele passa a entender que ela é tão especial quanto ele: ambos compreendem o que significa ser leal, corajoso e confiável. Ela compreende o coração de um cavaleiro e ele entende o dela, e uma lendária história de amor começa a se desenrolar.

Junte-se a Bhrodi e Penelope enquanto eles viajam juntos através de um mundo onde os ingleses e os galeses ameaçavam destruir-se um ao outro, onde a ganância dos homens gera um grande ódio, mas também uma grande coragem. Quando Bhrodi é ferido em uma batalha, Penelope o substitui, liderando os homens da Serpente contra os odiados ingleses e percebe que deverá enfrentar o seu próprio pai no campo de batalha.

Penelope sobreviverá a Wolfe? Ou o ataque da Serpente se tornará o seu próprio ataque, conquistando aqueles a quem ama?

IdiomaPortuguês
EditoraBadPress
Data de lançamento18 de dez. de 2018
ISBN9781547562831
Serpente: Alcateia do Lobo, livro 2

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    Pré-visualização do livro

    Serpente - Kathryn Le Veque

    Serpente

    Romance medieval

    Sequência de O Lobo

    de Kathryn Le Veque

    Copyright 2014 por Kathryn Le Veque

    Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser usada ou reproduzida de qualquer maneira, sem permissão por escrito, exceto no caso de breves citações incorporadas em artigos críticos ou resenhas.

    Impresso por Kathryn Le Veque Novels nos Estados Unidos da América

    Texto – copyright 2014 por Kathryn Le Veque

    Capa – copyright 2014 por Kathryn Le Veque

    Ilustração – copyright 2014 por Ellen Tribble

    Número de Controle da Biblioteca do Congresso 2014-010

    ISBN 1497336643

    Nota: Todos os romances de Kathryn foram escritos para serem lidos de forma independente, embora muitos tenham personagens ou grupos familiares que aparecem em outros livros. Os romances agrupados têm personagens ou grupos familiares relacionados. As séries têm características claramente marcantes. Todas as séries têm os mesmos personagens ou grupos familiares, exceto a série American Heroes, que é uma antologia com personagens não relacionados. Não existe uma ordem cronológica particular para nenhum dos romances, porque todos eles podem ser lidos de forma independente, até mesmo as séries.

    Anglesey, 1293 d.C.

    ––––––––

    ––––––––

    Árvores genealógicas das famílias de Wolfe, Hage e Norville

    Próxima geração da Alcateia do Lobo

    ––––––––

    William e Jordan Scott de Wolfe

    Scott, nascido em 1241 (casado com lady Athena de Norville, tem filhos)

    Troy, nascido em.1241 (casado com lady Helene de Norville, tem filhos)

    Patrick, nascido em 1243 (casado com lady Brighton de Favereux, tem filhos)

    James, nascido em 1245 – Morto no País de Gales, em 1282 (casado com lady Rose Hage, tem filhos)

    Katheryn, nascida em 1245 (irmã gêmea de James) - Casada com sir Alec Hage, tem filhos

    Evelyn, nascida em 1248 (casada com sir Hector de Norville, tem filhos)

    Bebê de Wolfe, nascida em 1250, morta no mesmo dia. Batizada como Madeleine.

    Edward, nascido em 1252 (casado com lady Cassiopeia de Norville, tem filhos)

    Thomas, nascido em 1255

    Penelope, nascida em 1263 (casada com Bhrodi de Shera, rei hereditário de Anglesey e conde de Coventry, tem filhos)

    ––––––––

    Kieran e Jemma Scott Hage

    Mary Alys, nascida por volta de 1238 (adotada) casada, tem filhos

    Bebê Hage, nascida em 1241, morreu no mesmo dia. Batizada como Bridget.

    Alec, nascido em 1243 (casado com lady Katheryn de Wolfe, tem filhos)

    Christian, nascido em 1248 (morto na Terra Santa, em 1269), sem filhos

    Moira, nascida em 1251 (casada com sir Apollo de Norville, tem filhos)

    Kevin, nascido em 1255

    Rose, nascida em 1258 (viúva de sir James de Wolfe, tem filhos)

    Nathaniel, nascido em 1260

    ––––––––

    Paris e Caladora Scott de Norville

    Hector, nascido em.1245 (casado com lady Evelyn de Wolfe, tem filhos)

    Apollo, nascido em 1248 (casado com lady Moira Hage, tem filhos)

    Helene, nascida em 1250 (casada com sir Troy de Wolfe, tem filhos)

    Athena, nascida em 1253 (casada com sir Scott de Wolfe, tem filhos)

    Adonis, nascido em 1255

    Cassiopeia, nascida em 1257 (casada com Sir Edward de Wolfe, tem filhos)

    Total de netos do clã de Wolfe/Hage/de Norville: 19 (e continua a aumentar) 

    PRÓLOGO

    Dias de hoje, mês de maio

    Floresta de Pendraeth, Anglesey, País de Gales

    Escavação arqueológica da Universidade da Califórnia em San Marcos, em colaboração com a Universidade de Aberystwyth

    ––––––––

    A floresta era densa de folhagens, úmida no calor do meio do verão. Mesmo tão ao norte, o clima poderia ficar muito quente e a umidade, desagradável.

    A Floresta de Pendraeth era uma reduzida parte das amplas áreas florestais do Reino Unido. A maioria das grandes florestas havia desaparecido devido a inúmeras razões; a poluição, a invasão humana e outros fatores encolheram até mesmo as maiores florestas. Nos dias atuais, a mais lendária das florestas, Sherwood, não era nada mais do que um bosque. Certamente, já não havia lugar para os grandes fora da lei se esconderem. Os tempos mudaram, de fato.

