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História Oral e Educação não Formal: O Patrimônio Cultural nas Fazendas Históricas Paulistas
História Oral e Educação não Formal: O Patrimônio Cultural nas Fazendas Históricas Paulistas
História Oral e Educação não Formal: O Patrimônio Cultural nas Fazendas Históricas Paulistas
E-book355 páginas4 horas

História Oral e Educação não Formal: O Patrimônio Cultural nas Fazendas Históricas Paulistas

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Sobre este e-book

Este livro apresenta uma conversa com a Educação, o Turismo e o Patrimônio, aproximando e indisciplinando campos de conhecimento e somando contribuições para se pensar o fazer pesquisa na Educação para além do campo escolar/formal, bem como para se pensar as ações e os processos educativos nos quais tomamos parte, em que o ensino não é o mote ou o foco, mas sim o aprender. E o aprender em diferentes contextos, no encontro com as gerações, com os grupos humanos e os não humanos, com a cultura e a natureza, com a arquitetura de concreto e cal, bem como a arquitetura da terra, da água, do fogo e do ar.

Nesta leitura encontra-se o conceito de Educação não formal, tão problemático na sua terminologia negativa quanto potencial no que não delimita e não conforma dentro de suas fronteiras, transbordando para além da convencionalidade do manejo no contexto da cidade, ampliando-o para o contexto rural e para as problemáticas advindas dele.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento13 de mar. de 2020
ISBN9788547321697
História Oral e Educação não Formal: O Patrimônio Cultural nas Fazendas Históricas Paulistas

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    História Oral e Educação não Formal - Lívia Morais Garcia Lima

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    Editora Appris Ltda.

    1ª Edição - Copyright© 2018 dos autores

    Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.

    Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.

    Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores.

    Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.

    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS SOCIAIS

    AGRADECIMENTOS

    Agradeço todas as pessoas que direta ou indiretamente fizeram parte deste trabalho e desses quatro anos e meio de pesquisa. Assim, sinto que a presente pesquisa neste livro não é só minha, mas a realização com muitos parceiros e parceiras.

    Às pessoas que ajudaram na condução desta pesquisa e na construção da tese de doutorado: minha orientadora Dra. Olga Rodrigues de Moraes von Simson, por sua generosidade e disponibilidade ao longo dessa caminhada. Ao Prof. Dr. Victor Ventosa, por sua atenção e cuidado ao longo de minha estadia na Espanha, durante o estágio de pesquisa. Aos professores que participaram da banca de Qualificação e Defesa, Dr. Eduardo Romero, Dr. Marcos Tognon, Dr. Ricardo Santhiago e às professoras e amigas queridas, Dra. Renata Sieiro e Dra. Juliana Rodrigues, por suas leituras atentas e pelas importantes contribuições.

    À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), pela bolsa de estudo concedida, imprescindível para a realização da pesquisa no Brasil e na Espanha.

    A todos que me receberam para a pesquisa de campo e, posteriormente, dispuseram-se a dar as entrevistas. Em especial, à Maria José Ribeiro, a Zezé (em memória), por me acolher durante os seis anos e meio de pesquisa em sua fazenda, a Fazenda Quilombo em Limeira-SP, com tanta generosidade e carinho.

    Aos meus familiares: minha querida irmã, Beatris, agradeço nossa cumplicidade, amor e vida compartilhada! Aos meus pais, Cecília e Dimas, pelo porto seguro e por me ensinarem que a luta é mesmo comigo! Obrigada! Aos tios e primos, que estão sempre na torcida, alegrando cada encontro da família. Às minhas avós, Lola e Madalena, por todo o carinho e orações que me protegem sempre.

    Ao Bloco do Cupinzeiro, lugar que aprendo a ser feliz todo ensaio, toda apresentação, todo carnaval! Aos amigos queridos que com ele vieram de presente, em especial: Ana Caldas, Anabela, Brisa, Cassi, Luana, Lili, Hidalgo, Edu de Maria, Cora, Julio, Lud, Edu Fiorussi, Naná, Érika, Fabricio, Ésio, Tiche, Bia, João Casimiro, Forma e ao mestre Edu Guimarães. Aos amigos queridos: Valéria, Daltro, Júlio Amstalden, obrigada pela companhia e alegrias compartilhadas!

    Em especial ao Fred Trivellato, por sua profunda amizade e afeto ao longo de nossa caminhada juntos.

