Lições e Reflexões
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Sobre este e-book
O autor participa há mais de 30 anos da diretoria da Associação Comercial da Bahia (ACB), a mais antiga entidade empresarial das Américas, fundada em 1811, tendo sido seu presidente no biênio 2018/2019. Teve oportunidade de conviver com figuras notáveis do mundo empresarial como Norberto Odebrecht, que fundou e dirigiu a maior empresa de engenharia do Brasil com atuação em mais de 30 países. Euvaldo Luz foi outro com quem conversou longamente, ouvindo a história da fundação da Salgema, em Alagoas, após ouvir de funcionários da Petrobras a notícia da mina de sal recém-descoberta. Não titubeou, requereu a pesquisa, procurou a Du Pont e montou a fábrica. Max Paskin, fundador da fábrica de metacrilato de metila (MMA) em Candeias, hoje pertencente ao Grupo Unigel. Ele era fabricante de chapas acrílicas no Rio de Janeiro e montou a fábrica de MMA para deixar de importar, tendo sido atraído pelos incentivos financeiros da Sudene. Também ouviu relatos da criação do movimento Empreendimentos da Bahia que criou o Projeto Sibra, implantando uma eletrosiderúrgica em Simões Filho, traçando as primeiras linhas do projeto do Centro Industrial de Aratu e semeando a ideia de construção do que viria a ser o Polo Petroquímico de Camaçari. Estas e tantas outras histórias aparecem embutidas nos artigos gerados nas conversas de empresários da ACB, sugerindo novas oportunidades de negócios e de novas frentes de investimentos.
O livro é de leitura fácil, os capítulos são pequenos, bem escritos e revelam o interior do mundo vivido pelos empreendedores ao longo dos anos. Desde os tempos que se ia para a ACB a barco, de charrete ou a pé, até os tempos do automóvel, da telefonia móvel e das mensagens digitais on-line.
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Lições e Reflexões - Adary Oliveira
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS SOCIAIS
Dedico este livro à minha companheira, Maria Bernadeth, com quem vivo há 59 anos (53 de casados e 6 de namoro e noivado), pela paciência de ler todos meus artigos semanais, fazendo observações, sugerindo inclusões e corrigindo textos.
Apresentação
Este livro foi organizado com o ajuntamento de artigos escritos durante os anos de 2017 a 2019 seguindo a mesma composição de outra obra de minha autoria com o mesmo título e publicado em 2018. Os artigos agrupados em cinco capítulos terminam por refletir preocupações do empresariado durante esses dois anos, registrando acontecimentos da vida econômica e social do País.
O primeiro capítulo intitulado Desenvolvimento Regional
, teve seu tema influenciado pelo doutorado que cursei na Universidade de Barcelona (Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional) e que se constitui em assunto de atenção especial dos empresários da iniciativa privada e dos governantes, sempre presente nas reuniões e continuamente tratado pelas pessoas que desejam melhoria das condições de vida da população brasileira. As incertezas, os desafios, a necessidade de transformação para manterem as empresas vivas e atuantes, o imperativo dado pelas mudanças da conjuntura econômica de incorporação de novas tecnologias e absorção de novos conhecimentos, o desejo de perpetuação das instituições, tornam o tema desenvolvimento fascinante e incluído no ambiente doméstico de qualquer organização.
O segundo capítulo, dedicado ao assunto de Petróleo e Gás Natural, também foi contaminado pela minha formação acadêmica de engenheiro químico com atuação profissional na indústria química e petroquímica e setor de petróleo e gás natural. A discussão sobre o destino da Petrobras, quando procura alienar ativos para seguir diretrizes estratégicas de se concentrar na Região Sudeste, ficando apenas com ativos que proporcionem rentabilidades consideradas ótimas, a contenda levantada pela venda e fechamento de fábricas menos produtivas e a geração consequente do desemprego, os leilões para concessão de áreas exploratórias, a influência dos rumos internacionais da indústria de óleo e gás, terminam por contagiar os cenários de decisões e se fazerem presentes nas agendas e listas de assuntos das reuniões, seminários e congressos.