    Naquele dia claro, em meados de agosto, um grupo de estudantes da Universidade da Califórnia em San Marcos estava trabalhando em uma escavação no meio da floresta, perto de Llyn Llwydiarth ou, mais claramente, lago Llwydiarth. Costumava haver um grande pântano em torno dele, mas fora drenado na virada do século anterior, com a finalidade de produzir ricas terras agrícolas. No entanto, uma parte do pântano, mais próxima ao lago, permanecera inalterada até a primavera anterior quando, então, o agricultor que possuía a terra drenou-a para expandir sua plantação de grama para feno. No entanto, quando a água foi drenada e o homem começou a preparar a área, ele encontrou algo que interrompeu imediatamente os seus planos agrícolas. Ele descobriu ossos humanos.

    O fazendeiro chamou a polícia, que chegou e determinou que os ossos eram muito velhos; na verdade, eles suspeitaram que fossem sepulturas da Idade das Trevas e recorreram à Universidade de Aberystwyth porque ela possuía um departamento de arqueologia. A universidade enviou pessoas para verificar e, depois de algumas amostras de testes de carbono, ficou determinado que era, de fato, um local de sepultamento medieval. Os arqueólogos foram chamados e o fazendeiro perdeu uma boa parte de sua área agrícola para os estudiosos.

    O Dr. Bud Becker, o arqueólogo de campo e catedrático em Estudos Medievais da Universidade da Califórnia em San Marcos, estava no local desde junho, quando foi chamado por um colega em Aberystwyth. Todos no campo da arqueologia conheciam a reputação do Dr. Becker, como o principal especialista em arqueologia de campo medieval, de modo que a Universidade de Aberystwyth ficou muito feliz em tê-lo.

    O Dr. Becker trouxera 21 estudantes de arqueologia para um período de verão junto a ele; então, eles tiveram muita ajuda enquanto escavavam o terreno do fazendeiro. Mas, nos últimos tempos, mais e mais o Dr. Becker estava convencido de que aquela área não era um cemitério. Os corpos estavam em partes, faltando cabeças, membros e, de uma forma geral, espalhados em um raio de um quarto de milha. Não parecia com qualquer outra batalha que ele já houvesse visto; mais parecia um massacre. Ele estava realmente confuso, até que descobriram ossos que não correspondiam a nada que do que ele vira antes. Enterrados profundamente na lama da área, em solo de baixa acidez, havia pedaços de um esqueleto que não eram humanos nem pertenceram a um animal conhecido. Ele não sabia do que se tratava; foi por isso, então, que Aberystwyth contratou uma paleontóloga, também da Universidade da Califórnia em San Marcos. Eles não faziam ideia do que tinham em mãos, e o mistério se acentuou.

    A paleontóloga criara sua própria subdivisão na escavação do Dr. Becker. A Dra. Cynthia Paz era uma mulher bonita, com olhos de um azul profundo, pequena, rápida e muito diligente em seu trabalho. Houve momentos, durante a escavação, em que precisaram, literalmente, retirá-la para fora do buraco para que pudessem fechá-lo para a noite. A mulher trabalhava dezoito horas por dia já havia cerca de três semanas, desde que a chamaram. A primeira coisa que fez na sua primeira inspeção dos ossos foi enviar amostras para um laboratório em Londres para análise. Com o que quer que ela estivesse lidando, não estava petrificado como um esqueleto de dinossauro estaria, e não parecia com nada desde o início da era dos homens. O solo pouco ácido preservara tanto os ossos que eles estavam quase flexíveis. Novos em folha, até onde esqueletos antigos pudessem estar. Ela estava tão confusa quanto qualquer outra pessoa.

    Então, ela continuou a cavar enquanto Becker trabalhava ao seu lado. Havia claramente um campo de morte ao redor do então enorme esqueleto, e a idade dos ossos humanos — informação que já havia retornado do laboratório — estava por volta de 1200 a 1338 d.C., período mais próximo que a datação por carbono poderia fornecer, o que claramente os tornava medievais. Portanto, Becker e sua equipe continuaram a escavar os restos humanos e, até aquela manhã, já haviam descoberto quinhentos e onze pedaços de corpos. Não havia um esqueleto completo em todo o grupo. Becker, tendo acabado de desenterrar um crânio que fora esmagado em pedaços, fez uma breve pausa e foi até a tenda, onde tinham água e outros consumíveis. Ele estava prestes a emborcar uma garrafa de Gatorade quando a Dra. Paz apareceu atrás dele.

    — Ei, Bud — disse ela, tirando o seu boné de beisebol e enxugando o suor da testa. — Algo emocionante hoje?

    Becker engoliu o último gole do isotônico de laranja.

    — Mais ossos esmagados — disse ele. — Juro que nunca vi nada parecido em todos os meus anos de arqueologia. É quase como se aqui tivesse sido uma área de despejo para corpos desmembrados.

    — Parece uma grande confusão.

    — Pode crer que sim — concordou Becker. — E também não parece ser uma matança ritualística. É muito desorganizado, o que me faz voltar à teoria de um aterro para corpos humanos. Você já ouviu falar de uma coisa dessas?

    A Dra. Paz sacudiu a cabeça, mas o tempo todo ela olhava para uma longa mesa sobre a qual havia uma enorme variedade de ossos humanos escavados. Os estudantes os estavam limpando e catalogando. Ela parecia bem pouco à vontade, nervosa até, mas Becker não havia notado. Ele estava ocupado demais contemplando o cemitério de corpos desmembrados.