    PREFÁCIO

    O que pode a pesquisa em Educação não formal, Turismo e História Oral: carta a uma pesquisadora

    fios.jpg

    Fonte: Entrefios Renata Sieiro Fernandes, 2005.

    Cara Lívia,

    Escrevo para a amiga, a pesquisadora, a colega de trabalho?

    Escrevo-te pensando na ideia da viagem que aparece em muitos pontos de sua tese que acabo de ler. Estar em viagem é estar em movimento, em trânsito e deslocamento. É colocar-se com curiosidade e abertura para o que pode ser visto e escutado. É deixar-se atravessar, pelos sentidos, pelo que de experiência possa nos acontecer.

    Seja essa viagem pelo espaço geográfico e pelo tempo cronológico ou pelos lugares apresentados pela escrita e pela memória e pelo tempo que foge ao sequencial, linear, ante ou pré-visto, é como andar sob um fio estendido longe do chão firme, (des)equilibrando-se e (re)conhecendo-se em asas como também em raízes.

    É tentar lidar com o voo, o salto, a queda naquilo que em nós e nos outros é desconhecido e, portanto, passível de ser apreendido e reinventado. Assim nos constituímos e assim damos modos de existência ao mundo. Formamo-nos e produzimos cultura.

    Nas palavras de Mia Couto, no livro E se Obama fosse africano?, a viagem obriga-nos a sermos outros, a descentrarmo-nos, a deslocarmo-nos para fora de nós. A viagem implica a disponibilidade para nos diluirmos, a vontade de sermos apropriados por outras almas.

    Estar em viagem é encontrar outros modos de ser, de ler, de escrever, de escutar, de agir, de entender, de significar, de construir pensamentos.

    Ler-te aos poucos, enquanto você estava na sua viagem de longa estadia em Salamanca, ler-te em seu processo de Qualificação e ler-te na versão finalizada de sua tese e batizada de Turismo cultural e educação não formal em fazendas históricas paulistas: uma abordagem inovadora no campo do patrimônio histórico cultural é encontrar-se nesse lugar da abertura e do aprender.

    Conversar a distância via Skype, por e-mail sobre as experiências pelas quais você passava, de perto após as suas viagens para o interior de São Paulo nas três fazendas históricas, a Quilombo, em Limeira, a Santo Antônio da Água Limpa, em Mococa, a Fazenda Bela Vista, em Dourado, é adentrar temporalidades que alimentam o imaginário de sons, de cheiros, de imagens, de desejos, de projeções de alguém que, como eu, cresceu na metrópole, mas sempre manteve os dois pés na serra, no campo, na zona rural, em meio a cogumelos, insetos, paineiras, saruês e lagartos.

    Escrevo-te esta carta sentada em frente ao computador, com a janela aberta para o jardim em que impera um ipê branco que libera suas flores pela segunda vez em dois meses. E enquanto te escrevo, volto a sua pesquisa de doutorado que conversa com a Educação, o Turismo e o Patrimônio, aproximando e indisciplinando campos de conhecimento e somando contribuições para se pensar o fazer pesquisa na Educação para além do campo escolar/formal, bem como para se pensar as ações e processos educativos nos quais tomamos parte, em que o ensino não é o mote ou o foco, mas sim o aprender. E o aprender em diferentes contextos, no encontro com as gerações, com os grupos humanos e os não humanos, com a cultura e a natureza, com a arquitetura de concreto e cal bem como a arquitetura da terra, água, fogo e ar.

    Nesta leitura, encontro o conceito de Educação não formal, tão problemático na sua terminologia negativa, quanto potencial no que não delimita e não conforma dentro de suas fronteiras, transbordando para além da convencionalidade do manejo no contexto da cidade, ampliando-o para o contexto rural e para as problemáticas advindas dele.

    Também encontro a construção e a constituição do campo da Educação não formal no que toca ao referencial teórico produzido em terras brasileiras, a partir de especificidades e peculiaridades deste País, na periferia do capitalismo, tão desigual economicamente quanto diverso e múltiplo em culturas. E esse ponto há que ser enfatizado, pois que ao lado de autores precursores norte-americanos, como Brennan, Brembeck, Coombs, Pastor Holms, Rogers e, na sequência, europeus, especialmente localizados na Espanha, como Trilla, Ventosa e, em Portugal, como Afonso e Palhares, aparecem sem hierarquia de importância e valor, Lima, von Simson, Park, Garcia, Fernandes, dentre outros.