Políticas Públicas
constitui-se em um capítulo que procura analisar as decisões dos governos consideradas prejudiciais à sociedade como um todo, sugerindo alternativas e apontando realizações que busquem a maximização dos benefícios sociais como preocupação prioritária que deve ser adotada pelos governantes. O fechamento de portos, a hibernação de fábricas, a paralização de projetos estruturantes, a má conservação de rodovias e ferrovias, a não adoção de prioridade para o transporte marítimo de cabotagem, em boa parte se deve à ausência de políticas públicas adequadas ou a falta delas, daí as observações e recomendações indicadas pelos empresários.
O quarto capítulo, Lições
, reflete momentos de minha vida como professor, reproduzindo aulas que lecionei nas universidades por onde atuei e de significado valioso para as atividades empresariais. No quinto e último capítulo, Diversos
, reuni os ensaios que não foram enquadrados em nenhum dos tópicos anteriores, retratando pontos levantados com frequência no mundo dos negócios. Cada um dos assuntos leva-nos a fazer reflexões sobre o valor da vida e da construção da sociedade que desejamos.
A quase totalidade dos artigos deste livro foram escritos quando eu exercia a função de presidente da Associação Comercial da Bahia – ACB (2017-2019), a mais antiga organização empresarial das Américas, fundada em 15 de julho de 1811. A ACB carrega consigo uma tradição de defesa dos interesses dos empresários e da comunidade, e termina por estabelecer um ambiente de compromisso e respeitabilidade seguido pelos que a frequentam. O livro inclui-se entre os registros históricos dessa instituição e teve o lançamento de outro de mesmo título no Salão Nobre de seu famoso Palácio.
Acredito firmemente que esta obra será usada por estudantes, professores, empresários, governantes, profissionais da iniciativa privada e funcionários públicos pela diversidade de informações e conteúdo prático. Os artigos, por serem pequenos, podem ser lidos em poucos minutos. São parte de um verdadeiro livro de cabeceira, com linguagem simples e de fácil entendimento levando o leitor para uma viagem sobre trilhos retilíneos sem nenhum descarrilhamento.
Os assuntos escolhidos na escrita de cada parte dos capítulos sofrem influência regional, sobretudo da Região Metropolitana de Salvador, da Bahia e do Nordeste. Também estão recheados de temas de abrangência nacional. Alguns motes são estreitamente vinculados a fatos da época em que foram escritos, mas muito tempo haverá de passar para que sejam considerados obsoletos e fora da realidade.
Todos os artigos foram publicados alternadamente no Jornal Tribuna da Bahia ou no Blog Bahia Econômica e escritos semanalmente.
Refletem acontecimentos do seu tempo e têm a estrutura cartesiana que caracteriza o jeito de formular questões dos engenheiros, grupo de profissionais ao qual eu estou inserido.
Salvador, outubro de 2020
O autor.
Sumário
I
DESENVOLVIMENTO REGIONAL 15
1 – Alguns casos de insucesso na industrialização da Bahia 16
2 – A petroquímica e a atração de novos investimentos 18
3 – O caso de sucesso da MFX 19
4 – 39 anos do Polo Petroquímico 21
5 – A vez do gás natural 22
6 – 5 acontecimentos que impulsionaram o progresso da Bahia 24
7 – O gás e o Polo da Bolívia 26
8 – O fechamento da Base Aérea de Salvador 27
9 – Mais um golpe contra o Nordeste 29
10 – A visita da missão empresarial boliviana 31
11 – Os gargalos do desenvolvimento da Bahia 32
12 – A logística e o desenvolvimento econômico 34
13 – A energia gerada pelos ventos 36
14 – O transporte ferroviário da Bahia 37
15 – Os portos profundos da Baía de Todos os Santos 39
16 – Memórias do Polo Petroquímico 40
17 – A proposta de desenvolvimento do Ipea 42
18 – Memórias do Polo Petroquímico (2) 44
19 – A venda da RLAM e do Temadre 45
20 – O Nordeste e suas Câmaras Setoriais 47
21 – A vida começa aos 40 49
22 – As 7 obras inacabadas 51
23 – Destravando os investimentos 52
24 – A estratégia disruptiva dos portos da Bahia 54
25 – A Câmara Setorial de Petróleo e Gás da ACB 56