    — Não — disse Paz, limpando a garganta suavemente. — Mas, novamente, esse tipo de coisa não é a minha área de especialização. Na verdade, tenho que lhe dizer que... bem, podemos ir a algum lugar privado e conversar?

    Becker assentiu, seguindo-a para fora da tenda e indo em direção às árvores. Quando a Dra. Paz achou que estavam isolados o suficiente, enfiou a mão no bolso e tirou um pedaço de papel.

    — Recebi este e-mail esta manhã do laboratório em Londres — disse, baixinho. — Você sabe que enviei algumas amostras de ossos daquele esqueleto que você encontrou lá embaixo. Também enviei amostras da terra que estava ao redor dos ossos, caso qualquer material orgânico tivesse permanecido depositado. Meu Deus, nem sei por onde começar isso.

    Bud era todo ouvidos; ele podia ver que ela estava agindo de forma nervosa, o que o preocupava.

    — Por quê? — perguntou ele. — O que o laboratório disse?

    A Dra. Paz olhou para o papel em suas mãos. Então, suspirou profundamente.

    — Os resultados dos testes de datação por carbono colocaram o esqueleto entre 1248 a 1300 d.C. — disse ela. — Eles são claramente medievais. O laboratório também encontrou DNA no solo que estava ao redor dos ossos a partir da decomposição orgânica mas, mais do que isso, eles conseguiram extrair o DNA dos próprios ossos. Aqui está o que responderam quanto às origens do esqueleto.

    Ela entregou o papel para Bud, que o leu atentamente. Quando ele chegou à parte inferior dos resultados, onde o laboratório determinou a composição do DNA, seus olhos se arregalaram.

    — Que diabos? — arfou ele, lendo os resultados novamente. — Um... um...?

    — Saurópode — disse Paz, calmamente. — Eles o classificaram como um saurópode.

    Becker olhou para ela, a confusão desenfreada estampada em sua expressão.

    — O que isso significa?

    A Dra. Paz suspirou profundamente.

    — Significa que eles o classificaram como um dinossauro, mas isso não faz sentido algum, uma vez que os próprios ossos foram datados em carbono como sendo da alta Idade Média. — Ela balançou a cabeça, obviamente confusa. — O que o laboratório basicamente nos diz é que havia um dinossauro vivendo no período medieval. Nunca vi nada assim em toda a minha vida.

    O queixo de Becker estava aberto.

    — Um dinossauro? — repetiu ele. — No País de Gales medieval?

    A Dra. Paz levantou os ombros.

    — Coisas estranhas aconteceram — disse ela. — Talvez tenha sido uma criatura mutante que, de alguma forma, sobreviveu até os tempos modernos. Você sabe, lendas como dragões e serpentes do mar existem há milhares de anos e quem pode dizer que elas não têm base real? É bem possível que um único ramo da família saurópode tenha sobrevivido até a alta Idade Média mas, por fim, acabou morrendo. Talvez a natureza tenha decidido que não havia lugar para ele no mundo moderno; quem sabe? Há sempre lendas, como a do monstro do lago Ness e outras criaturas de lagos. Você ouve esse tipo de coisa o tempo todo.

    Becker não ficou convencido; estava impressionado com a informação em suas mãos e ergueu o papel como se quisesse enfatizar o seu ponto de vista.

    — O monstro de Loch Ness é bobagem e todo mundo sabe disso — disse ele. — Mas bem aqui – neste documento – um laboratório independente está nos dizendo que temos algum tipo de... dinossauro medieval bem aqui no País de Gales!

    A Dra. Paz concordou, acenando com a cabeça, resignada.

    — Eu sei — disse ela. — Meu principal objetivo agora é desenterrar todo o esqueleto e reconstruí-lo. Quero realmente ver como é essa coisa.

    Becker abaixou o papel em sua mão, lutando para pensar com lucidez. Ele estava realmente abismado com a informação.

    — Eu também — concordou ele, respirando fundo enquanto trabalhava para manter a calma. Seu olhar se moveu para a tenda onde os estudantes trabalhavam diligentemente. — Mas, se essa informação for precisa, isso realmente dá um novo rumo à evolução dos trabalhos.

    A Dra. Paz permaneceu pensativa, tentando adotar uma postura técnica sobre notícias tão estranhas.

    — Há muitos descendentes de dinossauros que viveram nos tempos modernos, então isso não é completamente louco — disse ela. — Jacarés, por exemplo. Eles têm ancestrais dinossauros. Também os pássaros. Lembra-se do filme Jurassic Park? Há muitas criaturas que sobreviveram aos períodos Jurássico e Triássico, evoluindo para as criaturas que conhecemos hoje.

    Becker sabia disso e também estava tentando pensar de forma técnica sobre a informação. Ele era um cientista, afinal de contas; então, em sua mente, deveria haver uma explicação lógica.

    — Então, algo assim realmente não está fora de cogitação?

    A Dra. Paz assentiu com seriedade.

    — É totalmente possível, por mais estranho que pareça.

    Becker ponderou sobre aquilo por um momento.

    — Tenho alguns alunos pesquisando sobre as lendas locais, simplesmente porque estou tentando ir a fundo com todos esses corpos — disse ele. — Verei se eles podem encontrar algo sobre monstros ou feras vagando por aqui. Tem que haver algum tipo de lenda local. Uma criatura como essa não teria passado despercebida.

    — Penso exatamente da mesma forma — disse Paz. — Você vai me informar se eles encontrarem algo?

    — É claro — disse Becker, enquanto lhe devolvia o papel. — Vamos manter tudo isso entre nós por enquanto, ok? Não quero que essa notícia saia, pelo menos não por enquanto. Vamos gastar um tempo dos infernos defendendo isso.

