Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

A Poética de Lee-Li Yang
A Poética de Lee-Li Yang
A Poética de Lee-Li Yang
E-book164 páginas1 hora

A Poética de Lee-Li Yang

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

A saudade baila entre os versos de Lee-Li Yang, heterônimo feminino do moçambicano Virgílio de Lemos. Apaixonada por Duarte Galvão, também heterônimo do escritor, seu canto parece estabelecer-se em uma relação entre carta e poema, foco do presente estudo. Dessa forma, em um contexto em que a voz feminina ainda era abafada, o livro Mar de mim: coração de gozo, de 1952, será estudado de modo que se analisem elementos diversos que permeiam a saudade, a busca de uma autonomia de seu próprio corpo, um erotismo metapoético e tantos outros que se tecem e interpenetram nessas palavras de amor e dor. Por fim, mais do que um corpo em tensão amorosa e sexual, as implicações políticas e estéticas também serão abordadas em diálogo com a sua própria cosmovisão poética.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento31 de jul. de 2020
ISBN9788547345556
A Poética de Lee-Li Yang

Relacionado a A Poética de Lee-Li Yang

Ebooks relacionados

Linguística para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Avaliações de A Poética de Lee-Li Yang

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    A Poética de Lee-Li Yang - Camila de Toledo Piza Costa Machado

    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO LINGUAGEM E LITERATURA

    Para quem (ainda é) saudade.

    Este livro é para ti.

    Vivendo na ausência que todo este amor me deixou.

    PREFÁCIO

    As cartas erram

    Amores serão sempre amáveis. Das verdades que a poesia nos oferta, talvez seja este um de seus ensinamentos mais poderosos: a potência dos afetos esgarça os limites do tempo e fratura a geometria dos espaços para sustentar o verbo em sua prodigalidade, para renová-lo em significações e leituras diversas, para fazê-lo um corpo ininterruptamente vivo. São estes o prazer primeiro e a impressão mais funda que a leitura de a poética de Lee-Li Yang, de Camila de Toledo Piza Costa Machado, causa-nos: a origem acadêmica do texto, bem como seus padrões pretensamente preestabelecidos, não é capaz de cercear o ímpeto passional de uma brilhante leitora de poesia. Continuamente flagrada em ato de amor por seu objeto de estudo, é a autora quem, em um exercício crítico tão preciso quanto confessional, aos poucos se desnuda, revelando as fímbrias de uma poética que não se desvencilha da eterna amabilidade de quem se propôs a lê-la.

    Se esse processo de simbiose entre texto e autoria se dá, de modo mais claro, pela escolha das epígrafes, dos títulos e das corretíssimas referências bibliográficas, é na voz de Machado que tal encontro se evidencia mais feliz – isso se justifica, em parte, pelo flagrante vínculo que a une à poesia de Lee-Li Yang e ao recorte temático encetado. Ao se propor a investigar as relações literárias entre gêneros textuais aparentemente distanciados, o poema e a carta, Camila põe em cena a heteronímia feminina do moçambicano Virgílio de Lemos, espécie de Lilith proscrita para quem o desejo é, fundamentalmente, uma solidão e um motivo: Acontece que na tua ausência / o mar é quem sonha / em mim. Terreno propenso ao acolhimento de contrários, defende a autora ser a literatura virgiliana o meio pelo qual os silêncios ganham forma e métrica – a palavra e o verso – e a comunicabilidade epistolar forja uma consentida transgressão, posto que, intimamente, abraça rupturas, vazios e velamentos.

    Tal conclusão teórica se solidifica por intermédio de um rigoroso processo de análise. Nesse sentido, a contextualização da poesia moçambicana e a apresentação da poesia de Virgílio de Lemos, feitas a priori, são o escopo necessário para as discussões que por fim se desenredam: a dissolução heteronímica do sujeito poético, as relações estabelecidas entre essas instâncias enunciativas e o estudo aprofundado de Mar de mim: coração de gozo, única obra publicada exclusivamente por Lee-Li Yang em 1952. Nesta última seção, em que se substituem os poemas e suas respectivas considerações, assomam à estrutura textual as obsessões imagéticas de Yang e suas recorrentes escolhas de linguagem: o mar, o corpo, a música, os cavalgamentos e as ressignificações lexicais são tecidos sob a perspectiva de um erotismo notadamente físico, mas igualmente questionador. Deparamo-nos, então, com a percepção de que o desejo pelo guerrilheiro Duarte Galvão, mais um dos desdobramentos de Lemos, e a consequente impossibilidade de concretizá-lo estremecem paradigmas patriarcais, irrompendo as estruturas de uma sociedade chagada pelo silenciamento da mulher.