26 – O sol nasce para todos 57
27 – Os persistentes desafios inadiáveis da Bahia 59
28 – Diligis, cadis cum faece sicutis, amici 61
29 – Querendo mostrar o sol com uma lanterna 62
30 – Otto Perrone, uma lenda da petroquímica 64
31 – O que nos traz o futuro 66
32 – Puxando funciona, empurrando nem sempre 67
33 – Um modelo para o turismo da Bahia 69
34 – O Temadre e a movimentação de cargas de terceiros 71
35 – A indústria química antes do Polo 72
36 – O crescimento industrial 74
37 – O que é que a Bahia tem! 76
38 – O elo fraco da corrente 78
39 – O Mercosul e a União Europeia 79
40 – Uma política para o gás natural 81
41 – Parcerias integradas 83
42 – O Governo e o desenvolvimento regional 84
43 – Algo de novo acontece no Nordeste 86
44 – Fortalecer integrando 88
45 – Tomando o rumo certo 90
46 – Sergipe com todo o gás 91
II
PETRÓLEO E GÁS NATURAL 95
47 – O futuro da Petrobras na Bahia 96
48 – O novo leilão de petróleo e gás natural 98
49 – O Polo Petroquímico Boliviano 99
50 – O financiamento da produção de petróleo e gás natural 101
51 – Os ajustes nos mercados de gasolina e diesel 102
52 – O fechamento das fábricas de fertilizantes 104
53 – Três alternativas para a Fafen 106
54 – Contra o fechamento da Fafen 107
55 – O petróleo ainda não é nosso 109
56 – A retirada da petroleira 111
57 – O panorama do petróleo 112
58 – A revitalização dos campos maduros 114
59 – Quem parte e reparte… 116
60 – O arrendamento da Fafen 118
61 – Regulação do uso do gás 119
62 – O vizinho rico e o risco da maldição 121
III
POLÍTICAS PÚBLICAS 125
63 – 10 recomendações para o comércio exterior 126
64 – A mobilidade urbana de Salvador 128
65 – Aplausos para a ANP 129
66 – 76 anos produzindo petróleo 131
67 – A nova revitalização do Comércio 132
68 – Os candidatos e o semiárido 134
69 – Os aplausos e as vaias de 2017 136
70 – A navegação de cabotagem 137
71 – O dilema produção versus importação 139
72 – A Revitalização do Comércio 141
73 – Pense certo para não fazer errado 142
74 – Os preços dos combustíveis 144
75 – Os candidatos e os empresários 145
76 – O Planejamento Estratégico de Salvador 147
77 – 10 recomendações para Bolsonaro 149
78 – Os investimentos nos portos da Bahia 151
79 – O renascer do Comércio 152
80 – A dívida social da Caixa 154
81 – A reforma tributária 156
82 – A BR marítima 157
83 – O novo pacto federativo 159
84 – Exportando bens e serviços 161
85 – Os caminhos para a reindustrialização 163
IV
LIÇÕES 165
86 – Donald Trump, Kim Jong-un e o Jogo do Galinha 166
87 – Entre em 2018 com a estratégia de marketing certa 167
88 – As lições de Michal Kalecki 168
89 – Os encantos da negociação empresarial 170
90 – O ético e o legal nas empresas 171
91 – A sobrevivência em tempos de crise 173
92 – Como evitar um salto no escuro 174
93 – Como sair da crise econômica 176
94 – Em caso de dúvida, arremeta 178
95 – A vida que se vive é um jogo? 180
96 – A negociação e a verdade verdadeira 181
97 – Os jogos simultâneos e sequenciais 183
98 – A desestatização no Brasil 185
99 – Para onde estamos indo 186
V
DIVERSOS 189
100 – Non multa, sed multum 190
101 – Acredite se quiser 192
102 – A teimosia de viver no semiárido 193
103 – A retomada do crescimento econômico 195
104 – A volta do horário de verão 196
105 – Exaltando os 70 anos da Fecomércio 197
106 – A bela baía da Amazônia Azul 199
107 – A destruição dos monumentos históricos 200
108 – 208 anos da ACB 202
109 – ACB, Riachuelo e monumentos 203
110 – O mundo empresarial 205
111 – A força da CACB 207
112 – As Câmaras Setoriais da ACB 208
113 – Os meninos da Rua Nova 210
114 – Livros… livros à mão cheia… 212
115 – A Bahia ficando para trás 214
116 – A restauração do Monumento Riachuelo 215
117 – Jovens empreendedores, startups e inovações 217
118 –Tapando o sol com a peneira 219
119 – Sob as bênçãos de Oxalá 220
120 – O Palácio de 202 anos 222
121 – Vermelho de uma vez, ou amarelo o ano todo? 224
122 – O turismo da Chapada Diamantina 225
123 – Casa, comida e roupa lavada 227
124 – As eleições e as necessidades de cada um 229