    A Dra. Paz concordou.

    — Eu sei — disse ela, e seu olhar se dirigiu para a tenda onde os estudantes de Becker estavam trabalhando. — Mas acho que tenho uma teoria sobre os restos humanos que você coletou.

    Becker olhou para ela com curiosidade.

    — Qual seria?

    A Dra. Paz enfiou a mão no bolso e retirou um longo e fino pedaço de osso. Após uma inspeção mais detalhada, Becker pôde ver que era um canino ou dente mais afiado. Em silêncio, a Dra. Paz fez sinal para que Becker a seguisse de volta até a tenda, onde foi até uma das mesas e levantou um osso de fêmur. Ela olhou para Becker.

    — Você se lembra que me disse que esses corpos pareciam ter sido cortados ou desmembrados por facas ou cinzéis, por causa das marcas nos ossos? — perguntou ela.

    Becker assentiu.

    — Sim — disse ele, olhando para os ossos espalhados sobre a mesa. — Todos os ossos têm essas marcas.

    A Dra. Paz sacudiu a cabeça.

    — Veja isso — disse ela. Então, ela pegou o longo dente e o levou até uma das marcas de corte no osso do fêmur. Ele se encaixava perfeitamente na forma. Quando Becker viu aquilo, seus olhos ameaçaram saltar de seu crânio.

    — Não... — engasgou ele.

    A Dra. Paz assentiu, enquanto olhava para o dente, encaixando-se na marca do corte, como se fosse a última peça de um quebra-cabeça perfeito.

    — Sim — sussurrou ela, em resposta. — Este aqui é um dente daquele esqueleto. E estas aqui são marcas de dentes no osso, não marcas de corte. Os seus corpos não estiveram em uma grande batalha, Bud. Eles foram comidos por aquela fera lá fora.

    Becker não achava que poderia ficar mais surpreso do que já estava. Ele apanhou o fêmur da mão dela, depois o dente, e encaixou os dois perfeitamente.

    — Deus do céu — engasgou ele, espantado. — Então havia sacrifícios humanos para a criatura?

    — Essa é uma explicação tão boa quanto qualquer outra — respondeu Paz.

    Enquanto a mente oprimida do Dr. Becker tentava digerir a informação, uma das alunas da Dra. Paz entrou correndo na tenda.

    — Dra. Paz — chamou a garota, já sem fôlego. — Dr. Becker, vocês dois precisam vir.

    A Dra. Paz já estava a caminho, com Becker em seu encalço.

    — Por quê? — perguntou ela. — O que está errado?

    A aluna balançou a cabeça.

    — Não há nada de errado — disse ela. — Mas estávamos afastando alguma terra, como você nos instruiu, e nos deparamos com algo.

    — O quê?

    A estudante olhou para a Dra. Paz e para o Dr. Becker, com a excitação estampada em seu rosto.

    — Nós pensamos que era um pedaço de madeira ou um tronco, mas não era — disse ela. — Nós nos deparamos com uma espada larga enterrada na terra.

    O Dr. Becker deu um passo à frente.

    — Espada larga? — repetiu ele. — Você tem certeza?

    A garota assentiu, com firmeza.

    — O aço da lâmina está preto, como resultado do solo ácido em que ela permaneceu, mas o cabo ainda está lá. — Um sorriso se espalhou pelo seu rosto. — É de ouro, Dr. Becker. É um cabo medieval, grande e bonito, e parece que há pedras nele. É absolutamente lindo.

    Becker estava realmente curioso agora.

    —Vamos dar uma olhada.

    A garota assentiu e saiu correndo, com o Dr. Becker e a Dra. Paz logo atrás dela. O mistério no pântano estava aumentando.

    ––––––––

    Um cavaleiro, que viajava solitário e cansado,

    Em uma estrada bem próxima cavalgou.

    Nesta estrada, surgiu um espectro desconfiado,

    Que até o cavaleiro avançou.

    — Olhe — disse este —, vejo claramente,

    Que seu coração não está contente.

    — Seja sábio — respondeu o fantasma — e perceba que, de fato,

    Isso tudo não é como você sente.

    Sua estrada é longa e seu caminho está errado.

    Pois você entrou no reino da Serpente.

    ~ Cronista galês do século XVII

    CAPÍTULO UM

    Ano da graça do Senhor de 1283 d.C., mês de abril

    Reinado de Edward I

    Castelo de Questing, Northumberland, Inglaterra

    ––––––––

    — Ela não desapareceu simplesmente, mas aposto que está escondida em algum lugar do castelo. Ai do homem que a encontrar, pois ela não se deixará capturar com facilidade.

    A sombria previsão partiu de um homem mais velho, grande e moreno, com cicatrizes de batalha e um tapa-olho sobre o olho esquerdo que faltava. Ele era idoso, isso era bem verdade, mas o brilho em seu único olho bom era tão jovem e forte quanto jamais estivera. O Lobo do Norte, sir William de Wolfe, olhou para os homens que o cercavam, com expressão marcada pela tensão. Havia sinais de batalha no ar.

    — Verificamos em todos os lugares habituais, pai — informou-o um homem grande e musculoso, com cabelos loiros e olhos castanho-dourados. — Ninguém a encontrará.

    — Ela está em algum lugar — repetiu William, com firmeza. — Sugiro que você esteja fortemente armado enquanto procura. Se bem conheço a minha filha mais nova, e acredito que sim, ela está armada e esperando que alguma alma desafortunada se depare com ela. Ela não quer ser capturada; então, prestem atenção ao meu conselho, ela tem a tendência de atacar; então, se eu fosse vocês, tomaria todas as providências necessárias para me proteger se a encontrasse. Ela vai lutar como uma fera enjaulada.