    Destas, três ou quatro de nós, mulheres, apresentadas ao campo da Educação não formal bem como ao da História Oral como metodologia e campo do conhecimento, pela ex-orientadora, professora e pesquisadora da cultura, do carnaval e do samba, Olga von Simson. Nessa relação que se inicia e perdura e que nos perpassa e constela, encontramo-nos neste lugar de menoridade, de margem, de periferia ao que, socialmente, é tido como centro, como instituído, com maior visibilidade e força. Nesse lugar da menoridade ou do pequeno, como diz Ricardo Santhiago, é que se concentra a potência de inaugurar o possível e o risco e de existir como resistência.

    Nesse lugar produzimos, nesse lugar criamos, nesse lugar caminhamos outra vez pelo fio do equilibrista.

    E por estarmos nesse lugar, esforçamo-nos para ouvir as vozes e conhecer o que pensam e fazem aqueles sujeitos ordinários, como diz Michel de Certeau, no cotidiano da vida, muitas vezes habitantes do mundo da oralidade, com baixo poder aquisitivo, trabalhando em condições subalternas, na informalidade, produtores de cultura nos morros, nos becos, nas lajes, na beira de rios, que poetizam e enfrentam a crueza da vida, como lembra o poeta Sergio Vaz, viver dói, o resto é poesia; que fazem festa ao lado dos infortúnios e infelicidades, já que [...] não se samba porque a vida é mole; mas porque é dura pra dedéu, assim escreve Luiz Antonio Simas.

    Isso e muito mais tentamos aprender com a História Oral, estudando-a e praticando-a.

    Cá estamos e seu trabalho de pesquisa insere-se nisso, bem como na visibilidade e na validação de um campo da Educação, a não formal, ainda pouco estudado e de difícil entrada nos meios acadêmicos. Sendo árdua essa tarefa, sua pesquisa junta-se a esse esforço de tentar contribuir com o que melhor puder para a não paralisação do conhecimento e para o preenchimento de lacunas a partir de recortes da complexidade do real.

    A viagem não termina com a leitura, assim como aquela não termina quando se volta a casa. Ainda que as reverberações e repercussões não possam ser de pronto expressas e legíveis, algo pode ser evocado e redigido e foi essa a tarefa a que me detive nesta folha de papel. Mas também foi a arriscada ou ousada criação sensível que abre esta correspondência.

    Desejo vida longa a seu trabalho de pesquisa e de docência e voos livres para este texto oriundo de sua investigação. Que ele possa chegar, sob a via de livro impresso, a outros horizontes, olhares, escutas e que possa instigar, provocar, inspirar e motivar todas e todos e que se interessam e comprometem-se com o conhecimento e com a transformação deste mundo em um lugar melhor para se viver e se relacionar.

    Abraços afetuosos e sigamos juntas.

    Primavera

    Outubro de 2017

    Professora doutora Renata Sieiro Fernandes

    Docente do Programa de Pós-Graduação em Educação do Centro Universitário Salesiano de São Paulo – Unisal

    APRESENTAÇÃO

    Meus questionamentos e percepções sempre se atrelaram às seguintes questões: podemos considerar o turismo, como uma forma de educação? E a viagem? O homem, ao viajar, parte em busca do outro? A Educação produz-se no encontro?

    As respostas para as seguintes questões levam-nos a muitas reflexões, uma delas é a viagem como símbolo humano, reconhecido universalmente e outras questões que minha própria história de vida me conta, tanto como pesquisadora, mas também como turista. É necessário, assim, reconceitualizar a noção de turismo como uma característica fundamental do homem contemporâneo. A viagem propicia, igualmente, ocasiões de contato humano que outras formas de aprendizagem não possibilitam, e se há envolvimento, este pode levar à curiosidade, ao desejo de saber e ao prazer. Ela permite também destruir preconceitos, aumentando nossa sensibilidade e inspiração em relação ao outro, antropologicamente falando.

    Foi dessa forma, nesse diálogo constante, fundamental na experiência da viagem, que surge o grande motor educacional, também no encontro com o outro e numa experimentação contínua. Quando digo o outro, estou referindo-me aos meus depoentes de pesquisa que, ao longo de minha carreira acadêmica, muitas vezes me mostraram o verdadeiro valor de coisas simples da vida, quando nos dedicamos a escutá-los e cujo fruto resultou neste livro.

    Minha aposta nesta escrita dá-se certamente pela abordagem da questão que sempre me interessou e encantou: o turismo como fenômeno social, cultural e educacional, que, por fim, contribui para a valorização do Patrimônio Cultural Rural Paulista, entendido de modo mais aprofundado, incorporando inclusive os bens materiais móveis e os bens imateriais, nesse processo educacional não formal realizado em espaço rural, dentro de uma visão de educação permanente.

