Dupla exposição
De Paloma Vidal e Elisa Pessoa
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Sobre este e-book
Em todas as narativas, cenas cotidianas, conversas casuais e memórias incertas se mesclam aos traços, cores e texturas que as acompanham, questionam e complementam. Trabalhando juntas desde 2013, Paloma Vidal e Elisa Pessoa dão continuidade a uma busca conceitual que também levou a leituras performáticas nas quais as linguagens se relacionam em um jogo de correspondências e desencontros na junção dos mais diversos elementos – como a voz, a escrita e a imagem.
Entre afinidades e dissonâncias, o familiar e o estranho, a prosa e a poesia, o visto e o não dito, Dupla exposição mostra como imagens e narrativas são capazes de travar uma relação simbiótica para acentuar mutuamente suas forças sugestivas. Mais do que isso, como na técnica fotográfica que dá nome ao livro, registros distintos resultam num híbrido que ganha vida própria e revela como a instabilidade pode ser capaz de promover uma surpreendente harmonia.
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Dupla exposição - Paloma Vidal
DUPLA EXPOSIÇÃO
textos PALOMA VIDAL
imagens ELISA PESSOA
Dupla exposição é um livro que se furta às classificações. Nele, textos e imagens mantêm uma relação instável, feita de interseções, disjunções e enlaces simultâneos, do que advém a inquietante (e indefinível) beleza do conjunto.
Num jogo de afinidades e dissonâncias, aproximações e desvios, as narrativas de Paloma Vidal e as imagens de Elisa Pessoa potencializam-se mutuamente ao longo de todo o volume, ao mesmo tempo em que instauram um diálogo que ultrapassa as fronteiras entre o prosaico e o poético, o familiar e o insólito, a realidade e a ficção. A cumplicidade que as aproxima se afigura, ainda, como uma provocação recíproca, que as coloca em um estado de quase desencontro.
Memórias de infância, cenas cotidianas, conversas fortuitas, registros de sonhos e de viagens pelo mundo, paisagens íntimas, casos e acasos perpassam as nove histórias do livro, às quais se conectam os traços, cores, volumes e texturas das imagens que as acompanham. Tudo isso, modulado por um instigante jogo de sobreposições temporais, que conecta passado e presente fora das circunscrições da cronologia e da causalidade.
Esse engenhoso arranjo faz do livro um ousado experimento narrativo-visual, no qual os aspectos sensoriais da escrita se intensificam nos matizes e no movimento cromático das imagens, sem que estas fiquem a serviço daquela e vice-versa. Ou seja, textos e imagens asseguram, por vias paradoxais, sua autonomia e singularidade constitutivas.
O livro, em sua transversalidade híbrida, faz parte de uma investigação mais ampla das autoras não apenas sobre os trânsitos criativos entre diferentes linguagens, como o vídeo, a projeção e a performance, mas também sobre os possíveis e impossíveis da memória — que não deixa de ser uma forma privilegiada de imaginação. É um trabalho, portanto, que abre espaço para outros experimentos artísticos conjuntos capazes de levar a palavra, a voz, o gesto e a imagem para além de seus próprios limites.
MARIA ESTHER MACIEL
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Podemos chorar; podemos ir às compras, ou jogar o jogo de estar sempre equivocadas com nossos preciosos vocabulários, ou, implacáveis, nos queixar, mas por favor
venha voando
Elizabeth Bishop, Convite a Marianne Moore
, tradução de Paulo Henriques Britto
Conheci Marianne Moore na primavera de 1934, quando estava no último ano de meu curso no Vassar College — leio. A srta. Borden disse-me que ia escrever para a poeta, que morava no Brooklyn, e também que teria prazer em me emprestar seu exemplar de Observations — leio. Um dia a srta. Borden veio me dizer que havia recebido resposta da srta. Moore: ela estava disposta a me encontrar em Nova York, numa tarde de sábado — leio. Nesse ínterim, a srta. Borden me falou mais um pouco sobre ela: era como uma criança, uma criaturinha estranha e atraente, de cabelos vermelhos como fogo, brincalhona — leio. Cheguei à biblioteca na hora combinada, até um pouco antes, mas ela já estava lá (por mais cedo que a gente chegasse, Marianne sempre chegava antes).
Quero tentar te explicar o que exatamente me fascina neste relato feito por Elizabeth Bishop, intitulado Esforços do afeto
, sobre sua amizade com Marianne Moore. Decidi então copiar para você algumas frases dele. A seleção tem a ver com a possibilidade de produzir uma espécie de condensação do efeito que têm sobre mim, como se fosse uma droga numa dose concentrada. Eu quero que você a tome sem pensar. Que você confie em mim e no que eu quero te oferecer, neste momento.
Cheguei bem cedo ao Madison Square Garden, conforme havíamos combinado, porque queríamos