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Um Carro De Bois Que Transportava Logos
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Um Carro De Bois Que Transportava Logos
E-book232 páginas3 horas

Um Carro De Bois Que Transportava Logos

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Sobre este e-book

Neste livro, o autor, realiza um trabalho etno-literário: mergulha no sertão e narra de forma apologética o relacionamento entre adultos que querem ser crianças e crianças que querem ser adultos; a poesia que quer ser prosa e por sua vez pretende ser romance, distanciando, muitas vezes, dos “centros civilizatórios”.
O universo infantil no mundo rural e o lirismo mesclado ao lúdico.
A ressonância direta com a terra, com o ar puro, com os animais domésticos e silvestres e, fundamentalmente, o contato diário com diferentes seres humanos. Alhures, suplementos sine qua non, aonde dimana a criatividade.

IdiomaPortuguês
EditoraEmooby
Data de lançamento15 de abr. de 2011
ISBN9789897140174
Um Carro De Bois Que Transportava Logos
Autor

Newton Emediato Filho

NEWTON EMEDIATO FILHO natural de Belo Vale, em Minas Gerais, filho de Newton Emediato e Virgilina Augusta Emediato. É formado pela Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais. Graduou-se em Ciências Sociais (Sociologia, Antropologia e Política). E se especializou na Faculdade de Direito, da mesma Universidade, em nível de Mestrado – Assessoria Técnico-Legislativa Avançada.É autor de vários ensaios sobre a obra de um dos maiores escritores latino-americanos, João Guimarães Rosa, tendo participação ativa em seminários internacionais realizados pela PUC/Minas sobre Guimarães Rosa.Um Carro de Bois que Transportava Logos é o seu primeiro romance com comentários (orelha) feitos por Luís Giffoni: [...] Já disseram que Minas são muitas. A literatura também. Um Carro de Bois que Transportava Logos viaja por algumas delas [...].O conto Um Papagaio Palimpséstico foi premiado no Festival Festivelhas, originado pelo Projeto Manuelzão/UFMG, realizado no Morro da Garça/MG – em Novembro de 2005.Rio das Velhas em Verso e Prosa, Projeto Manuelzão, Instituto Guaicuy – SOS Rio das Velhas, primeira edição, dezembro – 2006.Palavras mini-conto publicado no livro de coletânea Letras Mínimas pela Editora Guemanisse, Rio de Janeiro, 2007.Agraciado com Menção Honrosa no 5 Concurso Guemanisse de Contos e Poesias – dezembro de 2007 –, que foi o mais concorrido concurso literário promovido pela editora.Cronistas, Contistas e Poetas Contemporâneos lançado em 2009/Projeto Delicatta/SP, Bienal de São Paulo –Editora Scortecci – 2009.O conto Ancestral recebeu Menção Honrosa no concurso de contos curtos realizado pela Via Literária/Porto Seguro/BA./2011.Colabora com vários artigos, crônicas e ensaios em muitos sites e Ongs culturais distribuídos por diversos estados brasileiros: Plural e Arte Eletrônica Cronópios de São Paulo/SP; Germina e Benfazeja; Verdes Trigos – site cultural que se encontra uma crítica de Rogério Salgado, poeta, crítico e jornalista, intitulada: Literatura onde o Real e o Imaginário se Confundem, sobre o romance infanto lírico juvenil Um Carro de Bois que Transportava Logos.

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    Um Carro De Bois Que Transportava Logos - Newton Emediato Filho

    I - PANORAMA

    O espremido, o rela-rela, berros e chifradas, vôos e cantos, na busca insaciável da comida ajeitada, com bastante labuta, pelos homens trabalhadores da fazenda, nos cochos do curral. Neste instante, dona Ester se lembrou das crianças, seus netos, que viriam nas próximas semanas para a sua toda morada, em definitivo. Tratava-se, portanto, de sua filha com seus filhos pequenos. Os dias imensos demoravam e se consumiam nas tarefas, muitas vezes, a serem concluídas em noites serenas e calmas.