125 – A liberdade de ir e vir 230
126 – Tributo a Henri Slezynger 232
127 – Os campeões do analfabetismo 234
128 – Tudo pode melhorar 236
129 – Assim anda o sertão 237
130 – De tal modo passam os dias 239
131 – O canto das sereias 241
132 – A venda da Braskem 243
REFERÊNCIAS 245
I
DESENVOLVIMENTO REGIONAL
Os artigos deste capítulo, escritos de junho de 2017 a dezembro de 2019, procuram retratar os principais acontecimentos relacionados com o desenvolvimento econômico e social de estados da Região Nordeste, com maior destaque para o estado da Bahia onde residia o autor deste livro no período apontado. O relato de investimentos de grande porte que não obtiveram sucesso por falhas no planejamento aparece logo no primeiro ensaio. Em compensação é citado em outro artigo, o terceiro da lista, o caso de sucesso de uma fábrica de cabos umbilicais que atende com produtos de alta sofisticação tecnológica a demanda gerada com a exploração de petróleo do pré-sal. Outro artigo tratando da organização do Polo Petroquímico de Camaçari, com o estabelecimento de uma adequada infraestrutura industrial, capaz de atrair projetos automobilísticos e de geração de energia renovável, transformando-o em Polo Industrial de Camaçari, descreve o sucesso do maior complexo industrial integrado do Hemisfério Sul.
Nesta parte do livro também é destacada a importância que passa o a ter o gás natural, nos estados líquido e gasoso, como fonte de energia e como matéria-prima, e a visita à Bahia de missão boliviana, composto por governador do estado, parlamentares e empresários da região de maior produção de gás do país vizinho. Ainda sobre o uso do gás um dos artigos discute aspectos da política, da produção nordestina e dos novos investimentos no estado de Sergipe.
Em relação aos investimentos de infraestrutura, tão importantes para promoção do desenvolvimento, não faltaram considerações sobre os portos da Baía de Todos os Santos, as pontes projetadas ligando Salvador à Ilha de Itaparica, o transporte ferroviário na direção do oeste, o novo porto projetado para ser construído na extremidade do mar dessa importante ferrovia, a entrada em cena do terminal marítimo de Madre de Deus com a venda, pela Petrobras, da Refinaria de Mataripe, e aspectos da malha rodoviária. Os artigos também registraram as discussões sobre o assunto petróleo e gás tratados no ambiente da Câmara Setorial de Petróleo e Gás da Associação Comercial da Bahia, com a presença frequente de mais de 30 empresas do setor.
As celebrações dos 40 anos do Polo Petroquímico, o registro de memoráveis técnicos e empresários que participaram do projeto e da sua construção e a despedida de um dos seus mais importantes protagonistas: Otto Perrone. Também não ficaram de fora enfoques importantes da promoção do desenvolvimento tais como turismo, tentativa do fechamento da Base Aérea de Salvador e do Porto de Salvador, a geração de energia eólica e solar fotovoltaica, as obras inacabadas, os gargalos do desenvolvimento e a integração dos estados do Nordeste.
1 – Alguns casos de insucesso na industrialização da Bahia
A Bahia foi palco de alguns casos de insucesso na sua industrialização durante a montagem do Polo Petroquímico. Apesar da reconhecida experiência dos técnicos de empresas renomadas e de grande porte, alguns projetos fracassaram principalmente por deficiências das informações do processo produtivo.
Um dos primeiros projetos que teve seu fracasso em Camaçari foi o de melamina, um plástico de alta resistência usado na fabricação de utensílios domésticos que não se quebram facilmente. Tampas de vasos sanitários, pires, pratos, xícaras, talheres, chegaram a invadir o mercado com colorido atraente que embelezavam os ambientes das copas e das cozinhas. A fábrica era de porte médio, pertencia a um dos maiores grupos industriais do Brasil e nunca funcionou bem. A tecnologia foi vendida por conhecida empresa holandesa e gerou uma reclamação na Corte de Haia. A empresa brasileira foi indenizada cobrindo parcialmente seus prejuízos.
