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Um Menino da Ilha: Uma História de Superação - Volume I
Um Menino da Ilha: Uma História de Superação - Volume I
Um Menino da Ilha: Uma História de Superação - Volume I
E-book159 páginas2 horas

Um Menino da Ilha: Uma História de Superação - Volume I

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Sobre este e-book

Como um menino, com apenas seis anos de idade, teve forças e sabedorias para realizar tantas tarefas em tão pouco tempo? Como alguém que morou boa parte da sua vida em uma Vila de Pescadores nos anos cinquenta, onde quase nada existia a não ser a força de lutar e de vencer, conseguiu alcançar um lugar de destaque? Como uma vida pode mudar tanto quando encontra um ser humano capaz de dar uma única oportunidade de um dia vencer nesta longa estrada da vida? Nesta obra, iremos mergulhar em uma história autobiográfica que narra a vida de um homem, Almir Freitas de Pinho, que saiu do nada e alcançou lugares inimagináveis graças a sua sede de vencer e de chegar mais longe
IdiomaPortuguês
EditoraViseu
Data de lançamento3 de mai. de 2024
ISBN9786525475769
Um Menino da Ilha: Uma História de Superação - Volume I

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    Um Menino da Ilha - Almir Freitas de Pinho

    Almir Freitas de Pinho

    Um menino da Ilha:

    Uma história de superação -

    Volume I

    Agradecimentos

    Este livro foi escrito em homenagem às minhas duas mães: Rosália e Joanita. Agradeço a Rosália (In Memoriam) por ter me colocado no mundo, ter me criado diante de todas as adversidades, sendo um pai e uma mãe em épocas difíceis.

    Ela sempre foi uma mulher guerreira, que teve que lavar roupas de ganho e mariscar nas lamas frias do mangue de Matarandiba durante as madrugadas e em locais inóspitos.

    Agradeço Joanita (In Memoriam) por ter dado sentido à minha vida após ter me resgatado da Ilha para a Capital e ter cuidado de mim. Além disso, ela ensinou-me o que é ser um homem de verdade, com honestidade, respeito ao próximo e a sempre seguir os meus sonhos. Joanita cuidou de mim desde os oito anos de idade e sempre teve um único propósito, cuidar de mim e da minha enfermidade no pé. Agradeço por ter me educado, me transformado em um homem trabalhador e destemido, que sempre está em busca das minhas realizações. Obrigado, mãe Joanita, por ter cuidado do meu físico, do meu emocional e espiritual!

    Hoje, eu percebo que sou um homem abençoado por Deus por ter tido essas duas mulheres em minha vida. Sei perfeitamente que as senhoras estão desfrutando de várias bênçãos, sentadas ao lado de Deus pai todo poderoso.

    Além disso, agradeço a todos que conviveram ou que convivem comigo e que, de alguma forma, me deram amor, carinho e solidariedade.

    Um menino da ilha I

    Uma história de superação

    — Ô menino, você está onde? Cadê você, Almir? — gritava Dona Rosália.

    Eu carinhosamente chamava dona Rosinha, minha mãe, de Mainha. Seu grito soava para mim como uma música que anunciava a sua presença na minha vida e em casa. Contentamento, talvez, era a palavra certa para definir o meu estado de espírito ao ouvi-la.

    O grito dela ecoava por toda Matarandiba, uma pequena vila de pescadores situada no munícipio de Vera Cruz, no estado da Bahia.

    Dona Rosinha, como era chamada carinhosamente Rosália de Freitas, era mulher aguerrida, de fibra, uma mulher arretada, como se diz na Bahia. Ela vinha de uma família de cinco irmãos, filhos do casamento de minha avó Francisca com o meu avô Januário, vale ressaltar que não estão computados aqui a prole extra que o seu Januário havia espalhado mundo afora, decorrente das suas aventuras amorosas. Em Matarandiba, a maioria dos moradores são meus parentes por parte de pai ou de mãe.

    Eu morava com os meus irmãos, minha avó Francisca, chamada carinhosamente por Tutinha, e o meu tio Mucinho em uma casa na rua Santa Rita. Ela era feita de taipa e adobe, com uma parte rebocada. Era pequena e tinha apenas uma sala, dois quartos e a cozinha sem reboco. A casa tinha o telhado de duas águas e, na frente, uma porta e duas janelas de madeira rústica. Bem humilde, mas muito agradável. Passei toda a minha infância nessa adorável casa. Toda essa singeleza se traduzia em aconchego que será sempre mantido em minhas lembranças do que era um lar. Durante muito tempo, filhos, netos, bisnetos foram acolhidos por elas que, certamente, guardaram em suas almas muito mais alegrias do que tristezas, pois lá havia mais encontros e afetos do que desencontros.