    A autora

    LISTA DE ABREVIATURAS E/OU SIGLAS

    Sumário

    Capítulo 1

    Introduzindo a proposta de pesquisa que coloca em diálogo os campos da educação e do turismo

    Capítulo 2

    A História Oral como metodologia de pesquisa no estudo da intersecção entre educação e turismo

    2.1. Fazenda Quilombo, Limeira-SP

    2.2. Fazenda Santo Antônio da Água Limpa, Mococa-SP

    2.3. Fazenda Bela Vista/Dourado-SP

    2.4. Organização e análise de dados orais e visuais buscando a

    complementariedade na construção da informação.

    Capítulo 3

    Educação e os novos âmbitos no campo da educação não formal: animação sociocultural e animação turística

    3.1. Animação sociocultural

    3.2. Animação turística

    3.3. Fase adulta e velhice: diálogos com a Animação Turística

    3.3.1. Fase adulta

    3.3.2. Velhice

    Capítulo 4

    A produção teórica e o campo empírico no âmbito da educação não formal e da animação sociocultural em Portugal e Espanha: o enfoque de quatro autores

    Capítulo 5

    Turismo Cultural e Patrimônio: a Educação Patrimonial e a Animação Sociocultural no campo da educação não formal no Brasil

    5.1. Turismo e suas tipologias

    5.2. Turismo cultural e animação turística

    Considerações Finais

    REFERÊNCIAS

    Capítulo 1

    Introduzindo a proposta de pesquisa que coloca em diálogo os campos da educação e do turismo

    Creio que uma possível função de pesquisa hoje é, uma vez mais, colocar a questão de identidade num plano social e interpessoal, e ajudar-nos a reconhecer a nós próprios no que nos faz semelhantes embora diferentes dos outros. (PORTELLI, 1997, p. 23).

    Minha formação original é como bacharel em Turismo pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e sempre busquei compreender o Turismo como um complexo fenômeno que estabelece estreita interface com o lazer, o tempo livre, a hospitalidade, a gastronomia, a recreação, a mobilidade, o meio ambiente, mas, principalmente, com a cultura e a educação.

    Assim, sou, profissionalmente, alguém que fez a migração do Turismo para a Educação. Tal mudança significou uma efetiva transformação de campo, mas também uma mudança de abordagem da questão que sempre me interessou e encantou: o Turismo como fenômeno social, cultural e educacional.

    A educação não é só um ato intrinsecamente cultural, mas é também um processo de imersão nas dimensões expressivas da cultura e de construção de afinidades/disposições culturais múltiplas. A educação, melhor seria conjuga-la (sic) no plural [...] será tanto mais significativa quanto mais contextualizada for; e esta (sic) contextualização só será possível por intermédio da apropriação dos signos e significados culturais, que ocorre no decurso do quotidiano e tendo o sujeito como ator central neste (sic) processo. (PALHARES, 2012, p. 1).

    A relação entre Turismo, Cultura e Educação sempre esteve no âmbito de minhas reflexões, desde minhas primeiras pesquisas e estágios durante a graduação. A professora emérita da Universidade de São Paulo e pesquisadora, Maria Isaura Pereira de Queiroz (1999), chama-nos a atenção ao ressaltar o envolvimento do pesquisador com o seu tema de pesquisa:

    A concentração do interesse do pesquisador em determinados problemas, a perspectiva em que se coloca para formulá-los, a escolha dos instrumentos de coleta e análise do material não são nunca fortuitos; todo estudioso está sempre engajado nas questões que lhe atraíram a atenção, está sempre engajado de forma profunda e muitas vezes inconsciente, naquilo que executa. (p. 13).

    Questionamentos e percepções sempre se atrelaram à seguinte questão: podemos considerar o Turismo como uma forma de educação? E a viagem? O homem ao viajar parte em busca do outro? A Educação produz-se no encontro?

    As respostas para essas questões levam-nos a muitas reflexões. Uma delas é a viagem como símbolo humano, reconhecido universalmente e outras questões que minha própria história de vida me conta, tanto como pesquisadora, mas também como turista. É necessário, assim, reconceitualizar a noção de turismo como uma característica fundamental do homem contemporâneo.