Um outro caso foi de uma fábrica de silicone montada por uma das maiores empresas brasileiras em joint venture com uma gigante americana do ramo químico. O produto nunca foi especificado, os custos de fabricação eram altíssimos e a fábrica foi fechada. As instalações são hoje usadas como depósito de um atacadista de produtos químicos.
A maior perda, entretanto, deu-se quando se quis implantar em Camaçari uma grande fábrica de insumos básicos para a indústria de química fina. A química fina se caracteriza pela obtenção de compostos químicos de altíssimo valor agregado e em pequena quantidade, por meio da síntese e produção industrial. O alto valor agregado faz com que os produtos da química fina sejam avaliados em gramas e miligramas e a produção anual das fábricas em quilogramas. O custo do transporte desses produtos é de pouca importância na definição da localização das unidades industriais. A maior importância é dada à tecnologia, devido à alta sofisticação dos processos produtivos. O projeto que se implantou em Camaçari era para a síntese de substâncias químicas usadas na fabricação de fármacos, defensivos agrícolas, pigmentos e corantes. O fracasso foi quase total e os italianos que venderam a tecnologia não foram punidos, havendo perda de mais de uma centena de milhão de Dólares.
O fato de o frete desses produtos ser de baixa relevância na composição de seus preços, faz com que a localização das fábricas seja feita nos países desenvolvidos e seu transporte seja realizado pela via aérea. Assim, duas fábricas de ácido ascórbico, usados na fabricação da vitamina C, por exemplo, localizadas na Europa, abastecem o mercado mundial, inviabilizando instalação delas no território nacional.
A fábrica de celulose que foi instalada no município de Dias D’Ávila usando sisal como matéria-prima, prometia trazer a salvação para os produtores dessa fibra no Nordeste. Era uma experiência nova e a celulose que se chegou a fabricar era de excelente qualidade. Porém tinha um defeito na capacidade de produção. Era uma fábrica muito grande para uma especialidade, pois a celulose seria matéria-prima para papéis especiais, como papel fiduciário e papel moeda, e pequena para celulose comum. Essa planta sofreu algumas transformações, mudou de matéria-prima e hoje produz celulose solúvel, transformando-se em projeto viável. A perda dos financiadores e acionistas da empresa foi estimada em cerca de US$ 300 milhões.
A industrialização muitas vezes traz consigo alto preço e não se consegue eliminar totalmente os riscos do negócio. Nos casos de compra de tecnologia é imprescindível o exame cuidadoso das informações, e nunca se deve adquirir a tecnologia se não houver, ao menos, uma fábrica com seu uso e nas mesmas condições em funcionamento em alguma parte do mundo.
Tribuna da Bahia 09/06/2017
2 – A petroquímica e a atração de novos investimentos
A decisão do Governo brasileiro de implantar polos petroquímicos foi uma consequência da pressão exercida pela crescente demanda de produtos fabricados com petroquímicos básicos. Esses produtos passaram a ser importados para a fabricação de materiais que começaram a ser usados vastamente nos Estados Unidos e países da Europa e se espalharam pelo mundo.
Assim, as embalagens, os tubos para água e esgoto, os para-choques de automóveis, passaram a ser fabricados com o polietileno, o cloreto de polivinila (PVC) e a caprolactama adquiridos no exterior. Os filamentos sintéticos empregados pela indústria têxtil brasileira na fabricação de tecidos e peças do vestuário, advieram igualmente da poliamida, do poliéster e do acrílico importados. Os elastômeros sintéticos, usados em larga escala na fabricação de pneumáticos e câmaras de ar, da mesma forma eram de origem externa. O mesmo acontecia com os insumos utilizados na fabricação de detergentes sintéticos, tintas, vernizes e outros materiais.
A produção de quase todos os insumos básicos usados na fabricação de plásticos, têxteis, elastômeros, detergentes, tintas e vernizes poderia ser iniciada no Brasil a partir da nafta, matéria-prima parcialmente disponível nas refinarias de petróleo. A instalação de um complexo industrial químico integrado em Camaçari, abriu espaço para dotar a Região Metropolitana de Salvador (RMS) de infraestrutura industrial capaz de atrair novas indústrias e promoveu a urbanização das principais metrópoles de forma acelerada, gerando forte demanda por serviços públicos.