    Durante os meses de maio e junho, que denotavam ares de rumos melhores ou inusitados, inesperados, e em dias secos, o sol mesclado com o frio das montanhas, capim queimado, e por dentro da casa grande, sua dona se sentia com o corpo morno e podia avistar todo o recanto com sua curiosa fiscalização diária. Seus trajes pesados não a impediam de nenhuma forma.

    Quase ao meio dia, após o ajuntamento da criação bovina de pastos distantes, o trato ficava nos cochos, mergulhado em água potável, para algumas vacas que esperavam em compartimentos diferentes. Em algum tempo, a senhora dona da casa podia adiantar sua alegria, observando pela janela, atentamente, todas as pessoas possíveis em sua volta, e com sua voz firme lhes comunicava que o almoço já estava pronto. E ela mesma, por um momento, reparou os passarinhos sobrevoantes na tentativa de aterrissarem nas coxilhas, em luta pelas canjiquinhas disponíveis, pois galinhas, patos e marrecos já assanhavam demasiadamente. Nos galhos dos cafezais pousavam aos montes passarinhos diversos.

    O espremido, o rela-rela, vôos e cantos, berros e chifradas, na busca insaciável da comida ajeitada, com bastante labuta, pelos homens trabalhadores da fazenda, nos cochos do curral. Neste instante, dona Ester se lembrou das crianças, seus netos, que viriam nas próximas semanas para a sua morada, em definitivo. Tratava-se, portanto, de sua filha com seus filhos pequenos. Os dias imensos demoravam e se consumiam nas tarefas, muitas vezes, a serem concluídas em noites serenas e calmas.

    Da sala seguiu, passando pelo corredor, meio lúgubre, para a espaçosa cozinha, em que podia se sentir o aroma salutar dos pratos prediletos - ela era sapiente nesta atividade. Aos poucos começaram a pisar sobre o piso bruto do chão da cozinha, os familiares e os caboclos da fazenda. Do corredor à porta da cozinha nota-se à existência de um banco paralelo à mesa e daí, à frente, um banco menor e bastante longo, para os pequenos. Agora vazio. Ao centro, o fogão de lenha, neste momento com fogo brando, mantém o calor das panelas de pedra quentes que soltam fumaças e exalam cheiros. O vento vindo das bananeiras ameniza a temperatura ambiente.

    Se por acaso se fecha a porta da cozinha, nota-se que por trás dela há muitos bambus - sustento do fogo - e, além disso, um certo balaio, gasto, lotado de palhas e sabugos. Logo ao lado, uma janela quase que eternamente fechada, mas outra próxima do banco menor, mantém-se aberta; ao contrário também das portas que dão acesso ao banheiro e à despensa. Aliás, esta contém todo o mantimento para guarnição dos da casa, e também exige de dona Ester maior destreza no olhar castanho-escuro, de maneira permanente. Seus olhos, mesmo bem abertos e ora distantes, esses olhos grandes, tudo queria poder enxergar e vigiar.

    Dirigiu-se para a coberta, e ainda preocupada pelo atraso de outras pessoas para o almoço, abriu os portões, olhou e chamou-as novamente. Tal área, acoplada à cozinha, exerce papel fundamental nas atividades culinárias, por isso há fornalhas e tachos de cobre e até mesmo forno para quitandas, e nas laterais, rachas de lenhas agrupadas de forma simétrica, estoque que nunca acaba, prontas para as necessidades e à vontade. E na outra extremidade, duas enormes pias de água fresca, de mina, escorrendo à revelia. Há ao centro uma velha mesa e um rústico banco que são usados geralmente para os trabalhadores fazerem suas refeições, não para os da casa. Local arejado devido às colunas que sustentam a coberta e dali em diante, no espaço, se podem observar a paisagem e as árvores frutíferas que rodeiam a casa: o quintal, o laranjal, a horta. O munho, o bambuzal ao vento, o brejo e a lagoa. Os morros de pastagens. Nos declives, o vale em transversal e a vertente do Rio Paraopeba em paralelo à estrada de ferro. Logo acima, a menos de quilômetro, situa a Fazenda Pessegal.