    O homem louro e musculoso grunhiu, talvez em desaprovação, e olhou para os homens à sua volta; quatro deles eram seus irmãos, incluindo seu irmão gêmeo, e todos eles tinham o mesmo pensamento quando se tratava de sua irmã mais nova, lady Penelope Adalira de Wolfe. Talvez você não devesse tê-la criado como cavaleiro, pai. Ela pode vencer cada um de nós se se decidir a fazê-lo. Todos estavam pensando a mesma coisa, mas ninguém tinha coragem de falar.

    Ninguém se atrevia a dar sermões ao Lobo; fazer isso era um sinal de desrespeito, e todos tinham a maior estima pelo pai. Mas, às vezes, até homens infalíveis apresentavam uma fraqueza; no caso de William, era a sua filha mais nova. Um bebê inesperado que nasceu quando ambos os pais já tinham passado do ápice, ela fora adorada e ridiculamente estragada e, quando demonstrou interesse em imitar os seus irmãos mais velhos, William não teve coragem de dizer ao seu pequeno querubim que ela não podia fazer o que os garotos faziam. Ele o permitira. Quanto mais velha ela ficava, mais teimosa se tornava, e agora ele estava enfrentando os resultados de sua falta de controle paterno. Estava prestes a morder o seu próprio rabo.

    — A culpa é sua, inglês — disse a voz suave de sua mãe, e suas palavras eram impregnadas de um forte sotaque escocês. — Você ensinou Penelope direitinho e agora deve pagar por seus pecados. Ela tem a sua astúcia e não será capturada. Se ela realmente quiser se esconder de você, então é porque você a ensinou bem o suficiente para que ela possa fugir de forma adequada.

    William olhou para a sua esposa, parada na entrada do enorme solário. Iluminada pela luz tênue, ela parecia muito mais jovem do que os seus sessenta e tantos anos.

    — Então, você veio para me repreender? — perguntou ele, meio na defensiva.

    — Vim avisá-lo. Ela não será capturada facilmente.

    William já sabia disso. Tentou manter a paciência com a esposa, mas não conseguiu aguentar a atitude de ‘eu avisei’.

    — Então o que sugere? — perguntou ele.

    Lady Jordan Scott de Wolfe olhou fixamente para o marido, a seu lado havia quase quarenta anos. Ela sabia o que ele estava pensando, assim como ele sabia o que ela estava pensando. Não havia muito em que divergissem, embora Penelope fosse uma dessas coisas. William satisfez o interesse da menina sobre cavaleiros e armas, enquanto Jordan tentava dissuadi-la, sabendo o quão difícil seria para ela assim que crescesse. Ela seria algo estranho em um mundo de homens. Parecia que Jordan estava cada vez mais certa, conforme a situação atual exemplificava. Eles estavam em apuros.

    Entrando no solário, Jordan olhou para o ambiente rico e confortável. Plantado no coração do castelo de Questing, uma enorme fortaleza entranhada nas linhas da fronteira escocesa, como um leão esperando para se alimentar das almas desavisadas dos escoceses, o solário era uma sala que presenciara muito de sua porção de glória e tragédia. As próprias paredes frias de pedra cheiravam a poder e guerra, enquanto o covil do Lobo tecia sua própria teia de intrigas e mistérios.

    — Não procure por ela — disse Jordan, baixinho, puxando sua capa mais firmemente em torno dos ombros delgados, abrigando-se do frio da sala. — Ela é inteligente o suficiente para se esconder de você. Uma armadilha é a melhor coisa para Penelope.

    William ficou intrigado.

    — Uma armadilha?

    Jordan acenou com a cabeça, olhando para os cavaleiros da sala; alguns eram seus filhos, alguns eram filhos de outros cavaleiros mais idosos que estavam com o marido desde que ele era um jovem guerreiro. Ela olhou para os rostos bonitos de seus filhos; Scott, loiro e musculoso, e seu gêmeo Troy, que era moreno como seu pai. Seu olhar caiu sobre Patrick, seu terceiro filho, o maior e mais forte de todos, e depois para Edward e Thomas, homens robustos, experientes mesmo em sua tenra idade. Cinco filhos do poderoso Lobo, todos eles notáveis guerreiros por mérito próprio, mas o sexto filho estava faltando. James fora morto no País de Gales no ano anterior e a dor ainda estava muito recente, pensou ela enquanto olhava para os seus meninos. Ela imaginou o filho ausente, que fora alto e loiro e tinha um sorriso travesso. Tentando superar a dor familiar, seu olhar voltou-se para o marido.

    — Sim — disse ela, finalmente. ─ Você deve atraí-la, se quiser ter alguma chance de capturá-la.

    — Como iremos atraí-la?

    Jordan deu de os ombros, com um brilho nos suaves olhos verdes.

    — Vocês são os gênios militares, inglês — disse ela. — Vou deixar isso para vocês.

    William torceu os lábios, demonstrando irritação para ela, mas a verdade era que ele estava tentando não sorrir.

    — Você não ajuda em nada, mulher — rosnou ele.

    — Você não se casou comigo para ajudá-lo. Casou-se comigo para ter uma hoste de filhos fortes e lhe dizer quando estivesse errado.

    O sorriso de William se abriu.

    — Vou lhe punir severamente por ser tão insolente.

    Jordan bufou, olhando para os meninos, que também estavam sorrindo. Quando ela se virou para a entrada, a porta que dava para o aposento subitamente se fechou, com força suficiente para sacudir a cara armadura que estava amontoada sobre a imensa lareira. Até as prateleiras tremeram. Todos ouviram algo bater contra a porta, um segundo golpe, e William, perplexo, dirigiu-se para a porta e ergueu o velho ferrolho de ferro. Estava travado. Curioso, ele sacudiu a porta como se tentasse abri-la.