Os traços temporal e espacial refletidos nas estruturas de urbanização e desenvolvimento, em decorrência da adoção de inovações, seguiram comportamentos que obedeciam às características da região e, a velocidade de suas ocorrências, foram limitadas pela capacidade de realização dos governos municipais e estaduais.
Apesar de se ter verificado consideráveis descontinuidades, pois o início do funcionamento do Polo se deu 28 anos depois da partida da Refinaria de Mataripe e o startup da montadora da Ford 23 anos depois do Polo começar a funcionar, criou-se uma tabela insumo-produto capaz de atrair novas indústrias por meio de suas ligações.
O crescente ajuntamento de negócios resultante de fusões e incorporações de empresas, seguindo uma tendência mundial do setor químico e petroquímico, trazendo economias operacionais, fiscais e de incremento de novos produtos, estabeleceu um ambiente mais favorável ao desenvolvimento econômico. O ritmo com que novas unidades industriais têm sido atraídas para os municípios de Camaçari, Candeias, Simões Filho e Lauro de Freitas, sofre influência clara da presença de mão de obra qualificada e complementaridades externas no campo financeiro, comercial, logístico, administrativo e de proteção ambiental.
Pode-se considerar verdadeira a afirmação que a atratividade exercida pela RMS na instalação de novas unidades industriais e consequentemente na adoção de inovações, termina por estabelecer uma tendência mais acelerada da atividade econômica dessas cidades, influindo sobre seus padrões de urbanização. Contudo, a necessidade urgente de medidas que direcionem o desenvolvimento para o interior do Estado, a partir de projetos como o Porto Sul, Ferrovia Oeste-Leste (Fiol), extração mineral, geração de energia de fonte eólica e solar, exploração e produção de petróleo e gás natural em terra e do agronegócio, não podem mais ser adiadas e devem ocupar todas as listas de prioridades dos governantes.
Bahia Econômica 19/06/2017
3 – O caso de sucesso da MFX
Na quinzena passada escrevi nesta coluna quatro histórias de insucesso de fábricas que foram construídas na Região Metropolitana de Salvador. Para compensar registro agora um negócio de grande sucesso ocorrido em Salvador. Você já ouviu falar em cabos umbilicais? E em tubos plásticos de oito polegadas de diâmetro, mil metros de comprimento, sem emenda e sem costura? E no local paradisíaco da Baía de Aratu, no Município de Salvador, conhecido como Ponta do Criminoso?
No início dos anos 1980 a Petrobras atraiu para a Bahia fabricantes de equipamentos da indústria do petróleo que movimentaram a economia local. Aqui se instalaram produtores de brocas para perfuratrizes, válvulas esféricas especiais para gases e cabos umbilicais. A fábrica de cabos umbilicais foi instalada em 1982 no bairro Fazenda Grande do Retiro por imigrantes italianos. Em 2002, quando a cidade havia crescido muito em sua volta, a fábrica foi transferida para a Ponta do Criminoso, próxima da Base Naval de Aratu, em São Tomé de Paripe.
A MFX do Brasil é empresa brasileira com 100% de capital nacional e seus principais produtos são cabos umbilicais e tubo termoplástico flexível reforçado com arame de aço. Os umbilicais são cabos hidráulicos, eletro hidráulicos, ópticos, de injeção e elétricos capazes de realizar atividades em poços de petróleo localizados em profundidades de até 3 mil metros e podem medir até 30 mil metros de comprimento. A fábrica localizada em Salvador é a única fornecedora desses cabos para os poços de petróleo do pré-sal. Eles são elementos de ligação entre as plataformas flutuantes e os poços submarinos de petróleo, transmitindo dados e comandos operacionais. O tubo termoplástico flexível é uma solução desenvolvida como uma nova geração de tubos flexíveis de até mil metros de comprimento, enrolados em bobinas e atendendo ao mercado de transporte de líquidos e gases submetidos a alta pressão. A economia obtida com sua leveza e redução do número de emendas é substancial.
O registro do sucesso do caso MFX se faz necessário diante de tantas notícias ruins que têm ocupado o noticiário ultimamente e carregam consigo o pessimismo e a desesperança, principalmente entre os brasileiros mais jovens. É