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A Jornada Acadêmica
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E-book175 páginas2 horas

A Jornada Acadêmica

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Sobre este e-book

Muitos questionam-se sobre a legitimidade das múltiplas leituras realizadas por quem tem deficiência visual total, a cegueira. Refletindo sobre essa prática, a minha prática cotidiana, levantei as questões de estudo desta pesquisa; inquieto-me com a situação daqueles que não têm acesso à escrita Braille, não seriam eles excluídos do processo de leitura? E quais as vantagens de um universitário que não tem acesso direto à leitura, aquele que é percebido como um "leitor-ouvinte" na academia? Aí surge a maior das indagações: por que não ser um discente leitor em meio a tantos recursos tecnológicos que permitem o acesso com maior facilidade a produções de textos em Braille? Ao discutir a questão de como se dá a relação de graduandos cegos com o contato da leitura, de fato, nas instituições públicas de ensino superior, foi necessário ir ao encontro desses educandos, visando a melhor entender tal processo. Para responder às questões da pesquisa, além do levantamento bibliográfico e do diálogo desse referencial com as políticas públicas de inclusão de estudantes com deficiência visual (cegos) no ensino superior, analisamos narrativas de experiências acadêmicas de graduandos com deficiência visual total. Levantamos as condições de aprendizagem de estudantes universitários cegos que, durante sua vida acadêmica, tiveram ou não acesso à leitura Braille. Percebemos que a inquietude pelo ato de ler não se restringe à decodificação das palavras, mas, sobretudo, na compreensão daquilo que elas trazem na sua essência: a significação de seus símbolos adquirido nas pontas dos dedos. Assim como quem lê com os olhos, o sistema Braille nos permite entrar em contato com os símbolos linguísticos em sua plenitude, assim, podemos identificar com a ponta dos dedos os significantes que nos remetem a diferentes significados.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento31 de mar. de 2023
ISBN9786525027944
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    Pré-visualização do livro

    A Jornada Acadêmica - Raul Ferrarez Alves

    1

    Introdução

    Ainda hoje questiona-se sobre a legitimidade das múltiplas leituras realizadas por quem tem deficiência visual total, isto é, a cegueira. A tiflologia, que é definida como o estudo ou tratado acerca da instrução dos cegos, revela os prejuízos intelectuais e profissionais causados às pessoas com cegueira que não têm acesso ao Braille. Por conseguinte, no livro Jornada Acadêmica, foi eleito como foco principal o debate sobre a dicotomia entre a formação de dois grupos de estudantes com deficiência visual total (cego): o grupo de leitores que têm acesso à leitura em Braille (Braille é um sistema de leitura através do tato, em geral utilizada por pessoas com cegueira, inventado pelo francês Louis Braille), e os "leitores-ouvintes", aqueles que leem através dos olhos de outras pessoas ou através de textos e/ou áudio digitais, ou seja, não têm a oportunidade de perceber a estrutura textual através do tato porque só escutam os textos lidos por normovisuais (pessoas que não apresentam deficiência visual) ou softwares. Os referidos estudantes pertencem ao ensino superior.

    As questões de estudo dessa pesquisa foram pensadas a partir das vivências e inquietações cotidianas do universo do pesquisador: (i) se o acesso à escrita Braille for permanentemente negado, não seria a pessoa cega, de certa forma, excluída do processo de leitura através da desbraillização (substituição do sistema Braille de leitura e escrita)? (ii) quais as vantagens de um universitário percebido como um leitor-ouvinte (que não tem acesso direto à leitura) nesse espaço acadêmico de ensino sistematizado? (iii) por que não ser um discente leitor em meio a tantos recursos tecnológicos que permitem o acesso com maior facilidade a produções de textos em Braille?