    Aos poucos vêm chegando as pessoas. Dona Ester anda em direção ao seu quarto, primeiro passou pelo corredor que liga a salinha e depois por outro corredor que dá para os quartos e o quarto do fundo. Nesse momento agradeceu a Deus por tudo e, principalmente, por ter criado com saúde seus muitos filhos. Sempre estando a rezar!

    Logo adiante, os filhos do fazendeiro liberavam os bois do carro de bois, das cangas e argolas, correntes e cordas, e o carro, no meio do curral, iria imediatamente ser empurrado, com ajuda de outros companheiros, para dentro da coberta, onde o Mão de Onça tira um cochilo de cachorro vigilanteador, porque é caçador durante a noite nos arredores dos limites da casa grande e na mata longe dali. Nessas noites bastante frias, sem sinais de lua cheia, em lua nova, o silêncio somente é interrompido por porteiras sendo abertas e pelos alaridos dos cachorros noturnos. Enfim os bois soltos, ainda unidos pelo costume da canga, sacodem seus corpos e vão seguindo em direção dos cochos na busca da água fresca.

    Seu Esteves, dono da Fazenda Pessegal percorre os porões, observando os caixotes e casas de depósitos abarrotados de mantimentos, e ainda assim ele já se apoquentava no adiantamento do preparo das roças. E se assanhava nos ajustes com trabalhadores e outras providências: meeiros, sementes, fertilizantes e, sobretudo, matutando sobre os locais apropriados para a lavoura daquele ano. – já, já é fim de ano, a roça tá atrasada, dizia para sua mulher.

    Boas desculpas, modos de sair de casa. Nunca houve apogeu maior de desenvolvimento econômico na região senão esse de atual. A terra jovem, fértil para ser cultivável, e havia homens dispostos a trabalhar com ternura à colheita. Muita fartura e seu Esteves fazia questão de dizer que não compra, em sua fazenda, sal e açúcar, e açúcar olha lá, o resto a minha terra, lavradia, oferece de bom grado e de primeira, graças ao meu bom Deus.

    – Até mesmo com os outros costumo praticar trocas ou vendas. Não, só não faço negócio com ciganos, de jeito nenhum, mesmo! Até gosto de suas histórias, de prosear e, só isto, nada mais. Graças. Também suas mulheres de belezas estrangeiras. Nesses dias mesmo passaram alguns por aqui, insistindo em barganhas; logo fiz que procurassem seu rumo, e não abri cara. E graças a Deus, não pediram pouso nos meus gramados e riachos. Os cachorros meus muito latiram. Não houve nem ira e nem rixa. Os ciganos são atilados, mas são gente boa, caso não fossem metidos a espertos, sabe-tudos de nada. Não fiz muita causa deles, não!

    O amanhecer na Fazenda Pessegal é um andar de rodas. Muito movimento, ainda no escuro, madrugada rasa, e encontros rápidos – tudo é cronometrado. Quando é necessário unir toda a produção de leite de distantes localidades, retiros e de donos diferentes para ser embarcada no carro de bagagens do trem de passageiros que passa às sete e meia, não espera ninguém. Ali no curral mesmo chega o leite de três lugares afastados da fazenda: o leite que vem dentro de latas, nos lombos de burros de cangalhas, do Retiro da Onça, do Jaleco e do Outro-Lado-do-Rio. Tudo sob os olhares audazes, seu Esteves, que mede e contabiliza o leite, até mesmo no embarque na parada do trem, ratificando as latas despachadas. Permanece ali até o último apito do trem, quando este contorna a montanha rumo a cidades pequenas e até atingir as grandes. Labuta assim como essa todo dia se repete entre berros e mugidos, latidos e coaxados, ronronares, cantos de diversos passarinhos, e muitas vezes intransigentes gritos humanos dirigidos tanto às pessoas quanto os animais.

    Seu Esteves sempre se orgulhou do seu lugar e nunca quis mudar-se dali. Recusou diversas propostas de barganha da fazenda, várias vezes, por mansão em cidade grande. Muitos de seus filhos talentosos, ladinos, se dariam bem em escola superior, lhe proporcionando sérias satisfações. Ele sempre pensou durante toda a sua vida, que estudo não dá camisa a ninguém. Era contra, queria seus filhos trabalhando com ele, e na fazenda há muito serviço, tem o que fazer – explicava ele passando o braço no rosto de barba malfeita.