    A viagem propicia, igualmente, ocasiões de contato humano que outras formas de aprendizagem não possibilitam e se há envolvimento, este pode levar à curiosidade, ao desejo de saber e ao prazer. Ela permite também destruir preconceitos, aumentando nossa sensibilidade e inspiração em relação ao outro, antropologicamente falando.

    Em seu livro O Turista Aprendiz, Mário de Andrade (1976) inaugura a discussão sobre o patrimônio imaterial, registrando riquíssima diversidade do patrimônio intangível no Brasil, como também nos fala sobre o viajante em nosso País, ao registrar os contatos que manteve com os grandes mestres da cultura popular por meio da observação da vida do povo ao realizar sua viagem pelo nordeste do Brasil, também como turista. A aprendizagem do viajante faz-se do mesmo modo, num constante diálogo com a paisagem, a cultura, as pessoas. Confrontado com o outro, imerso nessa mesma alteridade, o viajante compara-se constantemente com o que vê, assim descobrindo semelhanças e diferenças (FREITAS, 2012, p. 11).

    E é nesse diálogo constante, fundamental na experiência da viagem, que surge o grande motor educacional, também no encontro com o outro e numa experimentação contínua. Quando digo o outro, estou me referindo aos meus depoentes de pesquisa que ao longo de minha carreira acadêmica muitas vezes me mostraram o verdadeiro valor de coisas simples da vida, quando nos dedicamos a escutá-los. Sobre a experiência da viagem, Trigo (2013) afirma:

    Uma viagem é uma ruptura do cotidiano, e ao mesmo tempo, um encontro com nossas expectativas e nossos desejos. Ao nos perdemos no insólito, como estrangeiros, estranhos numa terra estranha, talvez busquemos sentidos e significados em nosso próprio passado, na experiência de vida construída a partir do lugar onde nascemos e começamos a entender a vida e suas coisas misteriosas e fascinantes. (p. 22).

    Meu primeiro contato com o outro foi ao final do ano de 2004, em minha primeira pesquisa de iniciação científica durante a graduação, orientada pelo professor Doutor Eduardo Romero, que focalizou a Festa do Saci, realizada no município de São Luís do Paraitinga-SP. Nessa pesquisa tive o primeiro contato com a metodologia da história oral ao entrevistar moradores do município e turistas que frequentavam a festa. O objetivo geral foi recuperar o modo de fabricar os brinquedos utilizados durante a festa: sua técnica, a origem desse aprendizado e as referências lúdicas (mitos, contos) ou pessoais (brinquedos de infância). Ao entrevistar os turistas procurei entender o sentido dos brinquedos para os turistas não apenas sua motivação imediata (lembrança da festa), mas também se havia referências pessoais (suas próprias imagens de brinquedos de infância). Desse modo, também iniciei meus estudos com o patrimônio, sendo ele material e imaterial (brinquedos, contos, mitos, festas).

    Em 2005, por meio de um convênio firmado pelo professor Doutor Eduardo Romero, entre a Unesp e o Museu de Arqueologia e Etnologia – MAE, da Universidade de São Paulo, realizei meu primeiro estágio durante a graduação na seção técnica de educação para o patrimônio (STEP), do referido museu.

    O objetivo do estágio foi mediar a relação dos visitantes com o rico acervo do museu, cuja representatividade abrange diversas sociedades humanas e reflete as pesquisas realizadas nas áreas de arqueologia, etnologia e museologia. Apesar de os programas educativos do museu oferecerem ações voltadas para os públicos escolar e espontâneo, além de ações inclusivas e ações extramuros, acompanhei as atividades de educação patrimonial especificamente voltadas para o público idoso. O foco do programa era a cultura material, como fonte reveladora de aspectos culturais de diferentes sociedades no contexto brasileiro, por meio das oficinas relacionadas à arqueologia eàmemória, dentro do Programa Universidade aberta à Terceira Idade, da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da Universidade de São Paulo. Dessa forma, fui me interessando pela área da Museologia e cada vez mais pelo Turismo Cultural, relacionado à Educação.

    No ano de 2006 fui convidada pelo professor doutor Eduardo Romero para participar de um estágio num convênio surgido da parceria entre a Unesp, a Fundação de Energia e Saneamento e a Companhia Energética de São Paulo (Cesp) para a implantação de um Museu de Memória Regional, como forma de obra compensatória pelos impactos ambientais e culturais causados pela construção da Usina Hidrelétrica Sérgio Motta, localizada no município de Rosana-SP.

    O estágio tinha como finalidade coletar relatos de história de vida de habitantes às margens do Rio Paraná em

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