    — Quem fechou esta porta? — gritou ele, batendo com o punho nela. — Quem está aí?

    Houve uma breve pausa.

    — Não vou deixar você sair até chegarmos a um acordo, pai!

    Era uma voz decididamente feminina e todos a reconheceram em um instante. Frustrado, embora não surpreso, William olhou para sua esposa.

    — Penelope — sibilou ele. — Foi você que a incentivou a fazer isso?

    A expressão de Jordan era inocente.

    — Agora, por que eu faria isso?

    Ele apontou um dedo para ela.

    — Porque você foi contra a minha decisão desde o início — acusou ele. — Você não me apoiou nem um pouco!

    Jordan estava tentando não abrir um sorriso.

    — Você está louco, inglês — negou ela. — Você sabe que ela é uma moça inteligente. Talvez você não devesse ter reunido a maioria de seus cavaleiros em um dos cômodos. Agora ela os tem presos, todos vocês.

    William franziu o cenho para ela; ele não era do tipo carrancudo, mas a sua esposa o provocara. Ele apontou os seus grandes dedos para os onze cavaleiros da sala.

    — Edward, Thomas — sussurrou ele para os filhos mais jovens, mais magros e ágeis. — Saiam pela janela e contornem o corredor onde ela está. Não a deixem se afastar de vocês, entenderam?

    Os jovens cavaleiros balançaram a cabeça, enquanto se dirigiam até as longas janelas do tipo seteiras que davam para o pátio. Os outros cavaleiros os seguiram e começaram a ajudá-los a retirar a armadura pesada para que pudessem se mover mais livremente.

    — É uma queda de dois andares até o pátio, pai — lembrou Scott a seu pai.

    William o dispensou rapidamente.

    — Então, use a tapeçaria perto da lareira como uma corda — disse ele. — Se o resto de vocês pode passar pelas janelas, então vão com eles.

    Os cavaleiros estavam em ação, quando William voltou sua atenção para a porta.

    — Penelope? — chamou ele docemente, esperando que ela não tivesse ouvido os seus comandos emitidos dentro da sala. — Penelope, meu amor? Por favor, abra a porta. Prometo ser razoável e falar com sabedoria sobre o assunto. Penelope, você está me ouvindo?

    — Pai! — chamou Edward, com o corpo a meio caminho da janela, recusando-se a prosseguir. Ele estava apontando para baixo, para o pátio escuro. — Pai, Penelope está lá embaixo com uma espada!

    William e Jordan correram para as janelas, assim como os outros cavaleiros. Eles podiam ver a jovem mulher na escuridão do pátio, vestida com cota de malha e peças de armadura que tinham sido ajustadas ao seu corpo. Na mão dela havia uma espada larga muito afiada. Quando ela viu todos os rostos olhando para ela, assumiu uma postura defensiva.

    — Venham até aqui, todos vocês — desafiou ela. — Irão se arrepender muito.

    William suspirou profundamente e olhou para a esposa.

    — E agora? — perguntou ele. Ele acenou em direção à porta do solário. — Ela nos deixou presos aqui.

    — Foi porque você facilitou as coisas para ela — repreendeu Jordan, baixinho. — Você acha que ela não iria tirar vantagem disso?

    — Iria, com a mãe dela a aconselhando.

    — Então isso me faria um melhor comandante militar do que você.

    William não conseguia decidir se ria ou se a espancava.

    — Você é tão inteligente — disse ele, sarcástico. — Agora, o que fazemos?

    Jordan não pôde deixar de sorrir; uma mulher pequena, mas brigona, prendera doze homens muito grandes em um pequeno cômodo e os mantinha como reféns. Era uma situação bastante cômica e muito prejudicial para o orgulho masculino. Jordan estava muito orgulhosa de sua filhinha.

    — Talvez você devesse dizer-lhe que ela não precisa se casar com o senhor da guerra com o qual você se comprometeu — disse ela, casualmente. — Talvez então ela os solte. Ela não quer se casar com o homem e, a menos que deseje permanecer como refém pelo resto de sua vida, eu sugeriria que negociasse com ela.

    A frustração de William estava aumentando em relação à sua esposa provocadora. Com um suspiro de raiva, ele empurrou Troy para fora do caminho para poder se aproximar da seteira.

    — Penelope? —chamou ele. — Penelope, meu amor, quero que você me escute com muito cuidado. Vai fazer isso, por favor?

    Penelope não havia se afastado de sua postura defensiva.

    — Já ouvi você, pai. Você sabe o que penso sobre o assunto. Não vou deixar você sair dessa sala até que você me prometa que não preciso ir para o País de Gales.

    A essa altura, a maioria das pessoas do castelo de Questing já havia sido alertada sobre o que estava acontecendo; havia barulho demais na parte leste da fortaleza para que o sigilo da situação fosse mantido. Lady Penelope mantinha seu pai e a maioria de seus cavaleiros mais velhos presos no solário e estava havendo uma gritaria; Penelope, no pátio, e seu pai com a cabeça para fora da janela, dois andares acima. Os homens estavam começando a se aproximar para ver do que se tratava toda aquela gritaria, incluindo o segundo no comando de William, sir Kieran Hage.