    Lembro-me da nossa convivência pacífica e de quase nenhuma briga. Além disso, detalhes da nossa rotina não saem da minha cabeça, como a dona Rosinha nos informando que o almoço ou o jantar estava pronto. Somente o meu tio Mucinho não era informado por ela, que nos encarregava a tarefa de informá-lo que a comida estava à mesa. Ela não lhe dirigia uma palavra e só voltou a falar com meu tio quando ele ficou doente, à beira da morte. Até hoje eu não sei qual o motivo dessa briga de muitos anos entre os dois. Imagino que deva ter sido uma causa muito profunda. É fato que eu jamais indaguei dona Rosinha ou meu tio qual era o motivo real dessa ruptura. Confesso que não tive coragem de perguntar.

    Minha inesquecível casa ainda existe, mas agora é feita de blocos, toda rebocada e avarandada. No entanto, está desprovida do calor humano e de todas as emoções vividas por nossa família, visto que são outros tempos. Outras casas me abrigariam e foram palcos das minhas vivências mais felizes, mas, certamente, completamente diferentes das que vivi no meu primeiro lar.

    Assim como em toda a minha comunidade, nela não havia energia elétrica, água encanada e nem as coisas modernas que desfrutaria em outras casas. Ela era iluminada à luz de fifó, candeeiro feito de lata com um pavio de estopa ou algodão embebido em querosene, uma luz precária e, infelizmente, existente no nordeste brasileiro por incompetência e falta de força dos governantes em modificar a penúria dos mais carentes deste país.

    A simplicidade da vida quase sempre libera a criatividade e a engenhosidade. Naquela época, criamos um artefato batizado de bossa nova pelos moradores de Matarandiba. Lanternas nos anos 50 já existiam e eram utilizadas em atividades noturnas laborais ou até mesmo nas residências em muitas cidades do país, mas não eram geniais como a bossa nova, principalmente pela visão aguçada de seus criadores na aplicação das matérias primas que os cercava em um lugar carente de quase tudo, menos de garra para sobreviver.

    O genial invento tinha o seu corpo feito a partir de uma lata de leite Ninho ou de outros produtos semelhantes. Ele tinha a sua borda ralada em um piso rugoso e vários furos eram feitos no fundo da lata. Por fim, um arame perpassava a lata em seu comprimento, ligando o fundo e o topo, formando uma alça de uns 10 cm para a empunhadura. Dentro da lata, era instalada uma vela que clareava o caminho nas andanças nas noites mais escuras.

    A vela era de fabricação própria. Íamos à igreja, pegávamos os restos derretidos de velas utilizadas, juntávamos tudo, levávamos ao fogo feito no quintal com toras finas de madeira para conseguirmos fundi-los. Em seguida, cortávamos os talos das folhas de um mamoeiro em pedaços do tamanho de uma vela padrão, passávamos um cordão por dentro do talo e o enchíamos com o material fundido. Após o resfriamento, abríamos o talo que serviu de forma com uma faca e estava pronta a vela.

    Já que não existia luz naquela época na ilha, em noites escuras sem lua, nós usávamos essa lanterna para clarear o caminho quando dona Rosinha pedia para a gente ir à venda comprar algo ou à casa de alguém dar um recado. Bons tempos aqueles em que a ausência da iluminação elétrica ainda não havia roubado a luz das estrelas e a sombra dos fantasmas da nossa imaginação da infância.

    A água de beber e fazer comida nós pegávamos na fonte do meio. Era uma água cristalina e mineral. A água de gasto, como se chamava a água para banho, para lavar os pratos e para as outras necessidades nós pegávamos na cisterna que existia no quintal de casa, onde existia também um pé de frutas do conde.

    Dona Rosinha era ajuntada com Álvaro, mais conhecido por Preto, que partiu para o Rio de Janeiro nos anos de 1950 para ganhar a vida. Apesar de todas as adversidades, ela era uma mãe zelosa e batalhadora. Ficou com seis filhos para cuidar: Palmira, também chamada de Mirinha, Agnaldo, conhecido como Pinho, Ana, Álvaro Filho, Almir e a caçula Almira.