    Perto da última coberta há a porteira da estrada, e mais outras na entrada para o curral. Na primeira porteira seu Esteves teve dificuldades em abri-la. Solano, um dos trabalhadores, percebendo o estorvo, correu e abriu todas as outras porteiras. Não houve nenhuma comunicação, apesar mesmo de um riso engasgado ou palavra ininteligível, menos do que um som estranho de tentativa de pronúncia. Rumo à grande sala da fazenda, seu Esteves subiu o passeio, entre o jardim e o muro. Os cachorros salientes o rodeavam, com latidos mansos, desejando afagos. As janelas estão abertas. O fazendeiro do Paraopeba se sentia triunfante em seu paraíso, orgulhava-se da beleza da montanha, da cachoeira, do rio, dos retiros, da Caruaba e suas águas... do vento que traz o ar do sertão, do paladar daquela água, e, sobretudo, do amor pelo vale e pelas mulheres morenas.

    II - PEQUENO MENINO DO SERTÃO

    Aí que um dia, tudo fora descoberto. O verdadeiro fazendeiro da Pessegal teve os pés estrepados, por causa dos pauzinhos de bambu fincados no chão, e ficara furioso. E mais ainda quando não encontrou seus marmelos maduros, que guardara pra Ester fazer doce. E tanto fez que fez, sem trégua, acabou por saber e puniu com fortes batidas, de vara de marmelo sapecada ao fogo, nos corpos unidos, de verdade, de todos os atores. Os meninos abraçados, por exigência, choraram por horas... sozinhos no meio das bananeiras.

    Na madrugada, ainda no escuro, oscilando sob o orvalho, rompiam trilha, no seco cerrado, altos capins cinzentos.

    O menino, longe de completar década, de calças curtas, quase descalço, sente nos pés atrevidos espinhos.

    Perninhas molhadas de sereno.

    No rosto, sem chapéu, o frio da manhã.

    O caminho, rumo ao altiplano, extinguiu-se; portanto, necessário seguir a prumo. A vacaria a ruminar, vislumbra, lá no morro.

    Debaixo das árvores rentes à cerca, o objeto do desjejum, generosamente, com o sol abre fumaças e cheiros.

    Num momento querido, o menino repelido pelo fazendeiro, abre mais os olhos grandes.

    Feudodal

    Água ali, tão límpida, no corgo – naturalmente trabalhado.

    Longitanto de qualquer intervenção, as folhinhas secas caem e, em simbiose, trafegam transparentes, tranqüilas, em território agreste.

    Reflexos do sol, ramos, flores, e folhagens marrons dos bambus, em seus mergulhos, transfiguram linhas multicores. Vento murmura música feito flauta com seu toque no bambu. E os arranjos da fugaz juriti e do sabiá-laranja-de-peito-roxo usurpam a frescura do laranjal.

    Água serventia plural, pura, que movimenta e se faz amiga do moinho.

    Solidário, o moinho, que tanto os homens dali insistem em pronunciar munho, enamora o milho, que a biquinha sintética espera, de em grão em grão, sem pressa.

    A pedra redonda movimenta, levando ritmo. O angu, a broa cor de mulher morena. A farinha pro feijão, pra comer com leite quente; ah, farinha de munho torrada! Produtos de subsistência do clã dos Dias.

    Além o biju, o cubu entrelaçado na folha de bananeira tirada do quintal. Tudo feito pelas mãos ansiosas da mãe de todos, dona Ester. Todos dependentes ainda do mundo, do munho de fubá situado abaixo da fazenda.

    Arapuca

    Arrumávamos, entre moitas de bambu, e até mesmo na reserva da lenha do fogão da cozinha e no da coberta da fazenda, velhas taquaras simétricas. No bolso comprido do vestido chitado da vovó, o útil barbante de algodão rústico.

    O sol do meio-dia, depois do almoço, íamos na direção do cevado. O fubá grosso de porcos e a canjiquinha, moídos de propósito pelo tempero (acertado pelas mãos do tio Tonho) do munho, no chão atraíam diferentes passarinhos. Ali fora por muito tempo terreiro de secar café.