    Kieran, mesmo já sendo mais velho, ainda comandava a vigília noturna, todas as noites. O enorme cavaleiro, com penetrantes olhos castanhos, ainda tomava conta na escuridão. Ele estava na muralha, observando os acontecimentos e aproximou-se para ver o que ocorrera; na verdade, seus próprios três filhos estavam naquele solário: Alec, Kevin e Christian. Ele sabia que este era um momento particularmente doloroso para Kevin, na verdade, por ser tão apaixonado por Penelope como era. Ele sabia que o homem estava no solário, torcendo por ela. Resista, Penelope! Resista com todas as suas forças!

    Mas isso não eliminava o fato de que havia um impasse em andamento. Enquanto Kieran saía rapidamente da muralha, William começava a argumentar com uma jovem muito brava.

    — Penelope — começou ele —, você entende o coração de um cavaleiro. Entende o que é lutar e morrer por aquilo em que acredita. Compreende o que faz a Inglaterra ser o que é e quão importante é a lealdade e a fidelidade ao rei. Também entende que a paz é feita de várias maneiras e o método menos violento é através de negociações, tratados e contratos. Dito isto, sei que entende que honra é para você o fato do rei Edward ter pedido que você se tornasse sua emissária da paz.

    Mesmo na escuridão, eles podiam ver a cara feia de Penelope, uma expressão infeliz em seu lindo rosto.

    — Não serei uma emissária da paz — respondeu ela, com firmeza. — O rei já teve o seu tempo no País de Gales e agora quer que eu me sacrifique para o maior senhor de guerra galês, casando-me com o homem.

    — Ele está tentando fazer uma aliança.

    — Ele está tentando me tornar o seu cordeiro de sacrifício!

    William estava lutando para permanecer calmo.

    — Eu sei que você não é tão estúpida — disse ele. — Você sabe quem é Bhrodi de Shera; o homem ainda detém o título hereditário de rei de Anglesey, pelo amor de Deus. Ele descende da realeza galesa por parte de mãe e, por parte de pai, ele detém o título de conde de Coventry. Ele é galês e inglês, meu amor, mas Edward quer fazer valer o sangue inglês, casando-o com a filha de um grande senhor da guerra inglês. O casamento irá aliar as nossas duas famílias, Penelope, e isso garantirá a Edward o controle do norte do País de Gales. Depois daquela derrota desastrosa em Llandeilo no ano passado, quando perdemos o seu irmão e depois da terrível derrota em Moel-y-don alguns meses atrás, o rei está cansado de perder tantos homens. Ele espera que você consiga salvar vidas, casando-se com o homem que detém em seu poder a maior parte do norte de Gales. Você não consegue entender isso?

    A esta altura, Penelope havia se acalmado um pouco, mas ainda estava claramente infeliz.

    — Você coloca muito peso sobre mim, pai — disse ela. — Do modo como fala, parece que, se eu não me casar com o homem, então serei responsável por todas as mortes inglesas resultantes de guerras contínuas. Eu não sou culpada; é o rei. É a ganância dele que mata os homens.

    — Silêncio — sussurrou William. — Você não pode julgar as riquezas do rei. É direito dele expandir as suas posses e, por lei, você está comprometida a cumprir as ordens dele. Qual é a diferença se ele mandar você para o País de Gales para lutar ou se a casar com um senhor da guerra para garantir a paz? De qualquer forma, você estará cumprindo a ordem dele. Se você é um cavaleiro, como muitas vezes jurou ser, então não tem escolha. Deve fazer o que lhe é dito.

    Penelope estava perdendo terreno.

    — Eu prefiro lutar do que casar com um homem com o qual serei obrigada a conviver.

    William deu o golpe de misericórdia.

    — Tudo bem — disse ele, como se concordasse com seus termos. — Então, da próxima vez que houver batalhas no País de Gales, seus irmãos irão lutar. Já perdemos James, mas talvez isso seja apenas o começo. Seria uma verdadeira tragédia ver mais de seus irmãos morrerem em uma batalha que você poderia ter facilmente evitado. Eles farão o seu dever e lutarão pelo rei; você cumprirá o seu dever e se casará, em nome da paz, para que eles não tenham que morrer?

    Penelope manteve o olhar por mais um momento, antes de abaixar a cabeça. Mas, ao abaixá-la, percebeu um movimento pelo canto do olho. Tão rápida quanto um gato, ela pulou para trás e ergueu sua larga espada, mas não foi rápida o suficiente; Kieran viera por trás dela e agora a segurava em um forte abraço de urso. Os braços dela estavam presos por seu aperto de ferro e ela mal conseguia se mexer.

    — Tio Kieran! — grunhiu ela, lutando contra ele. — Deixe-me ir!

    Kieran a abraçava com força; estava preocupado com o que aconteceria a ele se perdesse o controle. Penelope poderia lutar tão bem quanto qualquer homem.

    — Na hora certa — disse ele, calmamente. — Solte a espada.

    — Não!

    — Largue isso ou irá se arrepender muito.

    Penelope começou a chutar e a se contorcer, mas Kieran era tão grande que ela realmente não tinha chance contra ele. De repente, ela começou a se contrair e espasmar. Os uivos dela encheram o ar.

    — Não! — gritou ela. — Não se atreva a fazer isso!

    Kieran estava rindo baixinho; os dedos de sua mão direita estavam do lado esquerdo do tórax dela, em uma costura onde a cota de malha se abria, e ele fazia cócegas nela sem piedade, enquanto ela gritava. A espada caiu no chão e ela começou a implorar por misericórdia, enquanto os criados conseguiam consertar a tranca danificada da porta que mantinha William e seus cavaleiros entrincheirados dentro do solário.