    É interessante notar como Machado supre com agudeza a urgência de aliar às ideias levantadas um rico arsenal teórico e uma leitura material dos poemas – a saber, seus artifícios constitutivos e suas predileções sintáticas e morfológicas. Esse procedimento é eficaz para a construção de um estudo coeso, que não subestima a relevância do objeto apreendido nem o transforma em pretexto para outras considerações: a consciência de que se deve partir da palavra poética enriquece outros estudos da obra de Virgílio de Lemos, bem como a honra. Sobressai-se, aqui, a percepção de haver uma nítida subversão do gênero epistolar e de sua propensão dialogal, cuja insistência anuncia um projeto bem-definido de esvaziamento da interlocução e de encarceramento da enunciação ao corpo e às suas latências. Dessa perspectiva, afirma a autora, em um de seus instantes de iluminação, que o interlocutor ausente, assim, é capaz de existir pela palavra poética em jogo. O transe causado pela poesia de Lee-Li Yang não se recheia só da esperança do retorno, mas desse retorno já inventado em seus delírios.

    Orientado pela professora titular de Literaturas Africanas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Carmen Lucia Tindó Ribeiro Secco, o texto agora posto a lume resguarda com coragem uma verdade sabida e raramente dita: as cartas erram. Sempre erram, porque o dito não nos pertence. Da escrita nada se pode esperar senão impermanência e errância: se a vida continuamente se desfaz, se os abraços se rompem e os corpos sucumbem à degenerescência das horas, é de retalhos a costura que nos irmana e nos iguala. Lee-Li o sabia. E também o sabe Camila.

    Guilherme de Sousa Bezerra

    Doutor em Literaturas Africanas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

    APRESENTAÇÃO

    O presente livro, fruto da minha dissertação de mestrado defendida em 21 de fevereiro de 2017, é resultado de uma pesquisa que se iniciou no ano de 2013, durante a graduação e a concepção da minha monografia de conclusão de curso. Mas este livro também é mais do que isso: afetivamente elaborado e intimamente relacionado com a minha própria vida.

    A poesia, entidade que se apresentou muito cedo na minha vida, está em cada linha desta obra e é tão presente que está permanentemente marcada na minha pele. A opção por escolher a obra poética de Lee-Li Yang também não se revela arbitrária: foi de uma identificação imediata, assim como quando conhecemos, pela primeira vez, uma pessoa que mudará nossas vidas para sempre.

    Como amiga, mergulho nos versos de Lee-Li Yang, heteronímia feminina do escritor moçambicano Virgílio de Lemos, mas como amante termino este livro (fisicamente falando, pois entendo a pesquisa como um estado de eterno gerúndio). É pela tentativa de compreender a complexidade do seu canto, que é corpo em tensão erótica, que estabeleço com Lee-Li muito mais do que uma empatia, mas, principalmente, uma espécie de confiança e de alteridade permitida apenas àquelas obras que movimentam o nosso universo.

    É a ausência que perpassa a sua vida de papel: Duarte Galvão, heterônimo do mesmo escritor, que está longe devido à guerra colonial em Moçambique. É a partir dessa saudade que não se encerra que a poesia emerge: como energia, movimento e reflexão do que é ser mulher. Virgílio de Lemos, um enorme pensador poético-filosófico, soube trazer à tona muitas questões que ficaram abafadas no panfletarismo.

    A estética fornecida por Lee-Li Yang, em seus 37 poemas reunidos em Mar de mim: coração de gozo, é mais do que uma perspectiva erótica no sentido sexual do termo: é erotismo no que contempla a condição humana e no que reflete sobre o próprio fazer poético. Essas costuras estético-políticas permitem que a palavra alce voo para pousar, por ventura, em um leitor atento e amante.

    Convido o leitor leigo que mergulhe nos interstícios da poética de Lee-Li Yang e não se prenda à

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1