    Inicialmente, foi realizada uma revisão bibliográfica sobre o tema leitura e conceitos referentes à imersão do leitor. Na sequência, discutiu-se sobre as políticas públicas de inclusão educacional, tendo como foco principal a realização de uma pesquisa sobre as condições da oferta do ensino superior aos estudantes com deficiência visual total (cegos) em universidade pública. O ponto de vista para análise foram os graduandos com deficiência visual total, que narraram suas experiências acadêmicas.

    A pesquisa abrangerá, portanto, educandos com deficiência visual total (cegos), formandos incluídos em universidades públicas de cursos superiores presenciais e à distância, dos municípios de Campos dos Goytacazes e São Francisco de Itabapoana. Seu objetivo será investigar as condições de aprendizagem entre estudantes universitários cegos com e sem acesso à leitura Braille durante sua vida acadêmica.

    A pesquisa, portanto, justifica-se por sua relevância, pois a passagem do autor pela universidade proporcionou-lhe reflexões sobre a necessidade de implementação da política de atendimento acadêmico especializado ao estudante com deficiência visual total (cego) em cursos na modalidade EaD, como o oferecido pela universidade da qual faz parte o autor.

    Para desenvolver seu relatório de pesquisa, foi necessário delimitar de que lugar estava falando o pesquisador e também refletir sobre a importância do ato de ler e as implicações de se negar esse direito a um graduando com cegueira.

    A relação entre acessibilidade e inclusão no cotidiano do Cederj, consórcio de universidades públicas do estado do Rio de Janeiro do qual faz parte a Universidade do Rio de Janeiro (Unirio), será o tema de grande importância no livro, principalmente no que diz respeito à diferença entre inclusão e integração, e à importância de materiais didáticos acessíveis como forma de garantia de inclusão no sistema de ensino superior.

    Para fundamentar a discussão sobre o Ensino a Distância (EaD) para os educandos cegos, e possibilitar a análise dos dados, foram levantadas algumas questões referentes à legislação voltada para garantia de direitos da pessoa com deficiência no ensino superior. Sem desqualificar a relação da pessoa cega com a informática, destacou-se os usos pedagógicos da tecnologia em detrimento da leitura em Braille.

    2

    Universo da pesquisa: relato de experiência (história de vida) de graduandos com deficiência visual total (cego)

    A pesquisa abrangerá estudantes com deficiência visual total (cegos), formandos incluídos em universidades públicas de cursos superiores presenciais e à distância, nos municípios de Campos dos Goytacazes e São Francisco de Itabapoana. A discussão será em torno do atendimento recebido por esses universitários durante sua formação nos cursos de graduação, os quais praticamente são obrigados a se tornarem estudantes-ouvintes, já que as instituições de ensino superior deixam a desejar quanto ao fornecimento de material didático-pedagógico acessível. A legislação vigente é descumprida, o que fere os direitos e interesses desses indivíduos.

    Adotamos nesta pesquisa o termo leitor-ouvinte para identificar os estudantes com deficiência visual total que têm acesso ao currículo proposto em seus cursos através de materiais acadêmicos disponibilizados em áudio ou textos eletrônicos. Contrapondo-se ao leitor-ouvinte consideramos leitor a pessoa com cegueira que tem acesso à leitura Braille.

    2.1 Processo Metodológico

    Inicialmente, fez-se necessária uma revisão bibliográfica sobre o tema leitura e sobre conceitos referentes à imersão do leitor, de forma que haja uma sensibilidade com o tema proposto; revisão bibliográfica sobre políticas públicas de inclusão educacional e principais pesquisas sobre as condições da oferta do ensino superior a estudantes com deficiência visual (cegos) em universidade pública.

    Dessa forma foi possível construir o suporte teórico da pesquisa. Foram analisados textos de autores que versam sobre o tema leitura, assim como o aporte legal que sustenta a temática da inclusão de pessoas com deficiência no ensino regular em todos os níveis e modalidades de ensino, públicos e/ou particulares.