    Dentro do galinheiro, os escamoteados meninos brigavam pela liderança em segurar a embira amarrada à armadilha, a tosca arapuca de bambu. Num intervalo dessa briga havia maior silêncio, na expectativa de poder atrair e capturar diferentes passarinhos.

    Em setembro, quase fim de seca, o alimento era escasso e, por isso, ariscos passarinhos se aventuravam no cercado, sobrevoando o bambuzal, o cafezal e o laranjal. Às vezes faziam escala na cerca de bambu traçada, antes de aterrissarem próximos ao terreiro. Assim os meninos permaneciam na tocaia, desejando capturar papa-capins – aqueles acinzentados de coleira, tico-ticos-reis, pintassilgos e pássaros pretos e, raramente, canarinhos de peito amarelo. Estes os nossos prediletos.

    Dali do galinheiro, depois de uma tarde inteira, sonolenta, larga, por último o pequeno menino ia embora levando, nas mãos e no bolso, os ovos para vovó.

    Curralzinho

    Numa tarde comprida de céu sem nuvens, cheia de preguiça, o menino e seus irmãos estavam sentados no chão sob a sombra do cafezal e do goiabal. De repente surge a idéia da brincadeira, copiada de seus tios quando eles, no tempo, eram pequenos.

    Cada qual com o seu material para real construção. O zumbido dos insetos e os cantos das galinhas passavam despercebidos. As pessoas adultas no trabalho, mais ou menos distantes. Ouvíamos berros dos bezerros presos na coberta. Um burro ladrão passou perto de nós, na certa tinha arrombado a cerca de arame do pasto.

    O terreiro úmido, sem mato, fronteiriço às grossas bananeiras cujas folhas denunciavam o murmúrio do fraco vento, naquela hora.

    Nesse ambiente, os bezerrinhos eram criados na invenção dos meninos. Para as vacas leiteiras de cabeceira – seus nomes eram disputados. Havia várias juntas de bois, daí a briga pela escolha dos nomes verídicos... iguais aos do curral da fazenda: Rio Negro, Rio Grande, Chorão, Sereno, Jequié, Mourão, Zecão, Laranjo, Zulego, Charango, Rio Novo... os nomes das vacas: Mansinha, Bordada, Pampulha, Cumbuca, Cabana, Viola, Gaúcha, Douradinha, Campeona, Vila Rica, Espanhola, Baronesa, Primavera, Goiaba, Chumbada e Gemada...

    Gugulim embrulhou uma pequena goiaba verde com papel brilhante de bala de chocolate, encontrado por acaso em seu bolso, que, há algum tempo, havia ganhado da madrinha, e fez passá-la por uma vaquinha boa de leite, dando ao objeto o nome de Bolívia.

    Mas, Mmamaú falou alto, com boa voz, que aquele nome não servia. Tinha sido dado pelo Degemiro, mas ninguém gostou e não ficou conhecido, não tinha pegado.

    – Ora, mas... agora eu inventei e vai ficar registrado!, foi o que Gugulim contestou.

    A coberta central com todos os detalhes, repartição de bezerros e suas mães vacas, tudo seria reproduzido. A dimensão do tronco. Telhas e cordas. Contornando a coberta, o curral de moirões com porteira dando para a estrada sem fim, riscos no chão – até delinear com o pé de café. A tronqueira para o pastim. O cordão teve bastante serventia. Campineira – cortes do capim anapiê de verdade. Milho e cana-de-açúcar, catados nos restos da coberta de beneficiamento do curral da fazenda de verdade.

    Um caroço preto de café, encontrado ali no chão mesmo, serviu para Pilão criar seu burrinho que recebeu o nome de Zape.

    Tinha a cancela indicando entrada para a casa da fazenda. Entre o curralzinho, a porteira mestre, separando os cochos d´água, na tentativa possível de trato com ração e tudo. Ajuntávamos todos os préstimos que serviam, e obviamente haveria confusões e intrigas com quem mais possuíam assim tanto gado. Um querendo

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