Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

Recitações
Recitações
Recitações
E-book93 páginas30 minutos

Recitações

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

Prosseguindo as Citações, e irônico desde o título, pelo declamatório que implica a público ausente, o livro troça com travo, ora amargo, ora picante, da condição solitária do escritor. Não chamando a atenção pública as manobras por vezes circenses, só resta ao poeta reafirmar sua condição de pária no achado literário da cediça fórmula liminar das citações jurídicas — "Faço saber a quantos interessar possa..." ciente que não interessarão a ninguém as intimações poéticas de quem perdeu a autoridade.
IdiomaPortuguês
Editorae-galáxia
Data de lançamento15 de dez. de 2022
ISBN9788584743285
Recitações

Leia mais títulos de Airton Paschoa

Autores relacionados

Relacionado a Recitações

Ebooks relacionados

Contos para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Avaliações de Recitações

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    Recitações - Airton Paschoa

    [diário oficial]

    Faço saber, a quem interessar possa, que decidi voltar às citações, gênero que inventei, com perdão da imodéstia, tocado pelos novos tempos — togado? Com as intimações, deixo de aborrecer os amigos, tais os ataques postais a cuja tortura os submeto desde a criação, salvaguardando assim os raros que inda me restam, e continuo a cumprir um mandado estúpido, vai saber de que juízo, se não for da própria falta dele, que é o de ficar mandando pelos ares a mim mesmo... Eis os cacos (e cacoetes).

    [depoimento]

    Faço saber, a quem interessar prova, que a gente veio largando mão de escrever e passando a depor. E faz tempo, desde, desde, só pra registrar uma data, mesmo que falsa, pode botar meio século, pouco mais, pouco menos. Nos últimos 50 anos, então, barrabás! o gênero parece que bombou. Andaram dedurando que nossa longa marcha arrasta um rastilho interminável de corpos... Contravenções, delitos, ilícitos, tudo nonada, perto dos crimes, crimes e mais crimes, crimes em série, infinita, crimes com requintes de Humanidade! Que fazer? A gente depõe e o Mercado dispõe.

    [liteiratura]

    Faço saber, a quantos desenterrar possa, que a Literatura vive devidamente mausoleada; a herdeira, tadinha, com elezinho nanúsculo, faz tempo já passou da liteira à vala. Bons autores... deus os perdoe. Não há nem haverá grandes. Um deles, aliás, dos mais cultuados do pifado século, tratou justamente disto, da impossibilidade de grandeza. Tão pequeno, tão pobre, tão medíocre, tão mesquinho tudo. Que desgosto um ulisses desses! Fazer o que com ítaca — tacar fogo.

    [poética]

    Ao Sérgio

    Faço saber, a quantos interessar possa, o que sabe todo poeta digno do ofício: sinônimo é ficção. Cada palavra comporta peso, pele, carne, cara, carma, drama, aura, unha — singulares, por mais aparentada que pareça da prima. Ilustremos com exemplo caçado do reino estético, ou selvagem, se preferirem, observado o óbvio, a saber, que a mulher é o mais belo animal que já pisou esta terra desolada. Quando a dizemos linda, não estamos afirmando que paira acima de bonita; estamos sublinhando que é encantadora. Mais: que tampouco precisa ser bonita. O encanto, bem imaterial, alude a propriedade interior que se exterioriza em riso, largo, vasto, devastador. Em bela não ver como, chocante, o contraste! Puro exterior, pode ser entojada, enjoada, megera, medusa, fera, fúria, bela, simplesmente. Sinonímia é coisa de dicionário; e dicionário coisa de mercado, onde se trocam linda e bela por formosa, palavra a cuja sombra quem não vê baixar os olhos a timidez mesma? Na semântica da poesia, da verdade, solitário sinônimo, toda palavra trai

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1