    Na sequência, foram postas em foco peculiaridades referentes às políticas públicas, às políticas de inclusão educacional, à garantia de direitos da pessoa com deficiência, à pessoa com deficiência visual no contexto socioeducacional, à escrita Braille, às tecnologias assistivas, dentre outros assuntos pertinentes às reflexões levantadas nesta investigação científica.

    Quanto à pesquisa de campo, como foco principal foram levantadas as condições de oferta do ensino superior a estudantes com deficiência visual total (cegos) em universidade pública. O ponto de vista de análise foi o dos graduandos com deficiência visual total, os quais relataram suas experiências acadêmicas. Foram realizadas entrevistas escritas, especificamente com graduandos com cegueira, formandos incluídos em universidades públicas de cursos superiores presenciais e à distância dos municípios de Campos dos Goytacazes e São Francisco de Itabapoana em cinco cursos de diferentes áreas (Análise de sistemas, Geografia, Pedagogia, Psicologia e Zootecnia). Os entrevistados optaram por identificar-se e fizeram questão que seus nomes fossem revelados neste trabalho acadêmico, ou seja, os nomes foram devidamente autorizados pelos participantes dessa pesquisa.

    Por meio de contato telefônico com os participantes da pesquisa, eles foram informados a respeito de quais eram os objetivos do trabalho e de sua finalidade especificamente acadêmica. Os estudantes em questão foram escolhidos por serem os únicos que no momento da pesquisa cursavam o nível superior em instituições públicas na região citada anteriormente. Após conversa sobre a pesquisa, o questionário foi enviado por e-mail para que sete participantes respondessem, sendo que seis desses entrevistados responderam à pesquisa e autorizaram sua plena participação com finalidade acadêmica.

    O estudo de caso foi a metodologia de análise empregada nessa pesquisa de caráter qualitativo. Através dos depoimentos foi possível identificar situações problemas pelas quais os referidos graduandos passam ao longo da sua vida acadêmica.

    Ao discutir a questão de como se dá a relação de estudantes cegos com a leitura de fato nas instituições públicas de ensino superior, foi necessário ir ao encontro desses educandos, visando a melhor entender tal processo. Para tanto, foi necessário aplicar um questionário semiestruturado contendo dez perguntas fechadas de múltipla escolha e uma questão aberta que pudesse demonstrar como as universidades públicas da região norte fluminense vêm tratando a inclusão desses estudantes nos cursos superiores. A última questão foi um espaço deixado para que os educandos, de forma aberta e livre, pudessem expor suas impressões acerca do processo de inclusão nos estabelecimentos onde estudam.

    É importante ressaltar que por questões de acessibilidade optou-se por não se fazer uso de notas de rodapé; sempre que necessário, foram utilizados textos registrados entre parênteses. Além disso, nem todas as citações têm os números das páginas das obras, pois o pesquisador realiza leituras de arquivos digitais, os quais são capturados como texto no formato TXT para dentro do sistema operacional Dosvox sem suas páginas originais. Tais procedimentos garantem a leitura linear do texto por parte de quem faz uso de leitores de telas (softwares que convertem texto para áudio). Outra possibilidade seriam as notas de final de texto, o que demandaria que o leitor fosse ao final do texto a cada nota; tal procedimento, embora não seja tão funcional para o leitor normovisual quanto a nota de rodapé, não oferece grandes dificuldades para essas pessoas no momento da leitura. Mas para o leitor com deficiência visual que realiza suas leituras com o uso dos softwares supracitados, ao passar pela nota de rodapé, essa é lida como se fosse a sequência do texto, o qual fica entre o final de uma página e o início de outra. Essa sequência de leitura pode quebrar a coerência e coesão do texto. Quanto às notas de final de texto, essas acabam aparecendo em momento inoportuno, depois que o tempo e a explicação foram perdidos. Por conseguinte, vale ressaltar que esse é um dos problemas enfrentado pelo discente ouvinte, o qual não tem acesso à escrita

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