    Além dos filhos para criar, ela também cuidava de sua mãe Francisca que estava velhinha e foi acometida do que, naquela comunidade, se chamava o vento passou, que no jargão médico é denominado de AVC. Dona Rosinha decidiu não se mudar para o Rio de Janeiro com o seu companheiro por essa razão. Minha avó, em razão do AVC, ficou com sequelas neurológicas no rosto e distúrbios na voz.

    Mirinha, minha irmã mais velha, era filha de Dona Rosinha com o senhor Marinheiro. Ele era um homem moreno, alto, esbelto, muito simpático e cobiçado por muitas mulheres, além disso, tinha uma fazenda localizada em Campinas, no mesmo município de Vera Cruz. Dona Rosinha era uma mulher morena, muito bonita e muito cobiçada, mas o seu primeiro relacionamento, com senhor Marinheiro, durou pouco tempo. Após o nascimento de Mirinha, eles se separaram. Meus outros irmãos, assim como eu, eram filhos de Preto.

    Mirinha era a ajudante de Dona Rosinha nas tarefas de casa, que eram muitas e difíceis. Agnaldo era autista severo, desse modo, ele não falava, ouvia pouco, não enxergava bem e acabava dando muito trabalho. Pinho, como também o chamávamos, vegetava, ficava quase todo o tempo despido para que, quando precisasse fazer às suas necessidades fisiológicas, pudesse se dirigir sozinho ao quintal para lá fazê-las de pé. Minha irmã e mãe se revezavam para alimentar e dar banho em Pinho. Em decorrência de sua deficiência, às vezes, ele ficava irritado e batia em Dona Rosinha e para acalmá-lo era um sufoco.

    Dos irmãos, apenas Mirinha não tinha nenhum problema, os demais irmãos, assim como eu, tinham algum probleminha. Pinho era autista; Álvaro sofria de tosse convusca, nome popular da asma na ilha; Ana tinha um caroço acima do olho esquerdo e, por isso, tinha o apelido de lombinho; Almira tinha o dedo mindinho torto no sentido anti-horário; e eu, para ser solidário com eles, tinha um dos pés tortos às avessas do Charles Chaplin, ou seja, apontando para dentro e o outro era certo que nem pau de cambiteiro. Até podia ser chato para uma criança, mas era charmoso e inspirava o instinto maternal das garotas, somando isso ao meu carisma, pode-se dizer que ele me ajudou muito em algumas ocasiões.

    A prole de Dona Rosinha poderia ser maior ainda se as suas duas filhas gêmeas não tivessem falecido, uma com quinze dias e a outra com vinte dias de nascidas. Foi uma gravidez muito complicada, pois não havia recursos médicos naquela época na ilha. Elas foram apelidadas de Matarandiba e Itaparica porque uma nasceu em Matarandiba e a outra em Itaparica. Após o primeiro nascimento, Dona Rosinha foi para Itaparica em um Saveiro, sentindo muitas dores para dar à luz à outra criança.

    Na ilha, existia a superstição de que os pais de filhos gêmeos tinham poderes de cura. Os poderes especiais de Mainha eram principalmente para torções e machucados. Dona Rosinha curou muita gente na ilha. Bastava uma reza sua, que ela não revelava para ninguém, que os pacientes melhoravam instantaneamente. Junto com a reza, ela pisava no local machucado por três vezes, independente se era o tornozelo, dedos, pé ou o joelho. Presenciei mais de uma vez essas práticas de cura.

    — Você estava onde, menino? — perguntava Dona Rosinha.

    — Estava brincando, Mainha! — respondia prontamente.

    — Não sabe que está na hora de comer? — ela continuava. — Você foi para a escola, Almir? — insistia Dona Rosinha.

    — Fui sim, Mainha. — respondia com firmeza. — Esperei a rede chegar para pegar o peixe na mão de meu Tio Mucinho e depois fui brincar. — completava disciplinadamente.

    — Está bem então! — Dona Rosinha dizia isso finalizando o interrogatório.— Já terminei a comida e os seus irmãos estão esperando você para comer. — Dona Rosinha dizia isso como uma forma de me premiar pelo menino correto que eu era.

    As nossas dificuldades eram muito grandes. Havia dias que só almoçávamos às três horas da tarde, porque o calão do meu tio ainda não havia chegado. Às vezes, não havia nada para tomar café e

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