    Quando a porta se abriu, todos os cavaleiros saíram, exceto William. Ele permaneceu junto à janela, com sua esposa, observando Kieran fazer cócegas em Penelope até ela ficar ofegante por falta de ar. Ela fora capturada, isso era certo, mas ele sabia que não seria a última rebelião. Ela era teimosa demais. Ele sabia que o melhor plano de ação seria levá-la ao País de Gales o mais rápido possível. Lá, ela se casaria com o senhor da guerra galês que era o homem mais poderoso de todo o País de Gales, se não de toda a Inglaterra. O homem tinha terras e riqueza além dos sonhos mais loucos. Também tinha a reputação de ser um demônio.

    William conhecera muitos senhores de guerra poderosos em sua vida. De fato, ele era um dos mais poderosos do norte da Inglaterra; o Lobo era lendário. Mas sir Bhrodi ap Gaerwen de Shera estava além da condição de William. O homem tinha a realeza galesa por parte de mãe e a nobreza inglesa por parte de pai; lutara pelos galeses quando lhe foi conveniente, e pelos ingleses, da mesma forma. Sua lealdade era para com ele e ninguém mais.

    Era esperança do rei Edward que, fazendo-o se casar com a filha de um lendário senhor da guerra inglês, estaria assegurando a lealdade de de Shera à Inglaterra de forma permanente. Assegurando a lealdade do homem conhecido em todo o reino como ‘A Serpente’, e por uma boa razão.

    O seu ataque era mortal.

    ––––––––

    CAPÍTULO DOIS

    Castelo Rhydilian, mês de maio

    Ilha de Anglesey, País de Gales

    ––––––––

    — Eles estão a caminho. — Um enorme cavaleiro de cabelo preto desgrenhado entrou no imenso salão, trazendo a grande notícia. — Na verdade, eles já estão no País de Gales.

    Sua declaração não pareceu ter muito impacto nos ocupantes. Quatro pares de olhos olharam para ele, a partir de diferentes posições ao redor do grande poço aberto no centro do aposento. A fumaça do fogo existente no poço criava uma espécie de neblina, principalmente por causa da tempestade do lado de fora. Os ventos impediam que a fumaça escapasse pelos buracos do telhado de palha. A chuva escorria pelo telhado, atingindo as brasas brilhantes com um assobio agudo.

    O clima da sala era escuro e sombrio, como de costume. Havia mais de dois anos que não existia qualquer leveza na sala, desde que ‘ela’ morrera. Ninguém era autorizado a falar o nome dela; então, referiam-se apenas como ‘ela’. E foi assim, com as memórias ‘dela’ há muito sendo forçadas para as sombras. Era do jeito que o amo deles queria.

    Quando as palavras anunciadas se desvaneceram na escuridão enfumaçada do salão, um homem sentado perto do fogo, com uma espada na mão e cuidadosamente afiando-a com uma pedra-pomes, finalmente respondeu.

    — Como você sabe disso? — perguntou ele, com voz grave e melódica, enquanto continuava a correr a pedra sobre a borda da lâmina. — Recebemos alguma mensagem?

    O cavalheiro com o cabelo desgrenhado assentiu.

    — De fato, meu senhor — respondeu ele. — A mensagem chegou. De Wolfe aceitou a proposta de Edward e está a caminho com a sua noiva.

    O homem que afiava a espada parou, inseguro. Seus olhos, da cor das esmeraldas, pareciam cintilar, mudar de cor, antes de voltá-los para a lâmina. Ele voltou a afiá-la.

    — Por que ele veio? — perguntou ele, calmo. — Ainda não aceitei a proposta de Edward. Eles pensam em forçar-me a casar com uma inglesa, então?

    O cavaleiro desgrenhado olhou para a cabeça abaixada de seu amo; sir Bhrodi ap Gaerwen de Shera era um homem frio na maioria das situações, e agia ainda mais friamente quando as circunstâncias se agravavam e se tornavam mais violentas. Mas o homem era conhecido por ser temperamental, com esporádicas e lendárias explosões, conhecidas por seus resultados terríveis, se não mortais. Levava-se muito tempo para provocar o homem conhecido como Serpente, mas quando a Serpente atacava, devastava tudo o que tocava. Até os homens ao redor do fogo observavam de Shera, esperando. Foi um momento tenso, até assimilarem o significado da mensagem.

    — O mensageiro do Wolfe está no pátio — respondeu Ivor ap Bando, com firmeza. — Eu o fiz esperar enquanto lhe trazia a informação que ele portava. Você o receberia agora, meu senhor?

    Bhrodi continuou esfregando a pedra na borda da lâmina, friamente, mas a sua mente brilhante estava trabalhando com firmeza. Eles estavam a caminho. Sentia-se levemente irritado, isso era verdade, mas também havia curiosidade em sua reação. Uma filha do lendário Wolfe logo estaria à sua porta. Se ele fosse considerar uma noiva inglesa, seria apenas da família de um grande guerreiro. Edward o conhecia bem; o homem estava bem ciente dos requisitos do inimigo. Ele conhecia o seu adversário e agiu de acordo. Nenhuma mulher, exceto uma do lendário sangue guerreiro, seria aceitável. Agora, o Wolfe chegara ao País de Gales.

    Direto para o covil da Serpente.

    Bhrodi continuou afiando a lâmina.

    — É um momento perigoso para realizar a viagem — disse ele, olhando para o aço afiado. — A lua cheia não é o melhor momento para vir a estas partes.

    Ivor assentiu.

    — Percebo, meu senhor — disse ele. — O mensageiro diz que eles devem chegar amanhã de manhã. Talvez o senhor devesse...

    Ele foi cortado pela batida de uma porta. Foi estalo alto, um som brutal nas profundezas do salão escuro, mas ninguém parecia particularmente

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